Poesia e pensamentos livres

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Disperso momento
Não sei o que quero
Sei que me ausento
Num acto sincero

No nada que tenho
Quadro encantado
Esquecido desenho
Em papel já usado

Imagino que tenho
O que penso querer
A ânsia contenho
Querer é sofrer

Nunca o engenho
É pouco ou demais
Cansado me empenho
Não desisto jamais

Nunca me canso
De partir e chegar
No vazio me lanço
Para me encontrar

Nas estradas de mim
Caminho certeiro
Eu sei que assim
Chegarei primeiro

Ao ser escondido
Ao eu mais calado
A esse ser oprimido
Numa cela fechado

Recuo e avanço
Num mundo só meu
Canso e descanso
Dentro deste céu
Penso e esqueço
O que foi o que sou
Mas sei que mereço
Receber o que dou

Caminho sem futuro
Esqueço o passado
Escondido num muro
Choro sempre calado

Sou o que se afasta
Da sua real essência
Sou o grito de basta
De toda a inocência

Na ânsia de ser
Conhecido em mim
Continuo a viver
Esta vida assim

Rebelde cansado
De armas á porta
Empunho o machado
Da minha revolta

Quero agora gritar
Para que possam ouvir
Não quero pensar
Para poder existir

Podem-me encarcerar
Não me vão demover
Tenho asas para voar
E assim vou fazer

Voar para um mundo
Onde possa ser eu
Simples vagabundo
Na terra e no céu
11-11-2010

Já experimentei os sabores
Das ementas realistas
E o perfume de flores
Em mesas fatalistas

Já ingeri alimentos
De cardápios idealistas
E partilhei momentos
Com cores surrealistas

Já bebi águas impuras
Elixires predestinados
Alimentei às escuras
Uma fome de pecados

Já senti a escravidão
De almas em sangue esvaído
Cuja única aptidão
Era viver sem ter nascido

Já senti a hipocrisia
Do gesto penitente
De enxertar na anatomia
Pedaços de outra gente

Já escutei o despertar
De gritos em pura revolta
Assisti ao desabrochar
De gente que estava morta

Já vi campos se alagar
Nas lágrimas de quem sustenta
Vi o mar transbordar
De quem dele se alimenta

Já me queimei nesse sol
Que o verão proclama
Já me deitei sem lençol
Para não desfazer a cama

Já fui flor de primavera
Tempestade de inverno
Perdi o verão à espera
De Outono subalterno

Já fui corpo utilizado
Em mente inexistente
Animal idolatrado
Predador indiferente

Já chorei o que não quis
Água pura de Afrodite
Dilúvio que me fez feliz
Pela ausência de limite

Já senti a dor do corpo
Tive pressa com calma
Fiz da solidão o porto
Para descanso da alma

Já fui senhor de espaços
De esquinas esquecidas
Soldado que nos braços
Tatuou causas perdidas

Fui servo da indiferença
Amo de almas devotas
Vencido por uma avença
Vendi-me a mentes idiotas
Já fui grande noutras mentes
Anão que viu gigantes
Inferior entre diferentes
Igual entre importantes

Já comi com as minhas mãos
O sagrado pão de amigos
Sentei-me entre irmãos
E bebi com inimigos

Já vivi o preto e branco
De daltónico egoísmo
E cores de um falso pranto
De hipócrita altruísmo

Já senti na pele a lama
De estradas esquecidas
Queimei-me com a chama
De paixões adormecidas

Já imaginei sereias
Em peixes de palmo e meio
E comi mel de colmeias
Com o sabor do alheio

Já quis ser alguém
Que nunca em mim vi nascer
E não fui eu nem ninguém
Fui algo para esquecer

Já fiz odes sonhadoras
Prosas com rebeldia
Poesias inspiradoras
Com letras de alquimia

Já fui palhaço de prenda
Cartoon em branco caderno
Filme mudo sem legenda
História de livro eterno

Já caminhei sobre a areia
Com pensamento disperso
Fui estrela sem plateia
De mim verso e inverso

