By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Solidão, palavra tão isoladamente proferida, sentimento tão profundamente experimentado, por vezes conveniente “álibi” para a incompreensão da nossa realidade, do nosso caminho e da fragilidade no domínio da nossa existência.
Ninguém nega que em momentos essa palavra não seja consistente com o sentir da nossa alma, nem questiona a sua intermitente existência, mas poucos conseguem entender a sua essência, e ver nela um universo de ensinamentos sobre quem de facto somos.
É que, quase sempre, não entendemos que a nossa solidão, ou pelo menos o que julgamos como tal, tem o seu embrião em nós mesmos, nos mares profundos do nosso ser.
Cresce protegida pelo facto de em determinados momentos, mais ou menos prolongados da nossa vida, em vez de construirmos “pontes” mais não fazemos que construir “paredes”, onde recriamos com uma excelência que até desconhecemos que existe, o micro clima ideal para a sua sobrevivência.
E é aqui que quase sempre tudo começa, principio e por vezes fim de nos mesmos, causa e efeito, dia e noite de uma existência que poderá nunca mais vir a ser a mesma.
Porque nessas “paredes” douradas onde nos refugiamos vivemos uma existência…
…… Perdidos na comodidade da ignorância.
Rodeamo-nos do que nos surge, não pensamos, estamos cansados demais para esse processo que acreditamos não nos dar a chave da saída.
Agimos sem intenção de construir, e destruímos sem nos apercebemos do efeito dessa destruição (na verdade até acreditamos nada ter para destruir).
Existimos sem preocupação de viver, mas pensamos que vivemos existindo, acreditamos que descobrimos a nossa essência na facilidade do fluir do tempo, sentimo-nos superiores a todos os que não podem realizar tal proeza de viver a despreocupada magia do efémero.
E nunca compreenderemos que a verdadeira nobreza esta em trilhar um caminho que nos leve sempre a sermos superiores ao que éramos antes.
Valorizamos o conjuntural esquecemos o eterno, rendemos homenagem ao acordo fácil e nunca à palavra discordante mas pura, preocupada e amiga, e vivemos com aqueles que pensamos nos privam da solidão, mas que nunca nos farão “companhia”.
Vivemos um mundo de não verdade, qual “Matrix” revisitado, e cometemos o erro de não compreender que essa verdade é a que desejamos ver, mas não a que de facto existe.
Desculpamo-nos com o que a vida nos vai dando, nunca assumimos a nossa responsabilidade, tudo é culpa de terceiros - da vida, das pessoas, dos amigos, dos conhecidos, da sociedade, da conjuntura - mas nunca! Mesmo nunca assumiremos que “não são as ervas daninhas que matam as boas sementes, mas sim os erros de um desleixado agricultor”.
E como o lento caminhar das águas de um rio até ao mar, perdemo-nos nas curvas, evaporamo-nos no percurso, chocamos contra as rochas e caímos na terra.
Caímos de precipícios, por vezes somos desviados para alimento de outras terras férteis, outras vezes prendem-nos em muralhas construídas para não nos deixarem seguir.
Em todo este percurso experimentamos tudo e por vezes perdemos completamente a esperança, e dessa forma a possibilidade de chegar ao tão desejado mar da liberdade.
Mas se um dia estivermos num sítio onde as águas de um rio desaguam num qualquer mar, verificaremos que existem gotas de água que todas juntas formam um belo rio, e que conseguem chegar ao seu destino apesar de todos os obstáculos colocados no seu caminho.
E assim fizeram porque nunca perderam a esperança, qualidade que adquiriram com a verdade, constância e coragem, com repetidos esforços e uma longa paciência.
É que para manterem a esperança, essas aguas sabem que têm conviver com o desespero e ir para além dele, perderão muitos amigos nesse percurso, mas também têm presente que nas nuvens negras que por vezes avistam, existirão chuvas de agua pura que trarão outros para ajudar nessa batalha.
E no seu fluir continuo pelos caudais aos quais estão confinadas, têm a certeza que no final de uma noite vencida, existirá uma aurora, e quem sabe a deslumbrante vista de uma mar puro e eterno para viver.
Estas águas dão-nos uma lição de vida! Sabem que não podem desistir, esse é o seu destino.
Sabem que não podem cair nessa doença de carácter que tem por sintomas a falta de firmeza para tudo, a leviandade no agir e no dizer.
Essa leviandade com a vida, que torna os nossos planos de cada dia tão vazios, que se não reagimos a tempo fará de nós bonecos mortos e inúteis, qual marioneta que só ganha vida impelida pelos movimentos que alguém lhe quiser dar.
E se assim pensarmos, talvez compreendamos que é diferente tentar ser alguém de intrínseco valor, do que alguém com efémero sucesso.
Que primeiro na vida temos que decidir o que queremos para obter isso mesmo, que à beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente: dar um passo atrás, que tudo o que fizermos hoje tem consequências e pode condicionar o nosso futuro.
Nunca existirá esquecimento para as pegadas que escrevemos na alma, e sempre que nos enganamos a nós mesmos cometemos a maior fraude possível na vida, e a partir daqui, todo o pecado é fácil.
E só saberemos quanto estamos perdidos, no momento em que verificamos que já não conseguimos suster-nos com os dois pés na profundidade do rio onde navegamos.
Recompensem com uma fonte inesgotável quem vos presenteou com uma gota de água.
“Se fizerem um favor, não o recordem; se receberem um favor, nunca o esqueçam”.
Façam um favor a vocês mesmos convertam-se nessa gota de água que conseguiu desaguar num qualquer mar, e que hoje é tão cristalina, pura e forte, que sempre que aparece, nos perdemos na admiração da sua beleza.
11-11-2010
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