Poesia e pensamentos livres

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Perdi-te!
De tão profundo que foi este meu não querer, só me encontrei no teu adeus.
Esqueci-me de ti nas pequenas e grandes coisas, nessa solidão estúpida em que sou sombra do teu sonho.
Fiz de errante ilusão a razão da minha invisibilidade.
Não duraste! Nada dura em mim mais que o fácil com a duração do pouco.
Na pele suam todos os silêncios de vozes que não me pertencem.
De dia sou nulidade, de noite não sou de um lugar nem de outro.
E no resto do tempo vivo tentando chegar às margens de ti.
Como não te posso esperar, se todo o meu tempo é saudade.
Sem ti não sou palavra, nem poema, nem absolutamente nada que valha a pena.
Como explicar-te!
Que a tua ausência não cabe em mim.
Que me dói o fim de um querer que permitiu a perda.
Que só existo na metade da vida que não inventei.
No púlpito da minha ignorância sou mero escravo de mãos ausentes.
Não te valorizei e nos teus restos não encontro forma de ser sozinho.
A minha solidão só em ti encontra adequada companhia.
Nunca escutei nem conversei com os teus segredos.
E sempre o meu egoísmo me exigiu ser parte deles.
No que não te disse acabei por falar o que devia ter calado.
Perdoa-me! A imperfeição de ter vivido para a minha criação e não para mim.
Que se eu fui assim planeado quero o resto de mim que caiba no teu sonho.
Não posso lembrar-me do que esqueci mas todos os sonhos falam de ti.
Quero uma nova história, uma oportunidade num novo tempo.
Deposito na esperança do perdão a minha única glória.
E se no que agora desejo vires valor, esquece-me a mim, o melhor de mim só existe fora da minha vontade.
Agora sou do tamanho que me quiseres dar e que em mim consigas ver.
Mas consente-me este desejo do recomeço, porque nada mais me resta do fracasso.
E se este humilde grito não te trouxer de volta,
que o que de mim em ti reste, por inteiro assim o guardes.
Porque se todas as vozes me levam ao caos da culpa,
todas as outras se calam porque de mim nunca partistes.

16/01/2015



Porque me pedes o impossível.
Porque exiges o que não é nosso.
Exiges o depois, o momento seguinte.
O amanhã!
Pedes tão grande a alguém tão pequeno.
Pedes tanta coisa, a quem se sente tão pouco.
Não odeies os meus silêncios, nem sempre
eles calam.
Não rezes pelas minhas palavras, nem sempre elas falam.
Não!
Não quero ver-te triste.
Mas não te posso dar o que não é meu.

Mulher!

Não me fales de ti.
Que necessito saber de ti, se de mim sou bolso de mendigo.
Esqueçamos as perguntas e nenhuma resposta nos afastará.
Não me vendas o futuro és todo o meu tempo hoje.
Cada vez que queiras, cada vez que possas.
Antes do amor nada era nosso, agora também não.
Tem-me enquanto quiseres.
Tenho-te enquanto merecer.
Sente-me agora!
Agora que queremos.
Agora que podemos.
Agora que necessitamos.

Mulher!

Não estejas segura de nada.
Nada se possui eternamente.
Exige-me a conquista.
Em cada minuto.
Em cada hora.
Em cada dia.
Somos semente de cada segundo.
Não existem estrelas que nos guiem.
Abraça-me agora.
Toca-me agora.
Beija-me agora.
Ama-me agora.
É tudo o que temos
E temos tanto
Depois de mim,
Que nada necessites.
Depois de ti
Nada mais imagino.

17-03-2013

E tu não existes e eu sou

Misteriosa encruzilhada
Propriedade abandonada
Lágrima dolorida
Cicatriz sem ferida

Sorriso envergonhado
Esculpido na solidão
Animal enjaulado
Que espera adopção

Família sem sustento
Mágoa cansada
Desejado alimento
Em mesa abandonada

Metade de metade
Gesto de outro gesto
Mendigo da saudade
Divisão sem resto

Construção demorada
Invisível no acaso
Plenitude do nada
Flor sem vaso

Sonho adormecido
Metáfora isolada
Desabafo caído
Esquina abandonada

Segredo revelado
Próximo Capitulo
Piano sem Teclado
Livro sem título

E tu não existes e eu sou!

Um bem maior
Um bem menor
Meio de tudo
Meio de nada
Outro dia
Nenhum dia
Se me sinto!
Sinto-te!

