Poesia e pensamentos livres


Escrevo porque em mim isso é algo urgente
Porque nessa urgência existe fome e desejo
Porque não consigo ficar distante e ausente
De pintar em palavras o que sinto o que vejo

Tremenda esta minha sede interior de viver
Sentir o fluir de vida num continuo encanto
E neste meu irresistível impulso de escrever
Eu vivo, sonho, sou, existo e canto.

Como muita gente invade-me esta vontade
Do cinzento da vida fazer uma bela história
Mudar ódios em amor, amarras em liberdade
Raivas em tranquilidade, fracassos em glória

Escrevo porque que foi a isso condenado
De nas palavras ser abandonado mendigo
Nelas a única forma de me sentir libertado
Dos gritos da alma que vive comigo

Escrevo porque minha modéstia ousa querer
Fazer simples canções das músicas que sinto
Perdido em palavras que raramente ouso ler
Vou gritando verdades em tudo o que minto

Sou como Colombo, não sei para onde vou
Mas vou! Sou peregrino no meio da gente
Escrevo porque sem isso não sei quem sou
Perdido entre passado futuro e presente




Talvez as relações amorosas devessem vir acompanhadas de um manual de instruções em varias línguas, porque na era do amor sem barreiras geográficas tal seria importante.
Todos dedicamos ao tema do amor muito tempo das nossas vidas, quer em conversas nos mais díspares espaços e com os mais diversos interlocutores, quer nos momentos em que isoladamente tentamos (pobres que nunca compreendemos que é impossível…) definir o seu conceito.
Desistimos sempre desse desígnio de qualificar o inqualificável, e contentamo-nos -quase sempre - em listar uma séria de factores que o mesmo deverá incluir seja qual for a sua definição.
Tanto tempo dispendido com esta temática, que deveríamos num determinado momento das nossas vidas ser apelidados de “gurus” do AMOR, e ser convidados a dar palestras nas universidades da vida.
A verdade é que sabemos sempre começá-las, agarramo-nos aos inícios com a sabedoria dos mágicos, operámos transformações milagrosas em nós próprios e no objecto do nosso amor, de repente tudo nos é fácil e grato, sentimo-nos com asas de falcões, nas nossas costas cresce uma capa encarnada e carregamos no peito o símbolo do Super Homem, tudo é óbvio visto assim, o mundo aparece aos nossos olhos como um jardim florido.

Não há nada melhor do que começar uma relação.

O novo é irresistível. Descobrem-se coincidências que vão desde a mesma colecção de cromos, às músicas que escutamos, aos gostos culinários (o sushi que detestávamos até que nos começa a parecer o melhor petisco dos deuses…). Descobrimos o prazer que não tínhamos numa saída com gente que nada nos diz, e drogamo-nos com todas as palavras que escutamos, e que sempre pensamos merecer.

É a primeira vez, outra vez em tudo.

Descobrimos o outro em nós e nós no outro.
Descobrimos que afinal sabemos cozinhar e até uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos (antes entediante) nos parece de um imenso romantismo.
No início de todos os inícios sentimo-nos tão estupidamente felizes que seríamos capazes de morrer a seguir, porque achamos que atingimos o ponto máximo da felicidade.
Mas o pior, o pior mesmo, vem a seguir, como dizia o Picasso "…bom mesmo é o início porque a seguir começa logo o fim…". E quando o fim chega já é tarde demais para voltar atrás. (e como faria falta o tal manual para saber como com ele lidar)
É sempre tarde demais, porque isto do amor é mesmo uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior.
E o pior (dizem os comuns mortais) é que na primeira oportunidade repetimos os mesmos erros à espera de resultados diferentes (o que até me agrada pois é um bom sintoma de demência).
Aos poucos vamos vendo o amor perdendo-se, acabando...sentindo a cada dia mais distância do outro.
O seu sorriso já não é o mesmo, já não aceita a rotina como antes, já não nos olha com tanta ternura, e já não faz questão de esconder o descontentamento...
Sentimos uma grande saudade do que fomos, do que juntos sonhamos, de tudo o que com felicidade construímos. Não sabemos nada dos sentimentos da alma que um dia julgamos gémea da nossa, sabemos apenas do nosso coração, que sente medo, que foge dos sentimentos, que não se entrega mais e que vive atormentado de culpas a perguntar:
Porque?
Num determinado momento compreendemos que: o que mais nos dói é saber que o nosso “eu” e outro “eu” nunca construirão o “nós”.
E quem se considere imune a tais disparates e nunca tenha passado por estas avarias sentimentais, que atire a primeira pedra…
Alguém (desses eruditos que estão sempre seguros de tudo.....) escreveu "… primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde antes estava a intimidade …."
E pronto, já está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, DEPOIS DE SE APAGAR A CHAMA.

Mas esta é a condição humana, doa a quem doer.

Ou então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o início do mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver, caso regressassem ao mundo. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário Ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, a Penélope recuperou o seu guerreiro depois de 20 anos de espera.
O amor esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar do que o Olimpo, porque não está nem no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que toda a água dos oceanos.

Pode até ser apenas uma invenção dos homens para fugir à morte, ou uma realidade para dar razão à vida.
Mas! Ilustres e comuns cortais, tudo o que é belo é digno das nossas lutas, e por isso fujamos dessa terra sem esperança, onde habitam os crentes de que na vida não existe sofrimento, esses que ainda não descobriram que nos caminhos do amor qualquer sofrimento vale a pena.

“ …ainda pior a convicção do não, ou a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase….”

É o “quase” que nos deve entristecer, "...que nos mata trazendo tudo o que poderíamos ter sido e não fomos. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam entre os dedos, nos momentos que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono. Perguntamo-nos às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, a resposta está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços na indiferença dos “bons dias”, quase que sussurrados. Sobra a covardia e falta de coragem até para sermos felizes..." (Sarah Westphal)

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
De nada adianta economizar a alma, um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Ah! Ânsia de amar Febre bendita...É Inevitável! Um dia perderei outra vez a lucidez e voltarei a amar.

