Poesia e pensamentos livres

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Naquela manhã...
Estúpido mas inevitável encontro...
Fecho os olhos!
Sinto-me intensamente escavado e rebuscado no meu interior.
O desespero das nossas mãos... a mágoa em aflição dos nossos lábios, procurando-se na angústia da cruel certeza que tu própria ditaras...
Tal como um passageiro clandestino julga ter o direito de parar a viagem...
Lembras-te?
Foi no beijo instintivo e animal que demos, exactamente aí, que procurámos tudo e quisemos tudo.
Encontrámo-nos já nem sei onde, num simples cruzar de vidas...
Ninguém sabia de onde vinha nem para onde ia, apenas buscava algo, num chamamento desconhecido.
Não me recordo do momento despido do teu beijo, nem do aroma dilatado do teu corpo.
Vejo apenas e depois, a união casual dos nossos corpos a fundirem-se.
Poesia...
Narração sentimental e quente do abraço dos nossos seres.
Apelo do inconsciente...
Vindo, de um sonho húmido e fugaz...
Limite de um momento!
No espaço inesperado dum gemido, mais um beijo aconteceu, simplesmente...
Ao sabor dos delírios sensuais, num nascer irreflectido do prazer.
Lembras-te?...
Depois saíste!
Deixaste os teus beijos, prostituidos mas desejados...
A recordação de um quarto profanado envolto em memórias sensuais.
Saíste!...
Lembro-me ainda de te ver sorrir para aquela recordação da minha imagem...
Foi um pecado, sabes?
Tudo isso foi um pecado...
Um pecado virgem, imaturo, precocemente alimentado e construído...
Mas sobretudo, um pecado querido aquele que vivemos e sonhámos, sonhando vivê-lo.
Um gesto cego de viver a vida e a felicidade.
O futuro...
Esse, perdemo-lo porque nunca o desejámos nosso
...
Nós
(hoje sei porquê, distintamente)
Nem sequer dissemos adeus!
Há paixões que desaguam na vida
E às quais porque únicas
Matamos antes de nascer….
Para que fique a eternidade, a eternidade do momento...
E tudo o resto esquecemos.




Aqueles que navegam num mundo de claras verdades
Desconhecem que certezas são questão do momento
Aliam ao desconhecimento infundamentadas vaidades
E permanecerão na história no pedestal do esquecimento

Estes virtuais iluminados que vivem na convicção
De que suas palavras são inequívocas sentenças
Um dia descobrirão que entre presunção e imaginação
Permanece a verdade que destruirá as suas crenças

Não aniquilarão nunca a certeza que existe em alguém
Que por experiência de vida tem hoje certo e seguro
Que a duvida é a unica fonte donde o conhecimento vem
E que a única verdade certa vem com o incerto futuro

E todos os que pensarem que são donos da verdade
Poderão de uma forma simples começar a entender
Que a cegueira que não lhes permite ver a realidade
Parte da arrogância de quem de facto não quer ver

Que nesta viajem fantástica a que chamamos de vida
Certo é que o conhecimento provém da circunstância
De que por cada grama de uma sabedoria apreendida
Ganharemos muitos quilos da mais límpida ignorância




