By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Talvez as relações amorosas devessem vir acompanhadas de um manual de instruções em varias línguas, porque na era do amor sem barreiras geográficas tal seria importante.
Todos dedicamos ao tema do amor muito tempo das nossas vidas, quer em conversas nos mais díspares espaços e com os mais diversos interlocutores, quer nos momentos em que isoladamente tentamos (pobres que nunca compreendemos que é impossível…) definir o seu conceito.
Desistimos sempre desse desígnio de qualificar o inqualificável, e contentamo-nos -quase sempre - em listar uma séria de factores que o mesmo deverá incluir seja qual for a sua definição.
Tanto tempo dispendido com esta temática, que deveríamos num determinado momento das nossas vidas ser apelidados de “gurus” do AMOR, e ser convidados a dar palestras nas universidades da vida.
A verdade é que sabemos sempre começá-las, agarramo-nos aos inícios com a sabedoria dos mágicos, operámos transformações milagrosas em nós próprios e no objecto do nosso amor, de repente tudo nos é fácil e grato, sentimo-nos com asas de falcões, nas nossas costas cresce uma capa encarnada e carregamos no peito o símbolo do Super Homem, tudo é óbvio visto assim, o mundo aparece aos nossos olhos como um jardim florido.
Não há nada melhor do que começar uma relação.
O novo é irresistível. Descobrem-se coincidências que vão desde a mesma colecção de cromos, às músicas que escutamos, aos gostos culinários (o sushi que detestávamos até que nos começa a parecer o melhor petisco dos deuses…). Descobrimos o prazer que não tínhamos numa saída com gente que nada nos diz, e drogamo-nos com todas as palavras que escutamos, e que sempre pensamos merecer.
É a primeira vez, outra vez em tudo.
Descobrimos o outro em nós e nós no outro.
Descobrimos que afinal sabemos cozinhar e até uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos (antes entediante) nos parece de um imenso romantismo.
No início de todos os inícios sentimo-nos tão estupidamente felizes que seríamos capazes de morrer a seguir, porque achamos que atingimos o ponto máximo da felicidade.
Mas o pior, o pior mesmo, vem a seguir, como dizia o Picasso "…bom mesmo é o início porque a seguir começa logo o fim…". E quando o fim chega já é tarde demais para voltar atrás. (e como faria falta o tal manual para saber como com ele lidar)
É sempre tarde demais, porque isto do amor é mesmo uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior.
E o pior (dizem os comuns mortais) é que na primeira oportunidade repetimos os mesmos erros à espera de resultados diferentes (o que até me agrada pois é um bom sintoma de demência).
Aos poucos vamos vendo o amor perdendo-se, acabando...sentindo a cada dia mais distância do outro.
O seu sorriso já não é o mesmo, já não aceita a rotina como antes, já não nos olha com tanta ternura, e já não faz questão de esconder o descontentamento...
Sentimos uma grande saudade do que fomos, do que juntos sonhamos, de tudo o que com felicidade construímos. Não sabemos nada dos sentimentos da alma que um dia julgamos gémea da nossa, sabemos apenas do nosso coração, que sente medo, que foge dos sentimentos, que não se entrega mais e que vive atormentado de culpas a perguntar:
Porque?
Num determinado momento compreendemos que: o que mais nos dói é saber que o nosso “eu” e outro “eu” nunca construirão o “nós”.
E quem se considere imune a tais disparates e nunca tenha passado por estas avarias sentimentais, que atire a primeira pedra…
Alguém (desses eruditos que estão sempre seguros de tudo.....) escreveu "… primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde antes estava a intimidade …."
E pronto, já está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, DEPOIS DE SE APAGAR A CHAMA.
Mas esta é a condição humana, doa a quem doer.
Ou então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o início do mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver, caso regressassem ao mundo. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário Ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, a Penélope recuperou o seu guerreiro depois de 20 anos de espera.
O amor esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar do que o Olimpo, porque não está nem no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que toda a água dos oceanos.
Pode até ser apenas uma invenção dos homens para fugir à morte, ou uma realidade para dar razão à vida.
Mas! Ilustres e comuns cortais, tudo o que é belo é digno das nossas lutas, e por isso fujamos dessa terra sem esperança, onde habitam os crentes de que na vida não existe sofrimento, esses que ainda não descobriram que nos caminhos do amor qualquer sofrimento vale a pena.
“ …ainda pior a convicção do não, ou a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase….”
É o “quase” que nos deve entristecer, "...que nos mata trazendo tudo o que poderíamos ter sido e não fomos. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam entre os dedos, nos momentos que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono. Perguntamo-nos às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, a resposta está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços na indiferença dos “bons dias”, quase que sussurrados. Sobra a covardia e falta de coragem até para sermos felizes..." (Sarah Westphal)
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
De nada adianta economizar a alma, um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Ah! Ânsia de amar Febre bendita...É Inevitável! Um dia perderei outra vez a lucidez e voltarei a amar.
11-11-2010
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