E tu não existes e eu também não!
14-03-2013


Por tua culpa, por minha culpa, por sabe-se lá culpa de quem, acabo de sair do cinema mudo, da rocha calcada abandonada e sonolenta da apatia.
Desse buraco negro onde todas as direcções são boas porque nunca se sai do mesmo sítio.
Todos os meus pensamentos são agora traços firmes tatuados sem receios num papel deslumbrado com a minha convicção.
Ouso querer pintar o infinito e superiorizar-me à dimensão das palavras.
Mas neste momento tudo é possível!
Sinto uma invasão pacífica de coragem, silenciam-se os temores, caem os muros onde pendurei os papéis vazios que sucumbiram ao medo do fracasso.
Vejo além das paredes e consigo imaginar-me a subir até esse promontório onde toda a alma se converte naquilo que acredita poder vir a ser.
E é nesta força de acreditar que me invade que está a razão de ter sacudido o pó a este desgraçado papel que já se arrepende de ter saudades minhas.
A minha geografia expande-se na conquista de espaços para além dos exíguos metros quadrados que possam existir entre o medo e dúvida.
Ninguém pode alterar verdades que só a mim me pertencem, mas como é motivante um genuíno “Acredito Em Ti”.
As dúvidas perdem os alicerces onde sustentaram o edifício dos sonhos desfeitos e despertam sorrisos por todos esses mortos imaginários que sempre se riram da minha criação.
Fora de mim existe alguém que acredita, não no que a minha face visível transmite, mas no que sendo invisível aos olhos é realmente meu.
E por isso hoje sinto-me em paz, para calmamente (acalmia que me espanta…) compreender que ao tentar esconder o meu pânico do fracasso sobre o manto da apatia, nada mais fiz que assumir-me como escravo do medo e vender a minha liberdade a troco de nada.
Só vendo a minha verdade reflectida no espelho dos dias, poderei talhar os contornos da minha imagem impoluta e o reflexo desse esforço percorrer o mundo de mãos dadas com a minha alma serena.
Claro que isso não me acontece por cobardia, mas pela insuportável necessidade que tenho de procurar a perfeição.
E quase sempre na procura desta, nada construo que permaneça mais que o segundo que demora a minha crítica a destruir tudo.
Tantas vezes me coloco, ou tento me colocar, do lado dessa ignorância genuína que nada exige e que no limite encerra alguma eternidade.
Mas quase sempre sucumbo à realidade de turista nas ruas do conhecimento.
Não obedeço à minha razão nem a qualquer outra.
Desconheço a razão que sigo, se sigo alguma deve ser minha! A minha complexa mente obriga-me a avançar na vida com a lentidão da ponderação e prudência.
Demasiado pensamento para quem não quer dar passos para trás ficando sempre no mesmo sítio.
Mas hoje até acredito em contos de fadas, em amores eternos, no sentimento puro, no sorriso genuíno, nas pessoas que amo, em almas gémeas.
Acredito na dimensão estóica da saudade, no grito mudo da solidão que ama, no silêncio que liberta, na diferença que completa, no sonho que constrói, na pele que nos liberta.
Acredito que a eternidade é esse espaço que medeia entre sonho e sonho com a nossa real assinatura.
Acredito que eterno é o que fica do que passa entre a desigualdade dos dias e a distinta claridade das noites.
Acredito em tudo que não devo mas sinto-me mais eu que nunca e amo-me de verdade.
Fui em tempos o início de um sonho, que logrou construir o seu caminho desenhando estradas com sonhos próprios.
Fui o início!
A continuidade depende da minha capacidade de aceitar que sou responsável por tudo o que de mim fizer.
Não posso ser responsabilizado pelos sonhos alheios mas serei consequência dos meus.
Porque tenho eu constantemente medo do reflexo das minhas acções no futuro?
Porque tenho eu que exigir que tudo o que faça toque a melodia da perfeição e dessa forma tenha uma eternidade que não existe?
Pensar que a eternidade pode ser uma realidade é aniquilar a beleza do momento, dure este o que durar.
Tudo o que possa ser eterno torna-se em grande medida irrelevantemente existente.
Perdi muito tempo amordaçado e esfomeado e compreendo hoje que uma alma faminta nunca poderá ser livre.
Um dia talvez eu possa ser um poeta mas nesse dia perderei o medo do ridículo ou de qualquer outra manifestação de subjectividade alheia.
Quem sente medo não se ama a si mesmo, não ama nada que seja seu, nem nada que lhe seja alheio.
Não posso mudar aquilo que sou, mas posso e devo mudar tudo o que me leva a ser diferente disso.
Durante este tempo náufrago em águas de motivação, realizei sonhos antigos, desenterrei projectos em decomposição e deleitei-me com desejos proibidos que escondi nesse canto esquecido onde sempre tentamos fechar a desilusão e a derrota.
Tudo o que em mim pode neste momento transparecer se fosse visível, é a despreocupada noção do tempo, a vontade de criar e o brilho da gratidão estampada nos meus olhos.
Obrigado a todos os que em mim acreditam porque hoje, antes de adormecer, vos dedicarei a minha liberdade e os meus sonhos florescerão com todo o amor do mundo.

07-03-2012



Estás ausente!
Nada te pode dar esta minha vontade de dar-te algo.
Dou-te uma solidão que sabes ser tua e só assim a quero.
Dou-te este tempo porque tu és o meu tempo.
Todos os outros tempos não sabem nada de nós.
Dou-te estes momentos no mudo assombro da necessidade de ter o que sempre perco na tua ausência.
Se eu te contasse o que imagino e relembro nestes momentos que me ensinam quanto vale uma demora!
A confusão dos silêncios das palavras que de ti não escuto.
A secura dos meus lábios pela sede de não ter-te.
A escravidão das memórias que são tuas.
Procuro-te em todos os lados, todos os gostos, todos os movimentos de uma cidade imaginária de rostos anónimos.
Procuro-te!
Num papel em branco como um poeta sem caneta.
A tua espera sempre foi assim, contratos feitos com a ausência em que te faço presente.
A minha inteligência odeia-me!
Porque a solidão faz de mim um objecto.
Que me interessa se a mente me critica.
Desejo uma paz que só sentirei no teu regresso.
Até lá a minha solidão é escrava da tua lei.
Agora!
Não tem em mim parte que não fique a passear nos teus recantos.
Agora!
Dou-te tudo o que em mim ainda existe que não me vem de ti.
Dou-te o meu corpo efémero prometido ao desaparecimento e a minha alma eterna.
Agora!
Dou-te a certeza que este tempo e todos os outros são só nossos.
Agora!
Ninguém sabe mais nada, e nenhum outro tempo tem razão.

