Poesia e pensamentos livres


Se pudesse!
Alimentar a paz comendo a maça proibida.
Ter a lâmpada de Aladino e abrir a gruta de Ali Babá.
Percorrer as mil e uma noites no meu tapete.
Ser guardião da Arca da Aliança..
Entender os sete pecados capitais.
Abrir a caixa de Pandora.
Ser centurião com a ideia de Roma, cavaleiro da Távola Redonda.
Beber a imortalidade do santo Graal.
Ter a máquina do tempo.
Se pudesse!
Percorreria as estradas da utopia.
Tocaria a pele de todas as alquimias.
Atingiria o éden abraçado a uma estrela.
Viajaria em cima de um meteoro.
Seria um lado do quadrado da circunferência.
Abraçaria o raio para renascer na luz.
Embrulharia o sol para oferecer à fria solidão.
Cometeria o oitavo pecado capital… (não aceito sete)
Alagaria os desertos da inquietude.
Construíria planícies nas montanhas da luta.
Secaria os campos molhados de desespero.
Semearia todos os frutos da esperança.
Entraria nos portais das casas da saudade.
Treparia as árvores queimadas pela indiferença,
e com as cinzas faria diamantes de compreensão.
Tatuaria simplicidade nos rochedos do complexo.
Seria as mãos dos corpos amputados
Os olhos de todas as cegueiras
O farol de todos os fantasmas.
Se pudesse! Mas não posso! Ou poderei?
Sou uma criação finita, efémero por definição.
Mas ser mortal mata a eternidade? Nunca!
Que eu seja imortal enquanto dure o meu espírito.
Que ele abrace todos infinitos que o meu corpo nunca conseguirá tocar.
Antes que o finito me leve não serei mortal por nada ter feito.
Possível e impossível!
A ponte entre a parte mortal de um sonho e a imortalidade da sua realização.
Quero cruzar todas as pontes...
Mas seria interessante ter essa máquina do tempo…
Gostaria de poder ver o altar do meu réquiem.


28-08-2009


Nas garras de uma alma ditadora vou em direcção a um destino que é meu, enquanto eu não sou o meu destino.
Começo a sentir o meu corpo a esvaziar-se de vida.
Estou de partida, ausente de mim, passageiro clandestino despido de tudo que lhe possa dar um nome. Sou outra vez turista dentro da minha própria cidade, vagabundo em esquinas com ecos da minha história. Deixo-me levar pelos caudais de um rio sem corrente, numa noite onde tudo é permitido.
Sim! Vou partir.
Viajar no passado e no futuro, para onde quero e com quem quero – sempre agradecerei ao sonho e à poesia essa liberdade –. Vou reaver sonhos acabados e inacabados, tentar parar o vento com palavras que, quando consciente, guardo para mim.
Não tenho qualquer certeza, mas agasalhado em incertezas já sinto o calor das palavras que sempre roubo ao abraço da noite. Estou na fronteira, cumpro os formalismos necessários, bebo o veneno da escravidão, e deixo-me adormecer ao som do “requiem” do condenado. Parto!
Já sinto a poesia...

Por momentos vou viver, com cegueira consentida
Vou deixar-me adormecer, para dar à alma vida.
Ausento-me do meu corpo, sem tempo para entender
Porque rasga o sentimento as entranhas do meu ser.
Vou dizer tudo o que penso sem poder pensar o que digo
Vou rasgar o meu sentimento com tempo para estar comigo.
Na escuridão eu vou ter para os olhos doce luz
Vou morrer para ver nascer o que o sonho produz.
Nestes sonhos vou dizer onde descobri o norte
As forças que venceram cada dia a minha morte.

Mas é assim!
Sempre carregarei uma alma que para explodir de vida, necessita do meu alheamento temporário.
Uso esse tempo para apreciar o belo, o único, todas as manifestações grandiosamente simples de uma eternidade que nos precede e que ficará depois de nós. Sou explorador desse território acidental chamado de ser humano. Essa realidade finita, que na ilusão da sua existência, na ambição egoísta de ser qualquer coisa diante da superior importância do universo que o criou, quer matar a sua pequenez tentando levantar-se, ser alguém!
Quando nascemos, devemos com humildade, assumir a nossa insignificância. Nesse preciso momento, ajoelhamos perante o mundo e a este nos submetemos morrendo a partir daí. Não entender isso é abrir as portas ao constante desespero com a nossa condição de efémeros.
Compreendi!
É o facto de sermos mortais que nos veste de originalidade, que nos explica, que nos faz apreciar cada segundo em que a beleza se manifeste.
Agora que sou condenado a um sono diferente, grito!
Grito as últimas palavras e deixo-me adormecer lentamente.
Aceito! Contradigo-me!
Faço a apologia da vida e entro na escuridão sem esboçar qualquer resistência.
Que posso eu fazer?
Se nesta noite consentida experimento o que de melhor me deram os meus dias. A minha alma conhece-me bem e aproveita-se disso. Prepara-me a ratoeira com o meu queijo preferido e faz-me deambular em mim até ao momento em que não resisto mais e me delicio com esse alimento libertador.
Neste leito onde descanso de mim e do mundo, os meus olhos assimilam uma luz que chega como relâmpagos, flashes de uma vida submersa mos mares longínquos e profundos da memória.
A minha alma vai para a rua num domingo primaveril, fala! Comigo ou para mim, para outros ou com outros, mas não a escuto!
Ela assim o desejou.
Tapo-me de alegria, de saudade, de mentira de verdade, cubro-me pela vida, para a vida, com a vida.
Em cada sonho um porto, cada porto uma lembrança, cada lembrança uma esperança, cada esperança um poema.
Sou soldado que não enfrenta o inimigo, mas este ao dar o seu passeio triunfal no campo de batalha, não terá um único espaço que não esteja coberto de palavras escritas com o meu sangue.
Sangue com o qual construí, palavra a palavra, um hino à amizade pura, ao sorriso que liberta, ao erro que é preciso, ao amor ou desamor, a tudo o que à minha passageira eternidade dá cor.

Nem sempre toquei a lua com os sonhos de criança
Mas dei nome a uma rua, chamei-a de esperança.
Tive sonhos conquistados, tropecei sem dar por isso
Tive sonhos derrotados, mas vivi apesar disso.
Cada dia ao despertar foi ser que enfrentou a natureza
Um dia com coragem, outro como mendigo à mesa.
Chorei lágrimas de saudade, sorri com o coração
Fiz versos de liberdade, pinturas de escravidão.
Comi a comida dos ricos, provei o sabor dos pobres
Caminhei com proscritos, estendi a mão a nobres.
Sofri com a desilusão de gente de alma ausente
Injustiçado sem razão, perdoei humildemente.
Errei por ter arriscado, ser ermitão sem ermida
Mas errar é um pecado, cujo perdão é a vida.
Por vezes alma indefesa, tantas vezes lutador
E se num dia foi presa noutro foi predador.
Admito agora que sempre tive um objectivo
Recusar-me a existir, sem nunca me sentir vivo.
Tive ânsia de experimentar, recusei viver esperando
Vivi! E agora posso contar, o que aprendi caminhando.

Sinto que tenho em mim todos os passos do universo. Saio para a rua, para o mundo, de dentro de mim ou em mim, mas saio! Sou criativo, diverso, planto uma arvore…ou duas…e erro até ao limite da inconsciência.
Errando consegui ver o lado estrelado das coisas, esse lado eterno que sempre quis fazer meu. Arrisquei viver e por isso errei até à exaustão. Errei mais por não desejar o erro de nunca ter errado, por saber que a sua inexistência é ausência de vida.
Não! Nunca senti qualquer arrependimento, seria estúpido sentir isso! Como se o tempo pudesse voltar para traz.
Errar é a consequência da nossa loucura, mas quem a não tem, ou está morto, ou é completamente louco.
Quem está vivo cai! É impossível viver sem saber como cair, e por isso errei! O suficiente para quando senti a lama na face, voltar a vestir aquela roupa acabada de comprar que sempre me faz sentir uma pessoa nova.
Viver é uma outra forma de conjugar o verbo errar.
Conjuguei-o em todas as suas formas.
O dia em que ousar pensar deixar de cometer erros, ou o meu corpo vegeta, ou a alma que o alimenta entrou nessa sonolência vivida por quem se cobre com o manto da vergonha no crepúsculo da desilusão.
Embebedemo-nos de vida e erremos como um desvairado borracho para quem tudo é possível. Quem nunca ousar enganar-se, nunca experimentará a doce melodia de ter acertado. O engano é necessário porque o acerto é imprescindível.
Se algum dia encontrárem alguém que vos diga que nunca cometeu um erro, não percam a oportunidade de lhe perguntar como é viver no paraíso.

Aprendi que nesta vida, o erro a ninguém pára
Apenas abre uma ferida que o próprio tempo sara.
É mestre clarividente, chegada e despedida
É diário confidente, em cada nova partida.
Ouro que não se esgota, riqueza feita memória
De quem arrisca a derrota, morrendo pela vitória.
Estátua de sangue erguida a quem nunca esqueceu
Que só não erra na vida quem nunca nela viveu.
E quem pensa que do erro, já teve sua parte na vida
Está morto, ou o seu enterro, vai descendo a avenida.

Tenho amigos porque os amigos são comemoração.
São flores plantadas no nosso caminho, para que dele façamos uma constante primavera. Uma porta sempre aberta quando todas as outras se fecham.
Na amizade existirá sempre a poesia muda, a eternidade num momento sem razões que a razão entenda.
Um problema partilhado numa confissão libertadora, felicidade transmitida ou desventura compreendida. Distâncias encurtadas numa negação exigida, beijo adormecido num abraço sem mais nada.
Um amigo é um segredo de boca em boca contado, muitas vezes esquecido, mas tantas vezes lembrado. Um jardim, um refúgio numa longa caminhada, semente plantada nas areias do deserto, que cresceu e se fez árvore para apoio de tudo o que em nós é incerto.
Não tem defeitos nem virtudes, existe! Não precisa dizer quem é, apresentar-se. A sua impressão digital está gravada na nossa alma. Falando ou em silêncio, na luz ou na escuridão, na presença ou na ausência, será sempre a página mais gasta do livro da nossa vida.
Aquele que desconhece que foi o nosso ponto de apoio, leme, ar, contradição, critica e elogio. A outra asa do anjo que voa no nosso corpo, tudo o que nos resta, quando já nada nos resta.
Que aparece quando o nosso coração precisa de ser trespassado pela lança da crença. Quando sentimos a necessidade de ser amados pelo pobre que somos, pela nossa perfeição imperfeita.
Não é luz que guia por estar um passo á nossa frente, é a outra sombra da nossa sombra, porque caminha ao nosso lado. Que nos faz valorizar as estradas já conquistadas, já percorridas, e entender com humildade os caminhos por desbravar.
Um dos objectivos mais importantes que temos na vida, não é poder ser o que somos, mas sim o que podemos vir a ser.
Quem sozinho caminha nesta direcção pode até chegar mais rápido, mas quem caminha com amigos, chegará, nesse desígnio, muito mais longe.

