Poesia e pensamentos livres

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O futuro é um desejo que desperta com o fluir de todas as experiências vividas nesse momento chamado presente!
Não é construção projectada com traços de arquitecto idealista, mas pintura abstracta de uma consciência que se transforma, consoante as cores que experimenta. É consequência, nunca objectivo.
É caminho, nunca chegada.
É um conceito que se extingue à medida que o tempo passa. Nunca existirá futuro sem presente e presente sempre com futuro. Existe, isso sim, um caminho que nos levará, com sorte, a um momento posterior que será nessa altura não mais que o nosso presente - no fundo o que desejamos quando, inocentes, projectamos o futuro, é um presente diferente. O que sendo a vida efémera não deixa de ser algo a ela contrária, desejar no hoje, um “hoje” diferente num amanhã improvável. - Tantas vezes este desejo leva a sentimentos de revolta, isolamento, incompreensão, desilusão, abandono, tristeza, desolação, conformismo e outros de que não me quero lembrar porque nem sequer conseguiria defini-los!
Tudo, porque desafiamos o tempo, matando-o, desejando ter noutro tempo o que o tempo não nos dá no tempo que temos. A consequência é arrasadora! O resultado será o adormecimento e a acomodação, tudo o que, a trazer alguma coisa, será mais do mesmo ou um mesmo ainda pior. Desejam então, os gurus do "depois", um futuro presente à imagem dos seus sonhos e são levados a esquecer, diga-se, comodamente e estupidamente, que os sonhos realizados no futuro derivam das vitórias e derrotas acumuladas no presente. Mas esse é esquecido em detrimento de algo que nunca existirá (pelo menos de uma forma diferente) sempre e quando não se agir e pensar de outras formas no momento em que a vida acontece. É que a vida não acontece amanhã... está a acontecer! E com ela vai passando a hipótese de concretização de tudo o que a essência de estar vivos permite. Pensar num amanhã diferente é pensar num hoje modificado!
Decidir diferente, agir diferente, sonhar diferente, pensar diferente, amar diferente, ver diferente, caminhar diferente nas planícies e montanhas do hoje que sustêm a nossa alma.
Ninguém poderá nunca questionar, que no nosso futuro nunca poderemos ter o nosso presente de volta. Como tinha razão quem disse, não me lembro quem: "…O Homem é a única criatura que se recusa a ser o que é..."
- Efémero! Acrescento eu.
Mas entendo esta ânsia do amanhã, acreditem! Entendo mesmo! Entendo bem a quimera do almejado “pote de ouro” no fim Arco-íris do futuro. Entendo porque sei que isso anestesia tantas vezes um sofrer que mata e, ao mesmo tempo, sempre servirá como comprimido de esperança que alivia. Compreendo o seu efeito “cor-de-rosa” que qual “ pílula do dia seguinte” tomam os que atordoam a dor do presente com comprimidos de sonhos futuros. Aprendem, com a droga que ingerem a matar tudo o que é deles, mas não aprendem a fazer viver o que os faz. O engraçado é a ironia desta teoria - É que sendo o ser humano uma realidade em constante evolução, tudo o que nos vai fazendo, mofifica-se consoante o tempo que por nós passa.
- A felicidade é algo que sentimos de forma mutável (inevitável!),
- O amor é algo experimentado com mais racionalidade e menos “poesia” (infelizmente!),
- A amizade é valorizada e compreendida noutros prismas (finalmente!),
- O primordial e secundário terão outras escalas (necessidade!)...
Ou seja: Desejamos hoje um futuro diferente para nós e com isso, quase sempre, abdicamos de viver o "agora" em troca do "depois". Mas quando lá chegamos, já não somos os mesmos, e seguramente o “agora” que desejamos no “antes” já não fará qualquer sentido. E mais uma vez lá chegados se inicia o ciclo... desejar no amanhã o que o hoje não nos dá. Assim, para sempre, enquanto o tempo permitir o momento seguinte.
Ironia Divina!
Abençoados os que conseguem chegar ao tal conceito de "Futuro" e de facto viver o tempo que lhes resta sem preocupação do momento seguinte, porque o que têm lhes dá a tranquilidade que nunca existiu até aí.
Abençoados!
Porque para todos os outros, esse momento chega pela mais mortal das formas. Pela maneira mais terrível! Não ter mais tempo, nem um já longínquo futuro para poder projectar.
Nesse momento, à cobardia e acomodação de um presente não vivido, junta-se a frustação de não poder ser diferente porque o futuro termina ao final do túnel. Vive-se num quotidiano, projectando num qualquer futuro, um “eu” que desfrutará de uma vida tranquila e poeticamente idealizada, tão poética que faz com que sacrifiquemos o presente. O problema é que este “eu” tantas vezes nunca se materializa e seguimos vivendo sem dar conta disso. Projectamos uma imagem de “nós” presente que se tornará completa num futuro, que não necessariamente existe. E quando nos damos conta disso é exactamente o momento em que deixamos de ser aquilo que nunca fomos. É neste momento que descobrimos como o “eu” presente foi escravo de um “eu” futuro, e como este nosso “eu” se converteu numa imagem semelhante e austera, e triste dele.
Não!
Recuso-me a aceitar que para ter continuidade devo abdicar dos pecados, dos erros, dos falhanços, dos amores e desamores, das lágrimas, das tristezas, das alegrias, dos sonhos, dos caminhos, das estradas, dos becos, dos abismos, dos campos, das planícies, das montanhas, dos mares, dos céus, das cores que hoje me pintam.
Não!
Continuarei a acreditar nas fundações dos tempos e que só existe um tempo que liga todos os outros, e esse tempo é o presente.
Tudo o resto deixo para os arquitectos que desenham o futuro em papéis que guardam numa gaveta, e para os poetas. Os primeiros porque me fazem querer não ter gavetas, os segundos porque me revelam a importância de estar de pé, respirar, e poder mudar o que de mim não goste.

Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.

A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.
Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence

(Fernando Pessoa)

Vivam os poetas dignos desse nome, vivam todos os futuros que se orgulham dos presentes que os criaram.

14-12-2009



Ombros caídos sucumbem ao peso da desistência.
Corpos cansados definham em mentes perdidas nos corredores sem a luz da esperança.
Solitárias mentes que não encontram uma razão para insistir na luta porque o vazio tomou o lugar do sonho.
Protegem-se fechando-se em si mesmos esqueçendo que o corpo sempre estará acorrentado ao mundo.
Sofrem a dor visceral do esfumar da vida por entre as mãos calejadas de marcas de tempo inútil.
Não entendem, que assim como nenhum moinho escapa à força do vento, não existe ser que esteja realmente vivo fechando as portas à vida.
Parados!
Inertes!
Querem ser diferentes do que foram, do que são.
Ter uma outra sombra a viajar com o corpo.
Mas continuam adormecidos na ideia e tapam-se com o manto do tempo.
Não é na incapacidade da afirmação da diferença que reside o seu descontentamento (tanta diferença existe por aí perdida na vulgaridade…), mas na cobardia de dizer “eu sou!”, “existo!” e vou ser igual a mim mesmo.
Ainda não compreenderam que no meio da agitação do caos quotidiano, somos original sem cópia, luz única, matéria especial!
Nunca ninguém poderá ter o nosso reflexo e suar palavras nascidas dos sonhos da nossa alma.
A nossa história sempre será, Nós!
Partamos à descoberta do universo interior como exploradores desejando vencer a desistência, dando um novo sentido á luta.
Conquistemos o território inóspito da nossa mente, despertando da sonolência que, tantas vezes, transmitimos em bocejos nascidos do ácido corrosivo do vazio.
Interroguem-se!
Que fizemos com passos perdidos na poeira de sonhos adiados esperando o despertar da alma? Para mim a resposta é fácil!
Viveram!
Todos um dia habitamos na cabana do tempo perdido, mas tempo vivido nunca será tempo perdido. Boas e más memórias fazem parte da estrada da vida. Colhemos os frutos de existir mas devemos plantar as árvores do viver.
Tantas vezes surdos pelos ruídos dos nossos silêncios, assistimos ao enfileirar nas gavetas de cartas com sonhos adiados. Livros nas estantes e nenhum escrito com o nosso punho, e passeamos pelos recantos de um espaço vazio de memórias. Tantas perguntas que nunca colocamos, tantas respostas que cobardemente evitamos, tudo deixamos ao fluir de um tempo que nos mata.
Na memória libertada dos momentos de hibernação devemos contudo tentar entender as razões da letargia que tomou conta dos bancos do jardim, onde pacientemente esperávamos o florir das flores.
É necessário questionar!
Que fizemos?
Inventando-nos em contos sem argumento, vestidos com o fato domingueiro da mediocridade.
Parando o tempo sofrendo por um diferente amanha.
Escrevendo poemas tristes, se os sentíamos com um sorriso na boca.
Vergados pela vergonha da desistência desesperando pela luta.
Sendo o rio do desnorte tendo um mar reservado.
Vítimas da inversa alquimia de sonhos extintos nos extremos de pontes que não se cruzam.
Que fizemos?
Num quarto vazio rodeados de flores frias e mortas, desejando o cansaço da atenção.
Em bares sem fome de nomes próprios sem a fusão nuclear da complementaridade.
Tapados com a nudez, acordados existindo só no sonho.
Construindo-nos de matéria transplantada que o corpo rejeitou.
Bebendo o que não mata a sede, comendo o que não alimenta.
Que fizemos?
Amando uma liberdade escrava do alheamento do mundo.
Mantendo a imagem do icebergue se tudo o que é de nós está à superfície.