01-02-2012


Disperso momento
Não sei o que quero
Sei que me ausento
Num acto sincero

No nada que tenho
Quadro encantado
Esquecido desenho
Em papel já usado

Imagino que tenho
O que penso querer
A ânsia contenho
Querer é sofrer

Nunca o engenho
É pouco ou demais
Cansado me empenho
Não desisto jamais

Nunca me canso
De partir e chegar
No vazio me lanço
Para me encontrar

Nas estradas de mim
Caminho certeiro
Eu sei que assim
Chegarei primeiro

Ao ser escondido
Ao eu mais calado
A esse ser oprimido
Numa cela fechado

Recuo e avanço
Num mundo só meu
Canso e descanso
Dentro deste céu
Penso e esqueço
O que foi o que sou
Mas sei que mereço
Receber o que dou

Caminho sem futuro
Esqueço o passado
Escondido num muro
Choro sempre calado

Sou o que se afasta
Da sua real essência
Sou o grito de basta
De toda a inocência

Na ânsia de ser
Conhecido em mim
Continuo a viver
Esta vida assim

Rebelde cansado
De armas á porta
Empunho o machado
Da minha revolta

Quero agora gritar
Para que possam ouvir
Não quero pensar
Para poder existir

Podem-me encarcerar
Não me vão demover
Tenho asas para voar
E assim vou fazer

Voar para um mundo
Onde possa ser eu
Simples vagabundo
Na terra e no céu
11-11-2010

Já experimentei os sabores
Das ementas realistas
E o perfume de flores
Em mesas fatalistas

Já ingeri alimentos
De cardápios idealistas
E partilhei momentos
Com cores surrealistas

Já bebi águas impuras
Elixires predestinados
Alimentei às escuras
Uma fome de pecados

Já senti a escravidão
De almas em sangue esvaído
Cuja única aptidão
Era viver sem ter nascido

Já senti a hipocrisia
Do gesto penitente
De enxertar na anatomia
Pedaços de outra gente

Já escutei o despertar
De gritos em pura revolta
Assisti ao desabrochar
De gente que estava morta

Já vi campos se alagar
Nas lágrimas de quem sustenta
Vi o mar transbordar
De quem dele se alimenta

Já me queimei nesse sol
Que o verão proclama
Já me deitei sem lençol
Para não desfazer a cama

Já fui flor de primavera
Tempestade de inverno
Perdi o verão à espera
De Outono subalterno

Já fui corpo utilizado
Em mente inexistente
Animal idolatrado
Predador indiferente

Já chorei o que não quis
Água pura de Afrodite
Dilúvio que me fez feliz
Pela ausência de limite

Já senti a dor do corpo
Tive pressa com calma
Fiz da solidão o porto
Para descanso da alma

Já fui senhor de espaços
De esquinas esquecidas
Soldado que nos braços
Tatuou causas perdidas

Fui servo da indiferença
Amo de almas devotas
Vencido por uma avença
Vendi-me a mentes idiotas
Já fui grande noutras mentes
Anão que viu gigantes
Inferior entre diferentes
Igual entre importantes

Já comi com as minhas mãos
O sagrado pão de amigos
Sentei-me entre irmãos
E bebi com inimigos

Já vivi o preto e branco
De daltónico egoísmo
E cores de um falso pranto
De hipócrita altruísmo

Já senti na pele a lama
De estradas esquecidas
Queimei-me com a chama
De paixões adormecidas

Já imaginei sereias
Em peixes de palmo e meio
E comi mel de colmeias
Com o sabor do alheio

Já quis ser alguém
Que nunca em mim vi nascer
E não fui eu nem ninguém
Fui algo para esquecer

Já fiz odes sonhadoras
Prosas com rebeldia
Poesias inspiradoras
Com letras de alquimia

Já fui palhaço de prenda
Cartoon em branco caderno
Filme mudo sem legenda
História de livro eterno

Já caminhei sobre a areia
Com pensamento disperso
Fui estrela sem plateia
De mim verso e inverso

Já tive neste meu tempo
Tempo para perder
E já tive esse momento
Que tempo me faz querer

Já escutei do vento
Notícias de tempestade
Já vivi num momento
Anos de liberdade

Sou consequência
Sou construção
Sou evidência
De uma razão

Da vida quero presença
Sou de mim só um pedaço
Que ela mantenha a crença
De que com ela me faço

16/01/2015



Nada será como antes, porque o antes já não é o que nos faz. O agora é o antes de um depois que nos fará...

O passado é o anexo
De presente já vivido
O futuro um reflexo
De presente construído

Tudo muda! Somos matéria em transformação...
A ânsia de liberdade e a imagem de escravidão.
O amor desejado, o amor experimentado
O amor contratado o amor vendido.
A paixão fugaz, a paixão que permanece
A paixão que toca a que se esquece.
O sonho vestido, o sonho despido
O sonho partilhado, o sonho isolado.
O valor da amizade, a amizade sem valor.
A tirania das horas o abraço dos dias.
O balanço dos anos o evoluir das estações.
A floresta vislumbrada a árvore escolhida.
A flor que perfuma a flor que afasta.
A poesia do mar a excitação do sol.
A melancolia da lua o romantismo do deserto.
A calma apaixonante da montanha.
A sublime paz da planície.
A melodia urbana a sinfonia campestre.
A crescente consciência da insignificância de nós.

