Poesia e pensamentos livres


Derramem sobre mim a terra do mundo! Que me importa! Continuarei sempre renascendo na flor que brotará corajosa do meu descanso. Não permanecerei no silêncio da bruma, terei dias e noites de alma cativa, terei dias e noites de alma livre.
Poderei sentir a face fria, mas sei que o meu lugar é nos canteiros floridos absorvendo a luz do sol. Antes que a terra me pise, deposito a esperança nos cantos das sereias, e deixo que me conduzam pelos mares do imprevisto. Desfaço os encantos da poesia nas roupas gastas de acarretar o mundo as costas, e parto para momentos de fino cetim forrado com conchas azuis dos mares da descoberta. Como controlar a emoção que antecede a novidade, o imprevisível a surpresa? Como! Se ela é o ópio que desperta todos os desejos que me proíbo e todos os que ainda desconheço não querer proibir. Lanço-me nesse infinito que talvez só dure o segundo entre a ilusão da chegada e o abismo da partida. Mas sempre será assim! O medo do abismo não vem por estar quase sempre seguro o ”fim” no estilhaço da queda, mas pela atracção que temos ao voo livre. E aqui estou, flutuando no espaço com todos os receios e pânicos que a ausência dos pés na terra me causa. Sempre sonhei voar, em criança era pássaro veloz de um céu imaginário do qual nunca queria sair. Hoje aventuro-me nos céus porque nada tenho por certo em terra. Tudo o que vou sabendo é o resultado da ousadia de sair do refúgio da minha ignorância para o imprevisto do conhecimento. E aqui estou! Com o peso dos meus ossos nas planícies do inesperado. Sinto o vento na minha pele arfando em cada metro as dores que sempre esqueço no périplo dos inícios. Renego as leis do universo, as minhas leis! E chego a essa mesa de café num local sem história olhando ao redor como que buscando outras paisagens. Vendo ao fumo do meu cigarro a calma, empresto-lhe os pensamentos que rapidamente se desvanecem na brisa suave que entra por uma janela aberta. Não faz mal! Acendo outro com a mesma intensidade na sofreguidão da espera por ti. Explorador de terra virgem sentado num café entre o sono e o despertar. Monto o espaço com todos os requintes de um altar divino para o momento sagrado. Observo as paredes, observo os recantos, observo! Nada! Versos mortos nas paredes não contam histórias de noites com o romantismo do canto dos anjos. No silêncio que antecede a euforia do encontro, formulo a eterna pergunta! Fascina-me a descoberta pela atracção do diferente, ou pela busca do encontro com o igual que existe em mim. Sento-me! Nunca terei a vida suficiente para explicar o que não compreendo, afasto o pensamento e espero! Não serás mais o encanto de um sonho, contornos que embalam pensamentos vencidos pelo sono. Tanto te esperei! Nunca te esqueci porque nunca acontecestes. Escrevo, escrevo-te! Cartas tatuadas em pensamentos calados. Sonhos de “ontem”, devaneios românticos do “amanha”. Nunca as lerás! São palavras perdidas nos corredores da antecâmara da sala de ti. Por um sonho voltei a este café com outros dele sairei. Agora permaneço! Morram todas as palavras, afaste-se o infinito, dispam-se os anjos venerem-se os demónios e que se inicie a festa. Deixo o abraço do sonho, abro a porta para a possibilidade ou impossibilidade do esquecimento, e espero-te…

