Poesia e pensamentos livres


Faz hoje em silêncio o balanço de mais um efémero tempo
No horizonte murmúrios de uma vida nem sempre partilhada
Confundem-se com momentos que geram o nobre sentimento
De que esta vida é curta mas uma bela e fantástica caminhada

Retrato singelo de ser humano pintado em aguarela intemporal
Com cores de sonhos resistentes à guilhotina do esquecimento
Pinceladas com simplicidade e espontaneidade sempre natural
Numa moldura dourada em que a beleza é o único elemento

Aquela luz que irradia e que pela vida fora a irá acompanhar
Brilha à sua volta iluminando os caminhos que irá percorrer
E através dela conseguirá com toda a naturalidade encontrar
O que nesta jornada finita ainda continua a desejar poder ter

Lá no íntimo do seu ser encontramos uma natureza já perdida
Onde tudo coexiste de forma pura que na nossa alma nos toca
Neste dia uma saudação sentida de quem como ela ama a vida
E todas as emoções e sentimentos que esta sempre provoca

Nos tempos em sinta que a noite teimosamente não desfalece
E em que nela se instalem angustias e desmedidos lamentos
Sentirá a presença da amizade preocupada que não adormece
Pelas insónias nascidas no sentir amigos em difíceis momentos

Hoje pedimos simplesmente que escreva no seu diário secreto
A quem cada momento mágico vivido isoladamente confidencia
Que em cada dia que o seu ser se sinta sozinho e incompleto
Seremos nós a provar-lhe quão lindo é o raiar de cada dia


Sonhando...
Sonhando pedir-te aceitares um sonho, ou um manuscrito.
Podias continuar aqui, podias mesmo ser minha recordação,
Estou recordando o que nunca existiu,
As letras que não te escrevi, jazem de arrependimento...
Abortadas na paixão que não te confessaram.
Aqui,
Na ilusão duma imagem desfeita e sem passado,
Uma espiral sem fim no fumo do meu cigarro...
Conclusão de nadas ressurgidos e vividos,,,
Síntese de um sonho inacabado...
Interrompido no seu começo,
E eu sonho sonhando contigo...
Os teus lábios,
Feitos de um tom cativante,
De uma sensualidade desejada...
Brincam com o desejo,
Da noite que não tiveram,
Ou somente...
Das noites que inventaram!
As tuas palavras...ou não!...
Não!
Não eram as tuas palavras, nem as minhas,
Era apenas a abundância de dizê-las...
Olho-me e pergunto,
De onde te conheço?
Angustia tornada alma, e em pecado por redimir...
Olho-te,
Numa manhã fria...
Fria a manhã...
Fria a cor...
Fria a certeza do inabalável...
Fria a minha alma a cristalizar-se, no frio,
No meu olhar, fria é a frieza dum futuro...
Porque estivemos nós ali?...
Ali,
Naquele bar ao dobrar a esquina,
Impondo caminhos aos nossos destinos...
Mudando trajectos na viagem da vida!
Beleza inimaginável…….
Sim,
E se estivéssemos lá fora?
Na rua...do lado de fora da cela da vida...
Desenvolvem-se nos restos que sobraram
Imagens gravadas na alma
Cenários irreais ou realidades feridas de morte……
Olho-me
...E é nas minhas letras de um diário que ainda não tenho,
Que talvez preencha as minhas recordações antecipadas,
Ou pensamentos...
Ou sentimentos...
Ou, quem sabe...
Previsões nascidas e embaladas!
Sobre o meu incerto futuro




