Poesia e pensamentos livres


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Não! Não vou dar-te um qualquer objecto atado por fitas da cor dessa hipocrisia purificante, de quem embrulha materialismos esperando comprar o que nunca estará à venda.
Neste papel em branco, sem vida, irão fluir pinceladas de sentimentos, serão aniquiladas barreiras que impeçam a minha alma de voar até ti, nas asas de um poema que desejo fazer em mim.
Talvez não tenha o génio necessário para criar "esse poema", mas inicio esta viagem com a força de todos os sonhos do mundo, desejoso que a luz do sol me oriente no caminho, e que a paz da noite me traga a esperança de poder dar um sopro de vida às palavras que te quero deixar num papel eterno.
QUERO dar-te algo que SEJA REALMENTE TEU! Que nasça DO MELHOR QUE EXISTA EM MIM!

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Tudo começou um dia, numa sala dolorosamente ruidosa, onde o tempo parou.
Não existia mundo lá fora! Passado presente e futuro confinado a quatro paredes com cores de dor e esperança. Senti, como nunca tinha sentido até aí, a mais devastadora impotência e soltei todos os meus medos em gritos de silêncio. Entre lágrima e lágrima deixei-me viajar na memória, viagem que fazemos sem nos ausentarmos donde estamos e que tão longe nos leva entre lembranças e instantes vividos.
Revisitei todos os momentos que antecederam aquele momento, A RAZÃO DE ESTAR ALI.
E de repente tudo ficou claro, à minha frente o brotar de uma semente, o desabrochar de uma flor, a doce melodia da inocência nos mais belos olhos que só em sonhos imaginava. Na minha mão senti dedos frágeis, desenhados num sonho de eternidade, e no meu coração ecoava a beleza dos primeiros sons de quem rompeu com coragem as fronteiras de um corpo, abandonou o divino sangue maternal e se fez CRIANÇA.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Recordo a emoção do momento em que nos meus braços senti a fragilidade desse corpo acabado de nascer, a surpresa dos primeiros passos toscos e desequilibrados e a celebração aquando da libertação definitiva da fralda.
Revivo a alegria dos primeiros dentes nascidos e a manifestação de coragem por cada um que tombava como guerreiro morto em campo de batalha, merecedor de um memorial especial honrando a sua bravura… não fosse a fada dos dentes aparecer!
Revisito os tempos em que cantou, dançou e representou, subiu às árvores, magoou os joelhos, sujou o mais possível as roupas rebolando no chão como qualquer criança com direito a sê-lo.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Deixo-me voar nas memórias desse tempo de partilha dum universo infinito, um mundo sem impossíveis coberto por um céu da mais harmoniosa paz.
Construímos palácios encantados, nos seus jardins colhemos flores mágicas que se convertiam em amuletos contra bruxas malvadas que congeminavam para aniquilar a nossa felicidade. Mas não existia magia eficaz contra os nossos superiores poderes e nada impedia que qualquer história tivesse um final feliz, O NOSSO.
Inventávamos brincadeiras! Naves espaciais construídas de esquecidos e velhos jornais partiam para os planetas mais distantes, lá dentro, dois intrépidos astronautas desafiando esse céu desconhecido. Na dispensa, esse espaço sem vida que existe em todas as casas, vizinhos partilhavam problemas e trocavam objectos, e quando partiam, eu, era esse "touro mecânico", onde desafiavas a gravidade e o equilíbrio.
Lembras-te de quando o poder da nossa mente fazia aparecer os objectos que não sabias onde tinhas deixado? - Vamos puxar forte pai! - Dizias. E quando duas pedras eram os dardos velozes e certeiros – bem... às vezes nem tanto! - que atingiam uma qualquer árvore escolhida na natureza, essa natureza amiga que nos fornecia as personagens necessárias à construção de um universo mágico.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

A vida não pára! Enquanto eu trilhava os caminhos deste mundo, já tu tinhas a mochila às costas e partias com passos decididos em direcção à escola.
Agora, é-me impossível ter outro pensamento que não o mesmo de sempre: CRESCESTE! Ainda há pouco tempo habitavas outro corpo, depois o meu colo, as discussões de quem já diz existo! Agora começas a construir o teu espaço, esse pedaço de “terra” marcada pelos teus passos cujas pegadas construirão a tua história.
Mas és e serás sempre aquela menina doce que dizia – “Caixolixo”, “Cocholate” –,
a minha ETERNIDADE.
A filha que qualquer pai desejaria ter.
A Chuca, Peterpanzinha, Pintarolas, Pitufinha, Furinhos ...
A MINHA FILHA.


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Continuarás a ser essa criança ávida de vida que deseja encher o mundo de animais e os campos de flores. Essa criança que contagia com a sua transparente alegria, cativa pela sua inteligência curiosa, assombra com a sua perspicácia, encanta com a sua vaidade e que nos orgulha por tudo isso e pela natureza meiga, amiga e humanamente generosa.
Nada temas! A tua essência irás descobrindo, cultivando, nessa incessante procura pelo teu espaço, pela concretização dos teus sonhos.
Aparecerão pedras no teu caminho, obstáculos e dificuldades – a vida não é o mundo encantado que tantas vezes construímos – mas nunca estarás sozinha nessa luta.
Preserva essas características que são a tua diferença, a impressão digital do teu carácter.
Trilha as tuas estradas ao ritmo de um passo depois do outro, não vivas na ânsia do “partir” e desfruta em cada dia o prazer do “estar aqui”.
A vida não é uma corrida rápida.
A beleza sempre começa na simplicidade das pequenas coisas, a árvore mais bonita brotou de uma frágil semente, as palavras que aqui te deixo foram escritas letra a letra, os oceanos são formados por gotas de água que lutaram nos caudais dos rios para chegarem ao seu destino. Da mesma forma, os sonhos serão construídos com luta, persistência, coragem, sofrimento, compreensão, solidariedade e muitas vezes perdão.

Ah! Se as palavras me ajudassem...

Um dia desabrocharás para a madrugada e partirás...
E nós que te demos a vida, assistiremos a esse “bater de asas” com orgulho e essa tristeza interior que nos chega através do manto da saudade.
Ficaremos como esses veleiros nos portos silenciosos, esperando uma nova partida, uma nova aventura com essa pequena célula que se transformou numa tão bela flor que nos fez viver numa constante primavera.
Mas hoje, aqui, sentado nesta cadeira sem alma, és apenas:
A OUTRA PARTE DE MIM!
Agora é tempo de continuar, falamos amanhã! Quero escutar todos os segredos e novidades que trazes da escola, abraçar-te e dar-te um beijo
Esta folha que começou em branco, foi preenchida com palavras que gritam um nome e um sentimento...
O nome é JOANA, o sentimento AMOR.

08/07/2008


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