Nada será como antes, porque o antes já não é o que nos faz. O agora é o antes de um depois que nos fará...

Tudo muda! Somos matéria em transformação.....
A dor da distância a espera na ausência.
A monotonia que não adormece a alma.
A agitação que já não traz virtual felicidade.
Os silêncios que matam os ruídos que ferem.
O despertar com a calma da experiência.
O Desejo do corpo.
O sentir do toque o cheiro da pele.
O sabor do beijo o Calor do abraço.
O apelo da cama a química do sexo.
Os passeios matinais as estradas nocturnas.
Os caminhos virgens os caminhos sem segredos.
Os becos com saída os becos sem saída.
A estação de partida a paragem refrescante.
A estação de chegada a despedida marcante.
O ouro no final do Arco-íris
A procura o encontro

Nada será como antes, porque o antes já não é o que nos faz. O agora é o antes de um depois que nos fará…

Tudo muda! Somos matéria em transformação.....
O apelo transmitido
O grito interior o grito exterior
A virtude pretendida e o pecado desejado
A virtude escondida o defeito simulado.
O suspiro abandonado e o suspiro partilhado.
A lágrima solta a lágrima presa.
O livro folheado o que já foi abandonado.
A música escutada a música afastada.
A pintura observada a pintura ignorada.
A humildade genuína o humanismo altruísta.
A tolerância com cor a serenidade daltónica.
A eternidade desejada o sentido da indiferença.
O singular.
O plural.

Nada será como antes, porque o antes já não é o que nos faz. O agora é o antes de um depois que nos fará…

Tudo muda! Somos matéria em transformação.....
O respeito esperado a dádiva genuína.
O presente hipócrita a esperança realista.
O consentimento cansado o abdicar com naturalidade.
O exigir com autoridade o compreender entendendo.
O aceitar sem reservas.
A espera agitada a espera com calma.
A indiferença que mata
A indiferente indiferença.
A memória que vive
A memória que morre.
A saudade consciente a saudade inconsciente.
O fato que não nos cabe
O fato com o qual saímos.
O espelho que nos reflecte
O espelho que nos apaga.
A importância das palavras.
O desafio do silêncio.
A paz.

Nos! Essa massa de certezas sobre duvidas….
Nos! Essa mutação que deseja...

Permanecer fluindo,
Existir modificando,
Viver renascendo,
Amar compreendendo.
Caminhar com alquimia,
Entregar sem hipocrisia,
Respirar em liberdade,
Desgastando a juventude
Sonhando plenitude.
A mudança somos nós,
Nesta breve procissão,
Temos nas costas o andor,
De corpo em transformação.
A mudança somos nós,
Enquanto o conceito existir,
Seremos o que nos faça,
Constante chegar e partir.
Seres cuja desgraça
É uma grande certeza
Ser finitos no que passa
Sua única grandeza

Seremos passado presente e futuro, nesses milésimos de segundo que separam os conceitos. Acabei de escrever e o "agora" é já o "antes" do futuro onde estou!
Como serei? Transformado em futuro, vestido de presente num corpo passado?
Como serei? Saberei brevemente porque o futuro acaba de me bater à porta...
Desculpem mas tenho que abrir.
Encontramo-nos lá!
28-07-2009




Agradeço este teu último e digno acto.
Agradeço!
Mesmo sabendo que dele esperas o que desconheces que não desejas e o que bem sabes que não te darei.
Agradeço!
Mesmo sabendo que ignoras que amar não é uma flor cuja beleza desabrocha para a vida, mas sim a raiz de uma árvore que se fixa na terra e que se alimenta do sol de “ontem” para crescer esplendorosa num contínuo “amanhã” iluminado.
Todo o resto é como esta flor, como nós!
Beleza momentânea perfumada por todas as ilusões, com a chama da vida a esfumar-se lentamente.
Esta flor cumpriu o seu propósito. Não o teu! Mas o dela e o meu.
Bem perto de mim leva-me numa viagem para bem longe.
Desperta em mim a necessidade de sentir a beleza de quem sou e da vida que mereço.
Sem ruídos, vozes exigentes ou expectantes.
Sem abraços de ansiedade mendiga.
Sem sonhos alheios, sem visões impostas.
Simplesmente perfume sem ruído de vida em pensamentos dispersos como que tentando ver nela o que em alguém tanto desejei ver, o que para mim tanto desejei ter.
O mundo que me toca não é um jardim, mas a minha pele merece experimentar o acetinado toque das flores que em mim desabrocham.
Quis ser parte e fui mera vertigem numa loucura cheia de nada.
Vagueei em sombras onde me senti despejada de mim em dias coloridos de mentiras.
Só o que não se vê de mim viveu o verso certo.
Sei que em algum infinito me espera a simplicidade de uma solidão partilhada onde a verdade dê todos os sentidos à vida.
Sei que em algum infinito perderei a minha razão ao querer permanecer parte de algo.
Mas agora desfruto desta momentânea fragrância de voltar a ser simplesmente mulher. Agora silencio todas as vozes de solidões alheias, para escutar os sons da solidão que me pertence.
Agora vou para onde a minha presença caminhe por onde eu caminho e a minha alma viva onde eu vivo.
Para longe de ti mas perto de mim.