II – O Encontro

A magia do encontro poderá ser aniquilada pela desoladora solidão que espreita no virar da esquina do “depois”. Não importa! Não tememos um “não “ a confusão de um “talvez”, ou a simplicidade de um “sim”. No fundo, talvez tudo tenha o sabor do nada. E tu chegas! Num passo apressadamente curioso. Beleza madura, olhos sem brilho, apagados por alguma tristeza de momentos roubados ao teu passado. E eis-me diante de uma mulher cujo vestido esconde suaves contornos. Um decote generoso anuncia promissoras guerras de alcofa. Ah! Janela indiscreta que nunca se abre o suficiente e sempre se fecha quando começamos a sentir a sua brisa perfumada. Chegas! Sorriso meigo e olhar tímido e sentas-te. No silêncio inicial absorvo metade do teu todo, essa metade que cobres num vestido de comprovada sensualidade, mas que desnudo como um pintor desenhando silhuetas.
“Dois cafés para a mesa do fundo” …
Maldito empregado descuidado com cheiro de salgados. Tinha matar o tédio que o assola, gritando aos quatro ventos que estamos ali. No eco da sua voz aguda senti o corpo trespassado pela traição. Maldito! Não entendeu que é cúmplice de uma missão secreta, e se devia comportar como testemunha involuntária de um crime, protegendo-se no silêncio. Mas não! Acaba com o disfarce com o anonimato. E eis que todos os olhos se dirigem para os nossos, como que procurando os responsáveis pelo aniquilar do silêncio. Não olhamos! Como desejamos que não fosse connosco. Na verdade não queremos estar ali! Simplesmente algo nos levou à mesa de um café em mais uma noite de todos os despropósitos. As mãos com suaves movimentos acariciam os cantos de uma chávena de café convertido na arena romana do deleite de todos os anseios. No fundo da chávena, o abismo! O voo solitário escondido em suaves golos de desassossego.
Maldito empregado!
Não entende que somos reféns do sentido de todos os sentidos. Que o seu grito automático nos faz sentir fugitivos de um “não sei quê” que sempre nos levará a um “não sei donde”. Vestimos a alma com segredos, perfumamo-nos de coragem envergonhada e carregamos o barco de palavras náufragos de pátria à vista.
- Olá! Como estas?
- Fala-me de ti?
- Que te leva a estar aqui?
- A história da minha vida em cinco minutos? Queres?
Penso! Mais umas quantas páginas da colectânea sobre a superficialidade.
E tu falas! Para quê? Eu não escuto. Nunca perceberás a preocupação que me invade em não te ouvir, em te alhear do espaço onde me tocas sem te sentir. Não é o desinteresse teatralmente interessado que mais me incomoda, mas esse grito interior que a indiferença gera nas asas do silêncio. Avançamos com alma assassinada ou de assassino tudo depende da ocasião. Esquecemos que o domínio da linguagem dá razão à arte de escutar, e falamos! Falamos porque nada mais nos resta! Temos que matar um tempo que nunca será nosso. Ah! Se pudesses fechar os olhos para ver, e com eles abertos conseguisses estar simplesmente calada. Ah! Se pudesses, saberias, que tal como tu, simplesmente fujo de mim, das minhas inquietudes. Desnatamos o leite da indiferença tentando coar o isolamento de consciências congeladas. Nada digo de mim, que interessa se ninguém escuta, se tu não escutas, se eu não quero escutar. Tu sabes que é assim e fazes o mesmo, mas dissimulas. Dissimulamos! Impossível fazer passar um icebergue pela peneira frágil do despropósito. Não interessa! Nada interessa! Seguimos. Subimos os degraus da escada do cansaço da inconsequência, vestidos de fantasias no palco da dissimulação. Dizemos o que as palavras calam, partilhamos o descartável, escondemos o essencial. Cada palavra, cada olhar, cada paragem para escutar são movimentos na periferia da caverna onde guardamos o quadro abstracto de mentes abandonadas. Subimos! Chegaremos cansados e iniciaremos o striptease atingindo essa desnudes vestida do que não somos. Partimos ao meio o uno indivisível da memória fugaz, e sentamo-nos na mesa de um jogo de “Poker” que não terá vencedor ou vencido, apenas jogadores compulsivos. Cinzeiros repletos de desvios da memória jazem com o peso de cigarros consumidos em pensamentos ausentes. Sorrimos para uma imagem sem reflexo. Colagens! Pedaços rasgados de jornais sem substância pendurados numa parede exígua, que nunca guardará memórias das palavras verdadeiras. Confidências, Nunca! A única coisa que te beija, que te sente a pele, é o fumo desse cigarro onde descanso pensamentos sobre todas as vozes de