Poesia e pensamentos livres



Poema à minha Mãe


Não que o sangue me obrigue
Aqui a deixar um lamento
Nem obrigação que me ligue
A tão nobre sentimento

Não é laço que me move
A expressar a gratidão
Por quem agora não pode
Agarrar a minha mão

Há sempre um dia de alguém
Quando a alma tem memória
O sonho não esquece ninguém
Que criou a nossa história

Não me cuidaste por pena
Não me amaste por dever
Deste-me tua voz serena
Quando a dor veio bater

Deste-me a esperança
Quando eu me abandonei
Deixaste que fosse a criança
Que para o mundo eu criei

Lutaste por um futuro
Que para ti não sonhaste
E trabalhaste bem duro
Pelo que em mim deixaste

Tem por certo na distância
Que cada vitória obtida
Só celebra a importância
Dos teus passos nesta vida

Não te deixo a mensagem
Que o momento pedia
Nem engenho nem coragem
Esta alma ousaria
Minha mãe sou tua imagem
Nesta vida, em cada dia

Plácido De Oliveira
03-05-2020

Em cada dia percorro
Por onde a vida levar
Em cada dia eu morro
para a vida regressar

entro nela devagar
Sem o cansaço da pressa
Sou criança a sonhar
que ao jardim regressa

acordo e desejo o começo
caminho seguro de mim
se o começo tem preço
abraço um novo fim

Meu amor é verdadeiro
Caminha com a verdade
Sinto tudo por inteiro
Nada quero por metade

Cada dia uma aventura
Nada tenho por seguro
A vida é a minha cura
Enquanto tenho futuro

Espero sem desejar
Vivo sem querer pensar
Amo sem nunca ter
Uma alma em que viver

Não quero estar parado
Porque a vida assim me fez
com um passo acelerado
vivo um dia de cava vez

adormeço sossegado
por tudo o que vivi
acordo sempre curioso
pelo que não descobri

cada dia um despertar
um eterno recomeço
tanto pelo que lutar
para ter o que mereço

e sei que é tão pouco
que caminho no incerto
um dia eu sei que encontro
a vida com rumo certo

no dia em que parar
tenho certo e seguro
nada mais posso dar
a morte não dá futuro

A mudança é movimento
Não tem sucesso ou fracasso
que nos tire o encantamento
de viver a cada passo.

Regresso sempre devagar
Sem o cansaço da pressa
Sou criança a sonhar
que ao jardim regressa

Passa o tempo e a vontade
Passa a vida e a razão
Passa tudo quanto queremos
Na palma da nossa mão

















Habito em destinos cujos passos não entendo.
Rostos de solidão indiferentes carregam o desencanto.
Sou verdade, e o mundo não me vê.
Nada espero, simplesmente observo.
Esperanças prostadas diante do medo.
Revolta pronta a explodir ao mais pequeno incentivo.
Emoções hipocritamente desatentas.
Ignoram-me por todos os motivos inúteis,
E eu nem tento disfarçar o quanto não me importo.
Sim!
Existe um mundo lá fora, que não me vê.
Não sou fruto do óbvio nem produto do correto.
Nada me devem e dentro de mim devo-me tudo.
Não me revejo no alheio incompleto.
Nem sofro desse desassossego.
Existimos em horas diferentes.
Eu sou pontual no meu tempo.
Eles esperam por um tempo que possam chamar seu.
Vou continuar aqui!
Noutro qualquer lugar nada seria diferente.
Só o lixo abandonado segue as correntes do mar.
E o errado nunca poderá dar certo.
Não sou a culpa que carregam.
Não sou a saudade que escondem.
Não sou o remorso que lhes mata a consciência.
Não sou o tempo perdido que lhes carrega a face.
Não sou o rosário onde depositam a esperança.
Continuarei cantando o meu fado em silêncio.
Não quero medidas, proporções, chaves ou chavões.
Sou pássaro livre que se aventura em céus desconhecidos.
Sou alma nua e só assim me conheço.
Se me querem sentir,
Libertem todos os rostos que escondem.
Dispam-se das roupas incertas e inexatas do medo.
Adormeçam ao vento com a lucidez dessa escolha.
E celebrem comigo um dia que não morreu.
A minha sombra não tem cor diferente de todas as outras.
Talvez a encontrem.
Quem sabe, agora.

24 - fevereiro - 2019



A minha mãe morreu em maio de 2017 aos 87 anos e o meu pai em Março de 2018 aos 92.
Estiveram 60 anos juntos, uma vida cheia de dificuldades como ninguém imagina, mas estiveram juntos até ao fim.
O meu pai morreu na minha companhia, e nos últimos tempos, a referir constantemente que não podia ficar mais tempo por "cá" porque tinha alguém à espera dele.
Deixou-me um papel escrito, uma mensagem para a sua esposa e companheira de viajem, a Celeste, a minha mãe.