11-11-2010


Muito desejaria ter a capacidade de por palavras expressar-te a minha gratidão
Aproveitar este verso simples para te dizer o que por vezes para mim guardei
Recordar a criança frágil que um dia descobriu o mundo agarrada à tua mão
Imaginar-te bem perto de mim, sussurrar-te ao ouvido que nunca esquecerei
Aquilo que pelos que amas tens feito e que para sempre guardarei no coração

Em teus braços que se abrem para mim encontro o amor e a amizade mais pura
Nesses braços meigos repletos de amor, esqueço a vida e volto a ser uma criança
Grande a força que me dá tua presença tua coragem e sabedoria sempre madura
Razão pela qual te imagino sempre a entrar pela minha porta cheio de esperança
Ainda não sei como sarar a saudade de tantas horas passadas sem te sentir e ver
Como espero o momento em que sentindo ao longe tua voz, já não estejas distante
Imaginar-te não é sentir-te, é estar sozinho é sonhar-te procurando-te para te ter
Acalmando minha alma, abraçando-te como se o mundo acabasse nesse instante

Como é linda aquela a quem dedico estes momentos em que o meu coração chora
Apertado por saber ser impossível com palavras exprimir o que me vem na alma
Bendito o destino que me deu esta pessoa bela, tanto por dentro como por fora
Respeito-a pela sua luta, perseverança, amizade desprendida e natureza calma
Amo-a pelo que é, por ser única e especial, por sua alma de pureza transparente
Lamento e perdoa-me, se algum dia de uma forma consentida de ti estive ausente

Por me ter adormecido em muitas noites, em que nunca sentia vontade de acordar
Intensos os dias em que me ajudou, a encarar a imaginação como outra realidade
Resolvendo sempre os meus problemas com a nobreza de sempre os saber escutar
E agora que penso em ti minha mãe, sinto honra, carinho e uma enorme vaidade
Saber-te sempre minha para juntos partilhar-mos a vida para toda a eternidade

Farei o impossível para que na vida das minhas conquistas só te possas orgulhar
Imaginaste para mim caminhos e percursos, que nem sempre escolhi para viver
Guiaste-me num caminho difícil a lapsos injusto, e ensinaste-me a o enfrentar
Um caminho chamado de vida que se moverá com os sonhos que juntos iremos ter
Estas não são palavras escritas na areia seca de um imaginário e longínquo mar
Inventadas por alguém desejoso que as ondas depressa cheguem para as apagar
Resolvi escreve-las porque não posso deixar que os dias passem e nunca te dizer
Esta saudade que senti enquanto estive escrevendo o que espero venhas a ler
Dolorida como toda a saudade sentida por quem se ama, é verdadeira e irás ver
O que na vida farei para humildemente provar que o teu amor mereço sempre ter

Sei desde sempre que nunca existirá na vida uma forma mais pura e bela de gostar
Imagino-me transformado em vento, e dessa forma chegar até ti como brisa suave
Levaria uns segundos até tocar de leve na tua janela e se tu me permitires entrar
Vou o teu corpo abraçar, te embalar nos meus carinhos e baixinho dizer-te a verdade
Amo-te hoje mais que ontem, e nunca na vida poderei deixar algum dia de te amar

Por saber que nunca poderei ser vento, só me resta isso imaginar no pensamento
Estou escrevendo os meus sentimentos e enquanto escrevi lágrimas de alegria chorei
Refugio que encontrei para exteriorizar a alegria que me acompanhou neste momento
Em que por fim te digo o que por inexplicável cobardia nunca disse e sempre pensei
Imagino agora que amanha será outro maravilhoso dia em que a tua presença me traz
Razão para a minha vida, luz para os meus passos, amor e carinho puro onde beberei
A agua da minha felicidade, a cura da minha saudade e como sempre a verdadeira paz

Para ti minha mãe, um forma de dizer AMO-TE...

11-11-2010



Os sonhos são a procura do oásis esplendoroso
Onde absorvemos uma agua de vida sem parar
São o refúgio do guerreiro nobre e valoroso
Que não recusa uma causa pela qual deva lutar

São as esperanças que teimosamente guardamos
Num recanto especial dentro dos nossos corações
E que despertam sempre que na vida desejamos
Partir numa aventura em busca de emoções

São a possibilidade de experimentar outras vidas
Quando a que vivemos nos causa tanta frustração
De construirmos castelos com as ilusões perdidas
Onde encontramos a paz e aniquilamos a solidão

São a flor que regamos e que não deixamos morrer
Cujo perfume absorvemos sempre que necessitamos
Cuja magia nos embala e nos ajuda a compreender
O mundo por vezes desumano onde nos encontramos

São uma fonte de tesouros de valor incalculável
Porque não são efémeros como a vida nos faz crer
Brotam do interior qual fonte pura e inesgotável
E não devemos imaginar maior tesouro para ter

Com eles descobrimos a nossa verdadeira natureza
Quais alquimistas procurando o precioso tesouro
Experimentamos alegrias e aniquilamos a tristeza
São a nossa forma livre de converter metal em ouro

