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By Placido De Oliveira on sexta-feira, janeiro 16, 2015
By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Hoje acordei, e como quase sempre é normal, com vontade de dormir. Cumpri todos os rituais que sempre acompanham cada manhã, cada nascer do sol, cada despertar de voz dormente. Espreguicei-me tantas vezes quantas o meu corpo pediu, enrosquei-me e bocejei vezes sem conta. Agarro o relógio com mãos ameaçadoras e olhos que suplicam clemência. Desejo mais uns minutos! Cada segundo é importante! E contra a tirania de um relógio que não atende as minhas preces e recusa clemência concedo-me esse privilégio.
Claro que pensei! Como penso todos os dias, na irresponsabilidade de utilizar um tempo que não é meu, que vendi mendigando uma liberdade que hipotequei, na esperança de um dia poder voltar à casa de penhores para a ter de volta. Claro que pensei! Como penso todos os dias, na beleza que me espera lá fora, que "um minuto de olhos fechados são sessenta segundos de luz perdida". Pensei nisso tudo! Mas não abri janelas, o sol continuou a ser apenas um fio entrando pelas frestas que não consegui fechar, e continuo escondido nesses lençóis que quando fogem de mim, procuro como a sofreguidão de um condenado à morte vivendo os seus últimos momentos.
Levantei-me quando já não podia mais aturar a minha consciência, que não se cala, que grita uns sons inaudíveis que conseguem penetrar bem fundo, no corpo de um animal em estado de hibernação. Levantei-me com essa lentidão característica de quem deseja deitar-se outra vez, mas já não existe retorno! As minhas pernas conduzem uma alma sonâmbula para o primeiro contacto com a água fria de uma manha como qualquer outra.
O meu corpo e a minha alma são o único vestuário que me identifica, mas coloco em mim roupas tipificadas que nos pintam de inteligentes e credíveis aos olhos do mundo. Essas roupas nas quais nem me revejo, e que me fazem sentir uma alma negociada a desfilar na vida, com traços desenhados pelos escultores do barro mais impuro da humanidade.
Saio para a rua e sou mais um no meio de uma cidade em movimento, elemento de um espaço onde ecoam sons de histórias de mundos paralelos, dimensões diferentes numa interacção continua. Vejo caras que nunca chegarão a ter nomes, mas é assim! Somos reféns de uma indiferença sem sentido e somos mestres na arte do silêncio. E eu, simplesmente mais um! Não busco outros olhos, não estendo as minhas mãos e se alguém que me sinta passa por mim, não vejo, não estou lá, estou de passagem! Continuo o percurso escrito no livro que me serve de guião ao papel que interpreto todos os dias.
A minha anatomia segue o seu automatizado percurso, seguindo – isso sim – uma lógica diferente da minha alma. Essa ainda caminha na neblina, descalça, sentindo o chão e tropeçando nos degraus do esquecimento. Desfruta do seu anonimato, e perde-se na vastidão do silêncio que o seu hospedeiro experimenta. Não se excita na monotonia, no tédio mundano, não tem luz e ainda aproveita a sua sonolência na escuridão e vagueia perdida no supremo prazer do nada.
E chego ao "teatro", começa o PRIMEIRO ACTO.