Já tive neste meu tempo
Tempo para perder
E já tive esse momento
Que tempo me faz querer

Já escutei do vento
Notícias de tempestade
Já vivi num momento
Anos de liberdade

Sou consequência
Sou construção
Sou evidência
De uma razão

Da vida quero presença
Sou de mim só um pedaço
Que ela mantenha a crença
De que com ela me faço

16/01/2015

A minha alma agoniza
Numa cela confinada
Quer sair, ser na brisa
Pelo vento acarinhada

Isolada em quarto oposto
Às paredes onde habito
Com lágrimas no rosto
Solta amordaçado grito


Grito de quem desespera
Para me ter a seu lado
De quem sabe que na espera
É sangue de corpo emigrado

A minha alma quer partir
Encontrar outro abrigo
Quer ser livre, se evadir
Viajar sem estar comigo

Nas águas de qualquer rio
Deseja um novo baptismo
Servir qualquer senhorio
Que não reze ao quixotismo

Caminha descalça de tudo
Vagueia em estrada sem fim
Sente o seu corpo desnudo
Vai nua sem roupa de mim

Tem frio mas não se tapa
Tudo dela está ausente
Clandestina e sem mapa
Treme em pele que já não sente

Às estrelas do firmamento
Confessa a esperança no dia
Desse novo renascimento
De quem morre na utopia

E nesta aparente calma
De quem pensa que viveu
Por cada lágrima da alma
Sofre ela, sofro eu

Tenho vida e muita história
Dei passos em cada estação
Mas não encontro memória
De não ter paz sem razão

Vivo efémeros sentimentos
Sou um clone de alguém
Tenho inúteis pensamentos
Sem alma não sou ninguém

Sou mendigo em viagem
Não tenho sabor de vitória
Não suo qualquer linguagem
Não vivo qualquer glória

Sou um desesperado refém
Duma máscara de momentos
Para mostrar-me a alguém
Ocultando meus tormentos

Sou o rosto da perdição
Ignoro quem me reclama
Em cada comemoração
Sabor amargo sem chama

Sou esse rio escondido
Que por momentos secou
Sou esse jardim despido
Que o vazio conquistou

Sou um rei sem trono
Amo de gente muda
Sou coração sem dono
Mente que pede ajuda

Meus olhos não queriam ver
Quem sem mim está perdida
Que sem ela sou um ser
Sem razão para dar à vida

Resta-me a consciência
De saber que na verdade
Sem alma a minha existência
Não dá passos em liberdade

Este amor não tem idade
Nem porto nem estação
Tem uma única verdade
Corpo e alma em união

Ecos de um só grito
Partamos à aventura
No fim veremos escrito
Na lápide da sepultura

Fomos maestro e melodia
Corrente e acorrentados
Fado, ópera ou sinfonia
Pelo amor sempre tocados

24-09-2008



Sou vítima dos tribunais da incompreensão
Julgado à revelia porque nunca lá vou estar
Hibernei nessa caverna iluminada na obsessão
De despertar para mim e em mim me deitar


Quando apareço! Sou de hipócrita adjectivado
Estou! É sempre pouco. Não estou! Algo mudou
Faça o que faça essa certeza de ser condenado
Pelo que sou e não sou, pelo que dou e não dou



Se falo verdade ou mentira isso não é determinante
Se me calo! O silêncio é a confirmação da suspeita
Se desejo escutar! Claro que não sei ser dialogante
Se falo porque tem de ser! Uma conversa desfeita



Se abro o meu interior! Não me conseguem entender
Se me fecho em mim! Sou dos continentes o mais frio
Se escuto sons românticos! Há paixões para esconder
Se danço ritmos loucos! Sou de mágoas senhorio



Se fujo para a magia da noite! Tanta superficialidade
Se conheço mundos alheios! Quero a felicidade no incerto
Se fico em casa num dia de sol! Que desperdício de idade
Se saio num dia sombrio! Procuro à chuva o sol do deserto