12-01-2011




Olho, olho-te!
Sinto que o tempo parou!
Sais em silêncio. Ironia! Surpreendeste-me!
O que sempre me incomodou em ti foram os teus barulhos. Fica o caminho sinuoso que nos trouxe até aqui.
Tudo o demais reflexos de um rosto que deposita as desilusões aos infinitos pés da verdade.
A vida despede-se de um momento para saudar outro.
Cansaço!
Mais uma vez o dramatismo do fim de linha e o peso de todos os inícios.
A minha saudade saúda-te, como que num processo automático de despedida.
Vou ficar aqui até que a tua sombra desapareça no horizonte e dessa forma tenha a tua altura.
Sairei quando me cansar de apreciar o momento em que, pela primeira vez, em silêncio conseguiste ser honesto.
Pensávamos que tínhamos todo o tempo do mundo, e de repente anoiteceu.
De te sonhar cheguei até aqui!
De te amar, por nada ter, te deixo ir!
Partirei!
Agora tenho tempo!
Irei até onde o meu corpo toque, em infinitos já me perdi o suficiente.
Hoje é dia de festa!
Todos os meus fantasmas voltam a vestir o fato da celebração e divertem-se debaixo das árvores despidas de folhas que sucumbiram ao Outono da tua genuína indiferença.
Não entro no exaspero das lágrimas!
É dia de festa, alegro-me!
Alegro-me porque o meu fracasso em ti constrói-me, o teu em mim, é mera consequência de quem és

02-12-2010


Hesitei! Um ou dois?Costumavam ser dois!
Cheios de tudo e de nada, mas plenos de sonhos que tocavam tão alto em mim, em ti, e na vida.
Hoje existe só um copo nesta mesa. Mas no meu corpo, mais que nunca, corre a essência de uma garrafa partilhada.
Tu não falas e ainda assim calo-me para te escutar. Pairas noutros mundos e no meu intoleravelmente escuto as tuas melodias.
Imagino-te em versos que não escrevo e canto-te em melodias que nunca terão letra.
Imagino-te!
Em todas as palavras que nunca me disseste, em todos os gestos com que nunca me tocastes, em todos os sons que nunca de ti saíram.
Imagino-te em tudo o que nunca fostes!
Vivo-te em cada centímetro de mim, pinto-te em cada pensamento, sinto-te em cada suspiro, desejo-te em cada sorriso tímido que deixo sair cada vez que bebo deste copo solitário.
Estupidamente te desejo!
Imagino algo inimaginável.
Sonho esse sonho que no limite me escraviza. Mas não interessa!
Toco os meus lábios neste copo tantas vezes partilhado, toco-me!
E na ausência de ti a que já me habituei, percorro o meu corpo na sublime descoberta de um universo que nunca soubeste explorar.
Voluntariamente me entrego, mais uma vez, a ser musa de uma inspiração ausente que nunca me escreveu.
Que me interessa!
liberto-me!
Costumavam ser dois!
Existe um!
Meio cheio de nada mas com o sabor do que de mais real existe em mim.
Deixo-me arder nesse sonho, queimo-me!
Imagino!
Simplesmente imagino!
A garrafa vai acabar vazia e eu passarei por todas as metamorfoses enquanto o liquido escorrer no meu corpo.
Mas hoje! Só hoje! O copo é teu.
Amanhã existirá uma outra qualquer garrafa.
Mas essa, será partilhada no suave toque de uma poesia escrita na minha pele por um poeta que me sinta.
11-11-2010



Desejo as luzes, estou pronta!
Tenho no corpo a ânsia da inconsequência e na alma a febre do momentâneo.
Quero dizer que não, que sim, talvez, ou simplesmente calar-me no incógnito da música.
Esqueço tudo!
Por momentos quero deambular por desejos de mim na despreocupação de um sonho acordado.
Que se lixem os pudores, sinto asas nos pés e quero voar nesse espaço onde tudo é permitido e a nada se dá nome.
Apetece-me adormecer numa qualquer música, sem pensar no corpo que me toca ou na mente que me abraça.
Quero sentir-me viva, e regressar sobre a luz de uma madrugada silenciosa, cheia de mim e mais particular que nunca.
11-11-2010


A noite está perfeita.
Silêncio! A lei é minha o palco é meu.
Quanta magia sinto neste momento em que volto ao tempo em que as esperanças voavam de pijama. O pijama já não é o mesmo, mas é meu! Voo na mesma.
Ah! Chuva Purificadora.
Podes molhar sem piedade e gelar sem clemência.
Não estou Aqui!
Voltei ao lugar das dores dissipadas, ao recanto do esquecimento onde a solidão se expõe em todos os silêncios genuínos.
Aos poucos todos os mortos em mim, regressam pela estrada da memória.
E os que nunca partiram, cantam melodias de aleluia pela libertação de tudo o que deixei de ser enquanto fui tua.
Vou estar aqui até ao momento em que a minha pele me obrigue a outra realidade.
E sim!
É Inevitável!
Um dia perderei outra vez a lucidez e voltarei a amar.

11-11-2010




Hoje é um desses dias em que saio de mim para ser tudo no teu desejo.
Estarás tu à espera?
Estarás preparado para mim?
Fantasia!
Acordei a pensar na magia da surpresa, no desejo provocado.
Aqui estou!
Que esperas?
Se soubesses quanto amor e desejo cabe nesta roupa que me veste.
Dou-me!
Toma-me, assalta-me e descobre-me em viagem por mim numa rota de cama desfeita.