Papel em cima de uma secretária. Papel sem cor, sem alma, sem vida, sem história sem marcas de lágrimas ou alegrias, qualquer coisa que interesse experimentar e recordar mais tarde. Ali estão! Acumulados pelos dias em que para eles olhei, lhes disse olá, mas nada fiz. Chegam outros para na maior parte das vezes seguirem o mesmo destino. Ficarem inertes até esse momento em que mereçam esse ritual sagrado, que tanto me agrada, de lhes dar o eterno descanso. Quatro horas em frente a uma máquina que condiciona uma parte importante da nossa vida. Gasto os dedos, os olhos, o corpo, a paciência a imaginação e ainda só interpretei o primeiro acto. Almoçar, esse período de liberdade condicional que usamos para umas palavras trocadas sobre este e aquele, sobre o tempo que já não é tão previsível, sobre as estações do ano que um dia teremos que redefinir. Sobre as tradições que são memórias de quem já viveu o suficiente para delas se lembrar. Sobre a violência que assola este país de brandos costumes e a corrupção que nos deixam conhecer. Sobre aquele desgraçado que morreu, mas com seis tiros! Não fosse o infeliz ter sido alvo do esvaziar de um canhão de uma arma raivosa não seria notícia. O tempo que desperdiçamos num filme que nunca terá o nosso nome e nunca fará parte da nossa história. E entre mais uma discussão sobre futebol, uma anedota, que para gáudio de um tradicionalista ainda é sobre alentejanos, e qualquer ironia sobre mulheres, surge o som dessa campainha que nos avisa que vai iniciar o SEGUNDO ACTO
É tempo de cumprir mais quatro horas de pena na "solitária". Repete-se o enredo, talvez tenhamos a sorte de ver novos figurantes mas a história, terá os mesmos actores, o mesmo publico, o mesmo monótono ritmo, algo entre a sonolência de Fassbinder e o tédio total de alguns novos filmes portugueses, mas com uma diferença! Com justiça para os anteriores, o final será, mais uma vez previsível.
E eis chegado o momento do fechar da cortina! Sem glória, não aplaudo, aliás ninguém aplaude! Comemoro o seu final sem ruídos nem euforias que possam ser visíveis, mas com a alegria infindável de quem é outra vez dono do seu tempo. Terminou a peça por hoje! Amanhã o teatro abrirá outra vez e tudo se repetirá, mas por agora volto a ser amo e pajem de mim mesmo, é tempo de colocar a minha natureza onde ela chora para estar, do sublime encontro entre a alma e o corpo, tempo de liberdade,
TEMPO DE UM NOVO DESPERTAR.
Sentia-me um náufrago, um poeta sem poesia, um intruso numa vida alheia que invadi porque sou um vendido. Perdido entre a necessidade de viver um tempo que não se repete e a necessidade de voltar a sentir a chama dentro de mim. Prisioneiro das saudades do “ontem” vivido em liberdade e do “hoje” que sonhei no “ontem” livre.
Prisioneiro desse sentimento frustrante de quem deixou escapar por entre os dedos o dia de hoje, porque nunca o conseguiu ter entre mãos.
Parece que acordo de um sono que nunca experimentei, no qual vivi uma vida que nunca existiu, soletrei palavras que nunca chegaram a ser escritas, sofri pensando que sorria, brinquei de estátua com movimentos, cantei canções sem melodia, escrevi o que não foi lido, plantei o que nunca sairá da terra.
Desta vez “desperto” sem dificuldade, porque por mais cinzento que o dia posa ter sido até este momento, ele ainda poderá ter a cor que eu lhe desejar dar.
Levanto-me da "cama" onde "dormi" sem pedir licença ao corpo, sacudo a areia dos farrapos que me cobriam e me asfixiavam e guardo-os para a próxima sessão. O sol parece mais reluzente, volto a sentir o perfume das flores vindo do jardim e consigo escutar o cantar dos pássaros.
Um novo dia acaba de nascer!
Encho meu coração de esperança, sou invadido por uma paz que pinta de todas as cores as paisagens que agora sou capaz de VER e deixo-me voar neste novo dia que será depositário de todos os sonhos que lá couberem.
A minha alma finalmente soltasse do espartilho de valores que não sente, vomita a indiferença, está viva! E em todas as faces existe agora um rosto, um sorriso um nome.
Acabou de passar um tempo que não se repete que passou enquanto desejava outro. Mas não importa! A alma não envelhece, adormece por vezes, mas desperta num qualquer momento do dia. A minha acabou de despertar, para a vida para a morte, para o azar ou para a sorte, para tudo e para nada, mas exclusivamente para MIM.
