Poesia e pensamentos livres

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Habito em destinos cujos passos não entendo.
Rostos de solidão indiferentes carregam o desencanto.
Sou verdade, e o mundo não me vê.
Nada espero, simplesmente observo.
Esperanças prostadas diante do medo.
Revolta pronta a explodir ao mais pequeno incentivo.
Emoções hipocritamente desatentas.
Ignoram-me por todos os motivos inúteis,
E eu nem tento disfarçar o quanto não me importo.
Sim!
Existe um mundo lá fora, que não me vê.
Não sou fruto do óbvio nem produto do correto.
Nada me devem e dentro de mim devo-me tudo.
Não me revejo no alheio incompleto.
Nem sofro desse desassossego.
Existimos em horas diferentes.
Eu sou pontual no meu tempo.
Eles esperam por um tempo que possam chamar seu.
Vou continuar aqui!
Noutro qualquer lugar nada seria diferente.
Só o lixo abandonado segue as correntes do mar.
E o errado nunca poderá dar certo.
Não sou a culpa que carregam.
Não sou a saudade que escondem.
Não sou o remorso que lhes mata a consciência.
Não sou o tempo perdido que lhes carrega a face.
Não sou o rosário onde depositam a esperança.
Continuarei cantando o meu fado em silêncio.
Não quero medidas, proporções, chaves ou chavões.
Sou pássaro livre que se aventura em céus desconhecidos.
Sou alma nua e só assim me conheço.
Se me querem sentir,
Libertem todos os rostos que escondem.
Dispam-se das roupas incertas e inexatas do medo.
Adormeçam ao vento com a lucidez dessa escolha.
E celebrem comigo um dia que não morreu.
A minha sombra não tem cor diferente de todas as outras.
Talvez a encontrem.
Quem sabe, agora.

24 - fevereiro - 2019


Cada dia me dispo das vestes gastas de mim.
Esqueço o que fui para lembrar-me de quem sou.
Nada me chega completo porque nada procuro.
Experimento tudo vestido desse nada que carrego.
Sou realidade entre o momentâneo e o eterno.
Memória de encontros fortuitos coloridos de eternidade pelo pincel do acaso.
Transfiguro-me todos os dias com rituais tipificados na irrealidade confusa das coisas, num equilíbrio desequilibrado, na ânsia de mim no universo dos erros que cometo.
Mas sei que em mim tudo tem que ser assim.
Consequência de solidão imperfeita que arrisca na perfeita espontaneidade.
Nada será meu que eu não sinta e nada terei que não me construa.
O que disso poderia ficar é um nada de um erro clandestino.
Memórias! Só as que não matam o presente por comparação.
Memórias! Só as que não matam o presente na ânsia de futuro.
Nunca me perdoaria a angústia de pensar em corrigir erros.
Cometo outros.
As possibilidades são infinitas.
Sou maravilhosamente imperfeito e estupidamente momentâneo.
Tenho corpo para sentir o vento e uma alma para admirá-lo.
E só quero continuar a deslumbrar-me fora de mim, sem palavras inúteis, com todos os silêncios de um sorriso de admiração.
E no meio da confusão das coisas, que já não questiono, quem sabe tocar uma outra imperfeição que me complete.
Estou vivo e tudo é consequência.
E só assim me pertenço por destino meu.
Nada mais me interessa!
O meu dia chegará!
Sempre chega!
Por esse lado certo de todo o errado que existe em nós,
A vida.
06-11-2010







Vontades e realidades em linhas paralelas que momentaneamente se intersectam.
Ou quiçá nunca!
Tudo acontece entre tempo e tempo, entre pressa e pressa.
Gente à procura de ter pressa.
Gente com pressa da procura.
Gente calmamente com pressa, ou apressadamente calma.
Do finito ao infinito à velocidade da luz.
Quantificações simplistas de uma realidade equacionável.
Num espaço indefinido entre tudo e nada ou qualquer coisa.
Tudo está errado ou provavelmente tudo pode estar certo.

