Poesia e pensamentos livres


As palavras são de facto uma arma poderosa, eu sei, como elas podem ter o poder de enaltecer ou destruir, já proferi e já escutei. Agora, dizer apenas aquelas palavras que se sentem e que dão um sentido e um proveito, isso é toda uma arte completamente diferente, que dificilmente alguém dominará por completo, ou não fosse por vezes o silêncio de ouro. Sempre respeitei o poder que podem assumir em quem as leia e lhes dê algum valor, mas não consigo resistir-lhes, são a amante secreta a quem confidencio todas as minhas paixões, essa amante que me faz explodir como um vulcão libertando-me dessa lava abrasadora que necessito expelir para o exterior como sussurros de vida.

Estas palavras que agora vos deixo, são esses sussurros, gritos amordaçados de múltiplos seres coexistentes na mesma alma, gemidos inaudíveis de corpos suados pelo êxtase de orgias num leito de sonhos.

Que vos posso dizer que já não saibam e que eu saiba com toda a certeza? Absolutamente nada! Quem pensa que tem respostas para um assunto, descobrirá na aurora de um novo dia que apenas deu alguns passos na periferia da sua ignorância.

Unicamente vos posso transmitir o que hoje tenho por certo e seguro, que não existem sonhos impossíveis, que o impossível é um conceito inventado por todos os que um dia deixaram de sonhar, que os verdadeiros obstáculos à felicidade vivem quase sempre dentro de nós, e que espero que o fluir do tempo nunca me dê razões para questionar esta certeza.

Podemos ser esse sol que morre diariamente no horizonte, mas que renasce no dia seguinte como símbolo do contínuo fluir da natureza, se deixar-nos que a luz que oriente os nossos passos resulte da erupção desses “vulcões” interiores que julgamos extintos. E na sua lava incandescente encontraremos a arma para a aniquilação do nosso adormecimento, a força de um corpo renascido em cujas veias corre o sangue dos sonhos que ninguém ousará impedir-nos de concretizar na direcção do nosso destino.

Tantas vezes me cruzei com almas que no limite do desespero me referiram o quanto desejariam libertar-se das amarras inibidoras que a sociedade coloca à expressão individual das nossas vontades. Que vivem uma vida diferente daquela que desejam, uma existência monótona sem uma faísca que acenda o rastilho da esperança, e permita essa explosão que será a génese da libertação do seu verdadeiro eu. Crianças presas em corpos adultos, amputadas na sua capacidade de ser crianças, corações congelados presos numa jaula onde não choram para não demonstrar o que pensam ser fraqueza.

Ninguém nesta vida está imune a este tipo de sentimentos, eu também os experimentei, até que entendi que existem presos que de facto o são porque foram condenados, e outros porque não querem ser livres com medo das consequências duma liberdade que temem usar.

Atingi nesse momento a perfeição da “minha loucura”.

Descobri que errar é inevitável quando se está vivo, e que isso só representa um problema quando paramos para viver a amargura do erro e deixamos de caminhar até que a vida nos leve a cometer outro. Que a essência da vida não está na continuidade duradoura da sua excelência, mas nesses efémeros momentos em que a nossa harmonia e paz interior parecem capazes de parar o tempo, em que saímos dessa jaula onde nos colocamos em exílio voluntário e mais uma vez ousamos assumir o fantástico risco de errar.

É errado não errar, uma dia descobriremos (e quem sabe tarde demais) que enquanto nos preocupamos em não chorar com medo de “demonstrar fraqueza”, enquanto ambicionamos a continua excelência, deixamos ir os segundos, as horas, os dias, e com estes o que perdemos é a própria vida.

Isso descobri porque a vida apesar de ser um bom professor, nos envia contas terríveis, porque apesar de muitas vezes ter tentado e não ter conseguido, muitas foram as vezes em que valeu a pena tentar, e nessa ponte entre erro e erro, vou acumulando memórias, plantando palmeiras e acrescentando gotas de água cristalina a esse oásis interior onde me refugiarei aquando da partida para a aventura de uma outra qualquer vida seja ela qual for.

Não tenhamos qualquer dúvida que em períodos mais ou menos duradouros o ”amorfo” fará parte da nossa existência. Eu acho que "apenas" um milhão de pequenas coisas me podem fazer feliz (talvez mais), não as quero todas de uma vez, óbvio, quero que a vida as vá trazendo e que eu as consiga achar sempre que puder. Felicidade às prestações, em pequenas doses de consumo imediato, sob mil e uma formas diferentes... em que algumas serão importantes percepcionar, experimentar mais do que uma vez. A felicidade não tem certamente a mesma expressão aos 10 anos, aos 20, nem aos 30, 40, 60, etc... a felicidade tem de ser mutável e flexível, cada dia repensada e transformada.
É quase impossível que o nosso caminho não se torne numa rotina, mais cedo ou mais tarde, e infelizes daqueles que não se conformam com isso ou pensam que o quotidiano repetitivo implica uma mente adormecida. O escape, a recolha, as sensações vêm sim, não de múltiplos caminhos percorridos (a vida nunca chegará para tudo isso), mas de inúmeras formas de "alucinação" que se podem obter, ou não fosse a música, a literatura e as imagens, dos bens mais preciosos que alguém pode ter e experimentar, tal como sentir, ver, ouvir e cheirar nos trazem o mundo para dentro de nós.
É essencial, vital acrescentar a tudo isso, sem escassez, amizades e amores, algumas graças e desgraças, alguns risos e algumas lágrimas: miríades de hipóteses sensoriais para os nossos cinco sentidos - “...não viver a monotonia sem convulsões (...), que o teu rosto anónimo não esconda as almas de quantos de ti estiveram perto...” – não cair na apatia nem na ignorância.
Convém que a nossa sede do que não temos, não nos leve a um labirinto, que no fim não sejamos a dor de ninguém, que o nosso perfil não seja uma máscara e que a nossa luz não tenha trejeitos torpes. A busca do “eu”, deverá ser apenas até ao horizonte visível, “elusiva e discretamente altiva”, para que o sabor que dela tenhamos não traga um pasmo silencioso, mas sim o esplendor de um diamante em eterna lapidação

Não viver a vida de ninguém nem fazer ninguém viver a nossa vida, guardar e preservar o espaço que cada um deve, pode, tem de ocupar.