Aprendi que a amizade não escolhe coração
Que para ser de verdade nasce e vive sem razão.
É um constante partir sem precisar de estar
É viajar sem sair é um constante chegar.
Não necessita presença é um nada que tem tudo
É superior à ausência é um belo filme mudo.
É sentimento que perdura aroma que paira no ar
É vida, sonho, é ternura, é um ter sem esperar.
É silêncio em lugar incerto, palavra em espaço trocada
Abraço de coração aberto, momento sem mais nada.

Sorrio!
Quando alguém me oferece o que de mais precioso tem na vida – o seu tempo – expresso o meu agradecimento com algo tão puro e genuíno como um sorriso de ternura.
Não deixo que se note na minha face as marcas das lágrimas que não choro.
Sorrir é a marca de uma alma livre, brilho de um coração que arde em felicidade cuja chama se reflecte na face.
É a manifestação da abertura do jardim da nossa alma para a beleza da vida. Que a nossa boca seja essa estrela que brilha e ofusca no firmamento infinito, em todas as noites que alguém necessitar de um farol no horizonte longínquo. Que a nossa boca seja uma flor que desabrocha todos os dias para conforto das solidões, esperança no desânimo, consolação da tristeza.
Nunca seremos tão ricos para desvalorizar a sua importância, nem tão infinitamente pobres que não possamos experimentar a sensação de dividir um.
Não se compra, não se empresta com ideia de retorno ou rouba por inqualificável inveja.
Vale tudo nesse preciso instante em que o oferecemos livremente, e no dia que alguém o recuse, sorri outra vez! Porque não existirá ninguém mais necessitado de um sorriso do que aquela alma que ainda não aprendeu a importância de sorrir.
Dá-me esse sorriso que pensas que para ti não te serve de nada, mas que explodirá na minha alma, como força redentora para voltar a acreditar em tudo o que em mim já morreu.

Um sorriso é brincadeira da alma
Poesia dum coração em esplendor
Reflexo de um ser livre, em calma
Com o mundo e com o seu interior.
Expressão de humildade confiante
Reflexo de paz com genuína alegria
De quem conscientemente ignorante
Sabe que sorrir é prova de sabedoria.
Conforto que se concede ao momento
Poesia que pode mudar uma vida
Gesto de quem não afasta do seu pensamento
Que nada mais é preciso para sarar uma ferida.
Melodia que o corpo sempre acalma
Forjado na verdade é magia vitoriosa
Terapia para conforto da alma
Bala perdida da arma mais poderosa.

Sou o início de todos os meus inícios e iniciei-me tantas vezes quantas as que amei.
Amar!
Poesia construida de versos nascidos sem qualquer explicação. Conquista feita ao finito no infinito. Invólucro da alma, sangue de um corpo em direcção à eternidade.
Amar!
Hino tantas vezes tocado por melodias de incompreensão, mas quase sempre, proclamado como o mais sublime dos sonhos de um ser findo na sua condição. Poesia e prosa de um livro em constante elaboração. Caminho inevitável de quem deseja ser chegada de outra qualquer partida.
Amar!
Sentimento que tanto revigora como nos enfraquece, prisão e liberdade, segundo e eternidade. Vontade desinteressada de ser, pertencer, completar e completar-se.
Tudo o que carrego na mão que não sendo meu, é de mim o que melhor possuo.
Completar-me em outro, sem que o outro seja meu e eu lhe pertença.
Amar!
Mar imenso, intransponível, forte e avassalador, cuja beleza nos encanta, mas também nos afoga de dor. Renúncia da razão! Quem ama sabe que ama e não tem que encontrar para isso qualquer explicação.
Amar!
Guardar as máscaras que carregamos, e deixar que pintem um retrato de inocência com as cores da nossa verdade despida.
Sentimento que não se inicia num eclipse de vidas, mas no exacto momento em que outra vida passa a existir dentro da nossa.
Amar!
Desejo de permanecer, existir, viver e ser, parte de outra parte nesse momento chamado “sempre”. Um perdão num abraço, numa carícia num toque de pele. Gostar sem maquilhagem, de robe de chinelos e não imaginar um futuro vestido de outras roupas.
Amar!
Ausência dos olhos, presença no pensamento. Desejo, paixão, união, sexo, esse imenso beijo que não cabe na dimensão do corpo.

Mas agora que pretendo escrever sobre algo que nunca viverá de palavras, e a elas sempre será superior, paro!
Invade-me uma cruel tristeza.
Quando começamos a explicar o amor, entendê-lo, defini-lo, somos vítimas de uma irónica certeza!
Não amamos!
E por isso, Silencio-me! Quero permanecer na incerteza.

Amar!
Viagem sempre sonhada em cada estação da vida
Tantas vezes uma chegada, outras tantas, uma partida
Um reino sem soldados, terra sem qualquer dono
Onde todos são escravos, reis e rainhas sem trono.
Felicidade acompanhada, paz completamente a sós
Sentir o coração apertado, mas dar mais força aos nós.
Morrer em tudo o que nos fez, esquecer o que sabemos
E voltar a nascer outra vez, no outro em que vivemos.
Olhos que não querem ver, beleza noutra presença
Que só se abrem para o ser, que lhes dá a sua essência.

Regresso agora de tudo o que vivi sem nunca lá ter estado. Desse abandono do tudo que penso ter, sem nada possuir. Mudo de reino, acabou o eclipse, resgato o homem caído, a criança pintada de sonho, o animal feito presa. O anjo renasce, já sente o troar das trombetas que anunciam a ressurreição. A criança sai para a rua e brinca com o seu peão, o homem já luta pela sobrevivência, procurando nos despojos pedaços de um corpo esquartejado.
Construo-me!
Já me sinto e a minha alma já me consente. Sou outra vez causa e efeito, razão e coração, e lavo-me da camuflagem da sanidade insana da minha consciência.
Como posso ter esta triste e infame ilusão, esta crueldade desnecessária de pensar que posso escrever? Como consigo ficar sereno quando pretendo roubar palavras à vida? Sei que não o faço por ser um vulgar marginal, mas porque não resisto à sua beleza.
Sou um doente! Um condenado que paga o seu crime com o sangue que derrama palavra a palavra, verso a verso. Aceito o meu carrasco e mato-me, em cada segundo, em cada hora, em cada dia. Mas sou livre nesta escravidão e "morro"! Sim "morro"! Mas por mim, à minha maneira. A única que admito, porque de outra forma nunca viveria!
Não tardará que sinta outra vez o doloroso abandono da vida, que meu corpo seja saqueado e esquartejado, mas não importa! Enquanto vítima de uma insana alma, sei que em cada renascer doloroso construo-me e sinto-me sempre, sono a sono, sonho a sonho, muito mais perto de mim.

Em tudo que aqui digo, tudo ficou por dizer
Mas esse é o meu castigo, por ter ousado querer
Escrever da vida conceitos, que só poderão nascer
Em quem sentir seus efeitos, por ter arriscado viver
Nada mais consigo escrever neste meu despertar
Outro dia o meu corpo dormirá para a minha alma sonhar.
Sonhos de vida e de morte, sonhos de caminhadas
Onde o azar e a sorte andam sempre de mãos dadas.
A curiosidade é a autenticidade no meu conhecimento
Barco de liberdade com velas que no infinito têm seu vento.
E no fim sei por defeito, que o facto de estar satisfeito
Poeta de mim não faz!
Agora que já me ilumina a luz que alguém para mim fez
Leio o que o sonho produz e quero adormecer outra vez
Voltar a sentir a paz que essa escuridão me traz.

Amanhã voltarei...Em "morte" consentida ou na vida permitida.
Eu que sei!
Toda a minha vida assisto ao domínio do meu corpo pela mente, mas no fim da minha história, serei subjugado à tirania do corpo.
Por isso agradeço esta alma que carrego e que tantas vezes me aniquila.
Agradeço porque sei! Quando de mim ela for fardo, já não serei nada, terei partido para a uma viagem de onde nunca regressarei.


14-11-2008



alvez, não sei! Não sinto ser capaz!
Tantas exteriores vontades me forçam a entrar no reino das palavras! Tantos os que me querem ver transformado em toscos traços perdidos num papel condenado ao esquecimento. Genuínas e amigas mentes impelem-me para um espaço onde sempre me sinto recluso da sentença perpétua da inferioridade.
Falam-me!
Argumentam!
Despertam-me da hibernação de mim, e vestem-me de coragem!
Impelem-me!
Colocam-me nessa estrada tortuosa de usar a linguagem para gritar o que sempre calo, pintando com sangue de uma ferida que não tenho, quadro de uma eternidade que não sonho.
Obrigam-me a ir contra a minha vontade de não ter vontade.
Querem que seja arquitecto de um edifício que não sei desenhar, e que por momentos, acredite que talvez!
Talvez um dia seja capaz de construir com o cimento das palavras um edifício consistente de incontestável eternidade. Desejam que acredite que não estou distante do dia em que entrarei pelas suas portas, e me sentarei no seu átrio como um conquistador que assume o trono que sempre lhe pertenceu.
Talvez, não sei! Não sinto ser capaz!
E como balanço quando essas vozes em mim ecoam! Elas não sabem (Ou sabem e por isso insistem…) como sou arrebatado pela beleza de todas as mentes livres que ousaram e conseguiram criar imortalidade. Admiro o que é de outrem e destruo desapiedadamente o que é de mim. Não por ser compulsivo destruidor de tudo o que é meu (que sou...), até porque nada em mim existe que mereça essa perda de tempo, mas porque sempre me vejo espelhado na estátua do soldado desconhecido, um peão de outras glórias.
Tenho e terei as minhas conquistas, e delas farei a minha isolada eternidade. Mas ficarão sempre nas histórias secundárias, nos destacáveis, nas últimas páginas, nas curiosidades sobre o enredo principal, e nunca mas primeiras linhas da história sobre a história.
Talvez, não sei! Não sinto ser capaz!
Por momentos invade-me a necessidade, cativa-me a ideia e todos os meus sonhos são partes desse edifício. Portas forjadas de diamantes que projectam sua luz num vasto infinito. Janelas com vista privilegiada sobre uma cidade chamada mundo. Quartos com alma mobilados com peças de eternidade, corredores com as cores da esperança e o silêncio da música de todos os sonhos do mundo. Jardins coloridos com flores perfumadas de liberdade, fontes de paz donde jorra agua dos oásis da memória. Recantos que cantam na melancolia da noite melodias de agradecimento à vida, e despertam com a aurora para o abraço dos passos curiosos e firmes de quem pisa um sonho sonhando o seu.
Tenho a ideia do espaço mas não tenho qualquer espaço para a ideia.
Talvez, não sei! Não sinto ser capaz!
Expludo em sentimentos contraditórios, tenho a simplicidade de quem o que sabe, sabe porque viveu. Não sei inventar o que não me constrói, relatar o que não experimentei, pintar cores que não sinto, transmitir o que não acredito. Não sei musicar sons que não escuto, criar personagens tipificadas que não sejam o espelho da minha alma ou reflexos de tudo o que desejaria ter sido e nunca foi.
Não sei fazer isso!