mim ausentes. Tenho que te fazer sorrir, porque o sorriso abre o agora e rende o depois. Sorrirás! Seguindo os meus sorrisos expressos em dentes convenientemente lavados, mas nunca terás o sorriso genuíno do brilho de uma alma que aprova o momento. Nunca saberei! Que brinquedos são a estrada do teu sonho. Que histórias te embalam. Se tens medo na noite e que braços te abrigam. O teu cheiro depois do banho e que champô te acaricia o cabelo. O perfume que te toca na pele, os sapatos que te crescem, a roupa que te liberta, o que te mata, o que te dá vida. Nunca saberei! Nunca arriscarei sentir que o metodicamente desejado, acaba por ser inferior ao que não quero que de mim fique ausente. Caminhos de ilusão percorridos por corações mortos que nunca terão o hino do uníssono. Rasgaremos as fotos que nunca tiramos das lembranças que nunca tivemos. Apagaremos os traços inscritos nos papéis em que momentaneamente escrevíamos mensagens estéreis, apagaremos a tinta de nós. Quais nós! Se quando a chávena estiver vazia talvez já nem nos lembraremos quem éramos, se fomos na realidade qualquer coisa? Entendo! Claro que entendo o quão frágil é o que nos une quando comparado com a imensidão do caminhos que nos separam. Claro que sei! Mas não digo. Continuarei até ao fim olhando as estrelas adorando a lua, como que fascinado por esse universo sem explicação. Cada estrela uma dúvida, o céu a vasta ignorância, a lua esse ponto onde me apoio num silêncio que corta o vazio que me perde. Ah! Se eu pudesse cinzelar nos memoriais da história a poesia do meu agradecimento à vida. Ah! Se eu pudesse colorir as cidades com os meus sonhos. Ah! Se me deixassem cimentar as estradas com a minha alquimia encher os caminhos com a beleza que sinto. Ah se me dessem as asas da liberdade de poder dizer ao mundo o quanto ele é belo aos olhos da minha eternidade. Ah! Se esse dia chegar não voltarei a este café.

III – A Despedida

Fixo o teu olhar. Sei que percorres as planícies da tua vida, que os sonhos te invadem. Que escondes as desilusões tidas que esquecestes para estar aqui. Teus lábios cantam movimentos de sensualidade e o teu corpo sintonias perfeitas com maestro à altura. Mas tudo é contido camuflado, metódico, matemático. Ciência no exacto palco do inexacto. A noite já vai longa, a lua já mostra lá no alto o seu sorriso para a humanidade. Cada gesto, cada respiração mais profunda muda a rota, abre uma janela por onde posso vislumbrar o céu. Consigo imaginar os anjos a cantar cânticos nostálgicos, árias de glorificante prenúncio de novo dia. Chegou a amanha! Não sei se chegará a mudança nos segredos apreendidos, mas deixarei essa janela sempre bem aberta para que o silêncio dos ecos desses cantos tudo me possam contar. Tantas perguntas sem resposta, tantas respostas sem perguntas. Mas já sabíamos que o enredo só teria a arte de perguntar e responder com as letras minúsculas da desconfiança. Abriste um pouco da “janela” do quarto dos teus segredos, mas eu só serei o vento que por ela passou. Não me conheço nos meus sorrisos, nos sons que calo, nas palavras que suo. Saio de ti sem nunca em ti ter entrado, saio! Nunca saberás que o meu “eclipse” é essa mulher ponte entre mim e a vida. Essa mulher que me faça acreditar num passado com futuro. Essa mulher feita de procura que em mim encontra. Essa mulher que faça de mim o sonho. Essa mulher que saiba o valor do amor por já ter amado, que tenha vivido para saber viver, sofrido para saber entender, chorado para saber perdoar, perdido para desejar dar, partido desejando em mim chegar. Não serás nunca tu! E eu nunca saberei o que me trouxe até aqui. Enquanto nos perdemos no sonho do ideal, na ânsia da perfeita imperfeição a alma lacrimeja. Clama pelo nosso aceitar da simplicidade das virtudes e transparência dos defeitos que nos fazem. Buscamos o alheio e choramos pelo nosso. Levantas-te! Dás esses cinco passos até à porta por onde sais como que numa viajem para um novo apeadeiro. Eu sei, tu também! Não podia ser de outra maneira. Conhecemo-nos num não lugar, num não momento, entre o ser e o não ser, aniquilados pela distância que vai de nós a nós. Os pés assentes num chão manipulado, o tempo um intervalo entre a tentativa frustrante do encontro e a consciência do desejo de estar perdidos em qualquer outro caminho. Passos movidos pela irracionalidade vão esgotando a água dos poços onde subsiste uma réstia de humanismo para evitar a desidratação da alma.