24/08/2009


Sabes, pensei em escrever-te com o coração, mas entendi que as palavras que brotassem dessa forma pura do meu interior, não serão importantes para ti, seriam ridículas e fora do teu contexto actual, seja ele qual for.
Em vez disso vou escrever-te com uma racionalidade que tenho para mim, e de ti retinha o mesmo, contrária á vida. Vou escrever-te o que não sei se algum dia lerás, uma auto apelidada conversa com minha sombra, palavras nascidas de uma razão da qual não conheço a nascente.
Terei eu perdido o amigo de outrora com o qual palavras desprovidas de razão, eram o ópio que se queimava horas a fio em lugares sem rosto?
Terei eu perdido o guerreiro com o qual travei batalhas para a compreensão do universo onde nos encontramos?
Terá sido fumado por ultima vez o cachimbo dessa paz interior, que permitia o renascer todos os dias da inspiração para uma dialéctica partilhada na busca da pureza e da verdade?
Não!
Recuso-me a admitir que tudo esteja perdido, e por isso aqui estou a travar esta ultima batalha, mesmo que num monólogo condenado a ficar no esquecimento.
Porque terás tu meu amigo que fazer parte de um “jogo” de escolhas?
Por que terás tu que ser uma estrela num céu de alguém, quanto a tua luz brilha isoladamente neste firmamento?
Será que ainda não compreendeste que nesse jogo onde te encontras, se está a perder algo inesquecível, algo maravilhoso, algo único que ainda não encontrei em qualquer outro ser humano, tu meu amigo, sim tu.
Falas do medo de amar, mas tu bem sabes que a vida é composta de tudo isso: perder, ganhar, dor, felicidade, alegria, lágrimas, beleza, paz e guerra, sempre tiveste a clarividência para me ensinar que a vida contém tudo isso, e da mesma forma me ensinaste a com isso conviver e aprender a seguir o meu caminho.
Agora vejo-te a ti a tentar iludir essa realidade que tantas vezes enfrentaste, dentro de um castelo virtual cujos muros são tão altos, que nem deixam ver a luz que tu irradias.
O amor sempre incluirá posse, mas como definir “possessão”?- meu mestre orienta-me no caminho desta definição-, sem a tua ajuda eu só posso dizer que se tu não te pertences como podes pertencer a alguém ou esse alguém a ti?
Se tu não és o dono de ti mesmo, como podes ser de alguém ? nunca estarás preparado para o amor dessa forma meu amigo.
Concluímos em tempos que a nossa ânsia por tudo no seu correcto lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo adequado, não era um prémio para uma mente ordenada, mas pelo contrario, um completo sistema de simulação por nós inventado ainda que inconscientemente, para esconder a fantástica desordem da nossa natureza.
Descobrimos que não éramos disciplinados por virtude, mas como reacção natural à nossa desordem interior, e que tentávamos quase sempre ser prudentes sempre que éramos pessimistas.
E no final, meu mestre, descobrimos que não existe pior escravidão que ser escravos de nós mesmos.
Quantas vezes me ensinaste que a maior descoberta desta vida é a do nosso verdadeiro "eu", e como criticávamos as maneiras que o mundo e as pessoas inventam para se defenderem da dor.
Inventam papeis, mascaras, palavras, faces, sempre com o mesmo objectivo, não sofrer.
Aprendem infelizmente muito cedo que o sofrimento começa quando se expõem diante dos outros como são, e que essa exposição os converte em almas vulneráveis.
Mas tu meu mestre, ensinaste-me uma grande lição, ensinaste-me que tudo isto não passa de uma grande mentira para satisfazer espíritos débeis, ensinaste-me que não existe forma de evitar a dor nesta vida.
Ensinaste-me que quando isso fazemos tornamo-nos reféns de nos próprios, e o nosso coração numa prisão, vivemos numa ilusão de segurança que definitivamente não existe, e perdemos a oportunidade de experimentar inesquecíveis emoções.
Que saudades tenho de ti meu amigo e dos teus sábios ensinamentos.
Amar e outras coisas na vida tem os seus riscos, incluindo o risco de sofrer, mas tu próprio me disseste um dia, que existem outros riscos na arte do amor, o risco de ser amado, respeitado, correspondido sem limites, desejado e tudo o mais que resultar da sublime realização de amar.
Vive a tua vida meu querido amigo e mestre, a tua!, a que sempre desejastes, e que comigo partilhas à muito tempo, ama quanto puderes, quanto sentires, e fica certo que nunca serás menos por isso, bem pelo contrario serás aquilo a que um dia designaste por: o mais bravo guerreiro do amor á face desta terra.
Volta a ser verdadeiro contigo próprio
Eu estarei sempre naqueles lugares sem rosto à espera de fumar uma vez mais contigo o ópio da verdade
Tua sincera amiga
A tua sombra

24/08/2009

Acredito que momentos mágicos teremos
Para que sejamos nós mesmos de verdade
E na loucura da vida a fonte encontraremos
Para beber os sabores da plena felicidade

Embriagados pelos aromas de querer viver
Sem limites e com jovial loucura viajamos
Para a vida que merecemos e exigimos ter
E não a que nos impõem e nunca desejamos

Seremos livres para nos céus voar
Para outros mundos belos e risonhos
E aprenderemos dia a dia a disfrutar
Viver nos ventos dos nossos sonhos

Este futuro que imagino no meu pensamento
Não é um lamento por derrotas já acumuladas
É um grito interior de ânimo e grande alento
Pelas vitórias que ainda temos destinadas

É que se a prisão onde nos obrigam a respirar
Não tem os aromas que perfumam a nossa vida
Não deixemos que a velhice nos faça acreditar
Que não existia uma outra qualquer alternativa

Esta revolta que agora convosco quero partilhar
É uma esperança para que todos no seu cansaço
Possam algum dia ter forças para poder lutar
Pela felicidade forjada ao ritmo do seu passo