Não tenho bola de cristal, tenho a vida.
Não tenho o motivo, sou a ausência de razões.
Não tenho o ritmo da emoção! Somente a emoção.
Não tenho páginas de palavras, tenho palavras.
Não tenho método, sou metodicamente desorganizado.
Não tenho prazos, sou o prazo que o tempo me der.
Não tenho início, meio e fim, tenho o caminho.
Não tenho capítulos, tenho momentos.
Não tenho irracionalidade, sou uma razão irracional.
Não tenho drama tenho a esperança.
Não tenho a fatalidade tenho a paixão de acreditar.
Não tenho o sofrimento, tenho a alegria.
Não sou o desencontro, sou a estrada da procura.
Não sou a guerra, sou efémero para ver eternidade nas armas.
Não sou a morte, sou o “Quixote” perdido nos moinhos da vida.
Não sou a constatação, sou a descoberta.
Não sou a imagem sou o reflexo.
Não sou partida nem chegada sou a ponte.
Não sou o objecto sou o sujeito.
Não sou o filme sou o espectador.
Não sou o livro sou a estante.

Talvez, não sei! Não sinto ser capaz!
Não sou nada e por vezes sinto que o sou o tudo que faz um nada único. E é nesses lapsos de tempo, os poucos em que me engano acreditando, que as vozes que me impelem a construir vêm como as marés, trazendo para a areia o sargaço da dúvida. E nesses momentos construo, não esse edifício onde querem que seja rei sem trono, mas uma jangada de sonhos onde me lanço ao mar desta solitária escravidão chamada escrita.
Resta-me esperar que todas as vozes que em mim ecoam, e todas as outras que em mim gritam, um dia consigam transformar a minha cabana de infinita ignorância num edifício que se ergue nos céus da imortalidade.
Talvez, não sei!
Entre a dúvida acompanhada e o acreditar em silêncio, existirei!
Quem sabe um dia serei capaz!

28-07-2009






A minha alma agoniza
Numa cela confinada
Quer sair, ser na brisa
Pelo vento acarinhada

Isolada em quarto oposto
Às paredes onde habito
Com lágrimas no rosto
Solta amordaçado grito


Grito de quem desespera
Para me ter a seu lado
De quem sabe que na espera
É sangue de corpo emigrado

A minha alma quer partir
Encontrar outro abrigo
Quer ser livre, se evadir
Viajar sem estar comigo

Nas águas de qualquer rio
Deseja um novo baptismo
Servir qualquer senhorio
Que não reze ao quixotismo

Caminha descalça de tudo
Vagueia em estrada sem fim
Sente o seu corpo desnudo
Vai nua sem roupa de mim

Tem frio mas não se tapa
Tudo dela está ausente
Clandestina e sem mapa
Treme em pele que já não sente

Às estrelas do firmamento
Confessa a esperança no dia
Desse novo renascimento
De quem morre na utopia

E nesta aparente calma
De quem pensa que viveu
Por cada lágrima da alma
Sofre ela, sofro eu

Tenho vida e muita história
Dei passos em cada estação
Mas não encontro memória
De não ter paz sem razão

Vivo efémeros sentimentos
Sou um clone de alguém
Tenho inúteis pensamentos
Sem alma não sou ninguém

Sou mendigo em viagem
Não tenho sabor de vitória
Não suo qualquer linguagem
Não vivo qualquer glória

Sou um desesperado refém
Duma máscara de momentos
Para mostrar-me a alguém
Ocultando meus tormentos

Sou o rosto da perdição
Ignoro quem me reclama
Em cada comemoração
Sabor amargo sem chama

Sou esse rio escondido
Que por momentos secou
Sou esse jardim despido
Que o vazio conquistou

Sou um rei sem trono
Amo de gente muda
Sou coração sem dono
Mente que pede ajuda

Meus olhos não queriam ver
Quem sem mim está perdida
Que sem ela sou um ser
Sem razão para dar à vida

Resta-me a consciência
De saber que na verdade
Sem alma a minha existência
Não dá passos em liberdade

Este amor não tem idade
Nem porto nem estação
Tem uma única verdade
Corpo e alma em união

Ecos de um só grito
Partamos à aventura
No fim veremos escrito
Na lápide da sepultura

Fomos maestro e melodia
Corrente e acorrentados
Fado, ópera ou sinfonia
Pelo amor sempre tocados

24-09-2008



Hoje acordei, e como quase sempre é normal, com vontade de dormir. Cumpri todos os rituais que sempre acompanham cada manhã, cada nascer do sol, cada despertar de voz dormente. Espreguicei-me tantas vezes quantas o meu corpo pediu, enrosquei-me e bocejei vezes sem conta. Agarro o relógio com mãos ameaçadoras e olhos que suplicam clemência. Desejo mais uns minutos! Cada segundo é importante! E contra a tirania de um relógio que não atende as minhas preces e recusa clemência concedo-me esse privilégio.
Claro que pensei! Como penso todos os dias, na irresponsabilidade de utilizar um tempo que não é meu, que vendi mendigando uma liberdade que hipotequei, na esperança de um dia poder voltar à casa de penhores para a ter de volta. Claro que pensei! Como penso todos os dias, na beleza que me espera lá fora, que "um minuto de olhos fechados são sessenta segundos de luz perdida". Pensei nisso tudo! Mas não abri janelas, o sol continuou a ser apenas um fio entrando pelas frestas que não consegui fechar, e continuo escondido nesses lençóis que quando fogem de mim, procuro como a sofreguidão de um condenado à morte vivendo os seus últimos momentos.
Levantei-me quando já não podia mais aturar a minha consciência, que não se cala, que grita uns sons inaudíveis que conseguem penetrar bem fundo, no corpo de um animal em estado de hibernação. Levantei-me com essa lentidão característica de quem deseja deitar-se outra vez, mas já não existe retorno! As minhas pernas conduzem uma alma sonâmbula para o primeiro contacto com a água fria de uma manha como qualquer outra.
O meu corpo e a minha alma são o único vestuário que me identifica, mas coloco em mim roupas tipificadas que nos pintam de inteligentes e credíveis aos olhos do mundo. Essas roupas nas quais nem me revejo, e que me fazem sentir uma alma negociada a desfilar na vida, com traços desenhados pelos escultores do barro mais impuro da humanidade.
Saio para a rua e sou mais um no meio de uma cidade em movimento, elemento de um espaço onde ecoam sons de histórias de mundos paralelos, dimensões diferentes numa interacção continua. Vejo caras que nunca chegarão a ter nomes, mas é assim! Somos reféns de uma indiferença sem sentido e somos mestres na arte do silêncio. E eu, simplesmente mais um! Não busco outros olhos, não estendo as minhas mãos e se alguém que me sinta passa por mim, não vejo, não estou lá, estou de passagem! Continuo o percurso escrito no livro que me serve de guião ao papel que interpreto todos os dias.
A minha anatomia segue o seu automatizado percurso, seguindo – isso sim – uma lógica diferente da minha alma. Essa ainda caminha na neblina, descalça, sentindo o chão e tropeçando nos degraus do esquecimento. Desfruta do seu anonimato, e perde-se na vastidão do silêncio que o seu hospedeiro experimenta. Não se excita na monotonia, no tédio mundano, não tem luz e ainda aproveita a sua sonolência na escuridão e vagueia perdida no supremo prazer do nada.
E chego ao "teatro", começa o PRIMEIRO ACTO.
Papel em cima de uma secretária. Papel sem cor, sem alma, sem vida, sem história sem marcas de lágrimas ou alegrias, qualquer coisa que interesse experimentar e recordar mais tarde. Ali estão! Acumulados pelos dias em que para eles olhei, lhes disse olá, mas nada fiz. Chegam outros para na maior parte das vezes seguirem o mesmo destino. Ficarem inertes até esse momento em que mereçam esse ritual sagrado, que tanto me agrada, de lhes dar o eterno descanso. Quatro horas em frente a uma máquina que condiciona uma parte importante da nossa vida. Gasto os dedos, os olhos, o corpo, a paciência a imaginação e ainda só interpretei o primeiro acto. Almoçar, esse período de liberdade condicional que usamos para umas palavras trocadas sobre este e aquele, sobre o tempo que já não é tão previsível, sobre as estações do ano que um dia teremos que redefinir. Sobre as tradições que são memórias de quem já viveu o suficiente para delas se lembrar. Sobre a violência que assola este país de brandos costumes e a corrupção que nos deixam conhecer. Sobre aquele desgraçado que morreu, mas com seis tiros! Não fosse o infeliz ter sido alvo do esvaziar de um canhão de uma arma raivosa não seria notícia. O tempo que desperdiçamos num filme que nunca terá o nosso nome e nunca fará parte da nossa história. E entre mais uma discussão sobre futebol, uma anedota, que para gáudio de um tradicionalista ainda é sobre alentejanos, e qualquer ironia sobre mulheres, surge o som dessa campainha que nos avisa que vai iniciar o SEGUNDO ACTO
É tempo de cumprir mais quatro horas de pena na "solitária". Repete-se o enredo, talvez tenhamos a sorte de ver novos figurantes mas a história, terá os mesmos actores, o mesmo publico, o mesmo monótono ritmo, algo entre a sonolência de Fassbinder e o tédio total de alguns novos filmes portugueses, mas com uma diferença! Com justiça para os anteriores, o final será, mais uma vez previsível.
E eis chegado o momento do fechar da cortina! Sem glória, não aplaudo, aliás ninguém aplaude! Comemoro o seu final sem ruídos nem euforias que possam ser visíveis, mas com a alegria infindável de quem é outra vez dono do seu tempo. Terminou a peça por hoje! Amanhã o teatro abrirá outra vez e tudo se repetirá, mas por agora volto a ser amo e pajem de mim mesmo, é tempo de colocar a minha natureza onde ela chora para estar, do sublime encontro entre a alma e o corpo, tempo de liberdade,
TEMPO DE UM NOVO DESPERTAR.
Sentia-me um náufrago, um poeta sem poesia, um intruso numa vida alheia que invadi porque sou um vendido. Perdido entre a necessidade de viver um tempo que não se repete e a necessidade de voltar a sentir a chama dentro de mim. Prisioneiro das saudades do “ontem” vivido em liberdade e do “hoje” que sonhei no “ontem” livre.
Prisioneiro desse sentimento frustrante de quem deixou escapar por entre os dedos o dia de hoje, porque nunca o conseguiu ter entre mãos.
Parece que acordo de um sono que nunca experimentei, no qual vivi uma vida que nunca existiu, soletrei palavras que nunca chegaram a ser escritas, sofri pensando que sorria, brinquei de estátua com movimentos, cantei canções sem melodia, escrevi o que não foi lido, plantei o que nunca sairá da terra.
Desta vez “desperto” sem dificuldade, porque por mais cinzento que o dia posa ter sido até este momento, ele ainda poderá ter a cor que eu lhe desejar dar.
Levanto-me da "cama" onde "dormi" sem pedir licença ao corpo, sacudo a areia dos farrapos que me cobriam e me asfixiavam e guardo-os para a próxima sessão. O sol parece mais reluzente, volto a sentir o perfume das flores vindo do jardim e consigo escutar o cantar dos pássaros.
Um novo dia acaba de nascer!
Encho meu coração de esperança, sou invadido por uma paz que pinta de todas as cores as paisagens que agora sou capaz de VER e deixo-me voar neste novo dia que será depositário de todos os sonhos que lá couberem.
A minha alma finalmente soltasse do espartilho de valores que não sente, vomita a indiferença, está viva! E em todas as faces existe agora um rosto, um sorriso um nome.
Acabou de passar um tempo que não se repete que passou enquanto desejava outro. Mas não importa! A alma não envelhece, adormece por vezes, mas desperta num qualquer momento do dia. A minha acabou de despertar, para a vida para a morte, para o azar ou para a sorte, para tudo e para nada, mas exclusivamente para MIM.