Desejando uma ilha no mar tendo cidade em terra.
Esquecendo que a vida é o livro da memória, distanciando-nos do que desejávamos perto.
Com medo da queda se sempre experimentamos o perfume sagrado da terra.
Que fizemos?
Esquecendo o passado se nunca conseguimos enterrar os vivos.
Fechando os braços para o abraço se sempre deixamos livre a emoção.
Guardando beijos se a nossa alma é feita de lábios desejando o seu calor.
Deixando de amar se o amor sempre foi a janela dos devaneios da nossa loucura.
Absorvendo a superficialidade quando o eterno sempre foi a impressão digital da nossa alma
Que fizemos?
Cada um encontrará as suas questões e respostas….
Na procura da luz que nos guie para longe dos becos onde só se encontramos a parede que reflecte o oposto de nós, sempre teremos dois caminhos.
Continuar como ovelhas de um rebanho ordeiro, seguindo os passos de um pastor com todos os projectos empacotados na dispensa da memória, ou assumir que não vale a pena viver qualquer tempo que seja dedicado a enganar a nossa essência.
Deixar de tentar enganar a nossa alma é compreender que apesar de todos os erráticos caminhos percorridos, seremos sempre capazes de conduzir a folha de Outono que nos sentimos, até ao repouso desse segundo do lançamento da âncora do “eu” perpétuo.
Basta apenas um instante para tudo perder ou tudo recomeçar! É assim! Tudo se joga na roleta da vida. Mais tarde ou mais cedo chegará o nosso destino, qualquer que ele seja.
Acreditemos! Pois ele pode ser o eco do grito de quem disparou a arma três vezes, mas sobreviveu, e renasceu afastado da medonha rotina imposta por uma consciência adormecida.
É tempo de passar o testemunho para outras mãos, essas que se encarregarão de enxertar os pedaços perdidos nos cantos onde escondemos as consequências da nossa apatia. A mudança impõe-se por respeito a nós, mas sobretudo à vida.
Gostaria de dizer que é fácil, mas não é!
A vida tem tudo para nos dar mas muito para nos magoar.
Pensam que não são capazes? Acreditem ou mintam as vezes necessárias para acreditar na mentira!
Exijam alcançar mais que o comprimento dos vossos braços e ver além do que os vossos olhos permitam. Desejos rasos em sonhos de mendigo só conduzem à mediania. Pensem o tudo e sonhem para além disso. Não existe outro motor da mudança, outra fonte de energia, que não seja esse dínamo construído com as ferramentas interiores da nossa convicção. Acreditem que estão prontos para iniciar o resto da vossa jornada como almas livres, e deixem-se viajar na rima dos versos que a liberdade escreverá.
Acordem as estrelas que povoam o vosso infinito esplendor, e deixem que a vossa cidade se ilumine de todas as dúvidas! Elas trarão a revelação de todos os mistérios do vosso mistério, caminho único para a construção da silhueta com a qual sairão finalmente para o mundo vestidos de vós.
Tenham a calma que a perfeição exige! E a pressa de emergir de tudo onde antes reinava a calma.
A vida é rápida eu sei!
Mas tudo dura o suficiente para poder ser eterno.
Apressem-se nos caminhos e tropeçarão na realidade, permaneçam parados e perderão a vida. Digam à "pressa" para correr devagarinho e à "calma" que nunca se esqueça que tem "pressa".
Avancem! Não existe querer que não custe, fazer sem falhas, sentir que não doa, dor que não passe, beleza que não acabe, saber sem dúvida, estrelas que não morram, fim sem saudade, inicio sem incerteza, conhecido sem desconhecido, felicidade sem luta.
Não existe lei!
Não existe remédio!
Existe esse caminho que nos trará o dia em que, longe de todos os cansaços, dançaremos a valsa da mente livre e partiremos para o inicio do resto de nós.
Talvez nos cruzemos no resto de mim.