Toco as sombras que me tocam na distância do sentir real.
Ouço vozes que me calam na vontade de falar.
Acordo e durmo, em alternada teimosia de quem insiste em ficar...
Somo todos os meus receios na conclusão que rejeito.
Oh céus...
A quem roubei estas palavras que alguém escreveu por mim?
Que deuses me venderam esta aventura, sem entusiasmo, sem retorno?
Começo a sentir a degradação do meu juízo e temo, pelo requiem da lucidez.
Sobram arrependimentos e pretextos de fugir...
Crescem cortinas e máscaras à intenção dos excessos que não quis!
Os últimos demónios de mim mesmo, brigam entre si na disputa do seu fim.
Vem o luar e a brisa em compassos de aflição...
Vai a maré e o tempo no desperdício da razão!
Fragmentos do meu medo, que se unem em metástase de pavor.
As portas sussurram as saídas e o corredor...
Branco e estreito insinua com timidez o que não vi!
Momentos de dignidade, sopros de alma em saldo!
Senti e corri....
Sorri...
Vivi, fugi...
Perdi...
Sonhei, chorei...
Berrei...
Amei, voei...
Lutei,
Gozei, passei...
Sobrei...
Fui burla,
Logro...
Fui um só momento: a versão humana de um mau investimento.
Olho-me!...
Quem somos, nesta saudade do que não tive?
Neste ciúme do que não fiz?
O ultimo lixo dos outros lixos.
Desperdício do lixo que se diz ser gente...
...e faz da gente, o seu lixo!
Pensar, deixou de ser um exercício de existência...
Passando a ser um verbo do meu passado.
...e a vassalagem que presto à noite, tornou-me súbdito do vazio e do nada.
Sinto-me chamar-me...
Lamentando o facto de não me lamentar.
Sinto-me em volta de mim mesmo...
Querendo beijar-me e fazer-me dormir.
Sinto-me possuir-me na minha própria mente...
Ensinando-me de novo a sorrir!
Sinto-me arder na ânsia de te tocar...
Sinto-me chamar-te ao teu mundo, já sem mundos e sem mim!





Quando alguém parte sentimos uma grande tristeza
Um sentimento de total perda e nada que nos alegre
Mas no nosso coração deve ficar a alegria da certeza
Que a despedida não é um adeus mas um até breve


Não tenhas tristeza na despedida, porque na verdade
Quem agora parte fica eternamente guardado no coração
Daqueles que agora ficam com eterna e sentida saudade
Até que numa outra qualquer vida se retome essa união.

Este adeus que agora pronuncias num silêncio apagado
É querida amiga uma tão simples e efémera saudade
Existira uma nova oportunidade do reencontro esperado
Onde com quem agora parte viverás toda a eternidade



Longe das paisagens rasgadas pela firmeza dos meus passos
Trilho outros caminhos, construo novas histórias
Outras vidas, outras gentes, outros sons ritmos e compassos
Enriquecem e vão enchendo o baú das minhas memórias

Meu imaginário, aglomerado disperso de frágeis existências
Amadurece pela dura visão daqueles a quem falta quase tudo
Seres habituados a iludir com pura alegria infindas carências
Num palco onde a vida é “ontem” e “agora” o único futuro

Mar revolto e tormentoso, este onde meu barco tenho velejado
Ondas feitas crianças deambulando na rua de mãos estendidas
Ventos fortes , feito gritos de quem vive do lixo abandonado
Correntes feitas sons de canções de ilusões há muito já perdidas

Sorrisos que se escondem em corpos marcados pelo tempo
Aparecem de todas as direcções, cruzam-se no meu caminho
Nostalgias efémeras aniquiladas pela inocência do momento
Em que num frágil e tímido cumprimento mostram seu carinho

Estas raízes plantadas no meu ser de uma forma doce e pura
Lutam, resistem à erosão do tempo para que no fim só fique
A memoria, o sonho, o sentimento da saudade feita ternura
Dos caminhos percorridos neste país chamado Moçambique




Que nestes momentos de introspecção, induzidos por uma época de sentimentos que vagueiam num espaço de magia e criação individual, possamos desejar que nada seja como até aqui, se o “até aqui” não é o desejado.
Que os sons desta época, sejam de cânticos de liberdade e revolta contra o que dentro de nós nos sufoca .
Que o despertar de cada um destes dias revele um “arco-íris” de alegria, e nele vejamos as cores de uma felicidade partilhada.
Que o frio que sentimos seja esquecido pelo calor dos corações daqueles que nos enchem de amor e carinho.
Que todos os que nos rodeiam nesta vida, possam ser relembrados pelo belo, eterno, justo, verdadeiro e puro.
Que os que já partiram sejam lembrados pelo contributo que tiveram para o que hoje somos.
Que saibamos ser humildes para valorizar o simples que conseguimos, e não nos deixemos navegar em oceanos de tristezas efémeras, motivadas pelo que não conseguimos ainda ter.
Que o olhar do futuro não nos faça esquecer que o presente exige todo o nosso empenho e dedicação.
Que não tenhamos esse sentimento de oferecer, porque assim está escrito, mas porque isso desejamos e sentimos.
Que sejamos essa criança que recebe um boneco, e com ele constrói um milhão das mais belas histórias.
E não os tiranos da hipocrisia sempre com palavras circunstanciais que não sentimos.
Que a alegria dos que nos perfumam a alma, seja a transcendente glória isoladamente sentida sem a necessidade de ser descoberta.

Porque se nestes tempos existem dias, na vida existe toda uma eternidade que pode, e deve ser vivida, como se em cada momento fosse natal.
E se o devemos fazer sempre, nestes dias não nos esqueçamos de dizer áqueles que o merecem, quanto os amamos e deles necessitamos para viver.

Porque não existe melhor prenda de natal que um verdadeiro abraço caloroso, um sussurrar daquelas palavras com corpo e alma que não tivemos coragem de noutros momentos proferir.