18-09-2008


Caminho….
Não tenho um pedaço de terra com sementes minhas.
Passos decididos em direcção incerta, pintam um quadro abstracto atrás de mim.
Dou voltas no mesmo espaço e só encontro vestígios dos passos que já dei, como quem inverte o sentido e regressa ao que já foi.
Não existe definição de mim,fato que me caiba, canção que me cante, chavões que me carreguem!!!
Que me importa!
Se no indefinível estará o melhor que de mim fale.
Esse que quero conhecer pondo-me à prova, submetendo-me aos trilhos da realidade!
e por isso,
Caminho…

Regresso antes de partir
E parto, antes de chegar!
E quando me canso, Paro!
Escuto vozes externas, escuto vozes internas…
Escuto todas as vozes!
As que quero e as que não quero e compreendo:
- Pior que um destino incerto, é a incerteza de destino nenhum.
E o que faço?
Atalhos? Todos!!!!
Becos? Outros tantos!!!!
Bagagem? Lembranças!!!
Direcções? Todas!!!!!!!
As que desejaria tomar, tomo!
As que não desejo…. Tomo na mesma!
Como não vou à procura de nada, e ao encontro de tudo,
todas as direcções são boas.
Penso!
Não encontro uma razão para ficar.
Parto!
Caminho….

Sou esse, sou aquele
Sou o que quiserem!
Parte de mim ou pedaços de qualquer outro.
Mas sou! E como sempre desejo estar e partir.
E quando chegar, sei que sentirei que o melhor mesmo é regressar.
Não tenho a batuta de qualquer simples certeza.
Chego e não encontro nada que me faça, que me construa.
Regresso.
Esqueço. Não penso.
Para quê pensar, se quando começo já não estou no mesmo sítio?
A minha sombra quer ser serva de outro amo.
Evado-me,
Saio de mim
Caminho…

Analiso: Afinal não sou o único sem norte.
Os caminhos que pensava ter desvirginado com os meus passos,
estão impregnados de pegadas de gente como eu….
Ou mais perdidas que eu!
Descubro.
Não estou só!
Não sou o último dos últimos, nem o primeiro dos primeiros.
Sou mais um no meio de uma procissão silenciosa,
sem velas, cânticos ou heróis,
vencedores ou vencidos!
Simples caminhantes cuja única fé é … Caminhar
E por isso,
Caminho…

Trajectórias!
Curvas, rectas, círculos, diagonais, elipses,
Eu que sei!!!, a ter uma,
Infinito.
Aventureiro sem mapa, sem bússola,
Norte, sul, este, oeste…
O mundo é o palco!
As estradas: o objecto!
Estar perdido: o ópio!
Partir: o sonho!
Encontrar-me: a alquimia!
No meio disso, tudo e nada.
Sublime sensação.
Ter o céu como telhado,
O mundo como casa,
Ser dono do destino, e não ser dono de nada!
Viver do que a vida oferece - entre a calma e a pressa,
o barulho e o silêncio -.
Para que servem os caminhos se não para serem
trilhados por caminhantes como eu?
Corro atrás do que nem sequer sei,
do que, quiças, nunca encontre.
Sigo em frente.
Pedras no caminho - como diria Pessoa - "…guardo todas!
um dia vou fazer um castelo…" .
Não sei se o meu será feito de pedras se de sonhos forjados nas paisagens trilhadas pelos meus passos,
enquanto,
Caminho…

Caminho enquanto quiser, enquanto puder.
Não quero saber de profetas iluminados,
que se dedicam a apagar as marcas de passos,
que nunca terão a coragem de dar.
Gosto dessa ignorância genuína, que se aventura nos espaços,
e aprende perdida nos becos de liberdade.
Caminho porque sou de mim ignorante,
porque qualquer que seja o meu destino, será descoberto a andar.
Parar!
Pararei! Sim pararei, quando a vida me obrigar!
Até esse momento,
e apesar da minha única certeza ser a incerteza
de ter alguma , sei que,
Meu destino é meu CAMINHO.

31-07-2008


Tenho-te aqui, para mim, a tempo inteiro, neste espaço como qualquer outro, mas especial para nós. Um lugar sem mascaras, sem tabus, onde libertamos a mente e o corpo, onde abríamos a nossa alma aos sonhos e nos deixamos invadir por sensações que experimentamos sem hipócritas vergonhas, falsos pudores ou dispensáveis medos.
Tenho-te aqui, perdida nessa fronteira entre consciente e inconsciente, de alma despida entregando-te a mim como te entregas a ti própria, enlouquecendo uma anatomia que não se importa com mais nada, com absolutamente mais coisa nenhuma.
AH! Se pudesses por um momento viajar em mim, entrar no âmago do meu pensamento, percorrer as minhas fantasias, nesse momento saberias! Não! Não quero a tua alma – esse ser invisível que nem sempre entendo –. Quero o teu corpo! Esse retiro de sensualidade, no qual renasço e com o qual sempre experimento o mais perfeito dos entendimentos.
Quero ser esse viajante que trespassou os céus, cruzou os desertos, enfrentou a profundeza dos oceanos, e agora descansa. Descansa sem pressa de nova partida, descansa num corpo que tocará como tocou as nuvens, que trespassará como trespassou os oceanos, que beberá saciando a sua sede como o fez nesses oásis que o mantiveram vivo no deserto.
Observo o teu corpo despido, prostrado nesse leito mágico onde se fundem as almas. Sussurras algumas palavras num tom suave, pausado, não escuto, mas os meus lábios fazem esses gestos de quem tudo entendeu (sorrio para ti), mas continuo com os olhos fechados, imaginando-te como se não estivesses ali, procurando-te no infinito, sonhando-te antes de te ter. E nessa clarividente cegueira, fundo-me no teu corpo com a mesma intensidade com que o sol aquece a madrugada, perco-me na tua pele como uma frágil abelha se perde à procura do mel nas pétalas da mais preciosa flor. Fico sem reacção quando me tocas como quando somos apanhados por uma tempestade inesperada que nos imunda até a alma. Percorro as tuas entranhas como um rio que desagua no mar e nele se funde como parte de um todo inseparável e sou essa peça de um puzzle que encaixa perfeita nas outras, sem espaços, sem brechas por onde possa passar um pequeno raio de luz.
Abro os olhos, e vejo o teu corpo, sou invadido por essa necessidade de partir, de cruzar essa ponte entre a angústia e a evasão. Iniciar essa viajem onde esquecemos o tempo lá fora, esse tempo que agora é o ritmo dos meus dedos deslizando sobre a tua pele macia, das palavras sussurradas, da paixão que flúi de um ser para outro ser, de energias que se esgotam lentamente no interior de dois corpos.
Tomo-te minha. Elevo os teus seios a colinas, onde o prazer se reclina dócil e desço as minhas mãos suavemente no teu corpo trémulo, ofegante, que se entrega numa rendição Incondicional nesse espaço de suada eternidade. Deixa-me perder-me devagarinho na maciez do teu corpo como se entrasse num palácio forrado da mais fina seda. Sente os aromas do meu desejo a impregnar todos os pontos que toco do teu corpo. Quero sentir a implosão do universo nessas paredes que tremem e pulsam como se conquistadas por um exército silencioso. Serás minha nesse vislumbre de infinito, e nesse momento parado, sem tempo, seremos: conquistador e conquistado, rei e servo, vencedor e vencido, senhor e mendigo, predador e presa, singular e plural, tudo e nada, todos os seres do mundo e apenas nós.
Arranca-me às minhas próprias entranhas para te verter nas tuas, como o fruto que penetra na terra feita semente de todos os inícios. Toma-me! Liberta-te em mim como se todos os teus átomos se desagregassem no teu grito de libertação, descanso desta guerra confinada a esse exíguo espaço onde só existimos tu e eu e o desejo de esquecer a realidade lá fora.
Dá-me! Sim quero receber o que de mais belo me podes dar. Liberta-te! E descansa com o que de melhor existe em mim percorrendo as profundezas do teu ser. Entrega-te, e abraça-me no teu grito, porque nesse momento eu serei a noite última e primeira do teu destino, o teu verso de eternidade, o teu silêncio de liberdade o teu instante de profunda paz.

Não! Não vou partir, não vou escapar deste leito encharcado onde descansamos. Quando o teu primeiro suspiro se pronunciar suave pela manhã, partirei, levantarei a âncora das memórias do vivido, mas será tarde demais, estarei para sempre prisioneiro da esperança de me perder outra vez em mim mesmo e em ti.

29-07-2008



As palavras são de facto uma arma poderosa, eu sei, como elas podem ter o poder de enaltecer ou destruir, já proferi e já escutei. Agora, dizer apenas aquelas palavras que se sentem e que dão um sentido e um proveito, isso é toda uma arte completamente diferente, que dificilmente alguém dominará por completo, ou não fosse por vezes o silêncio de ouro. Sempre respeitei o poder que podem assumir em quem as leia e lhes dê algum valor, mas não consigo resistir-lhes, são a amante secreta a quem confidencio todas as minhas paixões, essa amante que me faz explodir como um vulcão libertando-me dessa lava abrasadora que necessito expelir para o exterior como sussurros de vida.

Estas palavras que agora vos deixo, são esses sussurros, gritos amordaçados de múltiplos seres coexistentes na mesma alma, gemidos inaudíveis de corpos suados pelo êxtase de orgias num leito de sonhos.

