Poesia e pensamentos livres



Porque me pedes o impossível.
Porque exiges o que não é nosso.
Exiges o depois, o momento seguinte.
O amanhã!
Pedes tão grande a alguém tão pequeno.
Pedes tanta coisa, a quem se sente tão pouco.
Não odeies os meus silêncios, nem sempre
eles calam.
Não rezes pelas minhas palavras, nem sempre elas falam.
Não!
Não quero ver-te triste.
Mas não te posso dar o que não é meu.

Mulher!

Não me fales de ti.
Que necessito saber de ti, se de mim sou bolso de mendigo.
Esqueçamos as perguntas e nenhuma resposta nos afastará.
Não me vendas o futuro és todo o meu tempo hoje.
Cada vez que queiras, cada vez que possas.
Antes do amor nada era nosso, agora também não.
Tem-me enquanto quiseres.
Tenho-te enquanto merecer.
Sente-me agora!
Agora que queremos.
Agora que podemos.
Agora que necessitamos.

Mulher!

Não estejas segura de nada.
Nada se possui eternamente.
Exige-me a conquista.
Em cada minuto.
Em cada hora.
Em cada dia.
Somos semente de cada segundo.
Não existem estrelas que nos guiem.
Abraça-me agora.
Toca-me agora.
Beija-me agora.
Ama-me agora.
É tudo o que temos
E temos tanto
Depois de mim,
Que nada necessites.
Depois de ti
Nada mais imagino.

17-03-2013

E tu não existes e eu sou

Misteriosa encruzilhada
Propriedade abandonada
Lágrima dolorida
Cicatriz sem ferida

Sorriso envergonhado
Esculpido na solidão
Animal enjaulado
Que espera adopção

Família sem sustento
Mágoa cansada
Desejado alimento
Em mesa abandonada

Metade de metade
Gesto de outro gesto
Mendigo da saudade
Divisão sem resto

Construção demorada
Invisível no acaso
Plenitude do nada
Flor sem vaso

Sonho adormecido
Metáfora isolada
Desabafo caído
Esquina abandonada

Segredo revelado
Próximo Capitulo
Piano sem Teclado
Livro sem título

E tu não existes e eu sou!

Um bem maior
Um bem menor
Meio de tudo
Meio de nada
Outro dia
Nenhum dia
Se me sinto!
Sinto-te!