Um abraço de corpo e alma
natal de 2006




Em tempos já saudosos de uma convivência sadia
As palavras surgiam de forma partilhada e pura
Momentos adoçados por uma contagiante alegria
Sentimentos nasciam forjados pelo aço da ternura

As palavras eram vida e despertavam emoções
Maravilhosos pareciam todos os breves silêncios
O Som era o bater alegre de dois jovens corações
Vibrando ao ritmo de embrionários sentimentos

Como tentei ser verdadeiro e o meu ser entregava
Tentei com humildade compreender outras realidades
Mas num mar de inocência meu frágil barco navegava
Ao sabor de ventos oriundos de outras verdades

Essa vida feita imagem de mulher que desejei poder ter
Vivia e agia ao sabor de outras emoções e necessidades
Eu longe da sua linda presença não via nem queria ver
O abismo que existia entre a minha e as suas vontades

Desejei nesses tempos em que só vivi um sonho profundo
Sentir-me seu e do seu natural prazer fazer minha alegria
Desejei ter asas e com ela voar em direcção a um mundo
Idealizado pela minha sã loucura e inesgotável fantasia

Mas rapidamente a vida uma vez mais se encarregou
De provar que afinal neste mundo é quase sempre infeliz
Quem a alguém todo o seu ser sem reservas entregou
Sem perceber a diferença entre o que se faz e se diz

Como é triste verificar nas memórias desses tempos
Que aquela a quem dei minha alma e todas as ilusões
Em quem depositei infindáveis e puros sentimentos
Abraçava com todo o seu ser outras mentes e paixões

Continuarei alquimista não sonhar é deixar de viver
Morre um sonho outros renascem e lindos florescem
Acredito no amor e em dar sem nada esperar receber
Acredito na vida e em momentos que não se esquecem

Quando um dia as dificuldades me obrigarem a sentir
Saberei serenamente as adversidades enfrentar
Porque não existe qualquer vergonha em um dia cair
A vergonha existe quando não nos sabemos levantar




Estou nos meus sonhos a voar nos teus sentimentos
Tenho na memória cada mensagem sentida enviada
Todos os pequenos mas mágicos e alegres momentos
De uma efémera alegria e partilha nunca imaginada

Cada sorriso silencioso cada suspiro de pura alegria
O corpo que treme invadido por uma serena calma
Desejo que a distância nunca aniquile esta magia
De te sentir ausente e tão perto da minha alma

E se um dia lado a lado na vida pudermos contemplar
E no calor inocente de um abraço sentir tua presença
Quem sabe o momento não será para sempre recordar
Quando no silêncio do meu ser sinta a tua ausência

E quando esta loucura for um sublime acto de amor
De pontes atravessadas à descoberta de um caminho
Conhecerás finalmente o mais belo e nobre sabor
Das formas em que desejo dar-te todo o meu carinho




Solidão, palavra tão isoladamente proferida, sentimento tão profundamente experimentado, por vezes conveniente “álibi” para a incompreensão da nossa realidade, do nosso caminho e da fragilidade no domínio da nossa existência.
Ninguém nega que em momentos essa palavra não seja consistente com o sentir da nossa alma, nem questiona a sua intermitente existência, mas poucos conseguem entender a sua essência, e ver nela um universo de ensinamentos sobre quem de facto somos.
É que, quase sempre, não entendemos que a nossa solidão, ou pelo menos o que julgamos como tal, tem o seu embrião em nós mesmos, nos mares profundos do nosso ser.
Cresce protegida pelo facto de em determinados momentos, mais ou menos prolongados da nossa vida, em vez de construirmos “pontes” mais não fazemos que construir “paredes”, onde recriamos com uma excelência que até desconhecemos que existe, o micro clima ideal para a sua sobrevivência.
E é aqui que quase sempre tudo começa, principio e por vezes fim de nos mesmos, causa e efeito, dia e noite de uma existência que poderá nunca mais vir a ser a mesma.

Porque nessas “paredes” douradas onde nos refugiamos vivemos uma existência…
…… Perdidos na comodidade da ignorância.

Rodeamo-nos do que nos surge, não pensamos, estamos cansados demais para esse processo que acreditamos não nos dar a chave da saída.
Agimos sem intenção de construir, e destruímos sem nos apercebemos do efeito dessa destruição (na verdade até acreditamos nada ter para destruir).
Existimos sem preocupação de viver, mas pensamos que vivemos existindo, acreditamos que descobrimos a nossa essência na facilidade do fluir do tempo, sentimo-nos superiores a todos os que não podem realizar tal proeza de viver a despreocupada magia do efémero.
E nunca compreenderemos que a verdadeira nobreza esta em trilhar um caminho que nos leve sempre a sermos superiores ao que éramos antes.
Valorizamos o conjuntural esquecemos o eterno, rendemos homenagem ao acordo fácil e nunca à palavra discordante mas pura, preocupada e amiga, e vivemos com aqueles que pensamos nos privam da solidão, mas que nunca nos farão “companhia”.

Vivemos um mundo de não verdade, qual “Matrix” revisitado, e cometemos o erro de não compreender que essa verdade é a que desejamos ver, mas não a que de facto existe.
Desculpamo-nos com o que a vida nos vai dando, nunca assumimos a nossa responsabilidade, tudo é culpa de terceiros - da vida, das pessoas, dos amigos, dos conhecidos, da sociedade, da conjuntura - mas nunca! Mesmo nunca assumiremos que “não são as ervas daninhas que matam as boas sementes, mas sim os erros de um desleixado agricultor”.
E como o lento caminhar das águas de um rio até ao mar, perdemo-nos nas curvas, evaporamo-nos no percurso, chocamos contra as rochas e caímos na terra.
Caímos de precipícios, por vezes somos desviados para alimento de outras terras férteis, outras vezes prendem-nos em muralhas construídas para não nos deixarem seguir.
Em todo este percurso experimentamos tudo e por vezes perdemos completamente a esperança, e dessa forma a possibilidade de chegar ao tão desejado mar da liberdade.