Naquela manhã...
Estúpido mas inevitável encontro...
Fecho os olhos!
Sinto-me intensamente escavado e rebuscado no meu interior.
O desespero das nossas mãos... a mágoa em aflição dos nossos lábios, procurando-se na angústia da cruel certeza que tu própria ditaras...
Tal como um passageiro clandestino julga ter o direito de parar a viagem...
Lembras-te?
Foi no beijo instintivo e animal que demos, exactamente aí, que procurámos tudo e quisemos tudo.
Encontrámo-nos já nem sei onde, num simples cruzar de vidas...
Ninguém sabia de onde vinha nem para onde ia, apenas buscava algo, num chamamento desconhecido.
Não me recordo do momento despido do teu beijo, nem do aroma dilatado do teu corpo.
Vejo apenas e depois, a união casual dos nossos corpos a fundirem-se.
Poesia...
Narração sentimental e quente do abraço dos nossos seres.
Apelo do inconsciente...
Vindo, de um sonho húmido e fugaz...
Limite de um momento!
No espaço inesperado dum gemido, mais um beijo aconteceu, simplesmente...
Ao sabor dos delírios sensuais, num nascer irreflectido do prazer.
Lembras-te?...
Depois saíste!
Deixaste os teus beijos, prostituidos mas desejados...
A recordação de um quarto profanado envolto em memórias sensuais.
Saíste!...
Lembro-me ainda de te ver sorrir para aquela recordação da minha imagem...
Foi um pecado, sabes?
Tudo isso foi um pecado...
Um pecado virgem, imaturo, precocemente alimentado e construído...
Mas sobretudo, um pecado querido aquele que vivemos e sonhámos, sonhando vivê-lo.
Um gesto cego de viver a vida e a felicidade.
O futuro...
Esse, perdemo-lo porque nunca o desejámos nosso
...
Nós
(hoje sei porquê, distintamente)
Nem sequer dissemos adeus!
Há paixões que desaguam na vida
E às quais porque únicas
Matamos antes de nascer….
Para que fique a eternidade, a eternidade do momento...
E tudo o resto esquecemos.




Aqueles que navegam num mundo de claras verdades
Desconhecem que certezas são questão do momento
Aliam ao desconhecimento infundamentadas vaidades
E permanecerão na história no pedestal do esquecimento

Estes virtuais iluminados que vivem na convicção
De que suas palavras são inequívocas sentenças
Um dia descobrirão que entre presunção e imaginação
Permanece a verdade que destruirá as suas crenças

Não aniquilarão nunca a certeza que existe em alguém
Que por experiência de vida tem hoje certo e seguro
Que a duvida é a unica fonte donde o conhecimento vem
E que a única verdade certa vem com o incerto futuro

E todos os que pensarem que são donos da verdade
Poderão de uma forma simples começar a entender
Que a cegueira que não lhes permite ver a realidade
Parte da arrogância de quem de facto não quer ver

Que nesta viajem fantástica a que chamamos de vida
Certo é que o conhecimento provém da circunstância
De que por cada grama de uma sabedoria apreendida
Ganharemos muitos quilos da mais límpida ignorância



Numa folha colorida
De uma vida arrancada
Vou cantar um hino à vida
Vou compor uma balada

Sons de cantor sem voz
Que da vida faz canção
Num ritmo sempre veloz
Sem qualquer diapasão

Neste trotear de sons
Uma música já ecoa
Não interessam os acordes
Se a palavra for boa

A vida é pássaro ferido
Num imenso vendaval
É um barco perdido
Num enorme temporal

É flor que desespera
Pelo seu raio de luz
É lavrador que espera
Pelo que a terra produz

É sentir-se exilado
Numa terra num país
E sentir-se abandonado
Por quem mais nos diz

São conquistas guardadas
Por temor ou por opção
Por armas disparadas
Com a nossa própria mão

Mesmo que sintamos frio
É preciso não esquecer
Que podemos ser um rio
Que desagua onde quer

É um mar de almas livres
Continuamente a crescer
Que das memórias faz livros
Para que possamos ler

É um palco de esperança
Para quem com vontade
Quiser ser como a criança
Que só sente liberdade

É um belo e imenso mar
Fluindo sem barreiras
Onde temos que nadar
De variadas maneiras

Por vezes é perseguida
Pela força do mais forte
Mas a força desta vida
É maior que a sua morte

Mesmo que tenha passado
Sem que tenhamos conseguido
O que teríamos desejado
Nela ter construído

E por isso ter que pagar
Com lágrimas derramadas
O preço de carregar
Vidas não desejadas

Pensem muito claramente
E com os cinco sentidos
Que no meio de tanta gente
Um dia estivemos vivos

E enquanto respiramos
Saiámos desse coma profundo
De não ser quem desejamos
E lutemos por esse mundo

E se em qualquer canção
Existe sempre um refrão
Esta é a excepção
Que à regra dá razão