05-07-2009



As palavras são de facto uma arma poderosa, eu sei, como elas podem ter o poder de enaltecer ou destruir, já proferi e já escutei. Agora, dizer apenas aquelas palavras que se sentem e que dão um sentido e um proveito, isso é toda uma arte completamente diferente, que dificilmente alguém dominará por completo, ou não fosse por vezes o silêncio de ouro. Sempre respeitei o poder que podem assumir em quem as leia e lhes dê algum valor, mas não consigo resistir-lhes, são a amante secreta a quem confidencio todas as minhas paixões, essa amante que me faz explodir como um vulcão libertando-me dessa lava abrasadora que necessito expelir para o exterior como sussurros de vida.

Estas palavras que agora vos deixo, são esses sussurros, gritos amordaçados de múltiplos seres coexistentes na mesma alma, gemidos inaudíveis de corpos suados pelo êxtase de orgias num leito de sonhos.

Que vos posso dizer que já não saibam e que eu saiba com toda a certeza? Absolutamente nada! Quem pensa que tem respostas para um assunto, descobrirá na aurora de um novo dia que apenas deu alguns passos na periferia da sua ignorância.

Unicamente vos posso transmitir o que hoje tenho por certo e seguro, que não existem sonhos impossíveis, que o impossível é um conceito inventado por todos os que um dia deixaram de sonhar, que os verdadeiros obstáculos à felicidade vivem quase sempre dentro de nós, e que espero que o fluir do tempo nunca me dê razões para questionar esta certeza.

Podemos ser esse sol que morre diariamente no horizonte, mas que renasce no dia seguinte como símbolo do contínuo fluir da natureza, se deixar-nos que a luz que oriente os nossos passos resulte da erupção desses “vulcões” interiores que julgamos extintos. E na sua lava incandescente encontraremos a arma para a aniquilação do nosso adormecimento, a força de um corpo renascido em cujas veias corre o sangue dos sonhos que ninguém ousará impedir-nos de concretizar na direcção do nosso destino.

Tantas vezes me cruzei com almas que no limite do desespero me referiram o quanto desejariam libertar-se das amarras inibidoras que a sociedade coloca à expressão individual das nossas vontades. Que vivem uma vida diferente daquela que desejam, uma existência monótona sem uma faísca que acenda o rastilho da esperança, e permita essa explosão que será a génese da libertação do seu verdadeiro eu. Crianças presas em corpos adultos, amputadas na sua capacidade de ser crianças, corações congelados presos numa jaula onde não choram para não demonstrar o que pensam ser fraqueza.

Ninguém nesta vida está imune a este tipo de sentimentos, eu também os experimentei, até que entendi que existem presos que de facto o são porque foram condenados, e outros porque não querem ser livres com medo das consequências duma liberdade que temem usar.

Atingi nesse momento a perfeição da “minha loucura”.

Descobri que errar é inevitável quando se está vivo, e que isso só representa um problema quando paramos para viver a amargura do erro e deixamos de caminhar até que a vida nos leve a cometer outro. Que a essência da vida não está na continuidade duradoura da sua excelência, mas nesses efémeros momentos em que a nossa harmonia e paz interior parecem capazes de parar o tempo, em que saímos dessa jaula onde nos colocamos em exílio voluntário e mais uma vez ousamos assumir o fantástico risco de errar.