“...Por mais que a vontade de pequenos deuses pálidos e fulvos talhe em profusas lápides o contrário, e a sua persistência os tenha por Senhores, o sangue que impele estas veias é MEU....”

A todos aqueles que ainda não descobriram o seu rumo, que ainda não se aperceberam que só têm uma oportunidade para a realização dos seus sonhos, tenho sempre a mesma mensagem - nunca é tarde para ser feliz -, a felicidade não é uma opção é uma obrigatoriedade, e só depende de nós mesmos e de mais ninguém.
Tudo aquilo que não fizermos por nós ninguém o fará, e a melhor altura para tocar o “Clarim da Revolta” é o dia de hoje porque ontem seguramente não foi possível escutar o maravilhoso som que dele sempre emana.
O conformismo gera tristezas e desilusões, a revolta sempre foi a alavanca da mudança, e por vezes o único caminho na direcção à felicidade.
Por vezes não entendo aqueles que dizem “não tenho tempo”, a maior parte das vezes esta expressão disfarça uma cobardia tremenda para aquilo que gostávamos mas não conseguimos fazer, como se a culpa para todos os nossos males fosse o tempo que passa, quando o que devemos é estar gratos por cada dia em que temos o privilégio de estar vivos.
É pena contudo que por vezes deixemos para trás o que poderiam ser os mais belos momentos da nossa vida. Olhamos para o que já é passado e nos interrogamos sobre o que perdemos! nesses instantes a nossa lucidez cria uma sucessão ilimitada de imagens, lapsos temporais que perdemos porque os inevitáveis erros do passado, e o medo do futuro, não nos deixaram ser livres para experimentar um maravilhoso presente.
Retumbantes êxitos de grandes homens devem-se a pequenos mas raros momentos em que puseram de lado a razão e entregaram-se à arte de viver, errando o mais possível e acertando outras tantas vezes. Acredito que um dos segredos da vida está em aproveitar a ocasião quando ela se nos apresenta e não pensar, porque quando pensamos estragamos o momento e com isso a excitação e a magia que é estar vivos.
É necessário nunca perder a esperança, porque onde não existe esperança não existe qualquer esforço que resulte.
Acredito na vitória de qualquer ser humano (quaisquer que sejam as lutas que desejem travar), como acreditei na minha, porque ela existe no coração de todas as pessoas, “porque quem acredita sonha, quem sonha vive, e quem vive pode mudar o seu mundo e ser feliz”.

Não queiram ver um dia na vossa campa a seguinte inscrição:

“Morri, não chorem, não me chamem, eu estarei longe e tudo o que fizerem e disserem será em vão, vocês foram a causa da minha desgraça, da minha solidão, mas onde quer que eu esteja eu ficarei bem e perdoarei o que me fizeram sofrer e serei sempre aquilo que vocês me fizeram ser.......”

Abracemos as oportunidades sem medos, porque se virarmos as costas à luz que nelas se encontra, a única coisa que veremos é esse corpo inerte a que chamamos de sombra. Cada vez que mentimos a nós mesmos para evitar um esforço, a manta sob a qual nos escondemos torna-se um pouco maior, até esse dia em que sucumbiremos à sua escuridão. A pior coisa que se pode fazer na vida é fugir de nós mesmos, mais cedo ou mais tarde encontramo-nos, e quem sabe já tão cansados, que não vamos ter forças para entender que

“nas montanhas da felicidade nunca se faz uma escalada inútil”.

Revoltem-se! Deixem essa jaula “virtual”, soltem a criança que existe em vós para que possa outra vez correr atrás das borboletas e não deixem apagar dos vossos lábios a pureza de um sorriso, afastar dos vossos olhos a serenidade de um olhar, escapar do vosso coração a ânsia pela vida.

E se nada mais resultar entreguem a vossa alma à poesia, porque neste mundo das palavras ninguém nos pode colocar algemas e afastar–nos da nossa paz.

Neste lapso de tempo em que escrevi estas singelas palavras, a vida aconteceu, convivi com um passado que não se repete, um presente que já passou, e um futuro que desejei quando escrevia no presente. A magia deste lapso de tempo nunca dependerá das palavras que aqui deixo, mas do facto de, mais uma vez,o ter vivido com a paixão de quem a ele se entregou.

23-06-2008


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Não! Não vou dar-te um qualquer objecto atado por fitas da cor dessa hipocrisia purificante, de quem embrulha materialismos esperando comprar o que nunca estará à venda.
Neste papel em branco, sem vida, irão fluir pinceladas de sentimentos, serão aniquiladas barreiras que impeçam a minha alma de voar até ti, nas asas de um poema que desejo fazer em mim.
Talvez não tenha o génio necessário para criar "esse poema", mas inicio esta viagem com a força de todos os sonhos do mundo, desejoso que a luz do sol me oriente no caminho, e que a paz da noite me traga a esperança de poder dar um sopro de vida às palavras que te quero deixar num papel eterno.
QUERO dar-te algo que SEJA REALMENTE TEU! Que nasça DO MELHOR QUE EXISTA EM MIM!