10-11-2010



Cada dia me dispo das vestes gastas de mim.
Esqueço o que fui para lembrar-me de quem sou.
Nada me chega completo porque nada procuro.
Experimento tudo vestido desse nada que carrego.
Sou realidade entre o momentâneo e o eterno.
Memória de encontros fortuitos coloridos de eternidade pelo pincel do acaso.
Transfiguro-me todos os dias com rituais tipificados na irrealidade confusa das coisas, num equilíbrio desequilibrado, na ânsia de mim no universo dos erros que cometo.
Mas sei que em mim tudo tem que ser assim.
Consequência de solidão imperfeita que arrisca na perfeita espontaneidade.
Nada será meu que eu não sinta e nada terei que não me construa.
O que disso poderia ficar é um nada de um erro clandestino.
Memórias! Só as que não matam o presente por comparação.
Memórias! Só as que não matam o presente na ânsia de futuro.
Nunca me perdoaria a angústia de pensar em corrigir erros.
Cometo outros.
As possibilidades são infinitas.
Sou maravilhosamente imperfeito e estupidamente momentâneo.
Tenho corpo para sentir o vento e uma alma para admirá-lo.
E só quero continuar a deslumbrar-me fora de mim, sem palavras inúteis, com todos os silêncios de um sorriso de admiração.
E no meio da confusão das coisas, que já não questiono, quem sabe tocar uma outra imperfeição que me complete.
Estou vivo e tudo é consequência.
E só assim me pertenço por destino meu.
Nada mais me interessa!
O meu dia chegará!
Sempre chega!
Por esse lado certo de todo o errado que existe em nós,
A vida.
06-11-2010






Sou tua!
Mas tu não sabes como te sinto.
Nem poderás saber, perdido que estás em ti e nos sonhos nos quais não me colocas.
Deixo o desejo de que um dia descubras por mero acaso quem sou, não em mim, mas em ti.
Nesse dia não penses!
Abraça-me!
O teu único erro serei eu.
E tudo o resto - acredita -, não vais necessitar.

02/11/2010





Vontades e realidades em linhas paralelas que momentaneamente se intersectam.
Ou quiçá nunca!
Tudo acontece entre tempo e tempo, entre pressa e pressa.
Gente à procura de ter pressa.
Gente com pressa da procura.
Gente calmamente com pressa, ou apressadamente calma.
Do finito ao infinito à velocidade da luz.
Quantificações simplistas de uma realidade equacionável.
Num espaço indefinido entre tudo e nada ou qualquer coisa.
Tudo está errado ou provavelmente tudo pode estar certo.

Desequilíbrios matemáticos em equações desiguais.
Demasiadas incógnitas!
Tudo existe ou inexiste e no meio disso nós.
Meio existência, um quarto de vivência e tudo o resto sonho.
Na metade de existência o todo não tem resto.
No quarto de vivência todo o meio é esquecido.
E no resto o pouco do nada que desejamos.
Quarto, meio, resto, que raio! Tanto de tão pouco faria uma equação melhor.
E tão pouco resta para não existir equação nenhuma.
E será que existe solução? tantas são as incógnitas!
Aumentar o resto elevando o quarto diminuindo o meio?
Diminuir o meio potenciando o quarto?
Resto zero, igualando quarto e meio?
E outro tanto de tantas outras.
Múltiplas combinações e nem sequer gosto de matemática.
Complicações aritméticas de uma realidade sempre a mudar as equações.
Habitamos nos subúrbios do resto alimentando-nos das memórias do quarto para engordar o meio.
Esse conjunto de metades em linhas paralelas com a unidade, com intersecções pontuais que rapidamente divergem exponencialmente.
Como seria ideal se tudo voltasse à simplicidade do um mais um igual a dois.
Mas não!
Infelizmente somos feitos de desequilíbrios conformadamente equilibrados.
Tudo se move, enquanto se move, pela majoração romântica do resto.
E mesmo que nada reste desse resto majorado, momentaneamente saímos dos subúrbios e visitamos a cidade.
E entre visita e visita quem sabe descobrimos um quarto com janela para o horizonte da materialização do resto.
Venceremos a matemática, não tenho a menor dúvida disso!
Na nossa génese já o fizemos!
Somos o resultado de uma equação num espaço tridimensional, que nasceu graças à força de contestar probabilidades ínfimas.
Simplifiquemos os teoremas reinventando a nossa lógica.
A vida será sempre superior a todas as matemáticas.
Meio, resto, quarto!
Cada dia uma nova equação.
Cada vida uma equação diferente.
A minha equação de amanhã será igual à de hoje?
Não sei!
Que o resto me domine e traga novas igualdades.
E quem sabe as nossas vidas não terão um ponto de intersecção.
No finito ou infinito!
Incógnita!
Mais uma.

24-08-2010



Perdi-te!
Dou mil voltas na cama e acabo por entender que é inútil permanecer deitado. Estou impaciente, inquieto, e com essa sensação de quem não quer pensar e não faz outra coisa que não isso mesmo. Tenho que esperar que o sono me domine ou que os pensamentos desordenados que agora me escravizam se afastem. Não importa! Levanto-me e acendo esse cigarro que reclama misericórdia à insónia. Desgraçado! Não sabe que é estandarte de rendição incondicional ao abraço da noite.