É errado não errar, uma dia descobriremos (e quem sabe tarde demais) que enquanto nos preocupamos em não chorar com medo de “demonstrar fraqueza”, enquanto ambicionamos a continua excelência, deixamos ir os segundos, as horas, os dias, e com estes o que perdemos é a própria vida.

Isso descobri porque a vida apesar de ser um bom professor, nos envia contas terríveis, porque apesar de muitas vezes ter tentado e não ter conseguido, muitas foram as vezes em que valeu a pena tentar, e nessa ponte entre erro e erro, vou acumulando memórias, plantando palmeiras e acrescentando gotas de água cristalina a esse oásis interior onde me refugiarei aquando da partida para a aventura de uma outra qualquer vida seja ela qual for.

Não tenhamos qualquer dúvida que em períodos mais ou menos duradouros o ”amorfo” fará parte da nossa existência. Eu acho que "apenas" um milhão de pequenas coisas me podem fazer feliz (talvez mais), não as quero todas de uma vez, óbvio, quero que a vida as vá trazendo e que eu as consiga achar sempre que puder. Felicidade às prestações, em pequenas doses de consumo imediato, sob mil e uma formas diferentes... em que algumas serão importantes percepcionar, experimentar mais do que uma vez. A felicidade não tem certamente a mesma expressão aos 10 anos, aos 20, nem aos 30, 40, 60, etc... a felicidade tem de ser mutável e flexível, cada dia repensada e transformada.
É quase impossível que o nosso caminho não se torne numa rotina, mais cedo ou mais tarde, e infelizes daqueles que não se conformam com isso ou pensam que o quotidiano repetitivo implica uma mente adormecida. O escape, a recolha, as sensações vêm sim, não de múltiplos caminhos percorridos (a vida nunca chegará para tudo isso), mas de inúmeras formas de "alucinação" que se podem obter, ou não fosse a música, a literatura e as imagens, dos bens mais preciosos que alguém pode ter e experimentar, tal como sentir, ver, ouvir e cheirar nos trazem o mundo para dentro de nós.
É essencial, vital acrescentar a tudo isso, sem escassez, amizades e amores, algumas graças e desgraças, alguns risos e algumas lágrimas: miríades de hipóteses sensoriais para os nossos cinco sentidos - “...não viver a monotonia sem convulsões (...), que o teu rosto anónimo não esconda as almas de quantos de ti estiveram perto...” – não cair na apatia nem na ignorância.
Convém que a nossa sede do que não temos, não nos leve a um labirinto, que no fim não sejamos a dor de ninguém, que o nosso perfil não seja uma máscara e que a nossa luz não tenha trejeitos torpes. A busca do “eu”, deverá ser apenas até ao horizonte visível, “elusiva e discretamente altiva”, para que o sabor que dela tenhamos não traga um pasmo silencioso, mas sim o esplendor de um diamante em eterna lapidação

Não viver a vida de ninguém nem fazer ninguém viver a nossa vida, guardar e preservar o espaço que cada um deve, pode, tem de ocupar.

“...Por mais que a vontade de pequenos deuses pálidos e fulvos talhe em profusas lápides o contrário, e a sua persistência os tenha por Senhores, o sangue que impele estas veias é MEU....”