Que vos posso dizer que já não saibam e que eu saiba com toda a certeza? Absolutamente nada! Quem pensa que tem respostas para um assunto, descobrirá na aurora de um novo dia que apenas deu alguns passos na periferia da sua ignorância.

Unicamente vos posso transmitir o que hoje tenho por certo e seguro, que não existem sonhos impossíveis, que o impossível é um conceito inventado por todos os que um dia deixaram de sonhar, que os verdadeiros obstáculos à felicidade vivem quase sempre dentro de nós, e que espero que o fluir do tempo nunca me dê razões para questionar esta certeza.

Podemos ser esse sol que morre diariamente no horizonte, mas que renasce no dia seguinte como símbolo do contínuo fluir da natureza, se deixar-nos que a luz que oriente os nossos passos resulte da erupção desses “vulcões” interiores que julgamos extintos. E na sua lava incandescente encontraremos a arma para a aniquilação do nosso adormecimento, a força de um corpo renascido em cujas veias corre o sangue dos sonhos que ninguém ousará impedir-nos de concretizar na direcção do nosso destino.

Tantas vezes me cruzei com almas que no limite do desespero me referiram o quanto desejariam libertar-se das amarras inibidoras que a sociedade coloca à expressão individual das nossas vontades. Que vivem uma vida diferente daquela que desejam, uma existência monótona sem uma faísca que acenda o rastilho da esperança, e permita essa explosão que será a génese da libertação do seu verdadeiro eu. Crianças presas em corpos adultos, amputadas na sua capacidade de ser crianças, corações congelados presos numa jaula onde não choram para não demonstrar o que pensam ser fraqueza.

Ninguém nesta vida está imune a este tipo de sentimentos, eu também os experimentei, até que entendi que existem presos que de facto o são porque foram condenados, e outros porque não querem ser livres com medo das consequências duma liberdade que temem usar.

Atingi nesse momento a perfeição da “minha loucura”.

Descobri que errar é inevitável quando se está vivo, e que isso só representa um problema quando paramos para viver a amargura do erro e deixamos de caminhar até que a vida nos leve a cometer outro. Que a essência da vida não está na continuidade duradoura da sua excelência, mas nesses efémeros momentos em que a nossa harmonia e paz interior parecem capazes de parar o tempo, em que saímos dessa jaula onde nos colocamos em exílio voluntário e mais uma vez ousamos assumir o fantástico risco de errar.

É errado não errar, uma dia descobriremos (e quem sabe tarde demais) que enquanto nos preocupamos em não chorar com medo de “demonstrar fraqueza”, enquanto ambicionamos a continua excelência, deixamos ir os segundos, as horas, os dias, e com estes o que perdemos é a própria vida.

Isso descobri porque a vida apesar de ser um bom professor, nos envia contas terríveis, porque apesar de muitas vezes ter tentado e não ter conseguido, muitas foram as vezes em que valeu a pena tentar, e nessa ponte entre erro e erro, vou acumulando memórias, plantando palmeiras e acrescentando gotas de água cristalina a esse oásis interior onde me refugiarei aquando da partida para a aventura de uma outra qualquer vida seja ela qual for.

Não tenhamos qualquer dúvida que em períodos mais ou menos duradouros o ”amorfo” fará parte da nossa existência. Eu acho que "apenas" um milhão de pequenas coisas me podem fazer feliz (talvez mais), não as quero todas de uma vez, óbvio, quero que a vida as vá trazendo e que eu as consiga achar sempre que puder. Felicidade às prestações, em pequenas doses de consumo imediato, sob mil e uma formas diferentes... em que algumas serão importantes percepcionar, experimentar mais do que uma vez. A felicidade não tem certamente a mesma expressão aos 10 anos, aos 20, nem aos 30, 40, 60, etc... a felicidade tem de ser mutável e flexível, cada dia repensada e transformada.
É quase impossível que o nosso caminho não se torne numa rotina, mais cedo ou mais tarde, e infelizes daqueles que não se conformam com isso ou pensam que o quotidiano repetitivo implica uma mente adormecida. O escape, a recolha, as sensações vêm sim, não de múltiplos caminhos percorridos (a vida nunca chegará para tudo isso), mas de inúmeras formas de "alucinação" que se podem obter, ou não fosse a música, a literatura e as imagens, dos bens mais preciosos que alguém pode ter e experimentar, tal como sentir, ver, ouvir e cheirar nos trazem o mundo para dentro de nós.
É essencial, vital acrescentar a tudo isso, sem escassez, amizades e amores, algumas graças e desgraças, alguns risos e algumas lágrimas: miríades de hipóteses sensoriais para os nossos cinco sentidos - “...não viver a monotonia sem convulsões (...), que o teu rosto anónimo não esconda as almas de quantos de ti estiveram perto...” – não cair na apatia nem na ignorância.
Convém que a nossa sede do que não temos, não nos leve a um labirinto, que no fim não sejamos a dor de ninguém, que o nosso perfil não seja uma máscara e que a nossa luz não tenha trejeitos torpes. A busca do “eu”, deverá ser apenas até ao horizonte visível, “elusiva e discretamente altiva”, para que o sabor que dela tenhamos não traga um pasmo silencioso, mas sim o esplendor de um diamante em eterna lapidação

Não viver a vida de ninguém nem fazer ninguém viver a nossa vida, guardar e preservar o espaço que cada um deve, pode, tem de ocupar.

“...Por mais que a vontade de pequenos deuses pálidos e fulvos talhe em profusas lápides o contrário, e a sua persistência os tenha por Senhores, o sangue que impele estas veias é MEU....”

A todos aqueles que ainda não descobriram o seu rumo, que ainda não se aperceberam que só têm uma oportunidade para a realização dos seus sonhos, tenho sempre a mesma mensagem - nunca é tarde para ser feliz -, a felicidade não é uma opção é uma obrigatoriedade, e só depende de nós mesmos e de mais ninguém.
Tudo aquilo que não fizermos por nós ninguém o fará, e a melhor altura para tocar o “Clarim da Revolta” é o dia de hoje porque ontem seguramente não foi possível escutar o maravilhoso som que dele sempre emana.
O conformismo gera tristezas e desilusões, a revolta sempre foi a alavanca da mudança, e por vezes o único caminho na direcção à felicidade.
Por vezes não entendo aqueles que dizem “não tenho tempo”, a maior parte das vezes esta expressão disfarça uma cobardia tremenda para aquilo que gostávamos mas não conseguimos fazer, como se a culpa para todos os nossos males fosse o tempo que passa, quando o que devemos é estar gratos por cada dia em que temos o privilégio de estar vivos.
É pena contudo que por vezes deixemos para trás o que poderiam ser os mais belos momentos da nossa vida. Olhamos para o que já é passado e nos interrogamos sobre o que perdemos! nesses instantes a nossa lucidez cria uma sucessão ilimitada de imagens, lapsos temporais que perdemos porque os inevitáveis erros do passado, e o medo do futuro, não nos deixaram ser livres para experimentar um maravilhoso presente.
Retumbantes êxitos de grandes homens devem-se a pequenos mas raros momentos em que puseram de lado a razão e entregaram-se à arte de viver, errando o mais possível e acertando outras tantas vezes. Acredito que um dos segredos da vida está em aproveitar a ocasião quando ela se nos apresenta e não pensar, porque quando pensamos estragamos o momento e com isso a excitação e a magia que é estar vivos.
É necessário nunca perder a esperança, porque onde não existe esperança não existe qualquer esforço que resulte.
Acredito na vitória de qualquer ser humano (quaisquer que sejam as lutas que desejem travar), como acreditei na minha, porque ela existe no coração de todas as pessoas, “porque quem acredita sonha, quem sonha vive, e quem vive pode mudar o seu mundo e ser feliz”.

Não queiram ver um dia na vossa campa a seguinte inscrição:

“Morri, não chorem, não me chamem, eu estarei longe e tudo o que fizerem e disserem será em vão, vocês foram a causa da minha desgraça, da minha solidão, mas onde quer que eu esteja eu ficarei bem e perdoarei o que me fizeram sofrer e serei sempre aquilo que vocês me fizeram ser.......”

Abracemos as oportunidades sem medos, porque se virarmos as costas à luz que nelas se encontra, a única coisa que veremos é esse corpo inerte a que chamamos de sombra. Cada vez que mentimos a nós mesmos para evitar um esforço, a manta sob a qual nos escondemos torna-se um pouco maior, até esse dia em que sucumbiremos à sua escuridão. A pior coisa que se pode fazer na vida é fugir de nós mesmos, mais cedo ou mais tarde encontramo-nos, e quem sabe já tão cansados, que não vamos ter forças para entender que

“nas montanhas da felicidade nunca se faz uma escalada inútil”.

Revoltem-se! Deixem essa jaula “virtual”, soltem a criança que existe em vós para que possa outra vez correr atrás das borboletas e não deixem apagar dos vossos lábios a pureza de um sorriso, afastar dos vossos olhos a serenidade de um olhar, escapar do vosso coração a ânsia pela vida.

E se nada mais resultar entreguem a vossa alma à poesia, porque neste mundo das palavras ninguém nos pode colocar algemas e afastar–nos da nossa paz.

Neste lapso de tempo em que escrevi estas singelas palavras, a vida aconteceu, convivi com um passado que não se repete, um presente que já passou, e um futuro que desejei quando escrevia no presente. A magia deste lapso de tempo nunca dependerá das palavras que aqui deixo, mas do facto de, mais uma vez,o ter vivido com a paixão de quem a ele se entregou.

23-06-2008


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Não! Não vou dar-te um qualquer objecto atado por fitas da cor dessa hipocrisia purificante, de quem embrulha materialismos esperando comprar o que nunca estará à venda.
Neste papel em branco, sem vida, irão fluir pinceladas de sentimentos, serão aniquiladas barreiras que impeçam a minha alma de voar até ti, nas asas de um poema que desejo fazer em mim.
Talvez não tenha o génio necessário para criar "esse poema", mas inicio esta viagem com a força de todos os sonhos do mundo, desejoso que a luz do sol me oriente no caminho, e que a paz da noite me traga a esperança de poder dar um sopro de vida às palavras que te quero deixar num papel eterno.
QUERO dar-te algo que SEJA REALMENTE TEU! Que nasça DO MELHOR QUE EXISTA EM MIM!