Nunca pensei que poderia ter na vida que aprender
A passar em segundos do fascínio à cruel desolação
De não ter uma razão que me consiga fazer entender
Que mentes conseguem viver com tanta contradição



Lamento ter deixado que esse corpo onde moro
Me leve para aventuras que nunca serão memórias
Para esse recanto afastado onde grito e choro
Os efeitos da simples vivência dessas histórias



Vou sempre ter ao abismo e não dou um passo atrás
Mas não quero perder-me no efémero contentamento
Minha alma vive num mundo que nunca me trará paz
Quero ser essa criança com o papagaio ao vento



Nas sobras que recolhem do que em mim se perdeu
Constroem puzzles que nunca conseguirão concluir
Faltará sempre encontrar a peça que a vida escondeu
E que apesar do desejo ainda não consegui descobrir



Como qualquer animal que segue suas pegadas
Vagueando num perigoso território com o instinto
Sou predador que caça em turvas águas paradas
E presa fácil de tudo o que em mim já não sinto



DEIXEM-ME em mim! Se tanto desejam não me ter
Permitam que este corpo encontre a sua calma
Não me queiram esquartejar para dividir o meu ser
Não me desejem morto dentro da minha alma



DEIXEM para mim o que sobra! O que resta de mim
Poderão beber meu sangue nos meus destroços
Abutres escondidos apareçam! Eu sei que no fim
Farão um banquete desfrutando dos meus ossos



12-05-2008


Existem pessoas sem olhos
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira

Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia

Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata

Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável

Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria

Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos

Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade

Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente

Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado

Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira

Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado

Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu

Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência

Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça

Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus

Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade

15-05-2008


Ser poeta é viajar no pensamento,
E caminhar nesse universo sem norte,
Abrir as entranhas do sentimento,
Para fugir ao esquecimento da morte.

É estar fora de nós desordenadamente,
Deixar a alma flutuar na lua cheia,
Ser essa criança inocente,
Que enche de vida a aldeia.

É ser pássaro livre num céu de emoções,
Comungar da paisagem, perder-se no conflito,
De ter dentro de si todas as contradições,
E nesse universo procurar o infinito.

É engolir a vida sempre que preciso,
Esconder a face, congelar misérias,
Disfarçar tristezas num belo sorriso,
Encher de cores as coisas mais sérias.

É ter sempre um verso sem guarida,
Num corpo que respira ao descoberto,
Nos olhos uma porta aberta para a vida,
Na alma a dor amordaçada do incerto.

É dar passos de coragem em rua escura,
Construir uma ponte sobre o mundo,
Beber a alegria na ressaca da amargura,
Viver do lixo como qualquer vagabundo.

É abrir as entranhas e transformar,
Esse acto fraticida,
Em palavras para dar,
Outros sentidos à vida.

É ter mil seres para deslindar,
E neles ser saltimbanco,
E só encontrar o seu lar,
Num mundo de folhas em branco.

É escutar quando queremos falar,
Falar quando nos querem sem voz,
Escrever quando devíamos gritar,
Tudo o que vamos calando em nós.

É cantar quando não temos voz,
Dançar ao som do silêncio,
Caminhar na multidão a sós,
Voar quando não sopra o vento.

É ser um comum mortal,
Animal de carne e osso,
Que entre o bem e o mal,
Escolhe o melhor desse fosso.

É transformar sonhos em realidade,
Passar da tristeza à alegria,
Ir num instante do campo à cidade,
Transformar a noite em dia.

É fazer os fracos capazes,
De lidar com as desilusões,
Transformar desertos em oásis,
Para conforto das solidões.

É ter tudo e não ter nada,
E nunca perder o encanto,
De trilhar essa estrada,
Que dos sonhos faz seu manto

7-05-2008


Escrevo porque em mim isso é algo urgente
Porque nessa urgência existe fome e desejo
Porque não consigo ficar distante e ausente
De pintar em palavras o que sinto o que vejo

Tremenda esta minha sede interior de viver
Sentir o fluir de vida num continuo encanto
E neste meu irresistível impulso de escrever
Eu vivo, sonho, sou, existo e canto.