- Fica bem! Adorei estes momentos (termina como começou…… retórica conveniente) temos que marcar outro encontro um qualquer dia.

Troquei! Trocamos! A água que nos sustenta por este beijo com aroma de café. Viajamos com a cegueira imposta pela venda que nos colocamos, e no nosso pesadelo afogamos o sangue das nossas veias na virtual procura do encontro. Nunca superaremos o amanha porque nunca construiremos o hoje. Nunca serás a árvore dos meus frutos, mas talvez! Talvez! A fonte da incoerência, a cor da lama, o castigo ardente que necessito para enxertar na minha pele seca as dores da subida às montanhas do impossível. Aqui foi enterrado mais um momento supérfluo. Nada ficará escrito por ti ou por mim. Tudo o que não foi dito será um dia a nossa obra completa. Não habitarás as minhas lembranças, os poemas na insónia da ilusão da esperança. Ah! Pobre coração! Nunca digas “nunca” e nunca digas “sempre”. Não morras no desespero do desencontro subjugado à tirania dos segundos sem horas. Não desistas de ter o que o sonho pretende, de ser o que o sonho comanda, de ter dias em que alcanças porque mataste todos os outros em que só o desejastes. Não desistas frágil coração! Não desistas de bater, não desistas do “eclipse”, não desistas de mim.

Não será por ti! Mas eu sei que um dia voltarei a este café….

26-08-2009



Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

O mundo precisa de alma, de palavras simples e não de simples palavras, de sentimento genuíno em detrimento do calculismo metafórico, de emoção e não de frieza matemática. O mundo necessita da palavra perdida que deu eternidade a um momento, e não de momentos escolhidos para dar eternidade à palavra.
O mundo clama pelos verdadeiros poetas.
A nossa grandeza fundiu-se com a nossa miséria. Somos marginalizados por todos os que engolem a realidade como alimento de vida, e idolatrados por todos aqueles que se alimentam do sentido do ser da essência do existir. Todos aqueles que saciam a sua sede nas águas do não visível - mas onde estão esses que não os sinto presentes- . Quem nos manda adormecer quando toda a humanidade está desperta? Vendo o invisível, pensando o impensado, parando o contínuo, avançando o estático, compreendo o incompreensível, avançando na interrogação, interrogando a conclusão, concluindo o inverificado, verificando o inconclusivo, brincamos como uma criança para quem nada é mentira, e o impossível unicamente uma verdade que ainda não aconteceu.
Loucura meus caros poetas! Mera loucura!
Essa que é a fonte onde tudo o que é nosso se manifesta de verdade. No refúgio da normalidade, garantia da não contradição com as consciências generalizadas, de nada valemos. A nossa razão de existir está nos antípodas da constatação do todo indivisível e sobressai unicamente na dissecação do particular do qual o todo se compõe, mesmo que únicamente aos nossos olhos. E tudo isto enquanto o mundo lá fora nos analisa sentados nas suas poltronas construídas da realidade perceptível. Essa realidade na qual descansam verdades que não contestam, porque nunca ousarão morrer na razão para viver no sonho.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

Passamos a nossa vida sem dar conta que o importante foi ter tempo para sentir saudade de um outro qualquer tempo. Seremos sempre livres, as únicas prisões, são as que nos coloca a bicéfala consciência que das contradições faz grades. Poderá a humanidade viver sem a poesia, Talvez!Mas nunca a existência de um poema será uma realidade sem a consciência insana de um poeta. Só um louco poderia ousar reduzir as dimensões da vida à palavra, parágrafo, sentença, ideia ou conclusão. Só um louco poderia viver nessa agonia da necessidade de sentir a “palavra precisa” para explicar o inexplicável, transmitir o invisível. Só um louco poderia compreender que nessa loucura é, quase sempre um “agrilhoado” às correntes da sua própria dimensão de loucura e, mesmo assim, assumir-se escravo voluntário e continuar. Mas sempre teremos esse “espelho mágico” que nos mente e sempre nos dirá que das palavras não somos meros escravos ou vítimas, mas sim amantes, senhores, concubinos, mestres. Mentiras que relaxam uma consciência perdida na busca da ignorância através do refúgio da sabedoria. E se a nossa consciência descansa, o corpo, esse sucumbe, exausto perante as rotinas de um processo abençoado pela fortuna e amaldiçoado por nós. O dia em que encontrar um poeta satisfeito com a materialização da sua loucura em palavras, encontrarei alguém que desconhece completamente o significado de “ser poeta”. A insatisfação é a nossa maldição e bênção. Nunca ninguém, no seu perfeito juízo, decidiu ser poeta. Isso será sempre, consequência de uma submissão incontrolável à escravidão para se ser live.
A poesia é para os verdadeiros poetas uma escrava libertação.
Nunca seremos livres no verso e é perdidos no inverso das coisas que atingimos o nível dos profetas livres eternamente sós.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