Mas se um dia estivermos num sítio onde as águas de um rio desaguam num qualquer mar, verificaremos que existem gotas de água que todas juntas formam um belo rio, e que conseguem chegar ao seu destino apesar de todos os obstáculos colocados no seu caminho.
E assim fizeram porque nunca perderam a esperança, qualidade que adquiriram com a verdade, constância e coragem, com repetidos esforços e uma longa paciência.
É que para manterem a esperança, essas aguas sabem que têm conviver com o desespero e ir para além dele, perderão muitos amigos nesse percurso, mas também têm presente que nas nuvens negras que por vezes avistam, existirão chuvas de agua pura que trarão outros para ajudar nessa batalha.
E no seu fluir continuo pelos caudais aos quais estão confinadas, têm a certeza que no final de uma noite vencida, existirá uma aurora, e quem sabe a deslumbrante vista de uma mar puro e eterno para viver.
Estas águas dão-nos uma lição de vida! Sabem que não podem desistir, esse é o seu destino.
Sabem que não podem cair nessa doença de carácter que tem por sintomas a falta de firmeza para tudo, a leviandade no agir e no dizer.
Essa leviandade com a vida, que torna os nossos planos de cada dia tão vazios, que se não reagimos a tempo fará de nós bonecos mortos e inúteis, qual marioneta que só ganha vida impelida pelos movimentos que alguém lhe quiser dar.
E se assim pensarmos, talvez compreendamos que é diferente tentar ser alguém de intrínseco valor, do que alguém com efémero sucesso.
Que primeiro na vida temos que decidir o que queremos para obter isso mesmo, que à beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente: dar um passo atrás, que tudo o que fizermos hoje tem consequências e pode condicionar o nosso futuro.

Nunca existirá esquecimento para as pegadas que escrevemos na alma, e sempre que nos enganamos a nós mesmos cometemos a maior fraude possível na vida, e a partir daqui, todo o pecado é fácil.
E só saberemos quanto estamos perdidos, no momento em que verificamos que já não conseguimos suster-nos com os dois pés na profundidade do rio onde navegamos.

Recompensem com uma fonte inesgotável quem vos presenteou com uma gota de água.

Se fizerem um favor, não o recordem; se receberem um favor, nunca o esqueçam”.

Façam um favor a vocês mesmos convertam-se nessa gota de água que conseguiu desaguar num qualquer mar, e que hoje é tão cristalina, pura e forte, que sempre que aparece, nos perdemos na admiração da sua beleza.

11-11-2010




Nunca sabemos quando é a altura indicada para o fazer, mas deve existir sempre um momento em que devemos parar para fazer um balanço da nossa vida.
Que caminhos já percorremos?
Que objectivos já alcançamos?
Que pessoas se cruzaram na nossa vida e ainda a partilham seriamente?
Que dificuldades sentimos e fomos capazes de ultrapassar?
Porquê elas se nos colocaram?
As paixões e amores que vivemos?
Como nasceram como cresceram, como se mantiveram e morreram?
Que sonhos não fomos capazes de realizar?
Que mundo é o nosso?
Quem temos á nossa volta em que depositamos confiança para trilhar outros caminhos seja qual a for a relação que nos une?
Somos felizes?
Gostamos de nos ver como somos actualmente?
Estamos conformados ou continuamos a lutar?
Temos força para alterar o que achamos que esta mal?
É possível fazer melhor e modificar a nossa vida?

Este exercício é fundamental para entender o nosso presente e mentalmente verificar se existe um grande abismo entre o que somos, o que temos e onde estamos, relativamente aquilo que gostaríamos de ser, que desejaríamos ter e como queríamos de facto ver-nos.

É este o desafio que vos proponho, quem sois?
o que desejais de facto ?
Com quem de facto contais?
Que sentimentos fazem mover os vossos passos e trilhar caminhos nem sempre fáceis?
No fundo da vossa alma por quem chora o vosso coração?
Qual o nome ou nomes que quando fechais os olhos surgem no vosso subconsciente?
Que vida desejais?
Que necessitais para alcançar a felicidade?
Que é necessário para que quando olhem para o espelho tenham um infinito orgulho no que vêem?
Como se imaginam no futuro que desejam?

Todas estas perguntas deverão ter uma resposta na vossa mente, essa resposta gerará necessidades, estas necessidades resultarão em sonhos, estes sonhos na vossa luta quotidiana, este luta no vosso carácter, este caracter no vosso futuro.

Não podeis levar este momento de reflexão com leviandade, é a vossa vida que esta em jogo.
Não temos o direito de desperdiçar a nossa vida com incertezas, superficialidade, amores e paixões efémeras, egoísmo e hipocrisias, ódios sem sentido.

A vida não é um tudo de ensaio onde fazemos provas esperando encontrar a poção mágica para os nossos problemas.
Sente-se, imagina-se, inventa-se, sonhasse, alcançasse.

É sério este desafio.
Não desperdicem a oportunidade de que a vida seja consistente com os vossos lindos sonhos.









Faz hoje em silêncio o balanço de mais um efémero tempo
No horizonte murmúrios de uma vida nem sempre partilhada
Confundem-se com momentos que geram o nobre sentimento
De que esta vida é curta mas uma bela e fantástica caminhada

Retrato singelo de ser humano pintado em aguarela intemporal
Com cores de sonhos resistentes à guilhotina do esquecimento
Pinceladas com simplicidade e espontaneidade sempre natural
Numa moldura dourada em que a beleza é o único elemento

Aquela luz que irradia e que pela vida fora a irá acompanhar
Brilha à sua volta iluminando os caminhos que irá percorrer
E através dela conseguirá com toda a naturalidade encontrar
O que nesta jornada finita ainda continua a desejar poder ter

Lá no íntimo do seu ser encontramos uma natureza já perdida
Onde tudo coexiste de forma pura que na nossa alma nos toca
Neste dia uma saudação sentida de quem como ela ama a vida
E todas as emoções e sentimentos que esta sempre provoca

Nos tempos em sinta que a noite teimosamente não desfalece
E em que nela se instalem angustias e desmedidos lamentos
Sentirá a presença da amizade preocupada que não adormece
Pelas insónias nascidas no sentir amigos em difíceis momentos