18-09-2008
Posted in abraço, acreditar, decisões, dissertações, educação, escolhas, escravidão, escravo, incógnitas, liberdade, loucura, monotonia, pressa, prosa | No comments
By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Sabes, pensei em escrever-te com o coração, mas entendi que as palavras que brotassem dessa forma pura do meu interior, não serão importantes para ti, seriam ridículas e fora do teu contexto actual, seja ele qual for.
Em vez disso vou escrever-te com uma racionalidade que tenho para mim, e de ti retinha o mesmo, contrária á vida. Vou escrever-te o que não sei se algum dia lerás, uma auto apelidada conversa com minha sombra, palavras nascidas de uma razão da qual não conheço a nascente.
Terei eu perdido o amigo de outrora com o qual palavras desprovidas de razão, eram o ópio que se queimava horas a fio em lugares sem rosto?
Terei eu perdido o guerreiro com o qual travei batalhas para a compreensão do universo onde nos encontramos?
Terá sido fumado por ultima vez o cachimbo dessa paz interior, que permitia o renascer todos os dias da inspiração para uma dialéctica partilhada na busca da pureza e da verdade?
Não!
Recuso-me a admitir que tudo esteja perdido, e por isso aqui estou a travar esta ultima batalha, mesmo que num monólogo condenado a ficar no esquecimento.
Porque terás tu meu amigo que fazer parte de um “jogo” de escolhas?
Por que terás tu que ser uma estrela num céu de alguém, quanto a tua luz brilha isoladamente neste firmamento?
Será que ainda não compreendeste que nesse jogo onde te encontras, se está a perder algo inesquecível, algo maravilhoso, algo único que ainda não encontrei em qualquer outro ser humano, tu meu amigo, sim tu.
Falas do medo de amar, mas tu bem sabes que a vida é composta de tudo isso: perder, ganhar, dor, felicidade, alegria, lágrimas, beleza, paz e guerra, sempre tiveste a clarividência para me ensinar que a vida contém tudo isso, e da mesma forma me ensinaste a com isso conviver e aprender a seguir o meu caminho.
Agora vejo-te a ti a tentar iludir essa realidade que tantas vezes enfrentaste, dentro de um castelo virtual cujos muros são tão altos, que nem deixam ver a luz que tu irradias.
O amor sempre incluirá posse, mas como definir “possessão”?- meu mestre orienta-me no caminho desta definição-, sem a tua ajuda eu só posso dizer que se tu não te pertences como podes pertencer a alguém ou esse alguém a ti?
Se tu não és o dono de ti mesmo, como podes ser de alguém ? nunca estarás preparado para o amor dessa forma meu amigo.
Concluímos em tempos que a nossa ânsia por tudo no seu correcto lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo adequado, não era um prémio para uma mente ordenada, mas pelo contrario, um completo sistema de simulação por nós inventado ainda que inconscientemente, para esconder a fantástica desordem da nossa natureza.
Descobrimos que não éramos disciplinados por virtude, mas como reacção natural à nossa desordem interior, e que tentávamos quase sempre ser prudentes sempre que éramos pessimistas.
E no final, meu mestre, descobrimos que não existe pior escravidão que ser escravos de nós mesmos.
Quantas vezes me ensinaste que a maior descoberta desta vida é a do nosso verdadeiro "eu", e como criticávamos as maneiras que o mundo e as pessoas inventam para se defenderem da dor.
Inventam papeis, mascaras, palavras, faces, sempre com o mesmo objectivo, não sofrer.
Aprendem infelizmente muito cedo que o sofrimento começa quando se expõem diante dos outros como são, e que essa exposição os converte em almas vulneráveis.
