Poesia e pensamentos livres



Habito em destinos cujos passos não entendo.
Rostos de solidão indiferentes carregam o desencanto.
Sou verdade, e o mundo não me vê.
Nada espero, simplesmente observo.
Esperanças prostadas diante do medo.
Revolta pronta a explodir ao mais pequeno incentivo.
Emoções hipocritamente desatentas.
Ignoram-me por todos os motivos inúteis,
E eu nem tento disfarçar o quanto não me importo.
Sim!
Existe um mundo lá fora, que não me vê.
Não sou fruto do óbvio nem produto do correto.
Nada me devem e dentro de mim devo-me tudo.
Não me revejo no alheio incompleto.
Nem sofro desse desassossego.
Existimos em horas diferentes.
Eu sou pontual no meu tempo.
Eles esperam por um tempo que possam chamar seu.
Vou continuar aqui!
Noutro qualquer lugar nada seria diferente.
Só o lixo abandonado segue as correntes do mar.
E o errado nunca poderá dar certo.
Não sou a culpa que carregam.
Não sou a saudade que escondem.
Não sou o remorso que lhes mata a consciência.
Não sou o tempo perdido que lhes carrega a face.
Não sou o rosário onde depositam a esperança.
Continuarei cantando o meu fado em silêncio.
Não quero medidas, proporções, chaves ou chavões.
Sou pássaro livre que se aventura em céus desconhecidos.
Sou alma nua e só assim me conheço.
Se me querem sentir,
Libertem todos os rostos que escondem.
Dispam-se das roupas incertas e inexatas do medo.
Adormeçam ao vento com a lucidez dessa escolha.
E celebrem comigo um dia que não morreu.
A minha sombra não tem cor diferente de todas as outras.
Talvez a encontrem.
Quem sabe, agora.

24 - fevereiro - 2019



A minha mãe morreu em maio de 2017 aos 87 anos e o meu pai em Março de 2018 aos 92.
Estiveram 60 anos juntos, uma vida cheia de dificuldades como ninguém imagina, mas estiveram juntos até ao fim.
O meu pai morreu na minha companhia, e nos últimos tempos, a referir constantemente que não podia ficar mais tempo por "cá" porque tinha alguém à espera dele.
Deixou-me um papel escrito, uma mensagem para a sua esposa e companheira de viajem, a Celeste, a minha mãe.

A mensagem na sua lápide pretende ser fiel à substância que esta mensagem transmitia.


Amei a quem para mim tudo foi.
E quando tudo já não estava,
parti com a dor que já não dói,
e na dor que deixei abençoada,
senti a alegria de voltar a abraçar,
a quem tudo, pela vida, a morte dava.
Porque hoje é outro dia, volto a amar,
caminhando com quem, já só sonhava.

11-07-2018

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