Ombros caídos sucumbem ao peso da desistência.
Corpos cansados definham em mentes perdidas nos corredores sem a luz da esperança.
Solitárias mentes que não encontram uma razão para insistir na luta porque o vazio tomou o lugar do sonho.
Protegem-se fechando-se em si mesmos esqueçendo que o corpo sempre estará acorrentado ao mundo.
Sofrem a dor visceral do esfumar da vida por entre as mãos calejadas de marcas de tempo inútil.
Não entendem, que assim como nenhum moinho escapa à força do vento, não existe ser que esteja realmente vivo fechando as portas à vida.
Parados!
Inertes!
Querem ser diferentes do que foram, do que são.
Ter uma outra sombra a viajar com o corpo.
Mas continuam adormecidos na ideia e tapam-se com o manto do tempo.
Não é na incapacidade da afirmação da diferença que reside o seu descontentamento (tanta diferença existe por aí perdida na vulgaridade…), mas na cobardia de dizer “eu sou!”, “existo!” e vou ser igual a mim mesmo.
Ainda não compreenderam que no meio da agitação do caos quotidiano, somos original sem cópia, luz única, matéria especial!
Nunca ninguém poderá ter o nosso reflexo e suar palavras nascidas dos sonhos da nossa alma.
A nossa história sempre será, Nós!
Partamos à descoberta do universo interior como exploradores desejando vencer a desistência, dando um novo sentido á luta.
Conquistemos o território inóspito da nossa mente, despertando da sonolência que, tantas vezes, transmitimos em bocejos nascidos do ácido corrosivo do vazio.
Interroguem-se!
Que fizemos com passos perdidos na poeira de sonhos adiados esperando o despertar da alma? Para mim a resposta é fácil!
Viveram!
Todos um dia habitamos na cabana do tempo perdido, mas tempo vivido nunca será tempo perdido. Boas e más memórias fazem parte da estrada da vida. Colhemos os frutos de existir mas devemos plantar as árvores do viver.
Tantas vezes surdos pelos ruídos dos nossos silêncios, assistimos ao enfileirar nas gavetas de cartas com sonhos adiados. Livros nas estantes e nenhum escrito com o nosso punho, e passeamos pelos recantos de um espaço vazio de memórias. Tantas perguntas que nunca colocamos, tantas respostas que cobardemente evitamos, tudo deixamos ao fluir de um tempo que nos mata.
Na memória libertada dos momentos de hibernação devemos contudo tentar entender as razões da letargia que tomou conta dos bancos do jardim, onde pacientemente esperávamos o florir das flores.
É necessário questionar!
Que fizemos?
Inventando-nos em contos sem argumento, vestidos com o fato domingueiro da mediocridade.
Parando o tempo sofrendo por um diferente amanha.
Escrevendo poemas tristes, se os sentíamos com um sorriso na boca.
Vergados pela vergonha da desistência desesperando pela luta.
Sendo o rio do desnorte tendo um mar reservado.
Vítimas da inversa alquimia de sonhos extintos nos extremos de pontes que não se cruzam.
Que fizemos?
Num quarto vazio rodeados de flores frias e mortas, desejando o cansaço da atenção.
Em bares sem fome de nomes próprios sem a fusão nuclear da complementaridade.
Tapados com a nudez, acordados existindo só no sonho.
Construindo-nos de matéria transplantada que o corpo rejeitou.
Bebendo o que não mata a sede, comendo o que não alimenta.
Que fizemos?
Amando uma liberdade escrava do alheamento do mundo.
Mantendo a imagem do icebergue se tudo o que é de nós está à superfície.
Desejando uma ilha no mar tendo cidade em terra.
Esquecendo que a vida é o livro da memória, distanciando-nos do que desejávamos perto.
Com medo da queda se sempre experimentamos o perfume sagrado da terra.
Que fizemos?
Esquecendo o passado se nunca conseguimos enterrar os vivos.
Fechando os braços para o abraço se sempre deixamos livre a emoção.
Guardando beijos se a nossa alma é feita de lábios desejando o seu calor.
Deixando de amar se o amor sempre foi a janela dos devaneios da nossa loucura.
Absorvendo a superficialidade quando o eterno sempre foi a impressão digital da nossa alma
Que fizemos?
Cada um encontrará as suas questões e respostas….
Na procura da luz que nos guie para longe dos becos onde só se encontramos a parede que reflecte o oposto de nós, sempre teremos dois caminhos.
Continuar como ovelhas de um rebanho ordeiro, seguindo os passos de um pastor com todos os projectos empacotados na dispensa da memória, ou assumir que não vale a pena viver qualquer tempo que seja dedicado a enganar a nossa essência.
Deixar de tentar enganar a nossa alma é compreender que apesar de todos os erráticos caminhos percorridos, seremos sempre capazes de conduzir a folha de Outono que nos sentimos, até ao repouso desse segundo do lançamento da âncora do “eu” perpétuo.
Basta apenas um instante para tudo perder ou tudo recomeçar! É assim! Tudo se joga na roleta da vida. Mais tarde ou mais cedo chegará o nosso destino, qualquer que ele seja.
Acreditemos! Pois ele pode ser o eco do grito de quem disparou a arma três vezes, mas sobreviveu, e renasceu afastado da medonha rotina imposta por uma consciência adormecida.
É tempo de passar o testemunho para outras mãos, essas que se encarregarão de enxertar os pedaços perdidos nos cantos onde escondemos as consequências da nossa apatia. A mudança impõe-se por respeito a nós, mas sobretudo à vida.
Gostaria de dizer que é fácil, mas não é!
A vida tem tudo para nos dar mas muito para nos magoar.
Pensam que não são capazes? Acreditem ou mintam as vezes necessárias para acreditar na mentira!
Exijam alcançar mais que o comprimento dos vossos braços e ver além do que os vossos olhos permitam. Desejos rasos em sonhos de mendigo só conduzem à mediania. Pensem o tudo e sonhem para além disso. Não existe outro motor da mudança, outra fonte de energia, que não seja esse dínamo construído com as ferramentas interiores da nossa convicção. Acreditem que estão prontos para iniciar o resto da vossa jornada como almas livres, e deixem-se viajar na rima dos versos que a liberdade escreverá.
Acordem as estrelas que povoam o vosso infinito esplendor, e deixem que a vossa cidade se ilumine de todas as dúvidas! Elas trarão a revelação de todos os mistérios do vosso mistério, caminho único para a construção da silhueta com a qual sairão finalmente para o mundo vestidos de vós.
Tenham a calma que a perfeição exige! E a pressa de emergir de tudo onde antes reinava a calma.
A vida é rápida eu sei!
Mas tudo dura o suficiente para poder ser eterno.
Apressem-se nos caminhos e tropeçarão na realidade, permaneçam parados e perderão a vida. Digam à "pressa" para correr devagarinho e à "calma" que nunca se esqueça que tem "pressa".
Avancem! Não existe querer que não custe, fazer sem falhas, sentir que não doa, dor que não passe, beleza que não acabe, saber sem dúvida, estrelas que não morram, fim sem saudade, inicio sem incerteza, conhecido sem desconhecido, felicidade sem luta.
Não existe lei!
Não existe remédio!
Existe esse caminho que nos trará o dia em que, longe de todos os cansaços, dançaremos a valsa da mente livre e partiremos para o inicio do resto de nós.
Talvez nos cruzemos no resto de mim.
05-07-2009