Momentos, tempos de introspecção...
Pela noite vagueio na escuridão da insolência folgando o corpo fatigado de insanidades. Ostento o pudor da minha vislumbrância e o fulgor dum corpo remexido a madrugada. Meus olhos brilham cores sangrentas como bandeiras duma guerra perdida. De tão longe chegam estes sons entorpecidos, vozes plangentes que clamam a retumbância de tambores vazios.
Este meu jeito às avessas de fazer as coisas... Essa tortura, a demora por entender-me – uma brasa dormente, um desejo escondido, gota de sangue guardada num qualquer canto de um corpo que não me pertence.
Confusão! Descuido bem cuidado, perda... estranheza às vezes absurda.
Mas é assim que eu, um bicho arisco, assustado, grito minha vida na timidez das palavras, pisar no lodo, chafurdar na lama, cara no vento flauteando flores, inocência... não saber de amores... não se queimar na perigosa chama...
Pular, correr, viver com desatino, livre, sem dor, ansiedades...
Não ter paixões... jamais sentir saudade!
Apreciar a vida simples de menino: Pião na mão e nunca pensar..., viver na brincadeira, nunca guardar rancores ou lembrança.
Vivo esta minha vontade de ser criança!
Pela manhã quanta metafísica existe no viver inconsequente, no voar tão sem propósito desses pequeninos pássaros matutinos tão ingénuos e tão tolinhos! Não, não me atormentem mais com inúteis e complicadas questões existenciais, a vida é em si mesma a única questão incompreensível que tanto insisti em interpretar num rosto que jamais vi, como um retrato do Profeta que jamais foi pintado.
Uma alma sem corpo, sangue sem vida, desejos íntimos e sonhos secretos trancados na antessala da luz no limiar duma consciência que jamais encontro.
Amanheci abrindo a porta do mistério no qual guardo a minha vida enquanto durmo, procurando nele o meu sorriso matutino, meu olhar sereno e deslumbrante, minha intenção mais genuína e solidária, e também, minha alegria renascida.
Mas por mais que busque nas gavetas e nos restos da noite que finda, nada achei pendurado nos cabides a não ser a lembrança de outros tempos e - atónito ante a ausência de mim mesmo, sentindo-me num beco sem saída - apertei o gatilho da memória, e correndo até o espelho da esperança, meti nele minha sombra amarrotada e lá estou, esperando-me sentado até a hora de voltar, nem sei de onde.
A nuvem veio e o sol parou.
No intervalo da sombra quantos pensamentos houveram?
Quanto esqueci, quanto sonhei?
Na volta da luz, fuga da nuvem não foi mais eu que o sol iluminou.
O que vemos das coisas são as coisas. Não há sentidos ocultos, nem segundas intenções na natureza.
Há somente uma certeza: tudo está sendo o que realmente é!
Acordo de noite subitamente. No cais da escuridão sem limites, não há portos de luz nem palavras. É como se a vida fizesse um intervalo, um corte no seu ciclo de horas, na sofreguidão do dia.
Acordo de noite subitamente como se acorda na morte. Temo o destino nada é certo as tragédias sobrevêm em marés e a razão não explica o mundo.
Um plano de mistérios foi arquitectado por alguém que não sonha como nós e não tem qualquer compromisso com a poesia. Sinto possível o ser um sonho de outrem numa noite mal dormida: quando acordar desaparecerei como uma nuvem e o amanhecer do seu dia será a minha morte. Num espaço falso entre o que fui e o que sou, perduram as frases que eu não disse, aqueles gestos que eu não quis fazer, e toda a história da minha vida que o destino não pôde escrever.
Mas se te dei algum contentamento e, se algum dia em algum momento, me vistes como meu coração me vê e eu não mais sinto, guarda de mim como eu guardarei de ti pela eternidade, pequenos fragmentos de saudade deste sangue que um dia teve corpo, deste ser que voou nas asas dos teus sonhos, desta criança que perdida na sua caixa de brinquedos perdeu o seu verdadeiro sangue, sangue dos que me amavam e que qual tirano ousei derramar.
E todas as manhãs do resto dos nossos tempos, que as nossas almas partam eternamente em busca de novas esperanças, sejam elas qual forem, e quem sabe um dia descobrirei que o errado não foi pensar que não te amava, mas sim que poderia algum dia ousar pensar viver sem ti.
E nessa manhã serena talvez nos encontraremos outra vez como seres que nasceram para partilhar a aurora de uma juventude forjada na agonia do desejo de nunca estarmos ausentes.
Isso se nesse dia o nosso verdadeiro sangue não pertencer a outros corpos




Gosto de passear em ruas desertas nas horas estupidamente mortas das gentes, estar preso ao chão libertando pensamentos nos silêncios de uma cidade vazia.
Despir-me da roupa que veste os preconceitos e falar para todos os ausentes, porque as vozes que tenho dentro são gritos de força, liberdade e poesia.
Um lamento que não solto, um medo que não digo, uma lágrima num breve espasmo.
Fascina-me os caminhos da escrita, mas como escrever se de nada estou seguro?
Tenho urgência das palavras como a angústia que se solta no momento do orgasmo.Quando escrevo duvido, desconheço meus limites, mas nestas minhas ausências no universo das letras, todos os meus sentidos absorvem pedaços de vida dispersos que pinto num papel com alma.
Sou composto por urgências, por verdades desequilibradas, por emoções intensas, coloco-me em exílio voluntário, mas na minha alma explodem todos os mais belos sonhos da vida.Sou dominado por sentimentos que nascem em desconhecidas fontes inesgotáveis, por mais poesias frustradas que possa escrever.Sou um náufrago condenado a viver numa ilha banhada pelo mar turbulento da realidade, sem qualquer esperança de vir a ser descoberto através das ideias.Mas o importante não é escrever mas sentir!
Como qualquer louco continuo a acreditar que momentos de irreal paixão, são filhos adoptivos da nossa realidade e pais legítimos da nossa essência.
Fora da agitação das multidões, só! Intensamente só com a minha complicada mente, caminho tranquilamente procurando uma estrada com o meu nome gravado.
Escrevo e não peço menos que o infinito.
Vivo entre a lucidez e a loucura.
Sou um sem abrigo, desterrado, que nos sentimentos faz turismo.
Tudo o que é obscuro tem para mim a beleza inigualável do incerto.
Agora apetece-me mandar passear os pensamentos, apagar as ideias luminosas e fazer voto de silêncio.
Não pretendo ser mais um entre iguais, porque isso é ser nada!
Nivelado, raso!.
Nunca serei mestre.
"Grande não é o poeta e sempre será a poesia".

E revisitando Descarte “Penso logo existo” eu digo “Penso e como cansa! ”
E por isso vou descansar! Mais tarde eu volto a existir.

11-11-2010


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