Freud disse que o cigarro é apenas um substituto da masturbação. A dar-lhe razão, já não teria mãos para nenhuma das duas sensações. Mas se os cigarros não me ajudarem experimento ambas.
Rendido à valsa das sombras de um fumo libertador (Freud pode esperar…), pergunto: - quanto destes pensamentos que me inquietam serão efectivamente meus? Sou consequência de mim, ou serei o resultado de pensamentos de mil almas de rostos incógnitos, que em mim habitam com vida própria?
Quero deixar que uma parte de mim me abandone da mesma forma que o fumo se dirige às mais pequenas frestas em busca da liberdade. Por vezes não sei se tenho voz própria ou se os sons que de mim saem são os ecos dos lamentos de um mendigo, vivendo das esmolas de alheia profecia.
Abençoada insónia que na sua clarividência me impele para aniquilar tudo o que me separa de ser profeta do meu futuro. Tenho deixado a decisão de mim para o evoluir do tempo, cobarde adiamento que me transforma numa qualquer coisa, que reza credos a um deus menor vendendo a si próprio a imagem de possuir um lugar no Olimpo.

Abençoada insónia! Ainda sem dar razão a Freud.
Algo em mim existe sem minha permissão, corre no meu sangue sem que nada até agora tenha podido fazer – se é que fiz alguma coisa!
Uma imagem, um pensamento, um sonho, uma memória, um passado, um presente ou a conjugação dos dois numa imagem de futuro? Não sei!
No desnorte invisível da minha alma sempre volto, inconscientemente, a essa terra que foi minha mas que já não tem vestígios dos meus passos. Porque tenho que entrar onde não quero e sempre sair, isso sim, desejando não estar lá?
Porque tenho que perpetuar esse movimento? Como é possível que alguém ou alguma coisa, ausente de mim, invada todos os meus espaços?
Quando parti dessa terra sei que passei a prestar vassalagem à indiferença - É normal! - Se tanto me dói assim a ausência, é porque em cada instante nesse espaço em mim existi e estive vivo. Tanto tempo a plantar um jardim cheio de árvores perfumadas para em determinado momento ter que abandonar a sua frescura e queimar-me debaixo de um sol desconhecido. As árvores levam tempo a dar-nos sombra, e eu sei que nesse momento, perdi a vontade de voltar a ser agricultor dedicado. O tempo mata-me, ou eu mato o tempo, o efeito final será sempre o mesmo. Claro que sei que essa terra há muito que deixou de ter o meu nome inscrito. Não tem os aromas do meu perfume, vestígios da minha pele, pedaços da minha alma, desejos do meu corpo. Não relata mais a minha história nem tem sonhos de mim. Está agora bem distante de tudo o que de mim está perto. Estou longe, está longe, estamos longe, bem sei! Mas continuo a relegar para secundário o importante, e continuo na sua ausência, a determinar os limites da minha essência debaixo da sombra das árvores que lá plantei.

Abençoada insónia! Ainda sem dar razão a Freud.
Sei agora que desejo descansar das reflexões e ser doente temporário vítima do esquecimento. Se a minha face fosse o reflexo do coração, o mundo contemplaria uma estátua de pedra em local incerto. Tenho-me permitido viver na dúvida, prisioneiro do passado com alma fechada, egoísta e solitária. Sou refém de uma lembrança ou uma lembrança é refém de mim. Uma memória com alma própria, e não descubro a forma de controlar as suas asas nem como impedir o seu voo. Essa terra que habitei já não corre no meu sangue, mas os meus passos seguem reféns do intervalo entre o sonho e a memória. E nesse espaço encarcero-me, convertendo-me no meu inimigo mais íntimo.

Penso que tudo me é indiferente, mas engano-me!
Engano-me ao pensar que a humanidade dos meus olhos pode cegar pela dureza de uma aparência que não tenho capacidade de sustentar;
Engano-me na ilusão de pensar que quem não venera nenhuma bandeira poderá algum dia ser pátria de alguém;
Engano-me quando penso que o mundo é meu, mas só o será no dia em que tiver consciência de que nada me falta;
Engano-me quando deixo que a vida aconteça no oriente de uma memória, porque as duas se esfumam da mesma forma;
Engano-me quando penso que posso ser livre comprometendo a minha própria construção;
Engano-me, irremediavelmente, porque com tudo o que sou, trago nos olhos um mundo que a alma não sente.

Abençoada insónia! Ainda sem dar razão a Freud.
Sei agora mais que nunca que quero despir esse fato de pedra que me veste de todas as verdades que minto. Fazer dos meus sonhos a minha única verdade, matar o que em mim já não vive mas que levo, sem saber porquê, colado nos meus passos e preso ao meu tempo. Quero estar nu de mim para me vestir por inteiro. Arrancar-me às raízes que me prendem a uma terra já distante e voltar, ainda que por momentos, a ser pertença de mim como uma flor é da terra que lhe dá vida.

A quem pertenço? Não sei!
Que pátria é a minha? Desconheço!
Mas a mim me quero prender e que, de tão efémera que seja, pareça eterna essa libertação.
Está na hora de calar os barulhos da desordem.
Quero o meu calendário e um dicionário com as minhas rimas.
Despeço-me terra distante, digo-te adeus e cuida das flores que plantei.
Nas memórias das tuas esquinas e ruas percorridas, fui perdendo a noção de quem sou.
Mas não quero ser um “quase” que morre na ideia de um “talvez”
Nem perder o “agora” rendendo-me à ideia do “nunca”.
Nada é tão alto que o sonho não lhe toque.