E tu não existes e eu também não!
14-03-2013


Por tua culpa, por minha culpa, por sabe-se lá culpa de quem, acabo de sair do cinema mudo, da rocha calcada abandonada e sonolenta da apatia.
Desse buraco negro onde todas as direcções são boas porque nunca se sai do mesmo sítio.
Todos os meus pensamentos são agora traços firmes tatuados sem receios num papel deslumbrado com a minha convicção.
Ouso querer pintar o infinito e superiorizar-me à dimensão das palavras.
Mas neste momento tudo é possível!
Sinto uma invasão pacífica de coragem, silenciam-se os temores, caem os muros onde pendurei os papéis vazios que sucumbiram ao medo do fracasso.
Vejo além das paredes e consigo imaginar-me a subir até esse promontório onde toda a alma se converte naquilo que acredita poder vir a ser.
E é nesta força de acreditar que me invade que está a razão de ter sacudido o pó a este desgraçado papel que já se arrepende de ter saudades minhas.
A minha geografia expande-se na conquista de espaços para além dos exíguos metros quadrados que possam existir entre o medo e dúvida.
Ninguém pode alterar verdades que só a mim me pertencem, mas como é motivante um genuíno “Acredito Em Ti”.
As dúvidas perdem os alicerces onde sustentaram o edifício dos sonhos desfeitos e despertam sorrisos por todos esses mortos imaginários que sempre se riram da minha criação.
Fora de mim existe alguém que acredita, não no que a minha face visível transmite, mas no que sendo invisível aos olhos é realmente meu.
E por isso hoje sinto-me em paz, para calmamente (acalmia que me espanta…) compreender que ao tentar esconder o meu pânico do fracasso sobre o manto da apatia, nada mais fiz que assumir-me como escravo do medo e vender a minha liberdade a troco de nada.
Só vendo a minha verdade reflectida no espelho dos dias, poderei talhar os contornos da minha imagem impoluta e o reflexo desse esforço percorrer o mundo de mãos dadas com a minha alma serena.
Claro que isso não me acontece por cobardia, mas pela insuportável necessidade que tenho de procurar a perfeição.
E quase sempre na procura desta, nada construo que permaneça mais que o segundo que demora a minha crítica a destruir tudo.
Tantas vezes me coloco, ou tento me colocar, do lado dessa ignorância genuína que nada exige e que no limite encerra alguma eternidade.
Mas quase sempre sucumbo à realidade de turista nas ruas do conhecimento.
Não obedeço à minha razão nem a qualquer outra.
Desconheço a razão que sigo, se sigo alguma deve ser minha! A minha complexa mente obriga-me a avançar na vida com a lentidão da ponderação e prudência.
Demasiado pensamento para quem não quer dar passos para trás ficando sempre no mesmo sítio.
Mas hoje até acredito em contos de fadas, em amores eternos, no sentimento puro, no sorriso genuíno, nas pessoas que amo, em almas gémeas.
Acredito na dimensão estóica da saudade, no grito mudo da solidão que ama, no silêncio que liberta, na diferença que completa, no sonho que constrói, na pele que nos liberta.
Acredito que a eternidade é esse espaço que medeia entre sonho e sonho com a nossa real assinatura.
Acredito que eterno é o que fica do que passa entre a desigualdade dos dias e a distinta claridade das noites.
Acredito em tudo que não devo mas sinto-me mais eu que nunca e amo-me de verdade.
Fui em tempos o início de um sonho, que logrou construir o seu caminho desenhando estradas com sonhos próprios.
Fui o início!
A continuidade depende da minha capacidade de aceitar que sou responsável por tudo o que de mim fizer.
Não posso ser responsabilizado pelos sonhos alheios mas serei consequência dos meus.
Porque tenho eu constantemente medo do reflexo das minhas acções no futuro?
Porque tenho eu que exigir que tudo o que faça toque a melodia da perfeição e dessa forma tenha uma eternidade que não existe?
Pensar que a eternidade pode ser uma realidade é aniquilar a beleza do momento, dure este o que durar.
Tudo o que possa ser eterno torna-se em grande medida irrelevantemente existente.
Perdi muito tempo amordaçado e esfomeado e compreendo hoje que uma alma faminta nunca poderá ser livre.
Um dia talvez eu possa ser um poeta mas nesse dia perderei o medo do ridículo ou de qualquer outra manifestação de subjectividade alheia.
Quem sente medo não se ama a si mesmo, não ama nada que seja seu, nem nada que lhe seja alheio.
Não posso mudar aquilo que sou, mas posso e devo mudar tudo o que me leva a ser diferente disso.
Durante este tempo náufrago em águas de motivação, realizei sonhos antigos, desenterrei projectos em decomposição e deleitei-me com desejos proibidos que escondi nesse canto esquecido onde sempre tentamos fechar a desilusão e a derrota.
Tudo o que em mim pode neste momento transparecer se fosse visível, é a despreocupada noção do tempo, a vontade de criar e o brilho da gratidão estampada nos meus olhos.
Obrigado a todos os que em mim acreditam porque hoje, antes de adormecer, vos dedicarei a minha liberdade e os meus sonhos florescerão com todo o amor do mundo.

07-03-2012



Estás ausente!
Nada te pode dar esta minha vontade de dar-te algo.
Dou-te uma solidão que sabes ser tua e só assim a quero.
Dou-te este tempo porque tu és o meu tempo.
Todos os outros tempos não sabem nada de nós.
Dou-te estes momentos no mudo assombro da necessidade de ter o que sempre perco na tua ausência.
Se eu te contasse o que imagino e relembro nestes momentos que me ensinam quanto vale uma demora!
A confusão dos silêncios das palavras que de ti não escuto.
A secura dos meus lábios pela sede de não ter-te.
A escravidão das memórias que são tuas.
Procuro-te em todos os lados, todos os gostos, todos os movimentos de uma cidade imaginária de rostos anónimos.
Procuro-te!
Num papel em branco como um poeta sem caneta.
A tua espera sempre foi assim, contratos feitos com a ausência em que te faço presente.
A minha inteligência odeia-me!
Porque a solidão faz de mim um objecto.
Que me interessa se a mente me critica.
Desejo uma paz que só sentirei no teu regresso.
Até lá a minha solidão é escrava da tua lei.
Agora!
Não tem em mim parte que não fique a passear nos teus recantos.
Agora!
Dou-te tudo o que em mim ainda existe que não me vem de ti.
Dou-te o meu corpo efémero prometido ao desaparecimento e a minha alma eterna.
Agora!
Dou-te a certeza que este tempo e todos os outros são só nossos.
Agora!
Ninguém sabe mais nada, e nenhum outro tempo tem razão.