E eu! Um poeta sem rumo ou com rumo desconhecido, com a poesia ou pela poesia um dia partirei para outra dimensão. Partirei sim Partirei! Com todos os diálogos que silenciei, com todos os poemas que matei, cheio de tudo e vazio de outro tanto. Mas enquanto aqui permanecer podem continuar a rir de mim ou para mim. Tive tudo e outro tanto já perdi. Sei que sou o que vivi e o que vivendo aprendi, ou talvez nada disso ou disso um pouco. Talvez não seja o que de mim penso ou o que pensam de mim. Serei sempre o que experimentei vivendo ou vivi sonhando, e nunca o que realizei. Sou o que ainda não sei, e por não saber quem sou, escrevo o que penso que me faz. Carrego o fardo pesado da dúvida, sei que existe uma solução para me libertar do peso desse manto, mas ainda a desconheço. Sou vítima fora de tempo, sou vítima dentro de mim.
Procurar as razões! Para que?
Se todos um dia tivemos razão e nenhum de nós individualmente a chegou a ter.
Qual razão? A minha, a vossa, a deles. Qual?
Vivo da ausência delas, cantando sensações do maravilhoso mundo que idealizo com a humilde materialização dos sentimentos que me avassalam. Tudo desconheço e por nada possuir eternamente meu, tudo o que de mim sai é o nada desnudo do muito que em mim sinto.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

Aromas da poesia inalamos em qualquer espaço ou momento, mas é aí, exactamente aí, em que morrem os mercenários e nascem os poetas, Só existe uma forma de ver o que não está à nossa frente e essa forma nunca será racional. Tudo o que resulte da razão até poderá ter o seu momento, mas nunca mais do que isso – Um momento. Para lá das montanhas sombrias da vida existem planícies plantadas de flores multicolores que devem ser cantadas, melodias que devem ser soletradas em silêncio ou em cânticos de multidões. Nunca aprendi a forma ideal de um poema. Nem quero! Nunca saberei escrever algo que não seja o reflexo das cores com que idealizo o que se coloca diante dos meus olhos. Nunca ninguém receberá de mim outra coisa do que não seja meu, não por direito próprio, mas porque a vida mo deu. Se escrevo não é porque sei ou porque deva, (estou longe de me preocupar com isso…), não é com técnica (nem sei o que isso é…). Escrevo porque estou vivo, e caminhando na minha vivência sempre existem esses momentos em que os relatos que me saem mais não são que a única forma que encontro para me explicar a mim e ao mundo. Posso até estar só! Ou por vezes com a sorte de partilhar o mesmo espaço com todos aqueles para quem a poesia são pequenos traços num quadro abastracto que imortalizou um momento.
Mas só ou com os outros loucos como eu!
Continuarei poeta, porque enquanto vivo, seguirei sonhando.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

22-03-2010



O futuro é um desejo que desperta com o fluir de todas as experiências vividas nesse momento chamado presente!
Não é construção projectada com traços de arquitecto idealista, mas pintura abstracta de uma consciência que se transforma, consoante as cores que experimenta. É consequência, nunca objectivo.
É caminho, nunca chegada.
É um conceito que se extingue à medida que o tempo passa. Nunca existirá futuro sem presente e presente sempre com futuro. Existe, isso sim, um caminho que nos levará, com sorte, a um momento posterior que será nessa altura não mais que o nosso presente - no fundo o que desejamos quando, inocentes, projectamos o futuro, é um presente diferente. O que sendo a vida efémera não deixa de ser algo a ela contrária, desejar no hoje, um “hoje” diferente num amanhã improvável. - Tantas vezes este desejo leva a sentimentos de revolta, isolamento, incompreensão, desilusão, abandono, tristeza, desolação, conformismo e outros de que não me quero lembrar porque nem sequer conseguiria defini-los!
Tudo, porque desafiamos o tempo, matando-o, desejando ter noutro tempo o que o tempo não nos dá no tempo que temos. A consequência é arrasadora! O resultado será o adormecimento e a acomodação, tudo o que, a trazer alguma coisa, será mais do mesmo ou um mesmo ainda pior. Desejam então, os gurus do "depois", um futuro presente à imagem dos seus sonhos e são levados a esquecer, diga-se, comodamente e estupidamente, que os sonhos realizados no futuro derivam das vitórias e derrotas acumuladas no presente. Mas esse é esquecido em detrimento de algo que nunca existirá (pelo menos de uma forma diferente) sempre e quando não se agir e pensar de outras formas no momento em que a vida acontece. É que a vida não acontece amanhã... está a acontecer! E com ela vai passando a hipótese de concretização de tudo o que a essência de estar vivos permite. Pensar num amanhã diferente é pensar num hoje modificado!
Decidir diferente, agir diferente, sonhar diferente, pensar diferente, amar diferente, ver diferente, caminhar diferente nas planícies e montanhas do hoje que sustêm a nossa alma.
Ninguém poderá nunca questionar, que no nosso futuro nunca poderemos ter o nosso presente de volta. Como tinha razão quem disse, não me lembro quem: "…O Homem é a única criatura que se recusa a ser o que é..."
- Efémero! Acrescento eu.
Mas entendo esta ânsia do amanhã, acreditem! Entendo mesmo! Entendo bem a quimera do almejado “pote de ouro” no fim Arco-íris do futuro. Entendo porque sei que isso anestesia tantas vezes um sofrer que mata e, ao mesmo tempo, sempre servirá como comprimido de esperança que alivia. Compreendo o seu efeito “cor-de-rosa” que qual “ pílula do dia seguinte” tomam os que atordoam a dor do presente com comprimidos de sonhos futuros. Aprendem, com a droga que ingerem a matar tudo o que é deles, mas não aprendem a fazer viver o que os faz. O engraçado é a ironia desta teoria - É que sendo o ser humano uma realidade em constante evolução, tudo o que nos vai fazendo, mofifica-se consoante o tempo que por nós passa.
- A felicidade é algo que sentimos de forma mutável (inevitável!),
- O amor é algo experimentado com mais racionalidade e menos “poesia” (infelizmente!),
- A amizade é valorizada e compreendida noutros prismas (finalmente!),
- O primordial e secundário terão outras escalas (necessidade!)...
Ou seja: Desejamos hoje um futuro diferente para nós e com isso, quase sempre, abdicamos de viver o "agora" em troca do "depois". Mas quando lá chegamos, já não somos os mesmos, e seguramente o “agora” que desejamos no “antes” já não fará qualquer sentido. E mais uma vez lá chegados se inicia o ciclo... desejar no amanhã o que o hoje não nos dá. Assim, para sempre, enquanto o tempo permitir o momento seguinte.
Ironia Divina!
Abençoados os que conseguem chegar ao tal conceito de "Futuro" e de facto viver o tempo que lhes resta sem preocupação do momento seguinte, porque o que têm lhes dá a tranquilidade que nunca existiu até aí.
Abençoados!
Porque para todos os outros, esse momento chega pela mais mortal das formas. Pela maneira mais terrível! Não ter mais tempo, nem um já longínquo futuro para poder projectar.
Nesse momento, à cobardia e acomodação de um presente não vivido, junta-se a frustação de não poder ser diferente porque o futuro termina ao final do túnel. Vive-se num quotidiano, projectando num qualquer futuro, um “eu” que desfrutará de uma vida tranquila e poeticamente idealizada, tão poética que faz com que sacrifiquemos o presente. O problema é que este “eu” tantas vezes nunca se materializa e seguimos vivendo sem dar conta disso. Projectamos uma imagem de “nós” presente que se tornará completa num futuro, que não necessariamente existe. E quando nos damos conta disso é exactamente o momento em que deixamos de ser aquilo que nunca fomos. É neste momento que descobrimos como o “eu” presente foi escravo de um “eu” futuro, e como este nosso “eu” se converteu numa imagem semelhante e austera, e triste dele.
Não!
Recuso-me a aceitar que para ter continuidade devo abdicar dos pecados, dos erros, dos falhanços, dos amores e desamores, das lágrimas, das tristezas, das alegrias, dos sonhos, dos caminhos, das estradas, dos becos, dos abismos, dos campos, das planícies, das montanhas, dos mares, dos céus, das cores que hoje me pintam.
Não!
Continuarei a acreditar nas fundações dos tempos e que só existe um tempo que liga todos os outros, e esse tempo é o presente.
Tudo o resto deixo para os arquitectos que desenham o futuro em papéis que guardam numa gaveta, e para os poetas. Os primeiros porque me fazem querer não ter gavetas, os segundos porque me revelam a importância de estar de pé, respirar, e poder mudar o que de mim não goste.

Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.

A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.
Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence

(Fernando Pessoa)

Vivam os poetas dignos desse nome, vivam todos os futuros que se orgulham dos presentes que os criaram.

14-12-2009



Ombros caídos sucumbem ao peso da desistência.
Corpos cansados definham em mentes perdidas nos corredores sem a luz da esperança.
Solitárias mentes que não encontram uma razão para insistir na luta porque o vazio tomou o lugar do sonho.
Protegem-se fechando-se em si mesmos esqueçendo que o corpo sempre estará acorrentado ao mundo.
Sofrem a dor visceral do esfumar da vida por entre as mãos calejadas de marcas de tempo inútil.
Não entendem, que assim como nenhum moinho escapa à força do vento, não existe ser que esteja realmente vivo fechando as portas à vida.
Parados!
Inertes!
Querem ser diferentes do que foram, do que são.
Ter uma outra sombra a viajar com o corpo.
Mas continuam adormecidos na ideia e tapam-se com o manto do tempo.
Não é na incapacidade da afirmação da diferença que reside o seu descontentamento (tanta diferença existe por aí perdida na vulgaridade…), mas na cobardia de dizer “eu sou!”, “existo!” e vou ser igual a mim mesmo.
Ainda não compreenderam que no meio da agitação do caos quotidiano, somos original sem cópia, luz única, matéria especial!
Nunca ninguém poderá ter o nosso reflexo e suar palavras nascidas dos sonhos da nossa alma.
A nossa história sempre será, Nós!
Partamos à descoberta do universo interior como exploradores desejando vencer a desistência, dando um novo sentido á luta.
Conquistemos o território inóspito da nossa mente, despertando da sonolência que, tantas vezes, transmitimos em bocejos nascidos do ácido corrosivo do vazio.
Interroguem-se!
Que fizemos com passos perdidos na poeira de sonhos adiados esperando o despertar da alma? Para mim a resposta é fácil!
Viveram!
Todos um dia habitamos na cabana do tempo perdido, mas tempo vivido nunca será tempo perdido. Boas e más memórias fazem parte da estrada da vida. Colhemos os frutos de existir mas devemos plantar as árvores do viver.
Tantas vezes surdos pelos ruídos dos nossos silêncios, assistimos ao enfileirar nas gavetas de cartas com sonhos adiados. Livros nas estantes e nenhum escrito com o nosso punho, e passeamos pelos recantos de um espaço vazio de memórias. Tantas perguntas que nunca colocamos, tantas respostas que cobardemente evitamos, tudo deixamos ao fluir de um tempo que nos mata.
Na memória libertada dos momentos de hibernação devemos contudo tentar entender as razões da letargia que tomou conta dos bancos do jardim, onde pacientemente esperávamos o florir das flores.
É necessário questionar!
Que fizemos?
Inventando-nos em contos sem argumento, vestidos com o fato domingueiro da mediocridade.
Parando o tempo sofrendo por um diferente amanha.
Escrevendo poemas tristes, se os sentíamos com um sorriso na boca.
Vergados pela vergonha da desistência desesperando pela luta.
Sendo o rio do desnorte tendo um mar reservado.
Vítimas da inversa alquimia de sonhos extintos nos extremos de pontes que não se cruzam.
Que fizemos?
Num quarto vazio rodeados de flores frias e mortas, desejando o cansaço da atenção.
Em bares sem fome de nomes próprios sem a fusão nuclear da complementaridade.
Tapados com a nudez, acordados existindo só no sonho.
Construindo-nos de matéria transplantada que o corpo rejeitou.
Bebendo o que não mata a sede, comendo o que não alimenta.
Que fizemos?
Amando uma liberdade escrava do alheamento do mundo.
Mantendo a imagem do icebergue se tudo o que é de nós está à superfície.
Desejando uma ilha no mar tendo cidade em terra.
Esquecendo que a vida é o livro da memória, distanciando-nos do que desejávamos perto.
Com medo da queda se sempre experimentamos o perfume sagrado da terra.
Que fizemos?
Esquecendo o passado se nunca conseguimos enterrar os vivos.
Fechando os braços para o abraço se sempre deixamos livre a emoção.
Guardando beijos se a nossa alma é feita de lábios desejando o seu calor.
Deixando de amar se o amor sempre foi a janela dos devaneios da nossa loucura.
Absorvendo a superficialidade quando o eterno sempre foi a impressão digital da nossa alma
Que fizemos?
Cada um encontrará as suas questões e respostas….
Na procura da luz que nos guie para longe dos becos onde só se encontramos a parede que reflecte o oposto de nós, sempre teremos dois caminhos.
Continuar como ovelhas de um rebanho ordeiro, seguindo os passos de um pastor com todos os projectos empacotados na dispensa da memória, ou assumir que não vale a pena viver qualquer tempo que seja dedicado a enganar a nossa essência.
Deixar de tentar enganar a nossa alma é compreender que apesar de todos os erráticos caminhos percorridos, seremos sempre capazes de conduzir a folha de Outono que nos sentimos, até ao repouso desse segundo do lançamento da âncora do “eu” perpétuo.
Basta apenas um instante para tudo perder ou tudo recomeçar! É assim! Tudo se joga na roleta da vida. Mais tarde ou mais cedo chegará o nosso destino, qualquer que ele seja.
Acreditemos! Pois ele pode ser o eco do grito de quem disparou a arma três vezes, mas sobreviveu, e renasceu afastado da medonha rotina imposta por uma consciência adormecida.
É tempo de passar o testemunho para outras mãos, essas que se encarregarão de enxertar os pedaços perdidos nos cantos onde escondemos as consequências da nossa apatia. A mudança impõe-se por respeito a nós, mas sobretudo à vida.
Gostaria de dizer que é fácil, mas não é!
A vida tem tudo para nos dar mas muito para nos magoar.
Pensam que não são capazes? Acreditem ou mintam as vezes necessárias para acreditar na mentira!
Exijam alcançar mais que o comprimento dos vossos braços e ver além do que os vossos olhos permitam. Desejos rasos em sonhos de mendigo só conduzem à mediania. Pensem o tudo e sonhem para além disso. Não existe outro motor da mudança, outra fonte de energia, que não seja esse dínamo construído com as ferramentas interiores da nossa convicção. Acreditem que estão prontos para iniciar o resto da vossa jornada como almas livres, e deixem-se viajar na rima dos versos que a liberdade escreverá.
Acordem as estrelas que povoam o vosso infinito esplendor, e deixem que a vossa cidade se ilumine de todas as dúvidas! Elas trarão a revelação de todos os mistérios do vosso mistério, caminho único para a construção da silhueta com a qual sairão finalmente para o mundo vestidos de vós.
Tenham a calma que a perfeição exige! E a pressa de emergir de tudo onde antes reinava a calma.
A vida é rápida eu sei!
Mas tudo dura o suficiente para poder ser eterno.
Apressem-se nos caminhos e tropeçarão na realidade, permaneçam parados e perderão a vida. Digam à "pressa" para correr devagarinho e à "calma" que nunca se esqueça que tem "pressa".
Avancem! Não existe querer que não custe, fazer sem falhas, sentir que não doa, dor que não passe, beleza que não acabe, saber sem dúvida, estrelas que não morram, fim sem saudade, inicio sem incerteza, conhecido sem desconhecido, felicidade sem luta.
Não existe lei!
Não existe remédio!
Existe esse caminho que nos trará o dia em que, longe de todos os cansaços, dançaremos a valsa da mente livre e partiremos para o inicio do resto de nós.
Talvez nos cruzemos no resto de mim.