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Tudo começou um dia, numa sala dolorosamente ruidosa, onde o tempo parou.
Não existia mundo lá fora! Passado presente e futuro confinado a quatro paredes com cores de dor e esperança. Senti, como nunca tinha sentido até aí, a mais devastadora impotência e soltei todos os meus medos em gritos de silêncio. Entre lágrima e lágrima deixei-me viajar na memória, viagem que fazemos sem nos ausentarmos donde estamos e que tão longe nos leva entre lembranças e instantes vividos.
Revisitei todos os momentos que antecederam aquele momento, A RAZÃO DE ESTAR ALI.
E de repente tudo ficou claro, à minha frente o brotar de uma semente, o desabrochar de uma flor, a doce melodia da inocência nos mais belos olhos que só em sonhos imaginava. Na minha mão senti dedos frágeis, desenhados num sonho de eternidade, e no meu coração ecoava a beleza dos primeiros sons de quem rompeu com coragem as fronteiras de um corpo, abandonou o divino sangue maternal e se fez CRIANÇA.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Recordo a emoção do momento em que nos meus braços senti a fragilidade desse corpo acabado de nascer, a surpresa dos primeiros passos toscos e desequilibrados e a celebração aquando da libertação definitiva da fralda.
Revivo a alegria dos primeiros dentes nascidos e a manifestação de coragem por cada um que tombava como guerreiro morto em campo de batalha, merecedor de um memorial especial honrando a sua bravura… não fosse a fada dos dentes aparecer!
Revisito os tempos em que cantou, dançou e representou, subiu às árvores, magoou os joelhos, sujou o mais possível as roupas rebolando no chão como qualquer criança com direito a sê-lo.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Deixo-me voar nas memórias desse tempo de partilha dum universo infinito, um mundo sem impossíveis coberto por um céu da mais harmoniosa paz.
Construímos palácios encantados, nos seus jardins colhemos flores mágicas que se convertiam em amuletos contra bruxas malvadas que congeminavam para aniquilar a nossa felicidade. Mas não existia magia eficaz contra os nossos superiores poderes e nada impedia que qualquer história tivesse um final feliz, O NOSSO.
Inventávamos brincadeiras! Naves espaciais construídas de esquecidos e velhos jornais partiam para os planetas mais distantes, lá dentro, dois intrépidos astronautas desafiando esse céu desconhecido. Na dispensa, esse espaço sem vida que existe em todas as casas, vizinhos partilhavam problemas e trocavam objectos, e quando partiam, eu, era esse "touro mecânico", onde desafiavas a gravidade e o equilíbrio.
Lembras-te de quando o poder da nossa mente fazia aparecer os objectos que não sabias onde tinhas deixado? - Vamos puxar forte pai! - Dizias. E quando duas pedras eram os dardos velozes e certeiros – bem... às vezes nem tanto! - que atingiam uma qualquer árvore escolhida na natureza, essa natureza amiga que nos fornecia as personagens necessárias à construção de um universo mágico.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

A vida não pára! Enquanto eu trilhava os caminhos deste mundo, já tu tinhas a mochila às costas e partias com passos decididos em direcção à escola.
Agora, é-me impossível ter outro pensamento que não o mesmo de sempre: CRESCESTE! Ainda há pouco tempo habitavas outro corpo, depois o meu colo, as discussões de quem já diz existo! Agora começas a construir o teu espaço, esse pedaço de “terra” marcada pelos teus passos cujas pegadas construirão a tua história.
Mas és e serás sempre aquela menina doce que dizia – “Caixolixo”, “Cocholate” –,
a minha ETERNIDADE.
A filha que qualquer pai desejaria ter.
A Chuca, Peterpanzinha, Pintarolas, Pitufinha, Furinhos ...
A MINHA FILHA.


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Continuarás a ser essa criança ávida de vida que deseja encher o mundo de animais e os campos de flores. Essa criança que contagia com a sua transparente alegria, cativa pela sua inteligência curiosa, assombra com a sua perspicácia, encanta com a sua vaidade e que nos orgulha por tudo isso e pela natureza meiga, amiga e humanamente generosa.
Nada temas! A tua essência irás descobrindo, cultivando, nessa incessante procura pelo teu espaço, pela concretização dos teus sonhos.
Aparecerão pedras no teu caminho, obstáculos e dificuldades – a vida não é o mundo encantado que tantas vezes construímos – mas nunca estarás sozinha nessa luta.
Preserva essas características que são a tua diferença, a impressão digital do teu carácter.
Trilha as tuas estradas ao ritmo de um passo depois do outro, não vivas na ânsia do “partir” e desfruta em cada dia o prazer do “estar aqui”.
A vida não é uma corrida rápida.
A beleza sempre começa na simplicidade das pequenas coisas, a árvore mais bonita brotou de uma frágil semente, as palavras que aqui te deixo foram escritas letra a letra, os oceanos são formados por gotas de água que lutaram nos caudais dos rios para chegarem ao seu destino. Da mesma forma, os sonhos serão construídos com luta, persistência, coragem, sofrimento, compreensão, solidariedade e muitas vezes perdão.

Ah! Se as palavras me ajudassem...