01-02-2012


Disperso momento
Não sei o que quero
Sei que me ausento
Num acto sincero

No nada que tenho
Quadro encantado
Esquecido desenho
Em papel já usado

Imagino que tenho
O que penso querer
A ânsia contenho
Querer é sofrer

Nunca o engenho
É pouco ou demais
Cansado me empenho
Não desisto jamais

Nunca me canso
De partir e chegar
No vazio me lanço
Para me encontrar

Nas estradas de mim
Caminho certeiro
Eu sei que assim
Chegarei primeiro

Ao ser escondido
Ao eu mais calado
A esse ser oprimido
Numa cela fechado

Recuo e avanço
Num mundo só meu
Canso e descanso
Dentro deste céu
Penso e esqueço
O que foi o que sou
Mas sei que mereço
Receber o que dou

Caminho sem futuro
Esqueço o passado
Escondido num muro
Choro sempre calado

Sou o que se afasta
Da sua real essência
Sou o grito de basta
De toda a inocência

Na ânsia de ser
Conhecido em mim
Continuo a viver
Esta vida assim

Rebelde cansado
De armas á porta
Empunho o machado
Da minha revolta

Quero agora gritar
Para que possam ouvir
Não quero pensar
Para poder existir

Podem-me encarcerar
Não me vão demover
Tenho asas para voar
E assim vou fazer

Voar para um mundo
Onde possa ser eu
Simples vagabundo
Na terra e no céu
11-11-2010

Já experimentei os sabores
Das ementas realistas
E o perfume de flores
Em mesas fatalistas

Já ingeri alimentos
De cardápios idealistas
E partilhei momentos
Com cores surrealistas

Já bebi águas impuras
Elixires predestinados
Alimentei às escuras
Uma fome de pecados

Já senti a escravidão
De almas em sangue esvaído
Cuja única aptidão
Era viver sem ter nascido

Já senti a hipocrisia
Do gesto penitente
De enxertar na anatomia
Pedaços de outra gente

Já escutei o despertar
De gritos em pura revolta
Assisti ao desabrochar
De gente que estava morta

Já vi campos se alagar
Nas lágrimas de quem sustenta
Vi o mar transbordar
De quem dele se alimenta

Já me queimei nesse sol
Que o verão proclama
Já me deitei sem lençol
Para não desfazer a cama

Já fui flor de primavera
Tempestade de inverno
Perdi o verão à espera
De Outono subalterno

Já fui corpo utilizado
Em mente inexistente
Animal idolatrado
Predador indiferente

Já chorei o que não quis
Água pura de Afrodite
Dilúvio que me fez feliz
Pela ausência de limite

Já senti a dor do corpo
Tive pressa com calma
Fiz da solidão o porto
Para descanso da alma

Já fui senhor de espaços
De esquinas esquecidas
Soldado que nos braços
Tatuou causas perdidas

Fui servo da indiferença
Amo de almas devotas
Vencido por uma avença
Vendi-me a mentes idiotas
Já fui grande noutras mentes
Anão que viu gigantes
Inferior entre diferentes
Igual entre importantes

Já comi com as minhas mãos
O sagrado pão de amigos
Sentei-me entre irmãos
E bebi com inimigos

Já vivi o preto e branco
De daltónico egoísmo
E cores de um falso pranto
De hipócrita altruísmo

Já senti na pele a lama
De estradas esquecidas
Queimei-me com a chama
De paixões adormecidas

Já imaginei sereias
Em peixes de palmo e meio
E comi mel de colmeias
Com o sabor do alheio

Já quis ser alguém
Que nunca em mim vi nascer
E não fui eu nem ninguém
Fui algo para esquecer

Já fiz odes sonhadoras
Prosas com rebeldia
Poesias inspiradoras
Com letras de alquimia

Já fui palhaço de prenda
Cartoon em branco caderno
Filme mudo sem legenda
História de livro eterno

Já caminhei sobre a areia
Com pensamento disperso
Fui estrela sem plateia
De mim verso e inverso

Já tive neste meu tempo
Tempo para perder
E já tive esse momento
Que tempo me faz querer

Já escutei do vento
Notícias de tempestade
Já vivi num momento
Anos de liberdade

Sou consequência
Sou construção
Sou evidência
De uma razão

Da vida quero presença
Sou de mim só um pedaço
Que ela mantenha a crença
De que com ela me faço

16/01/2015

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