05-07-2009



Sou vítima de um vírus extremamente doloroso! As Ideias.
Aquelas a que não concedemos quaisquer visto no passaporte, mas que se dedicam a fazer turismo em nós, no nosso espaço, no nosso território, e nos absorvem por completo. Dominam o tempo, apertam a alma. Controlam-nos! E por mais horizontes diferentes que procuremos, sempre vamos dar a esses becos sem saída onde nos esperam sem nunca de nós terem saído. Absorvem os vazios da mente, multiplicam-se e deixam-me com aquela sensação de que nada mais existe que não seja reflexo da sua existência.
Atacam-me sem piedade!
Confundem-me!
Desorientam-me!
Cansam-me obrigando-me a efectuar périplos de vida dentro da minha vida, a escalar as montanhas da memória, a correr nas planícies verdejantes dos momentos em que a minha alma aprovou os meus actos, a queimar-me com o sol dos oásis que não vi, a molhar-me com a chuva das lágrimas que nunca deixei nascer.
Transfiguro-me!
Visto-me de verão em pleno Inverno, choro a nostalgia do Outono em plena primavera, mato a normalidade e a anormalidade, num fluir de estações sem estação, de destinos sem partida, de chegadas sem saída.
E aqui estou!
Irremediavelmente condenado a ser hospedeiro de forças que não controlo, a ter que dar vida e deixar sair para o mundo sopros da minha doença.
O pensamento dói, e quem nunca foi vítima deste vírus, nunca entenderá esta dor.
Como um mendigo que abre as mãos para o céu esperando que chova esperança, abro os meus olhos para o mundo e espero pacientemente pelo momento da cura, da libertação. O momento da retirada destes organismos que em mim habitam e que só me deixarão em paz quando voltarem a existir numa outra qualquer forma, ser ou espaço.
É tempo de expulsar os invasores, tempo de libertação!
Tempo de “cuspir” palavras e contagiar o mundo com a minha doença.
Mas que palavras?
Atacam-me dentro do meu corpo, exigem que dê vida a qualquer coisa, e eu não tenho a menor ideia do que desejam. Não sei se tenho que dizer algo ao mundo ou se sou mero hospedeiro de algo que pretende pôr-me em frente ao espelho e mostrar-me qualquer coisa. Estou perdido nos corredores da dúvida, desespero pela cura e não sei qual é a doença!
Mas avanço!
Cada minuto que passe sem nada fazer, só agravará a infecção que me contamina.
Invadem-me pensamentos sobre o Natal e o Ano que teima em entrar, e penso! Escrevo! Para mim ou para outros. Que Importa! Sei que nunca me curarei se não deixar sair os “gritos” de quem me mata o silêncio e me aniquila a paz. Começo por aceitar que a solidão que penso sentir, é a natural consequência de estar efectivamente só num momento que sempre pensamos necessitar de espectadores.
Estou só neste Natal!
E neste momento em que muitas outras solidões se disfarçam com a mascara da hipocrisia, Pergunto-me! Será que o Natal necessita de uma plateia calorosa, aplausos e risos a interromper o silêncio?
Não! O natal é algo que vive no nosso coração e como tal não necessita audiência para ser vivido. Mas entre dúvida e dúvida vou construindo palavra a palavra a minha mensagem de natal, que acabarei por enviar para quem me tocou a vida.
Penso!
Natal! Tempo de encontro de magia de viagem ao que de mais belo existe dentro de nós.
Natal! Tempo de encontro com a esperança, o belo, o tradicional, com a história da nossa história.
Natal! Uma mão que se estende, um pensamento deixado sair, uma lágrima que não soltamos mas que teimosamente quer sair nas recordações dos tempos em que nos deitávamos com os sonhos.
Natal! A vida pela vida sem tudo o que na vida mata a própria vida.
Natal! O sonho pelo sonho com tempo para sonhar.
Natal! O renascer na matéria da qual somos feitos e que aniquilamos sobre a capa com que a vida escondeu a nossa essência.
Natal! O belo, o único, o eterno, o simples, a união, a família, as crianças, a esperança, a beleza, a partilha, a dádiva, a presença, a ausência sentida, o abraço o beijo, as palavras, os sentimentos com calor humano.
Natal! Momento para ser tudo o que nos esquecemos que somos.
Chego aqui, e tenho uma mensagem de natal na minha mente! Mas antes de enviar um medo me assola. Será que me vou colocar do lado dos que sempre critiquei. Vou ser mais um (ou pelo menos assim entendido…) a enviar essas mensagens que dão a volta ao mundo em segundos. Essas que são feitas de palavras de uma alma que na verdade desconhecemos, mas que fazemos nossas porque perder uns segundos a escrever sentimentos genuínos é sacrifício demasiado?
Não!
A todos que me tocam a vida, aos presentes e nunca comigo, aos ausentes e sempre presentes, aos que partiram e não ficaram, aos que partiram e estão, aos que estão de partida aos que estão de chegada, aos velhos e aos novos, aos de longe e aos de perto, aos das horas difíceis e aos das horas alegres, aos de antes, aos de agora, aos de sempre, recuso-me a enviar algo que não seja MEU.
Se a inspiração não me ajudasse diria um simples “olá” mas seria meu, um “obrigado” mas seria meu, mandaria um “abraço” mas seria sempre genuinamente meu.
Não existe nada na vida que seja demasiado velho e gasto que não possa renascer nas asas de uma nova visão, nos sonhos de outros sonhos, na vida feita de outras vidas. As mais fantásticas descobertas que podemos fazer sobre as coisas, sempre acontecem quando as vemos com uma perspectiva nova, com um olhar diferente, com um coração que sente diferente.
Não!
Aos que comigo respiraram todos os dias do ano, aqueles com os quais me aperfeiçoei como pessoa, não pelo que dei ou recebi, mas pelo que directamente ou indirectamente, me obrigaram a revelar, a conhecer de mim mesmo! Não vou dar o que sempre vomitei quando recebi! Pedaços do bolo dessa mediocridade que alimenta o mundo hipocritamente esfomeado nesta quadra.
Chamem-me o que quiserem, sonhador, idealista, louco, anarquista… o que quiserem! Mas no dia em que se revoltarem contra vocês mesmos, no dia em que se libertarem do que vos mantêm cativos, e deixarem de consumir produtos da lixeira da humanidade, nesse dia meus amigos! Sentirão orgulhosamente a destruição das coleiras da escravidão a que se submeteram, e o mundo começara a compreender a vossa voz.
Como deseja falar para o mundo quem nem sequer fala por si mesmo. Como deseja falar para o mundo quem utiliza palavras de outras gentes para fazer chegar à sua gente, quem envia “lágrimas” que nunca chorou para fazer chorar quem lhe toca, quem pinta aguarelas de esperança com cores de outras esperanças e oferece quadros sem nunca ter vivido as cores nele expressas.
Estou infectado, eu sei!
Tudo o que me chamarem poderei sempre desculpar com o vírus que me mata, mas agora que começo a sentir a liberdade porque aos poucos as palavras me libertam, devo dizer que, estranhamente, já tenho vontade de ser contaminado outra vez.
Não! Não acabei por ficar apaixonado pelo meu invasor (não sofro do síndrome de Estocolmo…) mas compreendi que a sua consequência é uma maior consciência do mundo, que sempre me chega quando algo ou alguém me obriga a possuir a minha própria consciência.
Este vírus ao erradicar a minha infinita ignorância aniquila uma das minhas doenças! Essa cujos sintomas se manifestam numa vida por vezes desperdiçada pelo sono causado pela minha interior cegueira.
Cuidado ao lerem estas palavras!
Estão impregnadas de “vírus”e são altamente contagiosas. Quem as ler, sofrerá para sempre dessa vontade de viver com intensidade a infinidade de possibilidades que nos é dada nesta vida.
Cuidado!
Não se deixam injectar com um vírus que depois não sabem como controlar, com um vírus que aniquilará a mediocridade e vos porá em frente ao espelho para que, de uma vez por todas, vejam a vida com ela é:
EXTRAORDINÁRIA.