Como muita gente invade-me esta vontade
Do cinzento da vida fazer uma bela história
Mudar ódios em amor, amarras em liberdade
Raivas em tranquilidade, fracassos em glória

Escrevo porque que foi a isso condenado
De nas palavras ser abandonado mendigo
Nelas a única forma de me sentir libertado
Dos gritos da alma que vive comigo

Escrevo porque minha modéstia ousa querer
Fazer simples canções das músicas que sinto
Perdido em palavras que raramente ouso ler
Vou gritando verdades em tudo o que minto

Sou como Colombo, não sei para onde vou
Mas vou! Sou peregrino no meio da gente
Escrevo porque sem isso não sei quem sou
Perdido entre passado futuro e presente



Os sonhos são a procura do oásis esplendoroso
Onde absorvemos uma agua de vida sem parar
São o refúgio do guerreiro nobre e valoroso
Que não recusa uma causa pela qual deva lutar

São as esperanças que teimosamente guardamos
Num recanto especial dentro dos nossos corações
E que despertam sempre que na vida desejamos
Partir numa aventura em busca de emoções

São a possibilidade de experimentar outras vidas
Quando a que vivemos nos causa tanta frustração
De construirmos castelos com as ilusões perdidas
Onde encontramos a paz e aniquilamos a solidão

São a flor que regamos e que não deixamos morrer
Cujo perfume absorvemos sempre que necessitamos
Cuja magia nos embala e nos ajuda a compreender
O mundo por vezes desumano onde nos encontramos

São uma fonte de tesouros de valor incalculável
Porque não são efémeros como a vida nos faz crer
Brotam do interior qual fonte pura e inesgotável
E não devemos imaginar maior tesouro para ter

Com eles descobrimos a nossa verdadeira natureza
Quais alquimistas procurando o precioso tesouro
Experimentamos alegrias e aniquilamos a tristeza
São a nossa forma livre de converter metal em ouro

24/08/2009

Acredito que momentos mágicos teremos
Para que sejamos nós mesmos de verdade
E na loucura da vida a fonte encontraremos
Para beber os sabores da plena felicidade

Embriagados pelos aromas de querer viver
Sem limites e com jovial loucura viajamos
Para a vida que merecemos e exigimos ter
E não a que nos impõem e nunca desejamos

Seremos livres para nos céus voar
Para outros mundos belos e risonhos
E aprenderemos dia a dia a disfrutar
Viver nos ventos dos nossos sonhos

Este futuro que imagino no meu pensamento
Não é um lamento por derrotas já acumuladas
É um grito interior de ânimo e grande alento
Pelas vitórias que ainda temos destinadas

É que se a prisão onde nos obrigam a respirar
Não tem os aromas que perfumam a nossa vida
Não deixemos que a velhice nos faça acreditar
Que não existia uma outra qualquer alternativa

Esta revolta que agora convosco quero partilhar
É uma esperança para que todos no seu cansaço
Possam algum dia ter forças para poder lutar
Pela felicidade forjada ao ritmo do seu passo






Quando alguém parte sentimos uma grande tristeza
Um sentimento de total perda e nada que nos alegre
Mas no nosso coração deve ficar a alegria da certeza
Que a despedida não é um adeus mas um até breve


Não tenhas tristeza na despedida, porque na verdade
Quem agora parte fica eternamente guardado no coração
Daqueles que agora ficam com eterna e sentida saudade
Até que numa outra qualquer vida se retome essa união.