Desequilíbrios matemáticos em equações desiguais.
Demasiadas incógnitas!
Tudo existe ou inexiste e no meio disso nós.
Meio existência, um quarto de vivência e tudo o resto sonho.
Na metade de existência o todo não tem resto.
No quarto de vivência todo o meio é esquecido.
E no resto o pouco do nada que desejamos.
Quarto, meio, resto, que raio! Tanto de tão pouco faria uma equação melhor.
E tão pouco resta para não existir equação nenhuma.
E será que existe solução? tantas são as incógnitas!
Aumentar o resto elevando o quarto diminuindo o meio?
Diminuir o meio potenciando o quarto?
Resto zero, igualando quarto e meio?
E outro tanto de tantas outras.
Múltiplas combinações e nem sequer gosto de matemática.
Complicações aritméticas de uma realidade sempre a mudar as equações.
Habitamos nos subúrbios do resto alimentando-nos das memórias do quarto para engordar o meio.
Esse conjunto de metades em linhas paralelas com a unidade, com intersecções pontuais que rapidamente divergem exponencialmente.
Como seria ideal se tudo voltasse à simplicidade do um mais um igual a dois.
Mas não!
Infelizmente somos feitos de desequilíbrios conformadamente equilibrados.
Tudo se move, enquanto se move, pela majoração romântica do resto.
E mesmo que nada reste desse resto majorado, momentaneamente saímos dos subúrbios e visitamos a cidade.
E entre visita e visita quem sabe descobrimos um quarto com janela para o horizonte da materialização do resto.
Venceremos a matemática, não tenho a menor dúvida disso!
Na nossa génese já o fizemos!
Somos o resultado de uma equação num espaço tridimensional, que nasceu graças à força de contestar probabilidades ínfimas.
Simplifiquemos os teoremas reinventando a nossa lógica.
A vida será sempre superior a todas as matemáticas.
Meio, resto, quarto!
Cada dia uma nova equação.
Cada vida uma equação diferente.
A minha equação de amanhã será igual à de hoje?
Não sei!
Que o resto me domine e traga novas igualdades.
E quem sabe as nossas vidas não terão um ponto de intersecção.
No finito ou infinito!
Incógnita!
Mais uma.

24-08-2010



Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

O mundo precisa de alma, de palavras simples e não de simples palavras, de sentimento genuíno em detrimento do calculismo metafórico, de emoção e não de frieza matemática. O mundo necessita da palavra perdida que deu eternidade a um momento, e não de momentos escolhidos para dar eternidade à palavra.
O mundo clama pelos verdadeiros poetas.
A nossa grandeza fundiu-se com a nossa miséria. Somos marginalizados por todos os que engolem a realidade como alimento de vida, e idolatrados por todos aqueles que se alimentam do sentido do ser da essência do existir. Todos aqueles que saciam a sua sede nas águas do não visível - mas onde estão esses que não os sinto presentes- . Quem nos manda adormecer quando toda a humanidade está desperta? Vendo o invisível, pensando o impensado, parando o contínuo, avançando o estático, compreendo o incompreensível, avançando na interrogação, interrogando a conclusão, concluindo o inverificado, verificando o inconclusivo, brincamos como uma criança para quem nada é mentira, e o impossível unicamente uma verdade que ainda não aconteceu.
Loucura meus caros poetas! Mera loucura!
Essa que é a fonte onde tudo o que é nosso se manifesta de verdade. No refúgio da normalidade, garantia da não contradição com as consciências generalizadas, de nada valemos. A nossa razão de existir está nos antípodas da constatação do todo indivisível e sobressai unicamente na dissecação do particular do qual o todo se compõe, mesmo que únicamente aos nossos olhos. E tudo isto enquanto o mundo lá fora nos analisa sentados nas suas poltronas construídas da realidade perceptível. Essa realidade na qual descansam verdades que não contestam, porque nunca ousarão morrer na razão para viver no sonho.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