A mensagem na sua lápide pretende ser fiel à substância que esta mensagem transmitia.


Amei a quem para mim tudo foi.
E quando tudo já não estava,
parti com a dor que já não dói,
e na dor que deixei abençoada,
senti a alegria de voltar a abraçar,
a quem tudo, pela vida, a morte dava.
Porque hoje é outro dia, volto a amar,
caminhando com quem, já só sonhava.

11-07-2018



Perdi-te!
De tão profundo que foi este meu não querer, só me encontrei no teu adeus.
Esqueci-me de ti nas pequenas e grandes coisas, nessa solidão estúpida em que sou sombra do teu sonho.
Fiz de errante ilusão a razão da minha invisibilidade.
Não duraste! Nada dura em mim mais que o fácil com a duração do pouco.
Na pele suam todos os silêncios de vozes que não me pertencem.
De dia sou nulidade, de noite não sou de um lugar nem de outro.
E no resto do tempo vivo tentando chegar às margens de ti.
Como não te posso esperar, se todo o meu tempo é saudade.
Sem ti não sou palavra, nem poema, nem absolutamente nada que valha a pena.
Como explicar-te!
Que a tua ausência não cabe em mim.
Que me dói o fim de um querer que permitiu a perda.
Que só existo na metade da vida que não inventei.
No púlpito da minha ignorância sou mero escravo de mãos ausentes.
Não te valorizei e nos teus restos não encontro forma de ser sozinho.
A minha solidão só em ti encontra adequada companhia.
Nunca escutei nem conversei com os teus segredos.
E sempre o meu egoísmo me exigiu ser parte deles.
No que não te disse acabei por falar o que devia ter calado.
Perdoa-me! A imperfeição de ter vivido para a minha criação e não para mim.
Que se eu fui assim planeado quero o resto de mim que caiba no teu sonho.
Não posso lembrar-me do que esqueci mas todos os sonhos falam de ti.
Quero uma nova história, uma oportunidade num novo tempo.
Deposito na esperança do perdão a minha única glória.
E se no que agora desejo vires valor, esquece-me a mim, o melhor de mim só existe fora da minha vontade.
Agora sou do tamanho que me quiseres dar e que em mim consigas ver.
Mas consente-me este desejo do recomeço, porque nada mais me resta do fracasso.
E se este humilde grito não te trouxer de volta,
que o que de mim em ti reste, por inteiro assim o guardes.
Porque se todas as vozes me levam ao caos da culpa,
todas as outras se calam porque de mim nunca partistes.

16/01/2015

Talvez!
Talvez um dia escreva!
(...)
Talvez escreva para ser desimportante.
Talvez escreva para ser proporção, fragmento, parte.
Talvez escreva porque sou escasso.
Talvez escreva porque sou do tamanho dessa insignificância.
Talvez escreva porque não tenho outro espelho que me minta.
Talvez escreva porque me falta tudo o que tenho e não me alcanço.
Talvez escreva porque tenho fé no desassossego.
Talvez escreva porque estou em transito.
Talvez escreva porque sou erro incompleto.
Talvez escreva porque é errado.
Talvez escreva porque uma parte de mim esta perdida e a outra teima em acompanha-la.
Talvez escreva para me organizar, definir, reconstruir.
Talvez escreva para entender o pensamento.
Talvez escreva porque sou incógnito nessa festa.
Talvez escreva porque sou tentativa mal sucedida de ser parte de outra parte.
Talvez escreva porque quero mais do menos que me completa.
Talvez escreva porque é tarde, estou cansado e não tenho pressa de mais nada.
Talvez escreva porque quero ser culpado de tentar.
Talvez escreva porque não vejo outra saída.
Talvez escreva porque sou infantil ou infantilmente nisso acredito.
Talvez escreva porque ninguém respira perto de mim e o ar de mim é só meu
Talvez escreva porque estou perdido na calma.
Talvez escreva porque não tenho motivo.
Talvez escreva porque não tenho perguntas.
Talvez escreva porque não tenho respostas.
Talvez escreva porque não sei sair do princípio.
Talvez escreva porque me é tão difícil fazê-lo.
Talvez escreva porque me minto e acredito.
Talvez escreva porque me dói e nessa dor à perdão.
Talvez escreva com propósito ou sem ele.
Talvez escreva porque amanha me esqueço.
Talvez escreva porque adormeço.
Talvez escreva porque quero.
Talvez escreva porque não tenho alternativa
Talvez escreva porque sou vago, rua, noite , abandono.
Talvez escreva porque ninguém lê.
Talvez escreva porque me calo.
Talvez escreva porque sou começo.
Talvez escreva porque sou fim.
Talvez escreva porque sou nada.
(...)
Talvez!
Talvez um dia escreva!

27/08/2014

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