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By Placido De Oliveira on quinta-feira, agosto 28, 2014
Posted in acreditar, escravidão, escrever, prosa | No comments
By Placido De Oliveira on quarta-feira, fevereiro 01, 2012
Posted in abraço, acreditar, amor, classicos, escravidão, esperança, felicidade, momentos, relações, solidão | 2 comments
By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Hoje acordei, e como quase sempre é normal, com vontade de dormir. Cumpri todos os rituais que sempre acompanham cada manhã, cada nascer do sol, cada despertar de voz dormente. Espreguicei-me tantas vezes quantas o meu corpo pediu, enrosquei-me e bocejei vezes sem conta. Agarro o relógio com mãos ameaçadoras e olhos que suplicam clemência. Desejo mais uns minutos! Cada segundo é importante! E contra a tirania de um relógio que não atende as minhas preces e recusa clemência concedo-me esse privilégio.
Claro que pensei! Como penso todos os dias, na irresponsabilidade de utilizar um tempo que não é meu, que vendi mendigando uma liberdade que hipotequei, na esperança de um dia poder voltar à casa de penhores para a ter de volta. Claro que pensei! Como penso todos os dias, na beleza que me espera lá fora, que "um minuto de olhos fechados são sessenta segundos de luz perdida". Pensei nisso tudo! Mas não abri janelas, o sol continuou a ser apenas um fio entrando pelas frestas que não consegui fechar, e continuo escondido nesses lençóis que quando fogem de mim, procuro como a sofreguidão de um condenado à morte vivendo os seus últimos momentos.
Levantei-me quando já não podia mais aturar a minha consciência, que não se cala, que grita uns sons inaudíveis que conseguem penetrar bem fundo, no corpo de um animal em estado de hibernação. Levantei-me com essa lentidão característica de quem deseja deitar-se outra vez, mas já não existe retorno! As minhas pernas conduzem uma alma sonâmbula para o primeiro contacto com a água fria de uma manha como qualquer outra.
O meu corpo e a minha alma são o único vestuário que me identifica, mas coloco em mim roupas tipificadas que nos pintam de inteligentes e credíveis aos olhos do mundo. Essas roupas nas quais nem me revejo, e que me fazem sentir uma alma negociada a desfilar na vida, com traços desenhados pelos escultores do barro mais impuro da humanidade.
Saio para a rua e sou mais um no meio de uma cidade em movimento, elemento de um espaço onde ecoam sons de histórias de mundos paralelos, dimensões diferentes numa interacção continua. Vejo caras que nunca chegarão a ter nomes, mas é assim! Somos reféns de uma indiferença sem sentido e somos mestres na arte do silêncio. E eu, simplesmente mais um! Não busco outros olhos, não estendo as minhas mãos e se alguém que me sinta passa por mim, não vejo, não estou lá, estou de passagem! Continuo o percurso escrito no livro que me serve de guião ao papel que interpreto todos os dias.
A minha anatomia segue o seu automatizado percurso, seguindo – isso sim – uma lógica diferente da minha alma. Essa ainda caminha na neblina, descalça, sentindo o chão e tropeçando nos degraus do esquecimento. Desfruta do seu anonimato, e perde-se na vastidão do silêncio que o seu hospedeiro experimenta. Não se excita na monotonia, no tédio mundano, não tem luz e ainda aproveita a sua sonolência na escuridão e vagueia perdida no supremo prazer do nada.
E chego ao "teatro", começa o PRIMEIRO ACTO.