E se o objectivo desta contaminação era fazer sair de mim uma mensagem de natal, aqui me liberto totalmente da minha doença ……

“Vivemos para lembrar e ser lembrados. Onde quer que exista um coração que me recorde aí! Exactamente aí! Será o meu Natal. Por cada alma que pronuncie o meu nome neste tempo de memórias, uma estrela viverá e brilhará na minha árvore de natal. Contemplando o seu brilho entenderei se a minha vida até aqui valeu a pena. Qualquer que seja a dimensão da tua, existirá nela uma estrela a brilhar intensamente, A MINHA. E agora, unicamente quero que saibas que uma parte importante do teu natal está no meu coração. Desejo que tenhas uma espectacular árvore de natal e que tenhas seguro que a minha alma será parte importante do seu brilho. Que a sua luz ofusque os teus olhos para que sintas que a tua vida é plena”

E para ter uns momentos mais prolongados de paz, aqui deixo uma mensagem de ano novo…

Se o natal é um período de charneira entre dois anos … (uma nova definição cheia de ciência….), como sempre brevemente, chegarão os votos para o novo ano. Sejam qual forem os vossos, tenham sempre presente neles uma realidade!
Quer queiram quer não, só existirá um “ano novo” se rejuvenescer-mos dentro de nós.
De nada vale vestir roupas novas, ter esperanças em mudanças acreditando que algo ou alguém fará por nós o que nunca fomos capazes de fazer por nós mesmos. Se não existirem ideias novas, sentimentos novos, esperanças novas, sonhos novos, caminhos novos, se não entender-mos que a felicidade não é ter tudo na vida (seja qual for o nosso conceito de tudo….) mas criar dentro de nós o espaço, o vazio necessário, para ter motivos para algo novo na vida, o ano, meu amigo, será outra vez um “ano velho”. Por isso, a única coisa que vos posso desejar é:
Reinventem-se e renasçam de facto para um “ano novo”

24-12-2009


Descanso!
Hiberno a minha humanidade.
Descanso!
Solto a alma na amplitude infinita do sonho.
Percorro as esquinas da mente vagueando.
Vagabundo!
Sem estratégia, sem ontem, hoje ou amanhã.
Sem pressa, sem calma, sem nada!
Nada que me atrapalhe a não ser eu próprio.
Habito no disperso, no nada que é inteiro, tudo é nevoeiro.
Já não tenho nada para dar.
Ou será que ainda não tenho.
Meio copo, o copo todo, qualquer coisa que não exija copo.
Escorrego no jardim dos sonhos.
Observo as flores do entendimento, e as árvores do aprendido.
Cantos dispersos ou dispersados, ruídos, sons.
Pétalas de flor que caem, que sinto, que desminto, que desdigo.
Percorro os mares as planícies as montanhas.
Percorro!
Um rio que não sossega, um mar de lava em erupção.
Estou atento, desperto em cada manifesto.
Invento histórias, fábulas, contos, romances sobre tudo o que me preocupa.
E tanto me preocupa!
Sobre tudo o que me diverte.
E tanto me diverte!
Escrevo!
Página de um inexistente diário que tudo tenha, que nada lhe falte.
E teve!

Alucinação!
Flashes dos obtusos espaços que me constituem.
Dor!
Não, claro que não! Sou dono da história.
Reflexos!
Memórias que iluminam a escuridão de uma noite deslumbrantemente nua.
Labirintos!
Sombras onde pensamentos perdidos encontram todas as direcções.
Batimentos!
Ritmados pela percepção do perdido, do inalcançável, do desnorte e de tudo o oposto.
Caminhos!
Percursos vacilantes à deriva de todas as esquinas dos tempos.
Vazios!
Todas as fraquezas, todos os vícios, queda livre.
Abraços!
A todos os encontros no voo solitário pela claridade da escuridão.
Leis!
Abolidas por decreto, que raio! O momento é meu.
Nexos!
Nenhum ou todos. Sem direcção ou com direcção. Musicados ou em silêncio.
Imaginação!
Implacável tráfego de tempo sem espaço nem tempo.
Sonhos!
Vou no mastro do barco gritando os infinitos de ilhas imaginárias.

E teve! Isso tudo e o dobro do que lhe falta.
Nenhum farol me indicou o norte, viajei sem bilhete sem passageiros.
Subi as árvores para colher os frutos que matam a fome da nostalgia.
Agora imagino a casa limpa, arrumada, perfumada, quarto cheio, beijos com corpo sem ânsia da procura.
Vejo todos os que me fazem sonhar, cruzo-me com os olhos dos que me vêm.
Afasto as invejas da minha liberdade e quem dá mais força às amarras dos meus vazios.
Saio do voo!
É madrugada e o horizonte já espalha a sua claridade na minha sala sem estar em nada, simplesmente avisa que chegou.
Tudo volta à sua forma.
Céu, estrelas e planetas voltam à dimensão da minha dimensão.
Os ponteiros do relógio pararam, ou estarão ao contrário.
Abandono trajectos incertos e tomo à mesa o meu lugar.
No canhoto dos cheques aponto que acabei de pagar todas as contas.

Se tudo o que escrevi é nada!
Esqueçam-no!
Só o que existe se pode esquecer.
Se esquecerem, o momento existiu.
Agora!
Acabou a terapêutica.
Volto à realidade.
Fecho o diário.

10-09-2009


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