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Tudo começou um dia, numa sala dolorosamente ruidosa, onde o tempo parou.
Não existia mundo lá fora! Passado presente e futuro confinado a quatro paredes com cores de dor e esperança. Senti, como nunca tinha sentido até aí, a mais devastadora impotência e soltei todos os meus medos em gritos de silêncio. Entre lágrima e lágrima deixei-me viajar na memória, viagem que fazemos sem nos ausentarmos donde estamos e que tão longe nos leva entre lembranças e instantes vividos.
Revisitei todos os momentos que antecederam aquele momento, A RAZÃO DE ESTAR ALI.
E de repente tudo ficou claro, à minha frente o brotar de uma semente, o desabrochar de uma flor, a doce melodia da inocência nos mais belos olhos que só em sonhos imaginava. Na minha mão senti dedos frágeis, desenhados num sonho de eternidade, e no meu coração ecoava a beleza dos primeiros sons de quem rompeu com coragem as fronteiras de um corpo, abandonou o divino sangue maternal e se fez CRIANÇA.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Recordo a emoção do momento em que nos meus braços senti a fragilidade desse corpo acabado de nascer, a surpresa dos primeiros passos toscos e desequilibrados e a celebração aquando da libertação definitiva da fralda.
Revivo a alegria dos primeiros dentes nascidos e a manifestação de coragem por cada um que tombava como guerreiro morto em campo de batalha, merecedor de um memorial especial honrando a sua bravura… não fosse a fada dos dentes aparecer!
Revisito os tempos em que cantou, dançou e representou, subiu às árvores, magoou os joelhos, sujou o mais possível as roupas rebolando no chão como qualquer criança com direito a sê-lo.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

Deixo-me voar nas memórias desse tempo de partilha dum universo infinito, um mundo sem impossíveis coberto por um céu da mais harmoniosa paz.
Construímos palácios encantados, nos seus jardins colhemos flores mágicas que se convertiam em amuletos contra bruxas malvadas que congeminavam para aniquilar a nossa felicidade. Mas não existia magia eficaz contra os nossos superiores poderes e nada impedia que qualquer história tivesse um final feliz, O NOSSO.
Inventávamos brincadeiras! Naves espaciais construídas de esquecidos e velhos jornais partiam para os planetas mais distantes, lá dentro, dois intrépidos astronautas desafiando esse céu desconhecido. Na dispensa, esse espaço sem vida que existe em todas as casas, vizinhos partilhavam problemas e trocavam objectos, e quando partiam, eu, era esse "touro mecânico", onde desafiavas a gravidade e o equilíbrio.
Lembras-te de quando o poder da nossa mente fazia aparecer os objectos que não sabias onde tinhas deixado? - Vamos puxar forte pai! - Dizias. E quando duas pedras eram os dardos velozes e certeiros – bem... às vezes nem tanto! - que atingiam uma qualquer árvore escolhida na natureza, essa natureza amiga que nos fornecia as personagens necessárias à construção de um universo mágico.

Ah! Se as palavras me ajudassem …

A vida não pára! Enquanto eu trilhava os caminhos deste mundo, já tu tinhas a mochila às costas e partias com passos decididos em direcção à escola.
Agora, é-me impossível ter outro pensamento que não o mesmo de sempre: CRESCESTE! Ainda há pouco tempo habitavas outro corpo, depois o meu colo, as discussões de quem já diz existo! Agora começas a construir o teu espaço, esse pedaço de “terra” marcada pelos teus passos cujas pegadas construirão a tua história.
Mas és e serás sempre aquela menina doce que dizia – “Caixolixo”, “Cocholate” –,
a minha ETERNIDADE.
A filha que qualquer pai desejaria ter.
A Chuca, Peterpanzinha, Pintarolas, Pitufinha, Furinhos ...
A MINHA FILHA.


Ah! Se as palavras me ajudassem…

Continuarás a ser essa criança ávida de vida que deseja encher o mundo de animais e os campos de flores. Essa criança que contagia com a sua transparente alegria, cativa pela sua inteligência curiosa, assombra com a sua perspicácia, encanta com a sua vaidade e que nos orgulha por tudo isso e pela natureza meiga, amiga e humanamente generosa.
Nada temas! A tua essência irás descobrindo, cultivando, nessa incessante procura pelo teu espaço, pela concretização dos teus sonhos.
Aparecerão pedras no teu caminho, obstáculos e dificuldades – a vida não é o mundo encantado que tantas vezes construímos – mas nunca estarás sozinha nessa luta.
Preserva essas características que são a tua diferença, a impressão digital do teu carácter.
Trilha as tuas estradas ao ritmo de um passo depois do outro, não vivas na ânsia do “partir” e desfruta em cada dia o prazer do “estar aqui”.
A vida não é uma corrida rápida.
A beleza sempre começa na simplicidade das pequenas coisas, a árvore mais bonita brotou de uma frágil semente, as palavras que aqui te deixo foram escritas letra a letra, os oceanos são formados por gotas de água que lutaram nos caudais dos rios para chegarem ao seu destino. Da mesma forma, os sonhos serão construídos com luta, persistência, coragem, sofrimento, compreensão, solidariedade e muitas vezes perdão.

Ah! Se as palavras me ajudassem...

Um dia desabrocharás para a madrugada e partirás...
E nós que te demos a vida, assistiremos a esse “bater de asas” com orgulho e essa tristeza interior que nos chega através do manto da saudade.
Ficaremos como esses veleiros nos portos silenciosos, esperando uma nova partida, uma nova aventura com essa pequena célula que se transformou numa tão bela flor que nos fez viver numa constante primavera.
Mas hoje, aqui, sentado nesta cadeira sem alma, és apenas:
A OUTRA PARTE DE MIM!
Agora é tempo de continuar, falamos amanhã! Quero escutar todos os segredos e novidades que trazes da escola, abraçar-te e dar-te um beijo
Esta folha que começou em branco, foi preenchida com palavras que gritam um nome e um sentimento...
O nome é JOANA, o sentimento AMOR.

08/07/2008



H! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Agigantastes uma pátria adormecida com o sonho da universalidade. Conquistastes o desconhecido e chegastes ao topo dessa colina sagrada onde vivem os imortais, e do seu cume decidistes que parte do mundo era vosso.
Nem sempre as velas de vossas naus se moveram por ventos de nobres motivos, mas ecoarão eternamente hinos aos vossos gloriosos feitos.
A vossa herança são hoje páginas de histórias de um povo visionário que construiu um império.
De um David que ousou ser Golias.
Esta terra que hoje pisamos, tão longe está daquela construístes, viveste e pela qual destes a vida.
Somos vítimas de um processo de extermínio promovido pela ausência de consciência. Derramamos agora lágrimas em locais sem “sangue de guerra”, lágrimas feitas gotas de água de um mar que dominastes, mas no qual nos sentimos exilados, atirados à tragédia do nosso próprio destino.
Nas suas areias, debaixo de um manto de vergonha, já não sonhamos com outros horizontes, e simplesmente nos escondemos à sombra como almas do outro mundo tementes do sol.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Não queremos ser esses cobardes que simplesmente esperam, que vêm a vida a passar pintada de cores e não lhe podem tocar.
Queremos correr e saltar, tocar o arco-íris.
As nossas feridas, são lancinantes marcas de uma luta que não ocorreu, de uma guerra sem palco que nos mata.
Vivemos na incerteza atordoados por carrosséis de imposturas.
Não nos deixam entrar no campo de batalha
– Cobardes –
Não desejam o corpo a corpo.
Os escudos são forjados na hipocrisia.
As lanças untadas na sua ponta com o veneno da indiferença.
As Flechas construídas de mediocridade, voam certeiras e trespassam corpos que ecoam cânticos de libertação ao se verem mortalmente atingidos.
As espadas já não têm código de honra, são empunhadas por esses carrascos que nos leitos das suas concubinas, nesses lençóis acetinados que alimentariam uma aldeia completa, se deleitam com sentenças nascidas em orgasmos de poder.
A justiça é agora de facto cega, tapada pela venda da mais infame cobardia que não ousa olhar de frente os condenados.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
No nosso sangue já pouco resta do vosso.
Mas ainda somos soldados!
Soldados sem rosto.
Sem exércitos.
Sem monumento.
Heróis anónimos.
Tombamos numa guerra surda pelo direito a ter um pedaço dessa terra adubada com o vosso sangue.
Pelo direito a andar e não estar sempre no mesmo lugar.
Temos que vestir o fato do guerreiro, não para conquistar os mais longínquos oceanos, mas para defender o nosso charco enlameado e a pele dos homens como nós.
Não lutamos para ampliar impérios, mas contra as ambições desmedidas, de quem nos quer tirar a capacidade de sonhar o sonho, de quem nos obriga a partir porque nos asfixia na nossa própria terra.
Conquistaremos cá dentro o que vocês procuraram nos quatro continentes.
Somos o que sempre fomos na nossa história, Destemidos Soldados, e lutaremos contra esse Golias que nos quer confinar aos lugares onde a luz da nossa harmonia nunca estará presente.

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Voltemos a desfraldar essas velas da liberdade e sonho, que um dia partiram no desconhecido.
Voltamos a ser pequenos mas existimos e não desistimos.
Não temos as tuas ”Tágides “ oh Camões venerado
mas temos a força dos humildes, herdada da fúria desses Oceanos que trespassaram com a vossa ousadia.
Não temos armas, mas temos a força de corações oprimidos que tocam o tambor da justiça.
Não temos hinos grandiosos, mas temos a coragem de não ser hipócritas nos prazeres que buscamos.
Não temos bandeiras, temos a força da revolta de quem se senta numa mesa imposta, adornada pela decadência de quem serve esmolas de hipócrita humanidade.
Nunca seremos história, mas temos a honra da humildade
A alquimia da felicidade
A febre da vida
A ânsia da beleza
A visão de quem sonha.
O desejo de querer mais
A AMBIÇÃO DAS DESCOBERTAS

OH! Guerreiros grandiosos! Vos evoco
Desejamos o repouso destas guerras, não queremos ser donos do céu ou senhores da terra. Queremos ancorar nossos barcos num pedaço de terra em que possamos por fim tirar esses sapatos de soldado e encontrar a paz.
Queremos viver num qualquer lugar que seja nosso e ser cobertos na morte por uma terra que trabalhamos com a força das nossas mãos.
E se para isso tivermos que morrer lutando como o fizestes outrora, se tivermos que nos afogar nas ondas forjadas na raiva de um qualquer Adamastor,
ao menos morremos num mar de sonhos e não viveremos morrendo por os não ter.
Unam-se a nós os que já desistiram, ainda estão a tempo de desistir da desistência.
Não nos restam quaisquer duvidas de que, como para todos esses gloriosos conquistadores,

A MORTE SERÁ UMA AVENTURA
A MORTE SERÁ QUASE COMO A VIDA

09-06-2008











Sou vítima dos tribunais da incompreensão
Julgado à revelia porque nunca lá vou estar
Hibernei nessa caverna iluminada na obsessão
De despertar para mim e em mim me deitar


Quando apareço! Sou de hipócrita adjectivado
Estou! É sempre pouco. Não estou! Algo mudou
Faça o que faça essa certeza de ser condenado
Pelo que sou e não sou, pelo que dou e não dou



Se falo verdade ou mentira isso não é determinante
Se me calo! O silêncio é a confirmação da suspeita
Se desejo escutar! Claro que não sei ser dialogante
Se falo porque tem de ser! Uma conversa desfeita