Um dia desabrocharás para a madrugada e partirás...
E nós que te demos a vida, assistiremos a esse “bater de asas” com orgulho e essa tristeza interior que nos chega através do manto da saudade.
Ficaremos como esses veleiros nos portos silenciosos, esperando uma nova partida, uma nova aventura com essa pequena célula que se transformou numa tão bela flor que nos fez viver numa constante primavera.
Mas hoje, aqui, sentado nesta cadeira sem alma, és apenas:
A OUTRA PARTE DE MIM!
Agora é tempo de continuar, falamos amanhã! Quero escutar todos os segredos e novidades que trazes da escola, abraçar-te e dar-te um beijo
Esta folha que começou em branco, foi preenchida com palavras que gritam um nome e um sentimento...
O nome é JOANA, o sentimento AMOR.

08/07/2008



H! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Agigantastes uma pátria adormecida com o sonho da universalidade. Conquistastes o desconhecido e chegastes ao topo dessa colina sagrada onde vivem os imortais, e do seu cume decidistes que parte do mundo era vosso.
Nem sempre as velas de vossas naus se moveram por ventos de nobres motivos, mas ecoarão eternamente hinos aos vossos gloriosos feitos.
A vossa herança são hoje páginas de histórias de um povo visionário que construiu um império.
De um David que ousou ser Golias.
Esta terra que hoje pisamos, tão longe está daquela construístes, viveste e pela qual destes a vida.
Somos vítimas de um processo de extermínio promovido pela ausência de consciência. Derramamos agora lágrimas em locais sem “sangue de guerra”, lágrimas feitas gotas de água de um mar que dominastes, mas no qual nos sentimos exilados, atirados à tragédia do nosso próprio destino.
Nas suas areias, debaixo de um manto de vergonha, já não sonhamos com outros horizontes, e simplesmente nos escondemos à sombra como almas do outro mundo tementes do sol.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Não queremos ser esses cobardes que simplesmente esperam, que vêm a vida a passar pintada de cores e não lhe podem tocar.
Queremos correr e saltar, tocar o arco-íris.
As nossas feridas, são lancinantes marcas de uma luta que não ocorreu, de uma guerra sem palco que nos mata.
Vivemos na incerteza atordoados por carrosséis de imposturas.
Não nos deixam entrar no campo de batalha
– Cobardes –
Não desejam o corpo a corpo.
Os escudos são forjados na hipocrisia.
As lanças untadas na sua ponta com o veneno da indiferença.
As Flechas construídas de mediocridade, voam certeiras e trespassam corpos que ecoam cânticos de libertação ao se verem mortalmente atingidos.
As espadas já não têm código de honra, são empunhadas por esses carrascos que nos leitos das suas concubinas, nesses lençóis acetinados que alimentariam uma aldeia completa, se deleitam com sentenças nascidas em orgasmos de poder.
A justiça é agora de facto cega, tapada pela venda da mais infame cobardia que não ousa olhar de frente os condenados.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
No nosso sangue já pouco resta do vosso.
Mas ainda somos soldados!
Soldados sem rosto.
Sem exércitos.
Sem monumento.
Heróis anónimos.
Tombamos numa guerra surda pelo direito a ter um pedaço dessa terra adubada com o vosso sangue.
Pelo direito a andar e não estar sempre no mesmo lugar.
Temos que vestir o fato do guerreiro, não para conquistar os mais longínquos oceanos, mas para defender o nosso charco enlameado e a pele dos homens como nós.
Não lutamos para ampliar impérios, mas contra as ambições desmedidas, de quem nos quer tirar a capacidade de sonhar o sonho, de quem nos obriga a partir porque nos asfixia na nossa própria terra.
Conquistaremos cá dentro o que vocês procuraram nos quatro continentes.
Somos o que sempre fomos na nossa história, Destemidos Soldados, e lutaremos contra esse Golias que nos quer confinar aos lugares onde a luz da nossa harmonia nunca estará presente.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Voltemos a desfraldar essas velas da liberdade e sonho, que um dia partiram no desconhecido.
Voltamos a ser pequenos mas existimos e não desistimos.
Não temos as tuas ”Tágides “ oh Camões venerado
mas temos a força dos humildes, herdada da fúria desses Oceanos que trespassaram com a vossa ousadia.
Não temos armas, mas temos a força de corações oprimidos que tocam o tambor da justiça.
Não temos hinos grandiosos, mas temos a coragem de não ser hipócritas nos prazeres que buscamos.
Não temos bandeiras, temos a força da revolta de quem se senta numa mesa imposta, adornada pela decadência de quem serve esmolas de hipócrita humanidade.
Nunca seremos história, mas temos a honra da humildade
A alquimia da felicidade
A febre da vida
A ânsia da beleza
A visão de quem sonha.
O desejo de querer mais
A AMBIÇÃO DAS DESCOBERTAS

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Desejamos o repouso destas guerras, não queremos ser donos do céu ou senhores da terra. Queremos ancorar nossos barcos num pedaço de terra em que possamos por fim tirar esses sapatos de soldado e encontrar a paz.
Queremos viver num qualquer lugar que seja nosso e ser cobertos na morte por uma terra que trabalhamos com a força das nossas mãos.
E se para isso tivermos que morrer lutando como o fizestes outrora, se tivermos que nos afogar nas ondas forjadas na raiva de um qualquer Adamastor,
ao menos morremos num mar de sonhos e não viveremos morrendo por os não ter.
Unam-se a nós os que já desistiram, ainda estão a tempo de desistir da desistência.
Não nos restam quaisquer duvidas de que, como para todos esses gloriosos conquistadores,

A MORTE SERÁ UMA AVENTURA
A MORTE SERÁ QUASE COMO A VIDA

09-06-2008











Sou vítima dos tribunais da incompreensão
Julgado à revelia porque nunca lá vou estar
Hibernei nessa caverna iluminada na obsessão
De despertar para mim e em mim me deitar