Passamos a nossa vida sem dar conta que o importante foi ter tempo para sentir saudade de um outro qualquer tempo. Seremos sempre livres, as únicas prisões, são as que nos coloca a bicéfala consciência que das contradições faz grades. Poderá a humanidade viver sem a poesia, Talvez!Mas nunca a existência de um poema será uma realidade sem a consciência insana de um poeta. Só um louco poderia ousar reduzir as dimensões da vida à palavra, parágrafo, sentença, ideia ou conclusão. Só um louco poderia viver nessa agonia da necessidade de sentir a “palavra precisa” para explicar o inexplicável, transmitir o invisível. Só um louco poderia compreender que nessa loucura é, quase sempre um “agrilhoado” às correntes da sua própria dimensão de loucura e, mesmo assim, assumir-se escravo voluntário e continuar. Mas sempre teremos esse “espelho mágico” que nos mente e sempre nos dirá que das palavras não somos meros escravos ou vítimas, mas sim amantes, senhores, concubinos, mestres. Mentiras que relaxam uma consciência perdida na busca da ignorância através do refúgio da sabedoria. E se a nossa consciência descansa, o corpo, esse sucumbe, exausto perante as rotinas de um processo abençoado pela fortuna e amaldiçoado por nós. O dia em que encontrar um poeta satisfeito com a materialização da sua loucura em palavras, encontrarei alguém que desconhece completamente o significado de “ser poeta”. A insatisfação é a nossa maldição e bênção. Nunca ninguém, no seu perfeito juízo, decidiu ser poeta. Isso será sempre, consequência de uma submissão incontrolável à escravidão para se ser live.
A poesia é para os verdadeiros poetas uma escrava libertação.
Nunca seremos livres no verso e é perdidos no inverso das coisas que atingimos o nível dos profetas livres eternamente sós.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

E eu! Um poeta sem rumo ou com rumo desconhecido, com a poesia ou pela poesia um dia partirei para outra dimensão. Partirei sim Partirei! Com todos os diálogos que silenciei, com todos os poemas que matei, cheio de tudo e vazio de outro tanto. Mas enquanto aqui permanecer podem continuar a rir de mim ou para mim. Tive tudo e outro tanto já perdi. Sei que sou o que vivi e o que vivendo aprendi, ou talvez nada disso ou disso um pouco. Talvez não seja o que de mim penso ou o que pensam de mim. Serei sempre o que experimentei vivendo ou vivi sonhando, e nunca o que realizei. Sou o que ainda não sei, e por não saber quem sou, escrevo o que penso que me faz. Carrego o fardo pesado da dúvida, sei que existe uma solução para me libertar do peso desse manto, mas ainda a desconheço. Sou vítima fora de tempo, sou vítima dentro de mim.
Procurar as razões! Para que?
Se todos um dia tivemos razão e nenhum de nós individualmente a chegou a ter.
Qual razão? A minha, a vossa, a deles. Qual?
Vivo da ausência delas, cantando sensações do maravilhoso mundo que idealizo com a humilde materialização dos sentimentos que me avassalam. Tudo desconheço e por nada possuir eternamente meu, tudo o que de mim sai é o nada desnudo do muito que em mim sinto.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

Aromas da poesia inalamos em qualquer espaço ou momento, mas é aí, exactamente aí, em que morrem os mercenários e nascem os poetas, Só existe uma forma de ver o que não está à nossa frente e essa forma nunca será racional. Tudo o que resulte da razão até poderá ter o seu momento, mas nunca mais do que isso – Um momento. Para lá das montanhas sombrias da vida existem planícies plantadas de flores multicolores que devem ser cantadas, melodias que devem ser soletradas em silêncio ou em cânticos de multidões. Nunca aprendi a forma ideal de um poema. Nem quero! Nunca saberei escrever algo que não seja o reflexo das cores com que idealizo o que se coloca diante dos meus olhos. Nunca ninguém receberá de mim outra coisa do que não seja meu, não por direito próprio, mas porque a vida mo deu. Se escrevo não é porque sei ou porque deva, (estou longe de me preocupar com isso…), não é com técnica (nem sei o que isso é…). Escrevo porque estou vivo, e caminhando na minha vivência sempre existem esses momentos em que os relatos que me saem mais não são que a única forma que encontro para me explicar a mim e ao mundo. Posso até estar só! Ou por vezes com a sorte de partilhar o mesmo espaço com todos aqueles para quem a poesia são pequenos traços num quadro abastracto que imortalizou um momento.
Mas só ou com os outros loucos como eu!
Continuarei poeta, porque enquanto vivo, seguirei sonhando.

Ah meus queridos Poetas! Tanta falta fazem ao mundo, tanta falta nos fazem.

22-03-2010


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