Tudo termina, até esta insónia. Deixo uma caneta com a tampa toda roída e um cigarro que agoniza entre dezenas de iguais.
Não dei razão a Freud!
Fecho as luzes, vou dormir!

27-07-2010


A noite está calma, a alma serena, e o meu corpo tem a leveza do vazio.
Não olho!
Não escuto!
Não paro!
Sigo decidido no trilho da ausência.
Não quero espalhar sorrisos.
Quero a fome de calar-me.
Não quero escutar palavras que me condenem nem um único som que me venere.
Sigo o percurso da fuga do tédio ruidoso.
Quero estar onde o silêncio me sente, onde escuto o meu sentir, vazio de ninguém.
Preciso dessa sensação de insignificância que tudo relega para segundo plano.
Sento-me numa pedra que não me conta a sua história e tem tanto da minha.
As primeiras estrelas iluminam um mar que geme à minha frente.
Imagino no rodopio das ondas gritos de animais selvagens enjaulados.
Tão presos quanto eu a esse espaço entre o ter e o perder a que chamamos vida.
Cada batimento das ondas contra as pedras, recorda-me esse momento finito.
No meu recanto solitário, com os olhos longínquos, transparece em surdina um segredo.
Não será escutado! Mas o azul oceânico da eternidade o levará.
Que liberdade sinto neste isolamento.
Vou fundo nos meus desejos egoístas. Estou só! O momento é meu.
Que me importa se é fantasia, se nunca na realidade me deitei em cama equilibrada.
Se nunca as minhas ânsias navegaram por mares reais.
Neste momento sou pouco do que aprendi e quase tudo do que sinto.
Flutuo com anjos e demónios nos silêncios de mim.
Não estou ali, e nunca estive tão presente noutro qualquer lugar.
Apenas o meu corpo me denuncia nesta escuridão fingida.
Dispo-me de tudo, convoco a paz, solto a alma e sonho.
Vou em busca de sonhos perdidos ou estarei ausente perdido nos sonhos.
Não se impacientem. Eu não demoro! Eu nunca me demoro.
De pensamento em pensamento, nem reparei que a noite já matou todas as estrelas.
Sempre regresso, e regressei, usando mais uma vez uma desculpa insignificante.
Tudo na vida só pode amanhecer se existir uma noite anterior.
Esta foi a minha noite! Não a noite de todas as noites. Mas a noite que precede o amanhecer de conclusões surgidas do toque das minhas mãos nuas, na água que me reflecte.
Continuarei a ser uma metamorfose ambulante porque me recuso a ser reflexo de sonho imposto.
Não tenho ainda o necessário mas tenho a consciência da falta.
Não é a ausência do necessário que torna os meus dias vazios.
Mas a presença do superficial, que teima em preenche-los com tamanha solidão, que faz com que a ausência maior que sinto, seja de mim.
E esse segredo que o mar levou até uma distancia imprecisa, é o eco do grito de quem já teve pedaços de muito, suplicando por possuir o todo de qualquer pouco.
Qual o pouco que me falta?
Não sei!
Terei mais momentos entre o vazio e o cheio.
Mais silêncios para descobri-lo.
Mais mares para me ajudar.

26-05-2010


Que seja nas tuas mãos que o meu corpo treme.
Que seja pela tua pele que o meu corpo anseia.
Que se humilhem os meus sentidos pela tua presença.
Que se incendeie o apetite na tua ausência.
Que eu não esteja presente quando tu estiveres distante.
Que tudo o que é química seja paixão.
Que o eterno seja amor.
Que tudo o resto não seja importante.
Que o importante seja o essencial.
Que o essencial não se torne supérfluo.
Que o supérfluo seja o que dispensamos.
Que o necessário seja o que temos.
Que o que temos seja nosso.
Que o que seja nosso perdure.
Que perdure o cheiro da tua pele na minha.
Que o meu corpo não tenha outro cheiro que não esse.
Que seja teu o que em mim te complementa.
Que seja meu tudo o que em ti necessites.
Que o que necessites sejam os meus anseios.
Que os meus anseios sejam os teus.
Que a tua voz faça de mim a sua canção.
Que a minha voz seja o eco dessa melodia.
Que os teus medos sejam da incerteza de não ser teu para sempre.
Que os meus sejam pela prova do contrário.
Que as tuas vitórias as celebres nos meus braços.
Que as tuas dúvidas as mates nos meus passos.
Que os teus medos sejam o motivo da minha luta.
Que os teus sonhos se fundam nos meus.
Que o teu corpo seja o meu refúgio.
Que o único que abafe a tua voz sejam os meus lábios.
Que sempre exista saudade no encontro.
Que nunca exista adeus nas despedidas.
Que o que me corrompe seja a fome do teu corpo.
Que a tua fome a mates em mim.
Que seja no poente a minha espera.
Que seja no nascente o teu regresso.
Que em mim se tatue o teu aspecto.
Que em mim nunca morra a tua imagem,
Que ela seja a minha luz o meu objecto.
Que nunca o esquecimento seja um fim,
Que se me esqueço seja de mim.
Que tudo não seja a suave brisa de um sonho.
Que se de tanto querer, assim não fui,
Que um dia eu me sinta assim.

20-05-2010

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