Este adeus que agora pronuncias num silêncio apagado
É querida amiga uma tão simples e efémera saudade
Existira uma nova oportunidade do reencontro esperado
Onde com quem agora parte viverás toda a eternidade



Longe das paisagens rasgadas pela firmeza dos meus passos
Trilho outros caminhos, construo novas histórias
Outras vidas, outras gentes, outros sons ritmos e compassos
Enriquecem e vão enchendo o baú das minhas memórias

Meu imaginário, aglomerado disperso de frágeis existências
Amadurece pela dura visão daqueles a quem falta quase tudo
Seres habituados a iludir com pura alegria infindas carências
Num palco onde a vida é “ontem” e “agora” o único futuro

Mar revolto e tormentoso, este onde meu barco tenho velejado
Ondas feitas crianças deambulando na rua de mãos estendidas
Ventos fortes , feito gritos de quem vive do lixo abandonado
Correntes feitas sons de canções de ilusões há muito já perdidas

Sorrisos que se escondem em corpos marcados pelo tempo
Aparecem de todas as direcções, cruzam-se no meu caminho
Nostalgias efémeras aniquiladas pela inocência do momento
Em que num frágil e tímido cumprimento mostram seu carinho

Estas raízes plantadas no meu ser de uma forma doce e pura
Lutam, resistem à erosão do tempo para que no fim só fique
A memoria, o sonho, o sentimento da saudade feita ternura
Dos caminhos percorridos neste país chamado Moçambique




Em tempos já saudosos de uma convivência sadia
As palavras surgiam de forma partilhada e pura
Momentos adoçados por uma contagiante alegria
Sentimentos nasciam forjados pelo aço da ternura

As palavras eram vida e despertavam emoções
Maravilhosos pareciam todos os breves silêncios
O Som era o bater alegre de dois jovens corações
Vibrando ao ritmo de embrionários sentimentos

Como tentei ser verdadeiro e o meu ser entregava
Tentei com humildade compreender outras realidades
Mas num mar de inocência meu frágil barco navegava
Ao sabor de ventos oriundos de outras verdades

Essa vida feita imagem de mulher que desejei poder ter
Vivia e agia ao sabor de outras emoções e necessidades
Eu longe da sua linda presença não via nem queria ver
O abismo que existia entre a minha e as suas vontades

Desejei nesses tempos em que só vivi um sonho profundo
Sentir-me seu e do seu natural prazer fazer minha alegria
Desejei ter asas e com ela voar em direcção a um mundo
Idealizado pela minha sã loucura e inesgotável fantasia

Mas rapidamente a vida uma vez mais se encarregou
De provar que afinal neste mundo é quase sempre infeliz
Quem a alguém todo o seu ser sem reservas entregou
Sem perceber a diferença entre o que se faz e se diz

Como é triste verificar nas memórias desses tempos
Que aquela a quem dei minha alma e todas as ilusões
Em quem depositei infindáveis e puros sentimentos
Abraçava com todo o seu ser outras mentes e paixões

Continuarei alquimista não sonhar é deixar de viver
Morre um sonho outros renascem e lindos florescem
Acredito no amor e em dar sem nada esperar receber
Acredito na vida e em momentos que não se esquecem

Quando um dia as dificuldades me obrigarem a sentir
Saberei serenamente as adversidades enfrentar
Porque não existe qualquer vergonha em um dia cair
A vergonha existe quando não nos sabemos levantar




Estou nos meus sonhos a voar nos teus sentimentos
Tenho na memória cada mensagem sentida enviada
Todos os pequenos mas mágicos e alegres momentos
De uma efémera alegria e partilha nunca imaginada

Cada sorriso silencioso cada suspiro de pura alegria
O corpo que treme invadido por uma serena calma
Desejo que a distância nunca aniquile esta magia
De te sentir ausente e tão perto da minha alma

E se um dia lado a lado na vida pudermos contemplar
E no calor inocente de um abraço sentir tua presença
Quem sabe o momento não será para sempre recordar
Quando no silêncio do meu ser sinta a tua ausência

E quando esta loucura for um sublime acto de amor
De pontes atravessadas à descoberta de um caminho
Conhecerás finalmente o mais belo e nobre sabor
Das formas em que desejo dar-te todo o meu carinho




Faz hoje em silêncio o balanço de mais um efémero tempo
No horizonte murmúrios de uma vida nem sempre partilhada
Confundem-se com momentos que geram o nobre sentimento
De que esta vida é curta mas uma bela e fantástica caminhada

