
Numa cela confinada
Quer sair, ser na brisa
Pelo vento acarinhada
Isolada em quarto oposto
Às paredes onde habito
Com lágrimas no rosto
Solta amordaçado grito
Grito de quem desespera
Para me ter a seu lado
De quem sabe que na espera
É sangue de corpo emigrado
A minha alma quer partir
Encontrar outro abrigo
Quer ser livre, se evadir
Viajar sem estar comigo
Nas águas de qualquer rio
Deseja um novo baptismo
Servir qualquer senhorio
Que não reze ao quixotismo
Caminha descalça de tudo
Vagueia em estrada sem fim
Sente o seu corpo desnudo
Vai nua sem roupa de mim
Tem frio mas não se tapa
Tudo dela está ausente
Clandestina e sem mapa
Treme em pele que já não sente
Às estrelas do firmamento
Confessa a esperança no dia
Desse novo renascimento
De quem morre na utopia
E nesta aparente calma
De quem pensa que viveu
Por cada lágrima da alma
Sofre ela, sofro eu
Tenho vida e muita história
Dei passos em cada estação
Mas não encontro memória
De não ter paz sem razão
Vivo efémeros sentimentos
Sou um clone de alguém
Tenho inúteis pensamentos
Sem alma não sou ninguém
Sou mendigo em viagem
Não tenho sabor de vitória
Não suo qualquer linguagem
Não vivo qualquer glória
Sou um desesperado refém
Duma máscara de momentos
Para mostrar-me a alguém
Ocultando meus tormentos
Sou o rosto da perdição
Ignoro quem me reclama
Em cada comemoração
Sabor amargo sem chama
Sou esse rio escondido
Que por momentos secou
Sou esse jardim despido
Que o vazio conquistou
Sou um rei sem trono
Amo de gente muda
Sou coração sem dono
Mente que pede ajuda
Meus olhos não queriam ver
Quem sem mim está perdida
Que sem ela sou um ser
Sem razão para dar à vida
Resta-me a consciência
De saber que na verdade
Sem alma a minha existência
Não dá passos em liberdade
Este amor não tem idade
Nem porto nem estação
Tem uma única verdade
Corpo e alma em união
Ecos de um só grito
Partamos à aventura
No fim veremos escrito
Na lápide da sepultura
Fomos maestro e melodia
Corrente e acorrentados
Fado, ópera ou sinfonia
Pelo amor sempre tocados
24-09-2008
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