Hoje pedimos simplesmente que escreva no seu diário secreto
A quem cada momento mágico vivido isoladamente confidencia
Que em cada dia que o seu ser se sinta sozinho e incompleto
Seremos nós a provar-lhe quão lindo é o raiar de cada dia


Sonhando...
Sonhando pedir-te aceitares um sonho, ou um manuscrito.
Podias continuar aqui, podias mesmo ser minha recordação,
Estou recordando o que nunca existiu,
As letras que não te escrevi, jazem de arrependimento...
Abortadas na paixão que não te confessaram.
Aqui,
Na ilusão duma imagem desfeita e sem passado,
Uma espiral sem fim no fumo do meu cigarro...
Conclusão de nadas ressurgidos e vividos,,,
Síntese de um sonho inacabado...
Interrompido no seu começo,
E eu sonho sonhando contigo...
Os teus lábios,
Feitos de um tom cativante,
De uma sensualidade desejada...
Brincam com o desejo,
Da noite que não tiveram,
Ou somente...
Das noites que inventaram!
As tuas palavras...ou não!...
Não!
Não eram as tuas palavras, nem as minhas,
Era apenas a abundância de dizê-las...
Olho-me e pergunto,
De onde te conheço?
Angustia tornada alma, e em pecado por redimir...
Olho-te,
Numa manhã fria...
Fria a manhã...
Fria a cor...
Fria a certeza do inabalável...
Fria a minha alma a cristalizar-se, no frio,
No meu olhar, fria é a frieza dum futuro...
Porque estivemos nós ali?...
Ali,
Naquele bar ao dobrar a esquina,
Impondo caminhos aos nossos destinos...
Mudando trajectos na viagem da vida!
Beleza inimaginável…….
Sim,
E se estivéssemos lá fora?
Na rua...do lado de fora da cela da vida...
Desenvolvem-se nos restos que sobraram
Imagens gravadas na alma
Cenários irreais ou realidades feridas de morte……
Olho-me
...E é nas minhas letras de um diário que ainda não tenho,
Que talvez preencha as minhas recordações antecipadas,
Ou pensamentos...
Ou sentimentos...
Ou, quem sabe...
Previsões nascidas e embaladas!
Sobre o meu incerto futuro




Naquela manhã...
Estúpido mas inevitável encontro...
Fecho os olhos!
Sinto-me intensamente escavado e rebuscado no meu interior.
O desespero das nossas mãos... a mágoa em aflição dos nossos lábios, procurando-se na angústia da cruel certeza que tu própria ditaras...
Tal como um passageiro clandestino julga ter o direito de parar a viagem...
Lembras-te?
Foi no beijo instintivo e animal que demos, exactamente aí, que procurámos tudo e quisemos tudo.
Encontrámo-nos já nem sei onde, num simples cruzar de vidas...
Ninguém sabia de onde vinha nem para onde ia, apenas buscava algo, num chamamento desconhecido.
Não me recordo do momento despido do teu beijo, nem do aroma dilatado do teu corpo.
Vejo apenas e depois, a união casual dos nossos corpos a fundirem-se.
Poesia...
Narração sentimental e quente do abraço dos nossos seres.
Apelo do inconsciente...
Vindo, de um sonho húmido e fugaz...
Limite de um momento!
No espaço inesperado dum gemido, mais um beijo aconteceu, simplesmente...
Ao sabor dos delírios sensuais, num nascer irreflectido do prazer.
Lembras-te?...
Depois saíste!
Deixaste os teus beijos, prostituidos mas desejados...
A recordação de um quarto profanado envolto em memórias sensuais.
Saíste!...
Lembro-me ainda de te ver sorrir para aquela recordação da minha imagem...
Foi um pecado, sabes?
Tudo isso foi um pecado...
Um pecado virgem, imaturo, precocemente alimentado e construído...
Mas sobretudo, um pecado querido aquele que vivemos e sonhámos, sonhando vivê-lo.
Um gesto cego de viver a vida e a felicidade.
O futuro...
Esse, perdemo-lo porque nunca o desejámos nosso
...
Nós
(hoje sei porquê, distintamente)
Nem sequer dissemos adeus!
Há paixões que desaguam na vida
E às quais porque únicas
Matamos antes de nascer….
Para que fique a eternidade, a eternidade do momento...
E tudo o resto esquecemos.




Aqueles que navegam num mundo de claras verdades
Desconhecem que certezas são questão do momento
Aliam ao desconhecimento infundamentadas vaidades
E permanecerão na história no pedestal do esquecimento

Estes virtuais iluminados que vivem na convicção
De que suas palavras são inequívocas sentenças
Um dia descobrirão que entre presunção e imaginação
Permanece a verdade que destruirá as suas crenças

Não aniquilarão nunca a certeza que existe em alguém
Que por experiência de vida tem hoje certo e seguro
Que a duvida é a unica fonte donde o conhecimento vem
E que a única verdade certa vem com o incerto futuro

E todos os que pensarem que são donos da verdade
Poderão de uma forma simples começar a entender
Que a cegueira que não lhes permite ver a realidade
Parte da arrogância de quem de facto não quer ver

Que nesta viajem fantástica a que chamamos de vida
Certo é que o conhecimento provém da circunstância
De que por cada grama de uma sabedoria apreendida
Ganharemos muitos quilos da mais límpida ignorância



Numa folha colorida
De uma vida arrancada
Vou cantar um hino à vida
Vou compor uma balada

Sons de cantor sem voz
Que da vida faz canção
Num ritmo sempre veloz
Sem qualquer diapasão

Neste trotear de sons
Uma música já ecoa
Não interessam os acordes
Se a palavra for boa

A vida é pássaro ferido
Num imenso vendaval
É um barco perdido
Num enorme temporal

É flor que desespera
Pelo seu raio de luz
É lavrador que espera
Pelo que a terra produz