Retrato singelo de ser humano pintado em aguarela intemporal
Com cores de sonhos resistentes à guilhotina do esquecimento
Pinceladas com simplicidade e espontaneidade sempre natural
Numa moldura dourada em que a beleza é o único elemento

Aquela luz que irradia e que pela vida fora a irá acompanhar
Brilha à sua volta iluminando os caminhos que irá percorrer
E através dela conseguirá com toda a naturalidade encontrar
O que nesta jornada finita ainda continua a desejar poder ter

Lá no íntimo do seu ser encontramos uma natureza já perdida
Onde tudo coexiste de forma pura que na nossa alma nos toca
Neste dia uma saudação sentida de quem como ela ama a vida
E todas as emoções e sentimentos que esta sempre provoca

Nos tempos em sinta que a noite teimosamente não desfalece
E em que nela se instalem angustias e desmedidos lamentos
Sentirá a presença da amizade preocupada que não adormece
Pelas insónias nascidas no sentir amigos em difíceis momentos

Hoje pedimos simplesmente que escreva no seu diário secreto
A quem cada momento mágico vivido isoladamente confidencia
Que em cada dia que o seu ser se sinta sozinho e incompleto
Seremos nós a provar-lhe quão lindo é o raiar de cada dia



Aqueles que navegam num mundo de claras verdades
Desconhecem que certezas são questão do momento
Aliam ao desconhecimento infundamentadas vaidades
E permanecerão na história no pedestal do esquecimento

Estes virtuais iluminados que vivem na convicção
De que suas palavras são inequívocas sentenças
Um dia descobrirão que entre presunção e imaginação
Permanece a verdade que destruirá as suas crenças

Não aniquilarão nunca a certeza que existe em alguém
Que por experiência de vida tem hoje certo e seguro
Que a duvida é a unica fonte donde o conhecimento vem
E que a única verdade certa vem com o incerto futuro

E todos os que pensarem que são donos da verdade
Poderão de uma forma simples começar a entender
Que a cegueira que não lhes permite ver a realidade
Parte da arrogância de quem de facto não quer ver

Que nesta viajem fantástica a que chamamos de vida
Certo é que o conhecimento provém da circunstância
De que por cada grama de uma sabedoria apreendida
Ganharemos muitos quilos da mais límpida ignorância



Numa folha colorida
De uma vida arrancada
Vou cantar um hino à vida
Vou compor uma balada

Sons de cantor sem voz
Que da vida faz canção
Num ritmo sempre veloz
Sem qualquer diapasão

Neste trotear de sons
Uma música já ecoa
Não interessam os acordes
Se a palavra for boa

A vida é pássaro ferido
Num imenso vendaval
É um barco perdido
Num enorme temporal

É flor que desespera
Pelo seu raio de luz
É lavrador que espera
Pelo que a terra produz

É sentir-se exilado
Numa terra num país
E sentir-se abandonado
Por quem mais nos diz

São conquistas guardadas
Por temor ou por opção
Por armas disparadas
Com a nossa própria mão

Mesmo que sintamos frio
É preciso não esquecer
Que podemos ser um rio
Que desagua onde quer

É um mar de almas livres
Continuamente a crescer
Que das memórias faz livros
Para que possamos ler

É um palco de esperança
Para quem com vontade
Quiser ser como a criança
Que só sente liberdade

É um belo e imenso mar
Fluindo sem barreiras
Onde temos que nadar
De variadas maneiras

Por vezes é perseguida
Pela força do mais forte
Mas a força desta vida
É maior que a sua morte

Mesmo que tenha passado
Sem que tenhamos conseguido
O que teríamos desejado
Nela ter construído

E por isso ter que pagar
Com lágrimas derramadas
O preço de carregar
Vidas não desejadas

Pensem muito claramente
E com os cinco sentidos
Que no meio de tanta gente
Um dia estivemos vivos

E enquanto respiramos
Saiámos desse coma profundo
De não ser quem desejamos
E lutemos por esse mundo

E se em qualquer canção
Existe sempre um refrão
Esta é a excepção
Que à regra dá razão

24/08/2009


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