A todos aqueles que ainda não descobriram o seu rumo, que ainda não se aperceberam que só têm uma oportunidade para a realização dos seus sonhos, tenho sempre a mesma mensagem - nunca é tarde para ser feliz -, a felicidade não é uma opção é uma obrigatoriedade, e só depende de nós mesmos e de mais ninguém.
Tudo aquilo que não fizermos por nós ninguém o fará, e a melhor altura para tocar o “Clarim da Revolta” é o dia de hoje porque ontem seguramente não foi possível escutar o maravilhoso som que dele sempre emana.
O conformismo gera tristezas e desilusões, a revolta sempre foi a alavanca da mudança, e por vezes o único caminho na direcção à felicidade.
Por vezes não entendo aqueles que dizem “não tenho tempo”, a maior parte das vezes esta expressão disfarça uma cobardia tremenda para aquilo que gostávamos mas não conseguimos fazer, como se a culpa para todos os nossos males fosse o tempo que passa, quando o que devemos é estar gratos por cada dia em que temos o privilégio de estar vivos.
É pena contudo que por vezes deixemos para trás o que poderiam ser os mais belos momentos da nossa vida. Olhamos para o que já é passado e nos interrogamos sobre o que perdemos! nesses instantes a nossa lucidez cria uma sucessão ilimitada de imagens, lapsos temporais que perdemos porque os inevitáveis erros do passado, e o medo do futuro, não nos deixaram ser livres para experimentar um maravilhoso presente.
Retumbantes êxitos de grandes homens devem-se a pequenos mas raros momentos em que puseram de lado a razão e entregaram-se à arte de viver, errando o mais possível e acertando outras tantas vezes. Acredito que um dos segredos da vida está em aproveitar a ocasião quando ela se nos apresenta e não pensar, porque quando pensamos estragamos o momento e com isso a excitação e a magia que é estar vivos.
É necessário nunca perder a esperança, porque onde não existe esperança não existe qualquer esforço que resulte.
Acredito na vitória de qualquer ser humano (quaisquer que sejam as lutas que desejem travar), como acreditei na minha, porque ela existe no coração de todas as pessoas, “porque quem acredita sonha, quem sonha vive, e quem vive pode mudar o seu mundo e ser feliz”.

Não queiram ver um dia na vossa campa a seguinte inscrição:

“Morri, não chorem, não me chamem, eu estarei longe e tudo o que fizerem e disserem será em vão, vocês foram a causa da minha desgraça, da minha solidão, mas onde quer que eu esteja eu ficarei bem e perdoarei o que me fizeram sofrer e serei sempre aquilo que vocês me fizeram ser.......”

Abracemos as oportunidades sem medos, porque se virarmos as costas à luz que nelas se encontra, a única coisa que veremos é esse corpo inerte a que chamamos de sombra. Cada vez que mentimos a nós mesmos para evitar um esforço, a manta sob a qual nos escondemos torna-se um pouco maior, até esse dia em que sucumbiremos à sua escuridão. A pior coisa que se pode fazer na vida é fugir de nós mesmos, mais cedo ou mais tarde encontramo-nos, e quem sabe já tão cansados, que não vamos ter forças para entender que

“nas montanhas da felicidade nunca se faz uma escalada inútil”.

Revoltem-se! Deixem essa jaula “virtual”, soltem a criança que existe em vós para que possa outra vez correr atrás das borboletas e não deixem apagar dos vossos lábios a pureza de um sorriso, afastar dos vossos olhos a serenidade de um olhar, escapar do vosso coração a ânsia pela vida.

E se nada mais resultar entreguem a vossa alma à poesia, porque neste mundo das palavras ninguém nos pode colocar algemas e afastar–nos da nossa paz.

Neste lapso de tempo em que escrevi estas singelas palavras, a vida aconteceu, convivi com um passado que não se repete, um presente que já passou, e um futuro que desejei quando escrevia no presente. A magia deste lapso de tempo nunca dependerá das palavras que aqui deixo, mas do facto de, mais uma vez,o ter vivido com a paixão de quem a ele se entregou.

