Poesia e pensamentos livres

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Tenho-te aqui, para mim, a tempo inteiro, neste espaço como qualquer outro, mas especial para nós. Um lugar sem mascaras, sem tabus, onde libertamos a mente e o corpo, onde abríamos a nossa alma aos sonhos e nos deixamos invadir por sensações que experimentamos sem hipócritas vergonhas, falsos pudores ou dispensáveis medos.
Tenho-te aqui, perdida nessa fronteira entre consciente e inconsciente, de alma despida entregando-te a mim como te entregas a ti própria, enlouquecendo uma anatomia que não se importa com mais nada, com absolutamente mais coisa nenhuma.
AH! Se pudesses por um momento viajar em mim, entrar no âmago do meu pensamento, percorrer as minhas fantasias, nesse momento saberias! Não! Não quero a tua alma – esse ser invisível que nem sempre entendo –. Quero o teu corpo! Esse retiro de sensualidade, no qual renasço e com o qual sempre experimento o mais perfeito dos entendimentos.
Quero ser esse viajante que trespassou os céus, cruzou os desertos, enfrentou a profundeza dos oceanos, e agora descansa. Descansa sem pressa de nova partida, descansa num corpo que tocará como tocou as nuvens, que trespassará como trespassou os oceanos, que beberá saciando a sua sede como o fez nesses oásis que o mantiveram vivo no deserto.
Observo o teu corpo despido, prostrado nesse leito mágico onde se fundem as almas. Sussurras algumas palavras num tom suave, pausado, não escuto, mas os meus lábios fazem esses gestos de quem tudo entendeu (sorrio para ti), mas continuo com os olhos fechados, imaginando-te como se não estivesses ali, procurando-te no infinito, sonhando-te antes de te ter. E nessa clarividente cegueira, fundo-me no teu corpo com a mesma intensidade com que o sol aquece a madrugada, perco-me na tua pele como uma frágil abelha se perde à procura do mel nas pétalas da mais preciosa flor. Fico sem reacção quando me tocas como quando somos apanhados por uma tempestade inesperada que nos imunda até a alma. Percorro as tuas entranhas como um rio que desagua no mar e nele se funde como parte de um todo inseparável e sou essa peça de um puzzle que encaixa perfeita nas outras, sem espaços, sem brechas por onde possa passar um pequeno raio de luz.
Abro os olhos, e vejo o teu corpo, sou invadido por essa necessidade de partir, de cruzar essa ponte entre a angústia e a evasão. Iniciar essa viajem onde esquecemos o tempo lá fora, esse tempo que agora é o ritmo dos meus dedos deslizando sobre a tua pele macia, das palavras sussurradas, da paixão que flúi de um ser para outro ser, de energias que se esgotam lentamente no interior de dois corpos.
Tomo-te minha. Elevo os teus seios a colinas, onde o prazer se reclina dócil e desço as minhas mãos suavemente no teu corpo trémulo, ofegante, que se entrega numa rendição Incondicional nesse espaço de suada eternidade. Deixa-me perder-me devagarinho na maciez do teu corpo como se entrasse num palácio forrado da mais fina seda. Sente os aromas do meu desejo a impregnar todos os pontos que toco do teu corpo. Quero sentir a implosão do universo nessas paredes que tremem e pulsam como se conquistadas por um exército silencioso. Serás minha nesse vislumbre de infinito, e nesse momento parado, sem tempo, seremos: conquistador e conquistado, rei e servo, vencedor e vencido, senhor e mendigo, predador e presa, singular e plural, tudo e nada, todos os seres do mundo e apenas nós.
Arranca-me às minhas próprias entranhas para te verter nas tuas, como o fruto que penetra na terra feita semente de todos os inícios. Toma-me! Liberta-te em mim como se todos os teus átomos se desagregassem no teu grito de libertação, descanso desta guerra confinada a esse exíguo espaço onde só existimos tu e eu e o desejo de esquecer a realidade lá fora.
Dá-me! Sim quero receber o que de mais belo me podes dar. Liberta-te! E descansa com o que de melhor existe em mim percorrendo as profundezas do teu ser. Entrega-te, e abraça-me no teu grito, porque nesse momento eu serei a noite última e primeira do teu destino, o teu verso de eternidade, o teu silêncio de liberdade o teu instante de profunda paz.

Não! Não vou partir, não vou escapar deste leito encharcado onde descansamos. Quando o teu primeiro suspiro se pronunciar suave pela manhã, partirei, levantarei a âncora das memórias do vivido, mas será tarde demais, estarei para sempre prisioneiro da esperança de me perder outra vez em mim mesmo e em ti.

29-07-2008


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