Papel em cima de uma secretária. Papel sem cor, sem alma, sem vida, sem história sem marcas de lágrimas ou alegrias, qualquer coisa que interesse experimentar e recordar mais tarde. Ali estão! Acumulados pelos dias em que para eles olhei, lhes disse olá, mas nada fiz. Chegam outros para na maior parte das vezes seguirem o mesmo destino. Ficarem inertes até esse momento em que mereçam esse ritual sagrado, que tanto me agrada, de lhes dar o eterno descanso. Quatro horas em frente a uma máquina que condiciona uma parte importante da nossa vida. Gasto os dedos, os olhos, o corpo, a paciência a imaginação e ainda só interpretei o primeiro acto. Almoçar, esse período de liberdade condicional que usamos para umas palavras trocadas sobre este e aquele, sobre o tempo que já não é tão previsível, sobre as estações do ano que um dia teremos que redefinir. Sobre as tradições que são memórias de quem já viveu o suficiente para delas se lembrar. Sobre a violência que assola este país de brandos costumes e a corrupção que nos deixam conhecer. Sobre aquele desgraçado que morreu, mas com seis tiros! Não fosse o infeliz ter sido alvo do esvaziar de um canhão de uma arma raivosa não seria notícia. O tempo que desperdiçamos num filme que nunca terá o nosso nome e nunca fará parte da nossa história. E entre mais uma discussão sobre futebol, uma anedota, que para gáudio de um tradicionalista ainda é sobre alentejanos, e qualquer ironia sobre mulheres, surge o som dessa campainha que nos avisa que vai iniciar o SEGUNDO ACTO
É tempo de cumprir mais quatro horas de pena na "solitária". Repete-se o enredo, talvez tenhamos a sorte de ver novos figurantes mas a história, terá os mesmos actores, o mesmo publico, o mesmo monótono ritmo, algo entre a sonolência de Fassbinder e o tédio total de alguns novos filmes portugueses, mas com uma diferença! Com justiça para os anteriores, o final será, mais uma vez previsível.
E eis chegado o momento do fechar da cortina! Sem glória, não aplaudo, aliás ninguém aplaude! Comemoro o seu final sem ruídos nem euforias que possam ser visíveis, mas com a alegria infindável de quem é outra vez dono do seu tempo. Terminou a peça por hoje! Amanhã o teatro abrirá outra vez e tudo se repetirá, mas por agora volto a ser amo e pajem de mim mesmo, é tempo de colocar a minha natureza onde ela chora para estar, do sublime encontro entre a alma e o corpo, tempo de liberdade,
TEMPO DE UM NOVO DESPERTAR.
Sentia-me um náufrago, um poeta sem poesia, um intruso numa vida alheia que invadi porque sou um vendido. Perdido entre a necessidade de viver um tempo que não se repete e a necessidade de voltar a sentir a chama dentro de mim. Prisioneiro das saudades do “ontem” vivido em liberdade e do “hoje” que sonhei no “ontem” livre.
Prisioneiro desse sentimento frustrante de quem deixou escapar por entre os dedos o dia de hoje, porque nunca o conseguiu ter entre mãos.
Parece que acordo de um sono que nunca experimentei, no qual vivi uma vida que nunca existiu, soletrei palavras que nunca chegaram a ser escritas, sofri pensando que sorria, brinquei de estátua com movimentos, cantei canções sem melodia, escrevi o que não foi lido, plantei o que nunca sairá da terra.
Desta vez “desperto” sem dificuldade, porque por mais cinzento que o dia posa ter sido até este momento, ele ainda poderá ter a cor que eu lhe desejar dar.
Levanto-me da "cama" onde "dormi" sem pedir licença ao corpo, sacudo a areia dos farrapos que me cobriam e me asfixiavam e guardo-os para a próxima sessão. O sol parece mais reluzente, volto a sentir o perfume das flores vindo do jardim e consigo escutar o cantar dos pássaros.
Um novo dia acaba de nascer!
Encho meu coração de esperança, sou invadido por uma paz que pinta de todas as cores as paisagens que agora sou capaz de VER e deixo-me voar neste novo dia que será depositário de todos os sonhos que lá couberem.
A minha alma finalmente soltasse do espartilho de valores que não sente, vomita a indiferença, está viva! E em todas as faces existe agora um rosto, um sorriso um nome.
Acabou de passar um tempo que não se repete que passou enquanto desejava outro. Mas não importa! A alma não envelhece, adormece por vezes, mas desperta num qualquer momento do dia. A minha acabou de despertar, para a vida para a morte, para o azar ou para a sorte, para tudo e para nada, mas exclusivamente para MIM.
18-09-2008
Posted in abraço, acreditar, decisões, dissertações, educação, escolhas, escravidão, escravo, incógnitas, liberdade, loucura, monotonia, pressa, prosa | No comments
By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Existem pessoas sem olhos
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira
Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia
Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata
Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável
Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria
Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos
Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade
Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente
Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado
Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira
Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado
Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu
Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência
Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça
Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus
Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade
15-05-2008
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira
Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia
Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata
Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável
Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria
Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos
Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade
Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente
Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado
Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira
Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado
Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu
Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência
Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça
Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus
Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade
15-05-2008
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