Se abro o meu interior! Não me conseguem entender
Se me fecho em mim! Sou dos continentes o mais frio
Se escuto sons românticos! Há paixões para esconder
Se danço ritmos loucos! Sou de mágoas senhorio



Se fujo para a magia da noite! Tanta superficialidade
Se conheço mundos alheios! Quero a felicidade no incerto
Se fico em casa num dia de sol! Que desperdício de idade
Se saio num dia sombrio! Procuro à chuva o sol do deserto



Nunca pensei que poderia ter na vida que aprender
A passar em segundos do fascínio à cruel desolação
De não ter uma razão que me consiga fazer entender
Que mentes conseguem viver com tanta contradição



Lamento ter deixado que esse corpo onde moro
Me leve para aventuras que nunca serão memórias
Para esse recanto afastado onde grito e choro
Os efeitos da simples vivência dessas histórias



Vou sempre ter ao abismo e não dou um passo atrás
Mas não quero perder-me no efémero contentamento
Minha alma vive num mundo que nunca me trará paz
Quero ser essa criança com o papagaio ao vento



Nas sobras que recolhem do que em mim se perdeu
Constroem puzzles que nunca conseguirão concluir
Faltará sempre encontrar a peça que a vida escondeu
E que apesar do desejo ainda não consegui descobrir



Como qualquer animal que segue suas pegadas
Vagueando num perigoso território com o instinto
Sou predador que caça em turvas águas paradas
E presa fácil de tudo o que em mim já não sinto



DEIXEM-ME em mim! Se tanto desejam não me ter
Permitam que este corpo encontre a sua calma
Não me queiram esquartejar para dividir o meu ser
Não me desejem morto dentro da minha alma



DEIXEM para mim o que sobra! O que resta de mim
Poderão beber meu sangue nos meus destroços
Abutres escondidos apareçam! Eu sei que no fim
Farão um banquete desfrutando dos meus ossos



12-05-2008


Existem pessoas sem olhos
Outras com tamanha cegueira
Que todas juntas aos molhos
Não fazem uma fogueira

Vivem na escuridão
Das luzes da hipocrisia
Vermes cuja alimentação
São pratos de cobardia

Eruditos tão profundos
A quem a verdade escapa
Engomados vagabundos
Vestidos de fato e gravata

Não desejam a ruptura
Quase sempre criticável
São vítimas da ditadura
Do que é recomendável

Mendigos rebaixados
Sossegam na garantia
De se verem encaixados
Nos chavões da maioria

Caminham na convicção
De serem seus soberanos
Mas na verdade só são
Escravos de outros amos

Servos dessa soberania
Assente na normalidade
De quem segue a terapia
Prescrita pela sociedade

Forjam o seu pensamento
Nas ideias de outra gente
Deus os livre do momento
Em que sonhem diferente

Vestem o que é normal
Comem o recomendado
Discutem sobre o banal
Em restaurante indicado

Mesmo que sozinhos
Não fazem essa asneira
De cruzar esses caminhos
Que não tenham passadeira

Caminham sempre em fileira
Como rebanhos de gado
Levando como bandeira
O brasão do ajuizado

Numa mão os princípios
No seu melhor apogeu
Na outra todos os vícios
Que a vida não lhes deu

Em rotina conveniente
Lutam pela sobrevivência
Do que tão ingénuamente
Chamam de existência

Mentes feitas em série
Clones criados da massa
De uma triste intempérie
Que nos trouxe essa raça

Se o mundo fosse deles
Ainda não teríamos luz
E nas cavernas mais reles
Comeríamos animais crus

Deuses do Olimpo sagrado
Dai-lhes a capacidade
De montar esse cavalo alado
Chamado de liberdade

15-05-2008



Tão longe estou do que de mim sempre esteve perto.
Quantas estradas percorri para me afastar donde nunca parti.
Quantos voos num céu feito de nada para ter coisa nenhuma.
Quantos passos em terras distantes ao som de outras músicas, umas com ritmos de uma abundância que nada valoriza, outras com a musicalidade fascinante de quem é extremamente feliz na ausência de quase tudo.
Mas ironia da vida! - É quase sempre nos sons da simplicidade que me deixo viajar dentro do meu universo à procura de mim. Dessas gentes retenho a alegria dos rostos, a transparência do olhar, a nobreza dos corações, a incrível - praticamente em extinção… - alegria do “dar” sem esperar receber.
E nesses momentos, quase sempre me sinto regressar à minha cadeira da escola primária, para mais uma vez aprender uma lição: assumir com realismo o que temos e não temos, e apesar disso viver em perfeita harmonia dentro e fora de nós.
Nesses momentos sinto o quanto somos privilegiados em poder “caminhar descalços” sentindo o pulsar da terra, porque tenho diante de mim quem caminha “sem pés”.
E nessas viagens recordo a criança que brincava no meio da natureza com um qualquer pedaço de madeira caído no chão e desse objecto fazia a mais mortífera das espadas contra inimigos imaginários a vassoura veloz de uma bruxa que amaldiçoava todos os que impediam qualquer história de ter um final feliz; o motor de uma roda de metal invencível em todas as corridas; o perfeito barco que velejava em qualquer caudal de água por mais seco que pudesse estar; com umas panelas furadas ou amassadas que sempre se encontravam nos lixos de outros lixos, tinha a mais perfeita das baterias e sentia-me o maior baterista do mundo….
Não tinha nada, e nada era impossível para ter tudo.
Recordo-me do quanto era feliz nesses momentos. O que a vida não me dava, a imaginação e a criatividade compensavam, e por isso compreendo (creio que com alguma autoridade ….) a alegria dos rostos estampados daqueles cujo passado, presente e futuro é esse simples “pedaço de madeira”.
Sou assim - imagino que como muitos outros… -, “réu” da vontade de aventura, adito terminal da experimentação, e alienado por esta droga, experimento tudo e por vezes regresso mais vazio do que quando parti. No fundo talvez seja esta a essência de “viajar”, nunca saber o que encontrar, deslumbrar-se com o que de nós se afasta, na ânsia de dessa forma enriquecer o baú da “experiência".
Mas tanto já viajei, tantas aventuras já vivi, que me pergunto qual a razão porque nisso penso agora?
Se a minha essência me impele a fugir do que é meu, porque me castiga agora, com a necessidade de compreensão das razões dessa consciente “fuga”?
Talvez nunca consiga entender esta necessidade silenciosa, mas ao tentar faze-lo, entro numa espécie de aventura mais perigosa e difícil que todas as outras. Perigosa porque não tenho bem claro que a obter respostas as mesmas me agradem, difícil porque não existe nada mais imprevisto que viajar dentro de nós para chegar ao nosso mais profundo “eu”.
Mas quem sai sempre há-de chegar e quem foi sempre há-de contar, para quem ficou, que o importante é viajar, seja a bordo de uma jangada ou num sonho colorido.
É no fundo como que entrar no mundo da poesia, que tanto gosto de dizer que é parte importante do sangue que me corre nas veias.
Porque a POESIA é dar luz à alma quando a escuridão desfila! Deixar que o sonho penetre no calor do um corpo adormecido e esquecer-nos do mundo!
Cada viagem é tempo que não se repete, vida que não mais teremos, gente que se cruza nas nossas vidas de uma forma efémera ou para sempre. É tudo aquilo que consciente ou inconscientemente vai mudando a nossa visão do mundo, e a forma como com ele lidamos.
É um fluir de emoções, sentimentos, momentos e situações, que vão construindo o nosso carácter, a nossa real essência ou nos seus efeitos mais preversos, somos transformados noutro qualquer ser, que se não nos dermos conta a tempo, começamos a acreditar ser o nosso verdadeiro "eu".
Partir de nós, para chegar a nós, não é infelizmente como realizar uma viagem à volta do mundo em 180 dias, é um périplo tão eterno quanto o seja a própria vida. Nunca conseguiremos chegar ao perfeito conhecimento de quem realmente somos, e as razões porque de certa forma vivemos.
O porquê sentimentos “cinza” num dia colorido, solidão por vezes acompanhada, tristeza isoladamente sentida sem razão aparente, alegrias que se desvanecem no segundo anterior ao primeiro sorriso, passos em estradas que terminam em becos sem saída, dificuldades ultrapassadas que aparecem sobre outras formas e que nos fazem pensar que para nós nada é fácil, lágrimas que não saem porque nos recusamos a exteriorizar a desolação que em nós habita.
E por isso, continuaremos sempre a sair de dentro de nós numa constante “alquimia” pela procura da nossa real natureza.
Mas um destes dias que felizmente ainda vão passando por nós, num qualquer espaço longe dos turbilhões mundanos, voltamos a pegar nesse “pedaço de madeira” mágico e regressamos ao inicio de todos os inícios. No nosso sangue corre outra vez a verdadeira substância de que somos feitos, nosso coração volta a sentir a perfeita harmonia de quem não pode sonhar maior tesouro para ter do que o seu barco, a sua vassoura, a sua espada e bateria.
E chegado esse dia, talvez seja o momento de - antes de desejar fortemente uma coisa - perguntar primeiro a quem a tem o quanto é feliz por isso?
Nesse dia compreenderemos que o nosso maior erro foi ter esse “pedaço de madeira”, e na sua ponta colocar um lança para lutar pela valorização do efémero em detrimento do eterno.
Entenderemos que as nossas lágrimas são (não raras vezes) o resultado da frustração hipócrita de quem tanto deseja o que não tem, e que nunca aprendeu a valorizar e apreciar o muito que já conseguiu.
Compreenderemos que sempre tivemos a capacidade de olhar, mas nunca conseguimos efectivamente “ver”.
Que procuramos sempre longe de nós o que sempre esteve perto, que todas as riquezas do mundo não nos pertencem, e que o único “ouro” exclusivamente nosso é o que brilha dentro da nossa alma.

E nesse dia regressaremos outra vez à nossa cadeira da escola primária, fecharemos os olhos e partiremos outra vez para a floresta com esse “pedaço de madeira” em busca da nossa paz.

11-11-2010


Ser poeta é viajar no pensamento,
E caminhar nesse universo sem norte,
Abrir as entranhas do sentimento,
Para fugir ao esquecimento da morte.

É estar fora de nós desordenadamente,
Deixar a alma flutuar na lua cheia,
Ser essa criança inocente,
Que enche de vida a aldeia.

É ser pássaro livre num céu de emoções,
Comungar da paisagem, perder-se no conflito,
De ter dentro de si todas as contradições,
E nesse universo procurar o infinito.

É engolir a vida sempre que preciso,
Esconder a face, congelar misérias,
Disfarçar tristezas num belo sorriso,
Encher de cores as coisas mais sérias.

É ter sempre um verso sem guarida,
Num corpo que respira ao descoberto,
Nos olhos uma porta aberta para a vida,
Na alma a dor amordaçada do incerto.

É dar passos de coragem em rua escura,
Construir uma ponte sobre o mundo,
Beber a alegria na ressaca da amargura,
Viver do lixo como qualquer vagabundo.