Quando apareço! Sou de hipócrita adjectivado
Estou! É sempre pouco. Não estou! Algo mudou
Faça o que faça essa certeza de ser condenado
Pelo que sou e não sou, pelo que dou e não dou



Se falo verdade ou mentira isso não é determinante
Se me calo! O silêncio é a confirmação da suspeita
Se desejo escutar! Claro que não sei ser dialogante
Se falo porque tem de ser! Uma conversa desfeita



Se abro o meu interior! Não me conseguem entender
Se me fecho em mim! Sou dos continentes o mais frio
Se escuto sons românticos! Há paixões para esconder
Se danço ritmos loucos! Sou de mágoas senhorio



Se fujo para a magia da noite! Tanta superficialidade
Se conheço mundos alheios! Quero a felicidade no incerto
Se fico em casa num dia de sol! Que desperdício de idade
Se saio num dia sombrio! Procuro à chuva o sol do deserto



Nunca pensei que poderia ter na vida que aprender
A passar em segundos do fascínio à cruel desolação
De não ter uma razão que me consiga fazer entender
Que mentes conseguem viver com tanta contradição



Lamento ter deixado que esse corpo onde moro
Me leve para aventuras que nunca serão memórias
Para esse recanto afastado onde grito e choro
Os efeitos da simples vivência dessas histórias



Vou sempre ter ao abismo e não dou um passo atrás
Mas não quero perder-me no efémero contentamento
Minha alma vive num mundo que nunca me trará paz
Quero ser essa criança com o papagaio ao vento



Nas sobras que recolhem do que em mim se perdeu
Constroem puzzles que nunca conseguirão concluir
Faltará sempre encontrar a peça que a vida escondeu
E que apesar do desejo ainda não consegui descobrir



Como qualquer animal que segue suas pegadas
Vagueando num perigoso território com o instinto
Sou predador que caça em turvas águas paradas
E presa fácil de tudo o que em mim já não sinto



DEIXEM-ME em mim! Se tanto desejam não me ter
Permitam que este corpo encontre a sua calma
Não me queiram esquartejar para dividir o meu ser
Não me desejem morto dentro da minha alma



DEIXEM para mim o que sobra! O que resta de mim
Poderão beber meu sangue nos meus destroços
Abutres escondidos apareçam! Eu sei que no fim
Farão um banquete desfrutando dos meus ossos



12-05-2008


Existem pessoas sem olhos
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira

Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia

Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata

Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável

Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria

Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos

Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade

Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente

Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado

Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira

Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado

Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu

Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência

Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça

Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus

Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade

15-05-2008



Tão longe estou do que de mim sempre esteve perto.
Quantas estradas percorri para me afastar donde nunca parti.
Quantos voos num céu feito de nada para ter coisa nenhuma.
Quantos passos em terras distantes ao som de outras músicas, umas com ritmos de uma abundância que nada valoriza, outras com a musicalidade fascinante de quem é extremamente feliz na ausência de quase tudo.
Mas ironia da vida! - É quase sempre nos sons da simplicidade que me deixo viajar dentro do meu universo à procura de mim. Dessas gentes retenho a alegria dos rostos, a transparência do olhar, a nobreza dos corações, a incrível - praticamente em extinção… - alegria do “dar” sem esperar receber.
E nesses momentos, quase sempre me sinto regressar à minha cadeira da escola primária, para mais uma vez aprender uma lição: assumir com realismo o que temos e não temos, e apesar disso viver em perfeita harmonia dentro e fora de nós.
Nesses momentos sinto o quanto somos privilegiados em poder “caminhar descalços” sentindo o pulsar da terra, porque tenho diante de mim quem caminha “sem pés”.
E nessas viagens recordo a criança que brincava no meio da natureza com um qualquer pedaço de madeira caído no chão e desse objecto fazia a mais mortífera das espadas contra inimigos imaginários a vassoura veloz de uma bruxa que amaldiçoava todos os que impediam qualquer história de ter um final feliz; o motor de uma roda de metal invencível em todas as corridas; o perfeito barco que velejava em qualquer caudal de água por mais seco que pudesse estar; com umas panelas furadas ou amassadas que sempre se encontravam nos lixos de outros lixos, tinha a mais perfeita das baterias e sentia-me o maior baterista do mundo….
Não tinha nada, e nada era impossível para ter tudo.
Recordo-me do quanto era feliz nesses momentos. O que a vida não me dava, a imaginação e a criatividade compensavam, e por isso compreendo (creio que com alguma autoridade ….) a alegria dos rostos estampados daqueles cujo passado, presente e futuro é esse simples “pedaço de madeira”.
Sou assim - imagino que como muitos outros… -, “réu” da vontade de aventura, adito terminal da experimentação, e alienado por esta droga, experimento tudo e por vezes regresso mais vazio do que quando parti. No fundo talvez seja esta a essência de “viajar”, nunca saber o que encontrar, deslumbrar-se com o que de nós se afasta, na ânsia de dessa forma enriquecer o baú da “experiência".
Mas tanto já viajei, tantas aventuras já vivi, que me pergunto qual a razão porque nisso penso agora?
Se a minha essência me impele a fugir do que é meu, porque me castiga agora, com a necessidade de compreensão das razões dessa consciente “fuga”?
Talvez nunca consiga entender esta necessidade silenciosa, mas ao tentar faze-lo, entro numa espécie de aventura mais perigosa e difícil que todas as outras. Perigosa porque não tenho bem claro que a obter respostas as mesmas me agradem, difícil porque não existe nada mais imprevisto que viajar dentro de nós para chegar ao nosso mais profundo “eu”.
Mas quem sai sempre há-de chegar e quem foi sempre há-de contar, para quem ficou, que o importante é viajar, seja a bordo de uma jangada ou num sonho colorido.
É no fundo como que entrar no mundo da poesia, que tanto gosto de dizer que é parte importante do sangue que me corre nas veias.
Porque a POESIA é dar luz à alma quando a escuridão desfila! Deixar que o sonho penetre no calor do um corpo adormecido e esquecer-nos do mundo!
Cada viagem é tempo que não se repete, vida que não mais teremos, gente que se cruza nas nossas vidas de uma forma efémera ou para sempre. É tudo aquilo que consciente ou inconscientemente vai mudando a nossa visão do mundo, e a forma como com ele lidamos.
É um fluir de emoções, sentimentos, momentos e situações, que vão construindo o nosso carácter, a nossa real essência ou nos seus efeitos mais preversos, somos transformados noutro qualquer ser, que se não nos dermos conta a tempo, começamos a acreditar ser o nosso verdadeiro "eu".
Partir de nós, para chegar a nós, não é infelizmente como realizar uma viagem à volta do mundo em 180 dias, é um périplo tão eterno quanto o seja a própria vida. Nunca conseguiremos chegar ao perfeito conhecimento de quem realmente somos, e as razões porque de certa forma vivemos.
O porquê sentimentos “cinza” num dia colorido, solidão por vezes acompanhada, tristeza isoladamente sentida sem razão aparente, alegrias que se desvanecem no segundo anterior ao primeiro sorriso, passos em estradas que terminam em becos sem saída, dificuldades ultrapassadas que aparecem sobre outras formas e que nos fazem pensar que para nós nada é fácil, lágrimas que não saem porque nos recusamos a exteriorizar a desolação que em nós habita.
E por isso, continuaremos sempre a sair de dentro de nós numa constante “alquimia” pela procura da nossa real natureza.
Mas um destes dias que felizmente ainda vão passando por nós, num qualquer espaço longe dos turbilhões mundanos, voltamos a pegar nesse “pedaço de madeira” mágico e regressamos ao inicio de todos os inícios. No nosso sangue corre outra vez a verdadeira substância de que somos feitos, nosso coração volta a sentir a perfeita harmonia de quem não pode sonhar maior tesouro para ter do que o seu barco, a sua vassoura, a sua espada e bateria.
E chegado esse dia, talvez seja o momento de - antes de desejar fortemente uma coisa - perguntar primeiro a quem a tem o quanto é feliz por isso?
Nesse dia compreenderemos que o nosso maior erro foi ter esse “pedaço de madeira”, e na sua ponta colocar um lança para lutar pela valorização do efémero em detrimento do eterno.
Entenderemos que as nossas lágrimas são (não raras vezes) o resultado da frustração hipócrita de quem tanto deseja o que não tem, e que nunca aprendeu a valorizar e apreciar o muito que já conseguiu.
Compreenderemos que sempre tivemos a capacidade de olhar, mas nunca conseguimos efectivamente “ver”.
Que procuramos sempre longe de nós o que sempre esteve perto, que todas as riquezas do mundo não nos pertencem, e que o único “ouro” exclusivamente nosso é o que brilha dentro da nossa alma.

E nesse dia regressaremos outra vez à nossa cadeira da escola primária, fecharemos os olhos e partiremos outra vez para a floresta com esse “pedaço de madeira” em busca da nossa paz.

11-11-2010


Ser poeta é viajar no pensamento,
E caminhar nesse universo sem norte,
Abrir as entranhas do sentimento,
Para fugir ao esquecimento da morte.

É estar fora de nós desordenadamente,
Deixar a alma flutuar na lua cheia,
Ser essa criança inocente,
Que enche de vida a aldeia.

É ser pássaro livre num céu de emoções,
Comungar da paisagem, perder-se no conflito,
De ter dentro de si todas as contradições,
E nesse universo procurar o infinito.

É engolir a vida sempre que preciso,
Esconder a face, congelar misérias,
Disfarçar tristezas num belo sorriso,
Encher de cores as coisas mais sérias.

É ter sempre um verso sem guarida,
Num corpo que respira ao descoberto,
Nos olhos uma porta aberta para a vida,
Na alma a dor amordaçada do incerto.

É dar passos de coragem em rua escura,
Construir uma ponte sobre o mundo,
Beber a alegria na ressaca da amargura,
Viver do lixo como qualquer vagabundo.

É abrir as entranhas e transformar,
Esse acto fraticida,
Em palavras para dar,
Outros sentidos à vida.

É ter mil seres para deslindar,
E neles ser saltimbanco,
E só encontrar o seu lar,
Num mundo de folhas em branco.

É escutar quando queremos falar,
Falar quando nos querem sem voz,
Escrever quando devíamos gritar,
Tudo o que vamos calando em nós.

É cantar quando não temos voz,
Dançar ao som do silêncio,
Caminhar na multidão a sós,
Voar quando não sopra o vento.

É ser um comum mortal,
Animal de carne e osso,
Que entre o bem e o mal,
Escolhe o melhor desse fosso.

É transformar sonhos em realidade,
Passar da tristeza à alegria,
Ir num instante do campo à cidade,
Transformar a noite em dia.

É fazer os fracos capazes,
De lidar com as desilusões,
Transformar desertos em oásis,
Para conforto das solidões.