24/08/2009



Momentos, tempos de introspecção...
Pela noite vagueio na escuridão da insolência folgando o corpo fatigado de insanidades. Ostento o pudor da minha vislumbrância e o fulgor dum corpo remexido a madrugada. Meus olhos brilham cores sangrentas como bandeiras duma guerra perdida. De tão longe chegam estes sons entorpecidos, vozes plangentes que clamam a retumbância de tambores vazios.
Este meu jeito às avessas de fazer as coisas... Essa tortura, a demora por entender-me – uma brasa dormente, um desejo escondido, gota de sangue guardada num qualquer canto de um corpo que não me pertence.
Confusão! Descuido bem cuidado, perda... estranheza às vezes absurda.
Mas é assim que eu, um bicho arisco, assustado, grito minha vida na timidez das palavras, pisar no lodo, chafurdar na lama, cara no vento flauteando flores, inocência... não saber de amores... não se queimar na perigosa chama...
Pular, correr, viver com desatino, livre, sem dor, ansiedades...
Não ter paixões... jamais sentir saudade!
Apreciar a vida simples de menino: Pião na mão e nunca pensar..., viver na brincadeira, nunca guardar rancores ou lembrança.
Vivo esta minha vontade de ser criança!
Pela manhã quanta metafísica existe no viver inconsequente, no voar tão sem propósito desses pequeninos pássaros matutinos tão ingénuos e tão tolinhos! Não, não me atormentem mais com inúteis e complicadas questões existenciais, a vida é em si mesma a única questão incompreensível que tanto insisti em interpretar num rosto que jamais vi, como um retrato do Profeta que jamais foi pintado.
Uma alma sem corpo, sangue sem vida, desejos íntimos e sonhos secretos trancados na antessala da luz no limiar duma consciência que jamais encontro.
Amanheci abrindo a porta do mistério no qual guardo a minha vida enquanto durmo, procurando nele o meu sorriso matutino, meu olhar sereno e deslumbrante, minha intenção mais genuína e solidária, e também, minha alegria renascida.
Mas por mais que busque nas gavetas e nos restos da noite que finda, nada achei pendurado nos cabides a não ser a lembrança de outros tempos e - atónito ante a ausência de mim mesmo, sentindo-me num beco sem saída - apertei o gatilho da memória, e correndo até o espelho da esperança, meti nele minha sombra amarrotada e lá estou, esperando-me sentado até a hora de voltar, nem sei de onde.
A nuvem veio e o sol parou.
No intervalo da sombra quantos pensamentos houveram?
Quanto esqueci, quanto sonhei?
Na volta da luz, fuga da nuvem não foi mais eu que o sol iluminou.
O que vemos das coisas são as coisas. Não há sentidos ocultos, nem segundas intenções na natureza.
Há somente uma certeza: tudo está sendo o que realmente é!
Acordo de noite subitamente. No cais da escuridão sem limites, não há portos de luz nem palavras. É como se a vida fizesse um intervalo, um corte no seu ciclo de horas, na sofreguidão do dia.
Acordo de noite subitamente como se acorda na morte. Temo o destino nada é certo as tragédias sobrevêm em marés e a razão não explica o mundo.
Um plano de mistérios foi arquitectado por alguém que não sonha como nós e não tem qualquer compromisso com a poesia. Sinto possível o ser um sonho de outrem numa noite mal dormida: quando acordar desaparecerei como uma nuvem e o amanhecer do seu dia será a minha morte. Num espaço falso entre o que fui e o que sou, perduram as frases que eu não disse, aqueles gestos que eu não quis fazer, e toda a história da minha vida que o destino não pôde escrever.
Mas se te dei algum contentamento e, se algum dia em algum momento, me vistes como meu coração me vê e eu não mais sinto, guarda de mim como eu guardarei de ti pela eternidade, pequenos fragmentos de saudade deste sangue que um dia teve corpo, deste ser que voou nas asas dos teus sonhos, desta criança que perdida na sua caixa de brinquedos perdeu o seu verdadeiro sangue, sangue dos que me amavam e que qual tirano ousei derramar.
E todas as manhãs do resto dos nossos tempos, que as nossas almas partam eternamente em busca de novas esperanças, sejam elas qual forem, e quem sabe um dia descobrirei que o errado não foi pensar que não te amava, mas sim que poderia algum dia ousar pensar viver sem ti.
E nessa manhã serena talvez nos encontraremos outra vez como seres que nasceram para partilhar a aurora de uma juventude forjada na agonia do desejo de nunca estarmos ausentes.
Isso se nesse dia o nosso verdadeiro sangue não pertencer a outros corpos



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