É sentir-se exilado
Numa terra num país
E sentir-se abandonado
Por quem mais nos diz

São conquistas guardadas
Por temor ou por opção
Por armas disparadas
Com a nossa própria mão

Mesmo que sintamos frio
É preciso não esquecer
Que podemos ser um rio
Que desagua onde quer

É um mar de almas livres
Continuamente a crescer
Que das memórias faz livros
Para que possamos ler

É um palco de esperança
Para quem com vontade
Quiser ser como a criança
Que só sente liberdade

É um belo e imenso mar
Fluindo sem barreiras
Onde temos que nadar
De variadas maneiras

Por vezes é perseguida
Pela força do mais forte
Mas a força desta vida
É maior que a sua morte

Mesmo que tenha passado
Sem que tenhamos conseguido
O que teríamos desejado
Nela ter construído

E por isso ter que pagar
Com lágrimas derramadas
O preço de carregar
Vidas não desejadas

Pensem muito claramente
E com os cinco sentidos
Que no meio de tanta gente
Um dia estivemos vivos

E enquanto respiramos
Saiámos desse coma profundo
De não ser quem desejamos
E lutemos por esse mundo

E se em qualquer canção
Existe sempre um refrão
Esta é a excepção
Que à regra dá razão

24/08/2009



Momentos, tempos de introspecção...
Pela noite vagueio na escuridão da insolência folgando o corpo fatigado de insanidades. Ostento o pudor da minha vislumbrância e o fulgor dum corpo remexido a madrugada. Meus olhos brilham cores sangrentas como bandeiras duma guerra perdida. De tão longe chegam estes sons entorpecidos, vozes plangentes que clamam a retumbância de tambores vazios.
Este meu jeito às avessas de fazer as coisas... Essa tortura, a demora por entender-me – uma brasa dormente, um desejo escondido, gota de sangue guardada num qualquer canto de um corpo que não me pertence.
Confusão! Descuido bem cuidado, perda... estranheza às vezes absurda.
Mas é assim que eu, um bicho arisco, assustado, grito minha vida na timidez das palavras, pisar no lodo, chafurdar na lama, cara no vento flauteando flores, inocência... não saber de amores... não se queimar na perigosa chama...
Pular, correr, viver com desatino, livre, sem dor, ansiedades...
Não ter paixões... jamais sentir saudade!
Apreciar a vida simples de menino: Pião na mão e nunca pensar..., viver na brincadeira, nunca guardar rancores ou lembrança.
Vivo esta minha vontade de ser criança!
Pela manhã quanta metafísica existe no viver inconsequente, no voar tão sem propósito desses pequeninos pássaros matutinos tão ingénuos e tão tolinhos! Não, não me atormentem mais com inúteis e complicadas questões existenciais, a vida é em si mesma a única questão incompreensível que tanto insisti em interpretar num rosto que jamais vi, como um retrato do Profeta que jamais foi pintado.
Uma alma sem corpo, sangue sem vida, desejos íntimos e sonhos secretos trancados na antessala da luz no limiar duma consciência que jamais encontro.
Amanheci abrindo a porta do mistério no qual guardo a minha vida enquanto durmo, procurando nele o meu sorriso matutino, meu olhar sereno e deslumbrante, minha intenção mais genuína e solidária, e também, minha alegria renascida.
Mas por mais que busque nas gavetas e nos restos da noite que finda, nada achei pendurado nos cabides a não ser a lembrança de outros tempos e - atónito ante a ausência de mim mesmo, sentindo-me num beco sem saída - apertei o gatilho da memória, e correndo até o espelho da esperança, meti nele minha sombra amarrotada e lá estou, esperando-me sentado até a hora de voltar, nem sei de onde.
A nuvem veio e o sol parou.
No intervalo da sombra quantos pensamentos houveram?
Quanto esqueci, quanto sonhei?
Na volta da luz, fuga da nuvem não foi mais eu que o sol iluminou.
O que vemos das coisas são as coisas. Não há sentidos ocultos, nem segundas intenções na natureza.
Há somente uma certeza: tudo está sendo o que realmente é!
Acordo de noite subitamente. No cais da escuridão sem limites, não há portos de luz nem palavras. É como se a vida fizesse um intervalo, um corte no seu ciclo de horas, na sofreguidão do dia.
Acordo de noite subitamente como se acorda na morte. Temo o destino nada é certo as tragédias sobrevêm em marés e a razão não explica o mundo.
Um plano de mistérios foi arquitectado por alguém que não sonha como nós e não tem qualquer compromisso com a poesia. Sinto possível o ser um sonho de outrem numa noite mal dormida: quando acordar desaparecerei como uma nuvem e o amanhecer do seu dia será a minha morte. Num espaço falso entre o que fui e o que sou, perduram as frases que eu não disse, aqueles gestos que eu não quis fazer, e toda a história da minha vida que o destino não pôde escrever.
Mas se te dei algum contentamento e, se algum dia em algum momento, me vistes como meu coração me vê e eu não mais sinto, guarda de mim como eu guardarei de ti pela eternidade, pequenos fragmentos de saudade deste sangue que um dia teve corpo, deste ser que voou nas asas dos teus sonhos, desta criança que perdida na sua caixa de brinquedos perdeu o seu verdadeiro sangue, sangue dos que me amavam e que qual tirano ousei derramar.
E todas as manhãs do resto dos nossos tempos, que as nossas almas partam eternamente em busca de novas esperanças, sejam elas qual forem, e quem sabe um dia descobrirei que o errado não foi pensar que não te amava, mas sim que poderia algum dia ousar pensar viver sem ti.
E nessa manhã serena talvez nos encontraremos outra vez como seres que nasceram para partilhar a aurora de uma juventude forjada na agonia do desejo de nunca estarmos ausentes.
Isso se nesse dia o nosso verdadeiro sangue não pertencer a outros corpos



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