É ter tudo e não ter nada,
E nunca perder o encanto,
De trilhar essa estrada,
Que dos sonhos faz seu manto

7-05-2008


Escrevo porque em mim isso é algo urgente
Porque nessa urgência existe fome e desejo
Porque não consigo ficar distante e ausente
De pintar em palavras o que sinto o que vejo

Tremenda esta minha sede interior de viver
Sentir o fluir de vida num continuo encanto
E neste meu irresistível impulso de escrever
Eu vivo, sonho, sou, existo e canto.

Como muita gente invade-me esta vontade
Do cinzento da vida fazer uma bela história
Mudar ódios em amor, amarras em liberdade
Raivas em tranquilidade, fracassos em glória

Escrevo porque que foi a isso condenado
De nas palavras ser abandonado mendigo
Nelas a única forma de me sentir libertado
Dos gritos da alma que vive comigo

Escrevo porque minha modéstia ousa querer
Fazer simples canções das músicas que sinto
Perdido em palavras que raramente ouso ler
Vou gritando verdades em tudo o que minto

Sou como Colombo, não sei para onde vou
Mas vou! Sou peregrino no meio da gente
Escrevo porque sem isso não sei quem sou
Perdido entre passado futuro e presente




Talvez as relações amorosas devessem vir acompanhadas de um manual de instruções em varias línguas, porque na era do amor sem barreiras geográficas tal seria importante.
Todos dedicamos ao tema do amor muito tempo das nossas vidas, quer em conversas nos mais díspares espaços e com os mais diversos interlocutores, quer nos momentos em que isoladamente tentamos (pobres que nunca compreendemos que é impossível…) definir o seu conceito.
Desistimos sempre desse desígnio de qualificar o inqualificável, e contentamo-nos -quase sempre - em listar uma séria de factores que o mesmo deverá incluir seja qual for a sua definição.
Tanto tempo dispendido com esta temática, que deveríamos num determinado momento das nossas vidas ser apelidados de “gurus” do AMOR, e ser convidados a dar palestras nas universidades da vida.
A verdade é que sabemos sempre começá-las, agarramo-nos aos inícios com a sabedoria dos mágicos, operámos transformações milagrosas em nós próprios e no objecto do nosso amor, de repente tudo nos é fácil e grato, sentimo-nos com asas de falcões, nas nossas costas cresce uma capa encarnada e carregamos no peito o símbolo do Super Homem, tudo é óbvio visto assim, o mundo aparece aos nossos olhos como um jardim florido.

Não há nada melhor do que começar uma relação.

O novo é irresistível. Descobrem-se coincidências que vão desde a mesma colecção de cromos, às músicas que escutamos, aos gostos culinários (o sushi que detestávamos até que nos começa a parecer o melhor petisco dos deuses…). Descobrimos o prazer que não tínhamos numa saída com gente que nada nos diz, e drogamo-nos com todas as palavras que escutamos, e que sempre pensamos merecer.

É a primeira vez, outra vez em tudo.

Descobrimos o outro em nós e nós no outro.
Descobrimos que afinal sabemos cozinhar e até uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos (antes entediante) nos parece de um imenso romantismo.
No início de todos os inícios sentimo-nos tão estupidamente felizes que seríamos capazes de morrer a seguir, porque achamos que atingimos o ponto máximo da felicidade.
Mas o pior, o pior mesmo, vem a seguir, como dizia o Picasso "…bom mesmo é o início porque a seguir começa logo o fim…". E quando o fim chega já é tarde demais para voltar atrás. (e como faria falta o tal manual para saber como com ele lidar)
É sempre tarde demais, porque isto do amor é mesmo uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior.
E o pior (dizem os comuns mortais) é que na primeira oportunidade repetimos os mesmos erros à espera de resultados diferentes (o que até me agrada pois é um bom sintoma de demência).
Aos poucos vamos vendo o amor perdendo-se, acabando...sentindo a cada dia mais distância do outro.
O seu sorriso já não é o mesmo, já não aceita a rotina como antes, já não nos olha com tanta ternura, e já não faz questão de esconder o descontentamento...
Sentimos uma grande saudade do que fomos, do que juntos sonhamos, de tudo o que com felicidade construímos. Não sabemos nada dos sentimentos da alma que um dia julgamos gémea da nossa, sabemos apenas do nosso coração, que sente medo, que foge dos sentimentos, que não se entrega mais e que vive atormentado de culpas a perguntar:
Porque?
Num determinado momento compreendemos que: o que mais nos dói é saber que o nosso “eu” e outro “eu” nunca construirão o “nós”.
E quem se considere imune a tais disparates e nunca tenha passado por estas avarias sentimentais, que atire a primeira pedra…
Alguém (desses eruditos que estão sempre seguros de tudo.....) escreveu "… primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde antes estava a intimidade …."
E pronto, já está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, DEPOIS DE SE APAGAR A CHAMA.

Mas esta é a condição humana, doa a quem doer.

Ou então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o início do mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver, caso regressassem ao mundo. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário Ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, a Penélope recuperou o seu guerreiro depois de 20 anos de espera.
O amor esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar do que o Olimpo, porque não está nem no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que toda a água dos oceanos.

Pode até ser apenas uma invenção dos homens para fugir à morte, ou uma realidade para dar razão à vida.
Mas! Ilustres e comuns cortais, tudo o que é belo é digno das nossas lutas, e por isso fujamos dessa terra sem esperança, onde habitam os crentes de que na vida não existe sofrimento, esses que ainda não descobriram que nos caminhos do amor qualquer sofrimento vale a pena.

“ …ainda pior a convicção do não, ou a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase….”