É abrir as entranhas e transformar,
Esse acto fraticida,
Em palavras para dar,
Outros sentidos à vida.

É ter mil seres para deslindar,
E neles ser saltimbanco,
E só encontrar o seu lar,
Num mundo de folhas em branco.

É escutar quando queremos falar,
Falar quando nos querem sem voz,
Escrever quando devíamos gritar,
Tudo o que vamos calando em nós.

É cantar quando não temos voz,
Dançar ao som do silêncio,
Caminhar na multidão a sós,
Voar quando não sopra o vento.

É ser um comum mortal,
Animal de carne e osso,
Que entre o bem e o mal,
Escolhe o melhor desse fosso.

É transformar sonhos em realidade,
Passar da tristeza à alegria,
Ir num instante do campo à cidade,
Transformar a noite em dia.

É fazer os fracos capazes,
De lidar com as desilusões,
Transformar desertos em oásis,
Para conforto das solidões.

É ter tudo e não ter nada,
E nunca perder o encanto,
De trilhar essa estrada,
Que dos sonhos faz seu manto

7-05-2008


Escrevo porque em mim isso é algo urgente
Porque nessa urgência existe fome e desejo
Porque não consigo ficar distante e ausente
De pintar em palavras o que sinto o que vejo

Tremenda esta minha sede interior de viver
Sentir o fluir de vida num continuo encanto
E neste meu irresistível impulso de escrever
Eu vivo, sonho, sou, existo e canto.

Como muita gente invade-me esta vontade
Do cinzento da vida fazer uma bela história
Mudar ódios em amor, amarras em liberdade
Raivas em tranquilidade, fracassos em glória

Escrevo porque que foi a isso condenado
De nas palavras ser abandonado mendigo
Nelas a única forma de me sentir libertado
Dos gritos da alma que vive comigo

Escrevo porque minha modéstia ousa querer
Fazer simples canções das músicas que sinto
Perdido em palavras que raramente ouso ler
Vou gritando verdades em tudo o que minto

Sou como Colombo, não sei para onde vou
Mas vou! Sou peregrino no meio da gente
Escrevo porque sem isso não sei quem sou
Perdido entre passado futuro e presente




Talvez as relações amorosas devessem vir acompanhadas de um manual de instruções em varias línguas, porque na era do amor sem barreiras geográficas tal seria importante.
Todos dedicamos ao tema do amor muito tempo das nossas vidas, quer em conversas nos mais díspares espaços e com os mais diversos interlocutores, quer nos momentos em que isoladamente tentamos (pobres que nunca compreendemos que é impossível…) definir o seu conceito.
Desistimos sempre desse desígnio de qualificar o inqualificável, e contentamo-nos -quase sempre - em listar uma séria de factores que o mesmo deverá incluir seja qual for a sua definição.
Tanto tempo dispendido com esta temática, que deveríamos num determinado momento das nossas vidas ser apelidados de “gurus” do AMOR, e ser convidados a dar palestras nas universidades da vida.
A verdade é que sabemos sempre começá-las, agarramo-nos aos inícios com a sabedoria dos mágicos, operámos transformações milagrosas em nós próprios e no objecto do nosso amor, de repente tudo nos é fácil e grato, sentimo-nos com asas de falcões, nas nossas costas cresce uma capa encarnada e carregamos no peito o símbolo do Super Homem, tudo é óbvio visto assim, o mundo aparece aos nossos olhos como um jardim florido.

Não há nada melhor do que começar uma relação.

O novo é irresistível. Descobrem-se coincidências que vão desde a mesma colecção de cromos, às músicas que escutamos, aos gostos culinários (o sushi que detestávamos até que nos começa a parecer o melhor petisco dos deuses…). Descobrimos o prazer que não tínhamos numa saída com gente que nada nos diz, e drogamo-nos com todas as palavras que escutamos, e que sempre pensamos merecer.

É a primeira vez, outra vez em tudo.

Descobrimos o outro em nós e nós no outro.
Descobrimos que afinal sabemos cozinhar e até uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos (antes entediante) nos parece de um imenso romantismo.
No início de todos os inícios sentimo-nos tão estupidamente felizes que seríamos capazes de morrer a seguir, porque achamos que atingimos o ponto máximo da felicidade.
Mas o pior, o pior mesmo, vem a seguir, como dizia o Picasso "…bom mesmo é o início porque a seguir começa logo o fim…". E quando o fim chega já é tarde demais para voltar atrás. (e como faria falta o tal manual para saber como com ele lidar)
É sempre tarde demais, porque isto do amor é mesmo uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior.
E o pior (dizem os comuns mortais) é que na primeira oportunidade repetimos os mesmos erros à espera de resultados diferentes (o que até me agrada pois é um bom sintoma de demência).
Aos poucos vamos vendo o amor perdendo-se, acabando...sentindo a cada dia mais distância do outro.
O seu sorriso já não é o mesmo, já não aceita a rotina como antes, já não nos olha com tanta ternura, e já não faz questão de esconder o descontentamento...
Sentimos uma grande saudade do que fomos, do que juntos sonhamos, de tudo o que com felicidade construímos. Não sabemos nada dos sentimentos da alma que um dia julgamos gémea da nossa, sabemos apenas do nosso coração, que sente medo, que foge dos sentimentos, que não se entrega mais e que vive atormentado de culpas a perguntar:
Porque?
Num determinado momento compreendemos que: o que mais nos dói é saber que o nosso “eu” e outro “eu” nunca construirão o “nós”.
E quem se considere imune a tais disparates e nunca tenha passado por estas avarias sentimentais, que atire a primeira pedra…
Alguém (desses eruditos que estão sempre seguros de tudo.....) escreveu "… primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde antes estava a intimidade …."
E pronto, já está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, DEPOIS DE SE APAGAR A CHAMA.

Mas esta é a condição humana, doa a quem doer.

Ou então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o início do mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver, caso regressassem ao mundo. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário Ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, a Penélope recuperou o seu guerreiro depois de 20 anos de espera.
O amor esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar do que o Olimpo, porque não está nem no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que toda a água dos oceanos.

Pode até ser apenas uma invenção dos homens para fugir à morte, ou uma realidade para dar razão à vida.
Mas! Ilustres e comuns cortais, tudo o que é belo é digno das nossas lutas, e por isso fujamos dessa terra sem esperança, onde habitam os crentes de que na vida não existe sofrimento, esses que ainda não descobriram que nos caminhos do amor qualquer sofrimento vale a pena.

“ …ainda pior a convicção do não, ou a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase….”

É o “quase” que nos deve entristecer, "...que nos mata trazendo tudo o que poderíamos ter sido e não fomos. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam entre os dedos, nos momentos que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono. Perguntamo-nos às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, a resposta está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços na indiferença dos “bons dias”, quase que sussurrados. Sobra a covardia e falta de coragem até para sermos felizes..." (Sarah Westphal)

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
De nada adianta economizar a alma, um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Ah! Ânsia de amar Febre bendita...É Inevitável! Um dia perderei outra vez a lucidez e voltarei a amar.

11-11-2010


Muito desejaria ter a capacidade de por palavras expressar-te a minha gratidão
Aproveitar este verso simples para te dizer o que por vezes para mim guardei
Recordar a criança frágil que um dia descobriu o mundo agarrada à tua mão
Imaginar-te bem perto de mim, sussurrar-te ao ouvido que nunca esquecerei
Aquilo que pelos que amas tens feito e que para sempre guardarei no coração

Em teus braços que se abrem para mim encontro o amor e a amizade mais pura
Nesses braços meigos repletos de amor, esqueço a vida e volto a ser uma criança
Grande a força que me dá tua presença tua coragem e sabedoria sempre madura
Razão pela qual te imagino sempre a entrar pela minha porta cheio de esperança
Ainda não sei como sarar a saudade de tantas horas passadas sem te sentir e ver
Como espero o momento em que sentindo ao longe tua voz, já não estejas distante
Imaginar-te não é sentir-te, é estar sozinho é sonhar-te procurando-te para te ter
Acalmando minha alma, abraçando-te como se o mundo acabasse nesse instante

Como é linda aquela a quem dedico estes momentos em que o meu coração chora
Apertado por saber ser impossível com palavras exprimir o que me vem na alma
Bendito o destino que me deu esta pessoa bela, tanto por dentro como por fora
Respeito-a pela sua luta, perseverança, amizade desprendida e natureza calma
Amo-a pelo que é, por ser única e especial, por sua alma de pureza transparente
Lamento e perdoa-me, se algum dia de uma forma consentida de ti estive ausente

Por me ter adormecido em muitas noites, em que nunca sentia vontade de acordar
Intensos os dias em que me ajudou, a encarar a imaginação como outra realidade
Resolvendo sempre os meus problemas com a nobreza de sempre os saber escutar
E agora que penso em ti minha mãe, sinto honra, carinho e uma enorme vaidade
Saber-te sempre minha para juntos partilhar-mos a vida para toda a eternidade

Farei o impossível para que na vida das minhas conquistas só te possas orgulhar
Imaginaste para mim caminhos e percursos, que nem sempre escolhi para viver
Guiaste-me num caminho difícil a lapsos injusto, e ensinaste-me a o enfrentar
Um caminho chamado de vida que se moverá com os sonhos que juntos iremos ter
Estas não são palavras escritas na areia seca de um imaginário e longínquo mar
Inventadas por alguém desejoso que as ondas depressa cheguem para as apagar
Resolvi escreve-las porque não posso deixar que os dias passem e nunca te dizer
Esta saudade que senti enquanto estive escrevendo o que espero venhas a ler
Dolorida como toda a saudade sentida por quem se ama, é verdadeira e irás ver
O que na vida farei para humildemente provar que o teu amor mereço sempre ter

Sei desde sempre que nunca existirá na vida uma forma mais pura e bela de gostar
Imagino-me transformado em vento, e dessa forma chegar até ti como brisa suave
Levaria uns segundos até tocar de leve na tua janela e se tu me permitires entrar
Vou o teu corpo abraçar, te embalar nos meus carinhos e baixinho dizer-te a verdade
Amo-te hoje mais que ontem, e nunca na vida poderei deixar algum dia de te amar

Por saber que nunca poderei ser vento, só me resta isso imaginar no pensamento
Estou escrevendo os meus sentimentos e enquanto escrevi lágrimas de alegria chorei
Refugio que encontrei para exteriorizar a alegria que me acompanhou neste momento
Em que por fim te digo o que por inexplicável cobardia nunca disse e sempre pensei
Imagino agora que amanha será outro maravilhoso dia em que a tua presença me traz
Razão para a minha vida, luz para os meus passos, amor e carinho puro onde beberei
A agua da minha felicidade, a cura da minha saudade e como sempre a verdadeira paz

Para ti minha mãe, um forma de dizer AMO-TE...

11-11-2010


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