Mas tu meu mestre, ensinaste-me uma grande lição, ensinaste-me que tudo isto não passa de uma grande mentira para satisfazer espíritos débeis, ensinaste-me que não existe forma de evitar a dor nesta vida.
Ensinaste-me que quando isso fazemos tornamo-nos reféns de nos próprios, e o nosso coração numa prisão, vivemos numa ilusão de segurança que definitivamente não existe, e perdemos a oportunidade de experimentar inesquecíveis emoções.
Que saudades tenho de ti meu amigo e dos teus sábios ensinamentos.
Amar e outras coisas na vida tem os seus riscos, incluindo o risco de sofrer, mas tu próprio me disseste um dia, que existem outros riscos na arte do amor, o risco de ser amado, respeitado, correspondido sem limites, desejado e tudo o mais que resultar da sublime realização de amar.
Vive a tua vida meu querido amigo e mestre, a tua!, a que sempre desejastes, e que comigo partilhas à muito tempo, ama quanto puderes, quanto sentires, e fica certo que nunca serás menos por isso, bem pelo contrario serás aquilo a que um dia designaste por: o mais bravo guerreiro do amor á face desta terra.
Volta a ser verdadeiro contigo próprio
Eu estarei sempre naqueles lugares sem rosto à espera de fumar uma vez mais contigo o ópio da verdade
Tua sincera amiga
A tua sombra
24/08/2009
By Placido De Oliveira on segunda-feira, agosto 24, 2009
Nunca sabemos quando é a altura indicada para o fazer, mas deve existir sempre um momento em que devemos parar para fazer um balanço da nossa vida.
Que caminhos já percorremos?
Que objectivos já alcançamos?
Que pessoas se cruzaram na nossa vida e ainda a partilham seriamente?
Que dificuldades sentimos e fomos capazes de ultrapassar?
Porquê elas se nos colocaram?
As paixões e amores que vivemos?
Como nasceram como cresceram, como se mantiveram e morreram?
Que sonhos não fomos capazes de realizar?
Que mundo é o nosso?
Quem temos á nossa volta em que depositamos confiança para trilhar outros caminhos seja qual a for a relação que nos une?
Somos felizes?
Gostamos de nos ver como somos actualmente?
Estamos conformados ou continuamos a lutar?
Temos força para alterar o que achamos que esta mal?
É possível fazer melhor e modificar a nossa vida?
Este exercício é fundamental para entender o nosso presente e mentalmente verificar se existe um grande abismo entre o que somos, o que temos e onde estamos, relativamente aquilo que gostaríamos de ser, que desejaríamos ter e como queríamos de facto ver-nos.
É este o desafio que vos proponho, quem sois?
o que desejais de facto ?
Com quem de facto contais?
Que sentimentos fazem mover os vossos passos e trilhar caminhos nem sempre fáceis?
No fundo da vossa alma por quem chora o vosso coração?
Qual o nome ou nomes que quando fechais os olhos surgem no vosso subconsciente?
Que vida desejais?
Que necessitais para alcançar a felicidade?
Que é necessário para que quando olhem para o espelho tenham um infinito orgulho no que vêem?
Como se imaginam no futuro que desejam?
Todas estas perguntas deverão ter uma resposta na vossa mente, essa resposta gerará necessidades, estas necessidades resultarão em sonhos, estes sonhos na vossa luta quotidiana, este luta no vosso carácter, este caracter no vosso futuro.
Não podeis levar este momento de reflexão com leviandade, é a vossa vida que esta em jogo.
Não temos o direito de desperdiçar a nossa vida com incertezas, superficialidade, amores e paixões efémeras, egoísmo e hipocrisias, ódios sem sentido.
A vida não é um tudo de ensaio onde fazemos provas esperando encontrar a poção mágica para os nossos problemas.
Sente-se, imagina-se, inventa-se, sonhasse, alcançasse.
É sério este desafio.
Não desperdicem a oportunidade de que a vida seja consistente com os vossos lindos sonhos.
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