É o “quase” que nos deve entristecer, "...que nos mata trazendo tudo o que poderíamos ter sido e não fomos. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam entre os dedos, nos momentos que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono. Perguntamo-nos às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, a resposta está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços na indiferença dos “bons dias”, quase que sussurrados. Sobra a covardia e falta de coragem até para sermos felizes..." (Sarah Westphal)

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
De nada adianta economizar a alma, um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Ah! Ânsia de amar Febre bendita...É Inevitável! Um dia perderei outra vez a lucidez e voltarei a amar.

11-11-2010


Muito desejaria ter a capacidade de por palavras expressar-te a minha gratidão
Aproveitar este verso simples para te dizer o que por vezes para mim guardei
Recordar a criança frágil que um dia descobriu o mundo agarrada à tua mão
Imaginar-te bem perto de mim, sussurrar-te ao ouvido que nunca esquecerei
Aquilo que pelos que amas tens feito e que para sempre guardarei no coração

Em teus braços que se abrem para mim encontro o amor e a amizade mais pura
Nesses braços meigos repletos de amor, esqueço a vida e volto a ser uma criança
Grande a força que me dá tua presença tua coragem e sabedoria sempre madura
Razão pela qual te imagino sempre a entrar pela minha porta cheio de esperança
Ainda não sei como sarar a saudade de tantas horas passadas sem te sentir e ver
Como espero o momento em que sentindo ao longe tua voz, já não estejas distante
Imaginar-te não é sentir-te, é estar sozinho é sonhar-te procurando-te para te ter
Acalmando minha alma, abraçando-te como se o mundo acabasse nesse instante

Como é linda aquela a quem dedico estes momentos em que o meu coração chora
Apertado por saber ser impossível com palavras exprimir o que me vem na alma
Bendito o destino que me deu esta pessoa bela, tanto por dentro como por fora
Respeito-a pela sua luta, perseverança, amizade desprendida e natureza calma
Amo-a pelo que é, por ser única e especial, por sua alma de pureza transparente
Lamento e perdoa-me, se algum dia de uma forma consentida de ti estive ausente

Por me ter adormecido em muitas noites, em que nunca sentia vontade de acordar
Intensos os dias em que me ajudou, a encarar a imaginação como outra realidade
Resolvendo sempre os meus problemas com a nobreza de sempre os saber escutar
E agora que penso em ti minha mãe, sinto honra, carinho e uma enorme vaidade
Saber-te sempre minha para juntos partilhar-mos a vida para toda a eternidade

Farei o impossível para que na vida das minhas conquistas só te possas orgulhar
Imaginaste para mim caminhos e percursos, que nem sempre escolhi para viver
Guiaste-me num caminho difícil a lapsos injusto, e ensinaste-me a o enfrentar
Um caminho chamado de vida que se moverá com os sonhos que juntos iremos ter
Estas não são palavras escritas na areia seca de um imaginário e longínquo mar
Inventadas por alguém desejoso que as ondas depressa cheguem para as apagar
Resolvi escreve-las porque não posso deixar que os dias passem e nunca te dizer
Esta saudade que senti enquanto estive escrevendo o que espero venhas a ler
Dolorida como toda a saudade sentida por quem se ama, é verdadeira e irás ver
O que na vida farei para humildemente provar que o teu amor mereço sempre ter

Sei desde sempre que nunca existirá na vida uma forma mais pura e bela de gostar
Imagino-me transformado em vento, e dessa forma chegar até ti como brisa suave
Levaria uns segundos até tocar de leve na tua janela e se tu me permitires entrar
Vou o teu corpo abraçar, te embalar nos meus carinhos e baixinho dizer-te a verdade
Amo-te hoje mais que ontem, e nunca na vida poderei deixar algum dia de te amar

Por saber que nunca poderei ser vento, só me resta isso imaginar no pensamento
Estou escrevendo os meus sentimentos e enquanto escrevi lágrimas de alegria chorei
Refugio que encontrei para exteriorizar a alegria que me acompanhou neste momento
Em que por fim te digo o que por inexplicável cobardia nunca disse e sempre pensei
Imagino agora que amanha será outro maravilhoso dia em que a tua presença me traz
Razão para a minha vida, luz para os meus passos, amor e carinho puro onde beberei
A agua da minha felicidade, a cura da minha saudade e como sempre a verdadeira paz

Para ti minha mãe, um forma de dizer AMO-TE...

11-11-2010



Os sonhos são a procura do oásis esplendoroso
Onde absorvemos uma agua de vida sem parar
São o refúgio do guerreiro nobre e valoroso
Que não recusa uma causa pela qual deva lutar

São as esperanças que teimosamente guardamos
Num recanto especial dentro dos nossos corações
E que despertam sempre que na vida desejamos
Partir numa aventura em busca de emoções

São a possibilidade de experimentar outras vidas
Quando a que vivemos nos causa tanta frustração
De construirmos castelos com as ilusões perdidas
Onde encontramos a paz e aniquilamos a solidão

São a flor que regamos e que não deixamos morrer
Cujo perfume absorvemos sempre que necessitamos
Cuja magia nos embala e nos ajuda a compreender
O mundo por vezes desumano onde nos encontramos

São uma fonte de tesouros de valor incalculável
Porque não são efémeros como a vida nos faz crer
Brotam do interior qual fonte pura e inesgotável
E não devemos imaginar maior tesouro para ter

Com eles descobrimos a nossa verdadeira natureza
Quais alquimistas procurando o precioso tesouro
Experimentamos alegrias e aniquilamos a tristeza
São a nossa forma livre de converter metal em ouro

24/08/2009

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