23-06-2008


H! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Agigantastes uma pátria adormecida com o sonho da universalidade. Conquistastes o desconhecido e chegastes ao topo dessa colina sagrada onde vivem os imortais, e do seu cume decidistes que parte do mundo era vosso.
Nem sempre as velas de vossas naus se moveram por ventos de nobres motivos, mas ecoarão eternamente hinos aos vossos gloriosos feitos.
A vossa herança são hoje páginas de histórias de um povo visionário que construiu um império.
De um David que ousou ser Golias.
Esta terra que hoje pisamos, tão longe está daquela construístes, viveste e pela qual destes a vida.
Somos vítimas de um processo de extermínio promovido pela ausência de consciência. Derramamos agora lágrimas em locais sem “sangue de guerra”, lágrimas feitas gotas de água de um mar que dominastes, mas no qual nos sentimos exilados, atirados à tragédia do nosso próprio destino.
Nas suas areias, debaixo de um manto de vergonha, já não sonhamos com outros horizontes, e simplesmente nos escondemos à sombra como almas do outro mundo tementes do sol.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Não queremos ser esses cobardes que simplesmente esperam, que vêm a vida a passar pintada de cores e não lhe podem tocar.
Queremos correr e saltar, tocar o arco-íris.
As nossas feridas, são lancinantes marcas de uma luta que não ocorreu, de uma guerra sem palco que nos mata.
Vivemos na incerteza atordoados por carrosséis de imposturas.
Não nos deixam entrar no campo de batalha
– Cobardes –
Não desejam o corpo a corpo.
Os escudos são forjados na hipocrisia.
As lanças untadas na sua ponta com o veneno da indiferença.
As Flechas construídas de mediocridade, voam certeiras e trespassam corpos que ecoam cânticos de libertação ao se verem mortalmente atingidos.
As espadas já não têm código de honra, são empunhadas por esses carrascos que nos leitos das suas concubinas, nesses lençóis acetinados que alimentariam uma aldeia completa, se deleitam com sentenças nascidas em orgasmos de poder.
A justiça é agora de facto cega, tapada pela venda da mais infame cobardia que não ousa olhar de frente os condenados.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
No nosso sangue já pouco resta do vosso.
Mas ainda somos soldados!
Soldados sem rosto.
Sem exércitos.
Sem monumento.
Heróis anónimos.
Tombamos numa guerra surda pelo direito a ter um pedaço dessa terra adubada com o vosso sangue.
Pelo direito a andar e não estar sempre no mesmo lugar.
Temos que vestir o fato do guerreiro, não para conquistar os mais longínquos oceanos, mas para defender o nosso charco enlameado e a pele dos homens como nós.
Não lutamos para ampliar impérios, mas contra as ambições desmedidas, de quem nos quer tirar a capacidade de sonhar o sonho, de quem nos obriga a partir porque nos asfixia na nossa própria terra.
Conquistaremos cá dentro o que vocês procuraram nos quatro continentes.
Somos o que sempre fomos na nossa história, Destemidos Soldados, e lutaremos contra esse Golias que nos quer confinar aos lugares onde a luz da nossa harmonia nunca estará presente.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Voltemos a desfraldar essas velas da liberdade e sonho, que um dia partiram no desconhecido.
Voltamos a ser pequenos mas existimos e não desistimos.
Não temos as tuas ”Tágides “ oh Camões venerado
mas temos a força dos humildes, herdada da fúria desses Oceanos que trespassaram com a vossa ousadia.
Não temos armas, mas temos a força de corações oprimidos que tocam o tambor da justiça.
Não temos hinos grandiosos, mas temos a coragem de não ser hipócritas nos prazeres que buscamos.
Não temos bandeiras, temos a força da revolta de quem se senta numa mesa imposta, adornada pela decadência de quem serve esmolas de hipócrita humanidade.
Nunca seremos história, mas temos a honra da humildade
A alquimia da felicidade
A febre da vida
A ânsia da beleza
A visão de quem sonha.
O desejo de querer mais
A AMBIÇÃO DAS DESCOBERTAS

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Desejamos o repouso destas guerras, não queremos ser donos do céu ou senhores da terra. Queremos ancorar nossos barcos num pedaço de terra em que possamos por fim tirar esses sapatos de soldado e encontrar a paz.
Queremos viver num qualquer lugar que seja nosso e ser cobertos na morte por uma terra que trabalhamos com a força das nossas mãos.
E se para isso tivermos que morrer lutando como o fizestes outrora, se tivermos que nos afogar nas ondas forjadas na raiva de um qualquer Adamastor,
ao menos morremos num mar de sonhos e não viveremos morrendo por os não ter.
Unam-se a nós os que já desistiram, ainda estão a tempo de desistir da desistência.
Não nos restam quaisquer duvidas de que, como para todos esses gloriosos conquistadores,

A MORTE SERÁ UMA AVENTURA
A MORTE SERÁ QUASE COMO A VIDA

09-06-2008










Existem pessoas sem olhos
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira

Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia

Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata

Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável

Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria

Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos

Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade

Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente

Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado

Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira

Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado

Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu

Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência

Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça

Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus

Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade

15-05-2008

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